—__ E quem é você? - Diana abaixou sua espada e indagou insolente.

—__ Me deixa extremamente chateado você não saber quem eu sou, mas tudo bem. - ele balançava a cabeça pra cima e pra baixo como um sábio: ___ Já estou acostumado a não ser reconhecido por tudo que eu faço. Faz parte do meu “trabalho”.

—___Quem é você? -  Diana se mostrava impaciente, não tinha tempo a perder.

—___ Me chamo Hermes, sou um mensageiro.

—___Mensageiro de Zeus? - Indagou cada hora ficando mais impaciente.

—___Sim e não. - Riu divertindo-se. ____Mas não importa agora. O que importa é que sou eu quem vai te ajudar.

—____A não ser que você me diga que pode me levar até o Vietnã, você não pode me ajudar.

—___Hum… hum… na verdade sou o único que posso! - estalou o pescoço, convencido.

—___ Agora então! - Diana fala em tom ameaçador.

—___ Tem que aprender a ser mais humilde, “princesa”. Primeira lição: se eu vou te ajudar, peça por favor. - Faz uma expressão brincalhona, mas Diana fica com ódio e vai para cima dele. Hermes consegue se desvencilhar do golpe dela com grande facilidade. Ela tenta de novo e ele novamente se esquiva com grande facilidade, antecedendo os golpes dela. Adiantando o que ela vai dizer, ele responde: ____Não, eu não leio mentes, cara Diana! Você me avisou que faria isso! Que tentaria me acertar precisamente dessa forma.

Diana pensa um pouco tentando entender, mas ainda confusa, indaga:

—__Eu?

—__Sim, da mesma forma que você me mandou até aqui, Diana, para que eu possa te ajudar. É meio confuso, eu sei... mas você sabia que eu seria o único capaz de te ajudar a salvar o Steve.

—___Porque você é o único capaz?

—___Já disse, eu sou um mensageiro. Mas não um mensageiro comum. Eu envio mensagens para qualquer um… em qualquer dimensão.

—__ Dimensão? - Diana continua confusa.

—__ Cada dimensão tem tempos diferentes da realidade que se passa na linha do meio, se é que podemos dizer isso, porque depois de um certo tempo fazendo isso fica difícil perceber qual é qual. - ele ri: ___Mas ainda que não fique certo, existe uma realidade fixa que é a nossa, a atual. Já as outras... é possível navegarmos entre elas, influenciando a atual. Deu para entender?

Diana balançou a cabeça numa negativa. Ele continuou:

—__ São realidades de tempo pra frente e tempo para trás de uma realidade X que não se altera. Ou… ao menos não deveria se alterar. - ele mesmo já se mostra um pouco confuso: ___ Então qualquer coisa que a gente consiga modificar nessas realidades  influenciam nessa realidade X, causando um “certo” caos, porque depois que isso ocorre, não temos referência de mais nada.

—__Só me leva até ele, por favor? - Ela pede com a voz chorosa.

—__Hoje não. Se sairmos hoje nada dará certo, e então ele morrerá em 1945, pilotando um avião para salvar vidas. Você fez isso acontecer com ele, Diana. Você saiu exatamente nesse dia… só que tentou salvá-lo lá, em 1945. E hoje no Vietnã ele está morrendo por sua causa.

—___Steve morreu aqui porque eu tentei impedi-lo de entrar naquele avião?

—___Exatamente! Ou vice-versa. Já perdemos a referência. Mas algo sempre dá errado…e você não consegue mantê-lo vivo no Vietnã. Ou não consegue mantê-lo vivo aqui. E dessa vez precisamos fazer direito, muita coisa está sendo alterada. Está cada hora ficando pior. E dessa vez precisamos evitar seu encontro com uma pessoa na realidade para onde estamos indo.

—___Que pessoa?

—___ Não posso dizer! Se eu disser o nome dela, seria como te atirar aos lobos!

—___ É melhor que me diga quem é, não acha? Dessa forma se eu ouvir o nome, eu farei de tudo para evitar esse encontro. - aguarda esperançosa.

—___ É uma mulher. Acho que ela arquitetou tudo isso, para que você a encontre lá para onde vamos, dessa forma ela conseguirá alterar algo que irá dar a ela grande poder.

—___ E porque eu não a impeço?

—___Quanto menos souber melhor. O importante é saber que Steve estará exatamente onde eu vou te levar.

—___Me leve até lá, Hermes, por favor, eu lhe imploro! Eu preciso encontrá-lo o quanto antes.

