Virando do avesso escrita por calivillas


Capítulo 21
Para ter você de volta




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Quando ouviu que Júlia tinha ido embora para nunca mais voltar, Mauro ficou confuso, depois aborrecido e, por fim, triste, principalmente pela forma como se separaram naquela última noite, ela tinha ficado chateada com ele e nunca mais poderia pedir desculpa, como desejava que. Mauro quis que Júlia o perdoasse e tivesse uma boa lembrança dele e dos momentos que estiveram juntos. Mas, talvez tenha sido melhor assim, cada um seguindo sua vida, sem olhar para trás, porém sabia sentiria uma imensa saudade dela, assim voltou para sua casa, cabisbaixo.

No momento em que Júlia entrou no seu escritório, encontrou Rafael, com cara de poucos amigos, diante de uma das clientes mais chatas e exigentes deles, Cibele, que falava, sem parar, reclamando sobre algo, possivelmente um pequeno detalhe quase impercebível, que só ela notara. Assim que Rafael a viu chegar, respirou aliviado e o rosto dele se iluminou, com um imenso sorriso, como se tivesse acabado de presenciar um milagre, só faltou cair de joelho diante dela. A mulher faladora, que reclamava sem parar, percebeu a mudança de expressão do seu interlocutor e olhou para trás, curiosa.

— Graças a Deus, você chegou, Júlia! – A mulher exclamou ao vê-la, também parecendo aliviada e continuou, sem respirar – Pois, eu e esse rapaz não estávamos nos entendendo!

Júlia sorriu, compreensiva, para Rafael.

— Boa tarde, Cibele. Qual é o problema? Não gostou do nosso projeto?

— Bem, eu gostei, mas o problema é a iluminação. Faz eu parecer que tenho 70 anos, realça todas as minhas rugas.

Rafael se esforçou para segurar uma risada, pois essa devia ser a idade de Cibele, apesar de todas as evidentes cirurgias plástica e a pesada maquiagem, Júlia foi mais contida e sorriu para Cibele

— Eu entendo, Cibele. Podemos mudar um pouco a iluminação, pode deixar que cuidarei disso, pessoalmente.

— Obrigada, Júlia. Só você mesmo pode me entender. Posso confiar em você?

— Pode deixar, Cibele – Júlia falava, guiando a mulher para a saída – Amanhã, irei até a sua casa verificar e, com certeza, acharemos uma solução. Boa tarde.

Quando, Cibele saiu, Júlia se atirou na cadeira na frente da mesa de Rafael, respirando fundo e sorriu para ele.

— Ainda bem, que você chegou, Júlia, porque estava preste dizer a ela que o problema não era da iluminação, e só dava para resolver com só com mais uma cirurgia plástica.

— Você não teria coragem? – Júlia perguntou, achando graça.

— Acho que não, mas só mais um pouquinho, e eu não teria aguentado. Você não sabe o que eu passei aqui sem você, Júlia. Fico feliz que tenha voltado.

— Obrigada por tudo, Rafael! Prometo que vou compensá-lo.

— Pode deixar, eu vou cobrar. Você parece bem melhor, Júlia.

— Como assim?

— Não sei, mas você está diferente

— Isso é bom ou ruim?

— Ainda não sei, só diferente, mais descansada, menos estressada. Acho que essas férias fizeram bem a você. E o casamento?

— Está tudo certo, eu acho. Agora, vamos ao trabalho! O que você tem para mim, Rafael?

—Temos o projeto do apartamento do Fred. Ele é um outro tipo de cliente, tem muito bom gosto, sabe o que quer.

— E é bem interessante. E acho que ele gosta de você, Rafael – ela confessou, dando um sorriso malicioso para o sócio. Porém, Rafael a fitou espantando, piscou duas vezes os olhos, como se demorasse a entender, então caiu a ficha.

— Júlia, eu não sou gay. Não tenho nenhum preconceito, se eu fosse assumiria minha preferência e tentaria ser feliz, já que é o que tudo mundo quer, mas eu não sou gay.

— Desculpe, Rafael. Eu só pensei... eu o conheço há tantos anos, nunca vejo você com nenhuma garota todo esse tempo todo, então pensei...  Ah! Deixa para lá!

— Não precisa se desculpar. Mas, houve algumas namoradas e outras casos, mas ninguém tão especial para mim. E eu só não saio exibindo a minha vida privada por aí, sou um tanto reservado. Então, agora, vamos esquecer isso e rever o projeto do Fred.

Durante toda a tarde, Júlia tentou compensar sua ausência no escritório, só no meio da noite, saiu para se encontrar com seu noivo. Desde que deixaram aquele lugar juntos, Leandro e Júlia não se falaram mais, cada um seguiu por caminhos diferentes, combinando de se encontrar para jantar à noite, seria uma espécie de recomeço, uma reconciliação. Escolheram um pequeno restaurante, que sempre iam, um lugar conhecido e que traziam boas lembranças do começo do relacionamento, apesar de tentarem parecer descontraídos e seguros, havia um clima estranho no ar, um sentimento diferente e incomodo entre eles.

