Virando do avesso escrita por calivillas


Capítulo 17
Uma virada radical




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Mesmo mergulhados na água fria, podiam sentir o calor das peles quase nuas se tocando, separados apenas pelo fino tecido do sutiã roçava o peito de Mauro.

— Relaxe, Júlia! – Ele sussurrou no seu ouvido – Está tudo bem.

Os braços dele envolviam a sua cintura e ela o abraçava pelo pescoço, flutuando. Por algum tempo, ficaram assim, em silêncio, Júlia pensava se devia ou não continuar com aquilo, até que ele a beijou, ávido, e ela correspondeu, mesmo pensando que não devia. Sentiu aquela boca contra a sua, o sabor das línguas, a boca dele ainda tinha o gosto de maça. Mauro tinha perfume rústico, cheirava a mato e a terra molhada. As mãos deles envolvendo sua cintura, ela estava perdendo a razão.

— Não. - Ele se afastou, com uma expressão de decepção. – Desculpe, mas não deveria ter vindo aqui com você, criado falsas expectativas. Acho melhor irmos embora.

— Por favor, vamos aproveitar o lugar, Julia. Eu que estou sendo um tanto impulsivo, talvez, esteja um tanto carente. Mas, juro que não vai mais acontecer

Depois, relaxados, com os corpos molhados, deitaram sobre a pedra aproveitando o calor do sol, os dois com a cabeça apoiada nos braços, olhavam para o céu, imaginando formas nas poucas nuvens, escutando o barulho da água.

— Já faz muito tempo que está sozinho?

—  Há algum tempo. Depois que separei, houve algumas mulheres na minha vida, no entanto, eu não podia dar o que elas queriam de mim.

— E o que era?

— Um relacionamento de verdade, me envolver, dar atenção, essas coisas. Estava muito envolvido comigo mesmo.

— Em parte, você se parece com o meu noivo.

— E isso é ruim?

— Em certo ponto, não. Eu não me importava, acho que no fim até gostava, dessa certa distância entre nós dois. Até há algum tempo atrás, eu não ligava para sexo.

Ele virou o rosto e a encarou, incrédulo.

— Sério?

— Sim, até conhecer Ricardo.

— E por que não foi embora com ele?

— Eu pensei nisso, mas ele só tem dezenove anos e eu não podia viver em um circo, não duraria nem um mês.

 - Talvez, um mês bastasse.

— Mas, destruiria toda o encantamento com coisas mesquinhas.

— Acho melhor a gente ir embora agora. Já está ficando tarde – Mauro declarou, sem muita vontade, Júlia concordou com ele, pois tinham uma longa caminhada de volta pela trilha fechada. Então se vestiram e retornaram pelo mesmo caminho, ao encontro das bicicletas esquecidas na clareira e pedalaram de volta para casa. No meio do caminho, Mauro, animado, propôs uma pequena corrida até a casa dela.

— O que o vencedor ganha?

— Um almoço. Quem perder faz o almoço.

— Oba! Hoje, eu vou ganhar um almoço grátis – ela gritou, aumentando o ritmo das pedaladas e disparando na frente

Júlia tinha uma boa dianteira, quando desacelerou perto de casa, parou e esperou por Mauro que vinha logo atrás.

— Venci!

— Então, terei que fazer o almoço. Vamos para minha casa.

— Não precisa!

— Nada disso. Promessa é dívida. Vamos para minha casa para eu pagar o seu prêmio.

— Eu preciso de um banho, trocar essa roupa molhada.

— Tenho água quente e roupas limpas na minha casa – ele insistiu e Júlia acabou cedendo aos bons argumentos dele.

Quando chegaram a casa, ele a levou direto para o banheiro, que parecia recém-reformado, impressionantemente organizado, para um homem que morava sozinho.

— Aqui, tem toalhas limpas e uma camiseta seca. A água está quente, é só regular para a temperatura ideal. Fique à vontade, pegue o que precisar. Vou começar a preparar o nosso almoço.

Ela tomou um longo e reconfortante banho, o chuveiro era bom, ele tinha um sabonete suave e até xampu, apesar do cabelo quase raspado. Assim, Júlia deixou a água morna cair sobre seu corpo, se ensaboava, pensando como sua vida havia mudado tão rapidamente, pois há pouco mais de dez dias, ela era uma noiva preste a se casar com o homem que todos achavam perfeito, e agora, depois de uma virada radical, estava tomando banho na casa de outro homem.

Ela saiu do banheiro, secou os cabelos e foi para a cozinha. Encontrou com Mauro, envolvido com as panelas, um cheiro bom de molho de tomate e manjericão fresco enchia o ar, ela parou na porta para observá-lo, antes que ele notasse sua presença.

— Mauro, confesse, que você perdeu de propósito, só para me trazer para sua casa. Você queria me impressionar com seus dotes culinários.

— Eu não tenho nada para confessar. Sua vitória foi legítima.

— Eu não acredito em você. Posso ajudar, apesar de não saber cozinha?

— Como uma mulher preste a se casar pode confessar algo parecido?

— Tempos modernos.

— Então, cuide das panelas, enquanto eu tomo um banho. Você sabe fazer isso, não sabe?

— Sei e só me ensinar.

 - Venha aqui que eu te ensino o que fazer – Ela se aproximou, sentido aquele aroma delicioso - Está vendo o molho – ele mostrou a panela, onde estava um borbulhante molho de tomate – Está quase pronto, só precisa apurar um pouco mais, é só mexer de vez em quando, e ficar de olho para não queimar. Ah! Tome cuidado com o macarrão para não passar do ponto e ficar muito mole.

