Virando do avesso escrita por calivillas


Capítulo 16
É realmente surpreendente




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Após o almoço, quase jantar, Júlia ajudou Mauro a lavar louças e arrumar a cozinha, depois sentaram-se juntos, preguiçosamente, no sofá da sala, cada com um copo de vinho na mão. Mauro havia colocado uma música suave ao fundo.

— Espero que goste de Phil Collins? Não é da sua época. Nossa, estou falando como um velho!

— Não esquenta! Eu gosto de Phil Collins – Júlia respondeu, achando aquela observação engraçada. - Há quanto tempo você está aqui nessa casa, Mauro?

— Há quase dois meses. É como uma licença médica, tenho tentado relaxar, diminuir o ritmo, mas está sendo muito difícil. É praticamente contra a minha natureza, toda essa vida simples e esse ar puro. Sou, definitivamente, um homem da cidade, comecei a trabalhar muito cedo, tenho minha própria empresa, que cresceu muito nesses últimos tempos. E você? Quanto tempo pretende ficar, Júlia?

— Não sei ao certo. Não fiz planos, simplesmente, eu vim parar aqui. Mas, não posso me esconder para sempre, a qualquer momento, vou ter de encarar minhas decisões de frente.

— Júlia – ele sussurrou, segurando o rosto dela com delicadeza.

Ela sabia o que ele pretendia, mas não se afastou, deixou os lábios dele se chegarem até tocar os seus. Ela se afastou suavemente.

— Eu acho que já é hora de eu ir embora.

— Desculpe-me, não devia. Fui um idiota.

— Preciso de um tempo!

— Eu entendo que você ache que está havendo muitas mudanças na sua vida, em tão pouco tempo, não pretendia forçar a barrar.

— Então, acho que eu vou para casa agora.

— Ainda amigos?

— Você é muito legal, Mauro, mas minha vida já está muito complicada do jeito que está, não preciso de mais nada agora para piora a situação.

— Eu levo você em casa.

— Não precisa, é aqui pertinho.

— Não, eu faço questão. Assim, eu fico um pouquinho mais de tempo na sua companhia.

Caminharam juntos o curto trajeto entre as duas casas, pela rua de terra batida, ouvindo o silêncio ao seu redor, quebrando pelos barulhos dos grilos e o dos sapos, sentido o sereno frio nas peles ainda quentes.

— Boa noite – Mauro se despediu dando um leve beijo no rosto de Júlia, na frente da porta da casa dela.

— Boa noite, não precisava se incomodar, me trazendo em casa.

— Não foi incomodo nenhum, Júlia. Estou me sentindo um garoto trazendo a menina em casa e me despedindo no portão. Isso é bem romântico.

— Romântico?

— Quem disse que os homens não podem ser românticos, também. Romantismo não é só exclusividade das mulheres. Então, nos vemos amanhã, Júlia? Se você não tiver algo melhor para fazer?

Ela pensou, porque não. Mauro era uma boa companhia, tinha uma conversa interessante, dava bons conselhos, seria melhor do que ficar em casa sozinha, sob o olhar desaprovador de Maria, ou cair na tentação de ligar para o noivo.

— Com certeza, não tenho. Eu vou aparecer, amanhã bem cedo, para andarmos de bicicleta juntos.

— Bicicleta?

— Você se acostuma. Até amanhã – deu mais um beijo no rosto de Júlia e se afastou, andando calmamente em direção a sua casa, enquanto ela o observava do portão, pensando como aquilo era engraçado, tipo um flerte a moda antiga.

Dispensando o jantar, Júlia tomou um longo banho morno, deixando a água cair pelo seu corpo para relaxar, pois os últimos dias tinham sido uma montanha-russa de sentidos, cheios de intensa felicidade a profunda tristeza. Ao se deitar na cama para dormir, Júlia ainda podia sentir o cheiro de Ricardo no travesseiro ao seu lado, então o abraçou com força, demorando um pouco até consegui pegar no sono, cheio de sonhos confusos onde Leandro, Ricardo e Mauro se misturavam, em cenas românticas, eróticas e sensuais.

Mesmo assim, no dia seguinte, acordou mais bem-disposta. Na cozinha, a mesa do café-da-manhã estava posta para ela, Maria acabava de lavar a louça.

— Bom dia. Júlia, queria saber se faço comida para hoje?