— O que quer beber, Júlia?

— Eu queria um vinho.

— Você quer tomar vinho, Júlia?! – Leandro levantou os olhos do cardápio.

— Sim, vinho. Pode escolher, para mim, está ótimo.

Logo depois que fizeram os pedidos, Leandro estendeu a mão, gentilmente, e segurou a dela sobre a mesa, o que era um ato tão natural entre eles, há tão pouco tempo atrás.

— Senti sua falta, Júlia! – ele falou com ternura, mas ela apenas sorriu.

— Leandro, precisamos conversar.

— Sobre o quê?

— Nosso casamento, nossas vidas. Eu não quero começar um casamento com um fantasma nos rondando.

Leandro afastou sua mão da dela.

— Júlia, não há fantasma nenhum. Estamos quites agora, você já teve sua vingança, me deixando desesperado, sem saber onde estava e dormindo com outros caras.

— Não foi uma vingança. Então, você vai levar tudo isso numa boa?

— Eu só não quero mais pensar sobre isso. Vamos colocar uma pedra sobre essa parte das nossas vidas e recomeçar de onde paramos.

— Eu não posso recomeçar de onde paramos, eu estou diferente agora. Não sou mais a mesma Júlia de quinze dias atrás.

Leandro a encarou, com uma expressão indecifrável.

— Eu continuo amando você da mesma forma. Para mim, você é a mesma linda mulher com quem eu quero me casar. Por favor, Júlia, não quero estragar a nossa noite, falando sobre mais sobre esse assunto.

Mesmo um tanto em dúvida, ela atendeu o pedido dele.

Após o jantar, Leandro a convidou para irem ao seu apartamento, ainda em desordem por causa da reforma, pois viveriam ali, depois de casados. Era a primeira vez, que Júlia retornava para lá, depois que encontrou seu noivo com outra mulher. E tudo parecia como antes, com se aquele episódio tivesse sido um sonho, ou melhor, um pesadelo e ela tivesse acordado.

Em um gesto usual, Júlia jogou a bolsa sobre a poltrona protegida por um plástico, após Leandro acender a luz, olhou ao redor e observou que o trabalho de pintura das paredes estava bem adiantado. Ela mesmo havia escolhido aquela cor suave e clara para as paredes, imaginando em criar um ambiente sereno e harmônico para os dois, para o casamento perfeito que imaginava que seria há alguns dias atrás, aquele pensamento a inquietou, mas agora estava disposta a fazer essa ideia dar certo. Naquele momento, Leandro se aproximou por trás e a abraçou pela cintura, delicadamente, puxando-a contra o seu corpo, mergulhando seu nariz na curva do pescoço dela, respirando fundo para sentir seu perfume, depois dando beijos leves e percorrendo sua pele quente e macia com os lábios, enquanto as mãos deles subiam e envolveram os seios de Júlia, os acariciando, enquanto a boca continuava a percorrer sua nuca, que arqueou o corpo para trás se aproximando mais do dele. Leandro a virou de frente para ele, agarrando-a forte contra si e a beijou, suas línguas se encontraram, Júlia sentia o sabor conhecido, enquanto as mãos desceram por suas costas e agarraram sua bunda. Mas, subitamente, ela teve uma sensação esquisita, como se algo não estivesse certo, e para a surpresa de Leandro, Júlia se afastou, delicadamente.

— O que foi? – ele perguntou, atônito, levantando a sobrancelha.

— Nada – Ela falou em um sussurro, ele a puxando de volta, reiniciando o beijo, desta vez, menos selvagem.

As mãos dele a abraçaram, percorreram nas suas costas, enquanto, ela não se atreveu a se mexer. O beijo vai ficando mais suave, até que ele a segurou pelos braços e se separam. Júlia fitou os olhos deles, confusa, sem saber, onde havia ido parar todo aquele amor e veneração, que sentiu um dia por aquele homem, só restando um estranho vazio, uma imensa vontade de ir embora.

— Não dá, Leandro. Eu não consigo.

— Como assim? – quis saber, sem entender, ainda tentou abraçá-la.

— Eu não consigo! – Júlia o afastou com as mãos, se desviou e desabou no sofá, com a face aturdida.

— Como assim?

— Acabou, Leandro! Algo entre nós se perdeu nesses últimos dias, e não podemos mudar o passado.

Ele se ajoelhou diante dela e segurou suas mãos com ternura.

— Eu me recuso a acreditar que tenha acabado tudo entre nós, Júlia – falou de um jeito brando.- Você só precisa de um tempo para me acostumar com essa ideia de eu e você juntos de novo e posso estar forçando a barra. É tudo muito recente, é só nos darmos um pouco mais de tempo para tudo se resolver. E estou disposto a esperar para ter você de volta por inteiro.


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