— Como eu vou saber qual é o ponto certo?

— Pegue um fio e experimente, tem que estar ao dente. Mas cuidado para você não se queimar. Assim!

Mauro pego um fio de macarrão da panela com um garfo, assoprou e colocou na boca de Júlia.

— Agora, vamos ver se você sabe mexer o molho.

— Assim?

— Você mexe muito bem o molho, Júlia. Aprendeu direitinho – disse, com sarcasmo.

— Vá tomar banho, Mauro!

Ele a deixou sozinha, com medo de fazer algo errado. Era estranho estar na casa de um outro homem, na sua cozinha, preparando um almoço juntos, nunca fez isso com seu noivo, pois eles estavam sempre muito ocupados para aproveitar esses pequenos momentos. Pensou em Leandro e no relacionamento deles, de como até pouco tempo atrás, ela o achava perfeito e como descobriu que estava errada da pior maneira possível.

— Júlia! - Foi tirada dos seus pensamentos pela voz de Mauro. – O molho!

Ela olhou para as panelas, a água do macarrão estava quase seca e o a molho ficando escuro, ele correu e apagou o fogo.

— Desculpe!

— Não tem problema, só acho que vamos ficar sem almoço.

Ela o encarou e envolveu o pescoço dele com seus braços, o beijou, urgente e profundamente.

— Você tem certeza? – Ele cochichou, ela assentiu com a cabeça.

Mergulhando o rosto na curva do pescoço dela, beijando e sentindo o perfume suave do sabonete. A mão livre dele, se enviou debaixo da camiseta, tocando diretamente, sentindo a textura suave da pele dos seios, depois descendo pela barriga e acariciando o seu sexo. Até que, não aguentando mais de desejo, beijou-a e trouxe–a para junto da mesa e, com um movimento rápido da mão, atirou tudo que estava em cima dela no chão, erguendo Júlia, a colocou ali, sentada

Foi impetuoso, ele a possuiu, rápido e furiosamente, percorrendo o corpo dela em carícias apressadas e possessivas. E quando sentiu que seu ventre, parecia que ia arrebentar, uma onda percorreu o corpo de Júlia, assim ela estremeceu em um espasmo e gritou de prazer. O gemido de Mauro veio do fundo da alma, gutural, ele estremeceu e caiu sobre o corpo de Júlia, abraçados e ofegantes, esperando os corações voltarem ao seu ritmo normal. Ele se levantou, devagar, beijando a seio e a barriga dela pelo caminho, enquanto a cozinha era invadida por um terrível cheiro do molho queimado. Os dois começaram a rir.

— Vou fazer uns sanduíches – Mauro deu a solução, lavando as mãos e pegando os ingredientes na geladeira e colocando sobre a bancada da pia, pulando sobre os objetos espalhados, desordenadamente, pelo chão da cozinha.

— Acho melhor, eu arrumar essa bagunça toda – Júlia começou a recolher do chão, os objetos atirados de cima da mesa, facas, tábua de corte, tomates, cebolas.

— Há quanto tempo você está separado? – ela quis saber, entre um gole de vinho e uma mordida de sanduíche.

— Há quase oito anos. Nós nos casamos muito jovens, tivemos as crianças em seguida. Acho que foi um erro. Não estávamos preparados para toda aquela responsabilidade de família e filhos. Devo confessar que deixei minha ex-mulher muito sozinha, cuidando das duas crianças. Só pensava em ganhar dinheiro, ser o provedor, dar a eles a melhor vida possível e eu era muito bom nisso, minha empresa crescia cada vez mais e mais, era um círculo vicioso.

— Foi ela que se separou de você?

— Acho que foram os dois, um dia quando olhamos um para o outro, descobrimos dois estranhos, que não sentiam nada um pelo outro. Quando sai de casa ela me confessou que só queria alguém com quem pudesse dividir a vida.

 - Talvez eu entenda isso. Leandro foi o primeiro e, praticamente, o único homem da minha vida até agora, é claro. Estávamos juntos há cinco anos e me sentia uma garota de muita sorte. Ele parecia perfeito aos olhos do mundo, e principalmente, para mim. Bonito, educado, ambicioso, com um futuro brilhante na empresa em que trabalha.

— Você parece que está falando de mim, há alguns anos atrás. O que ele faz?

— Trabalha em uma grande financeira, empréstimos, financiamento, essas coisas.

— E você, quando não é uma noiva, o que faz?

— Tenho uma pequena empresa de arquitetura com um amigo. Foi assim que conheci Amélia, a dona da casa que estou. Fui eu que fiz o projeto e executei a reforma e, aí, nos tornamos amigas.

— Você que fez a reforma daquela casa? Ficou fantástica!

— Seu mentiroso! Tenho certeza que você nunca reparou naquela casa, antes! – Brincou, jogando o guardanapo em cima dele.

— Não, eu nunca reparei nela mesmo. Mas, agora, eu prometo prestar mais atenção.

— Obrigada!

Mauro pegou a mão de Júlia e a beijou, depois se aproximou e deu um longo beijo na sua boca, com gosto de queijo e presunto, a puxando contra ele, mas, subitamente, levantou-se e estendeu a mão para ajudá-la.

— Venha, Júlia, eu quero que me dê a sua opinião profissional sobre o meu quarto.


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