— Bom dia, Maria. Não precisa, eu me viro com o que tiver na geladeira. Ah, outra coisa! Você poderia trocar a roupa de cama do meu quarto.

— Claro! Eu troco daqui a pouco.

No meio da manhã, Mauro apareceu na frente do portão da casa, com uma mochila nas costas e as duas bicicletas e, sob o olhar desaprovador da caseira, Júlia saiu com ele para pedalar pelas redondezas

— Então, para onde vamos hoje?

— Surpresa!

— Surpresa? Devo ficar preocupada?

— Só se você quiser!

Pedalaram por um bom pedaço, pela estrada de terra cercada de mato, que ficava mais estreita e esburacada até que terminou em uma pequena clareira. Júlia olhou para Mauro, intrigada

— É aqui? Realmente, estou surpresa

Ele lhe devolveu um sorriso travesso.

— Não, aqui, a gente deixa as bicicletas e vamos continuar por uma trilha por ali, no meio do mato.

— Você quer que eu entre no meio do mato?

— Eu garanto a você que vai valer a pena. Confie em mim.

Assim, curiosa e um tanto receosa, ela o seguiu pela estreita trilha cercada pela vegetação rasteira e arbustos. A medida que caminhavam, e se entranhavam, o mato se tornava mais denso e a trilha mais fechada e difícil, precisam ficar mais atentos com os galhos e espinhos para não se machucarem. Preocupada e com medo de ficarem perdidos, ela já estava pensando em propor para voltarem.

— Está ouvindo? – Mauro parou, de repente, e entre o som de pássaros e insetos, ouvia-se o barulho de água caindo – Estamos chegando perto – ele anunciou, animado, e mais alguns passos uma clareira se abriu, onde uma queda d’agua, que despencava de uma pequena altura e formando um reservatório de águas claras, que brilhava, banhado pelos raios de sol livre das sombras das árvores ao seu redor.

— Então, o que achou?

— Lindo! É realmente surpreendente.

Ali, estavam absolutamente sozinhos, o silêncio só era quebrado pelo barulho d’agua caindo e pelos cantos dos pássaros.

— Vamos! – Ele pegou na sua mão e caminharam para mais perto, escolheram uma pedra achatada que se projetava sobre o espelho d’água, para se sentarem. Mauro tirou os tênis e a camisa para aproveitar o calor do sol, depois, abriu a mochila, e tirou de dentro dela, uma garrafa de água, frutas e uma toalha de banho.

— Sou um homem prevenido – ele se autoelogio, ao ver o olhar de admiração de Júlia.

— Você já esteve aqui antes? – Júlia quis saber, enquanto bebia um gole de água direto da garrafa.

— Não. Já tinha ouvido falar desse lugar, mas não me animei em vir aqui sozinho – ele mordeu uma maçã.

— Então, quando me conheceu, logo percebeu a pessoa espontânea e aventureira que eu pareço ser, resolveu fazer essa aventura comigo.

— Não, exatamente, mas chegou perto.

Júlia reparou as gotículas de suor começaram a surgir sobre a pele bronzeada de Mauro, atraído seu olhar. Ela sentia seu rosto queimar.

— Está quente aqui! Vamos dar um mergulho? – Ele a convidou, já ficando de pé.

— Não trouxe biquíni.

— Se quiser pode entrar na água com roupa ou, se preferir, sem roupa. Juro que eu não vou me incomodar.

— Não. Sem essa! Não vou tirar as minhas roupas aqui!

— Então, você pode ficar só de lingerie se quiser. Eu vou entrar - e sem cerimônia, tirou a bermuda e ficou só de cueca e entrou na água.

— Vem, Júlia! Está ótima!

Júlia não resistiu, tirou a camiseta e o short, ficando só de calcinha e sutiã, e ameaçou entrar na água.

— Está muito fria! – Ela gritou, experimentando a temperatura da água com o pé.

— Se atire de vez, Júlia! Assim fica mais fácil.

Então se enchendo coragem, Júlia se atirou direto na água, sentiu o choque da água fria no seu corpo quente pelo sol.

— Está muito frio! – Ela gritou outra vez, tremendo, Mauro nadou para junto dela.

— Relaxe, Júlia! – Ele a abraçou junto a si, e aos poucos, ela foi se acostumando a temperatura da água e relaxou.


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