—___ O quanto antes não, Diana! - Ele perde o controle. ___ Não estava ouvindo nada do que eu te falei? Você precisa encontrá-lo no tempo certo. Confie em mim!

—___ Está bem. - Diana se senta resignada.

—___ Precisamos de um plano. - Ele fica pensativo. Em seguida se vira para ela, com fome: ___Você por acaso não teria aí … caldo de Gaivota?

Diana faz uma cara estranha:

—__ Esse é o seu plano?

    Hermes engole a sopa como um esfomeado:

—__ Foi o melhor caldo de Gaivota que já comi em toda a minha vida! - ele ri tomando o caldo diretamente na boca, bastante animado.

Todas o observam, inclusive Hipólita. Ele ri de forma gozada:

—__De verdade, nunca viram um mensageiro?

Hipólita responde:

—__ Eu já vi, mas nunca de tão perto. Pensávamos que fosse mais… - ela hesita.

Ele a antecede:

—__ Mais bonito? Mais ducado? Eu sei. Eu ouço muito isso.

Diana tenta se controlar, mas ri dele, que prossegue:

—__A verdade é que não sou como os outros mensageiros. Gosto de viver a vida… não é bem minha grande vocação ficar viajando entre mundos, passando recados.

Diana faz uma expressão de cansaço. Hipólita observa a filha. Resolve questionar Hermes:

—__E a que veio, Hermes? Já recebemos a mensagem de Zeus! Estou confusa sobre o porquê da sua vinda aqui? - Agora ela desvia seu olhar para Diana.

Hermes pára de tomar sua sopa na hora:

—__ Mensagem de Zeus? Que mensagem?

Diana balança a cabeça pedindo que sua mãe não conte, mas Hipólita resolve fazê-lo mesmo assim:

—__ Zeus quer que retornemos o quanto antes. Ele precisa que estejamos longe daqui. Um grande mal está por vir. Quem ficar para trás perderá todo o seu poder!

—__ Diana… - Hermes fala baixinho para si mesmo. Em seguida desvia o olhar para a princesa, mas é discreto preferindo não falar nada na frente da rainha, continua comendo seu caldo de gaivota, agora bem menos empolgado.

    Diana e Hermes estão à noite, conversando debaixo de uma árvore:

—__ Porque não me disse isso assim que cheguei aqui?

—__ O que eu iria dizer? Que talvez eu fique sem meus poderes? - ela ri: ___ Você riria de mim. Afinal é apenas uma suposição! Não significa que irá acontecer. Estarei de volta o quanto antes para retornar com as amazonas!

Hermes fica irado batendo seu cajado no chão:

—__ Não é isso, sua menina tola! Algo já mudou, não entende? - ele fala extremamente irritado: ___ Caso contrário eu teria ficado sabendo sobre isso… você deveria saber de tudo, deveria ter me contado. Porque eu vim para cá sem saber sobre isso?

Diana suspira:

—__ Mas nada irá mudar, Hermes! É só irmos até lá e salvarmos o Steve!

—__ Não, não, não, não, não! - Hermes continua batendo o cajado, extremamente concentrado e pensativo: ___ Muita coisa mudou agora.… preciso pensar… - ele bate as pontas dos dedos sobre as têmporas: ____ Preciso descobrir o que deu errado. O que aconteceu? O que está faltando? - ele anda para um lado e para o outro batendo seu cajado na terra suja, levantando poeira.

Ele continua a se questionar:

—__ Porque Zeus disponibilizou um mensageiro para salvar Steve?

—__ Zeus? Salvar meu Steve?

—__ Sim, Diana… ou você acha que eu estou aqui porque? Ele, o todo poderoso, pediu para salvar Steve!

—__ Porque o Steve? - Ela está extremamente curiosa.

—__ Eu não sei! - Quase gritou. ___ Porque ele resolveu? Porque isso o diverte? Porque ele acha que é necessário? Sei lá, o problema é dele, mas.. - Ele pára pensativo. ___ Mas a questão é … Porque você quer salvá-lo?

Diana engole seco, preocupada com a resposta que ela vai dar. Hermes pressiona:

—___ Porque você quer salvá-lo, Diana? É uma pergunta bastante simples.

—__ Eu o amo! - Ela responde sem pensar muito.

Hermes abre a boca e arregala os olhos se espantando de forma exagerada. Ele começa a sacudir a cabeça em desespero:

—___Não, não, não, não! Você não pode ir comigo! Você não é confiável!

—___ Eu vou sim! - Diana fala decidida: ___Porque eu não sou confiável? - Ela puxa Hermes pelo braço querendo que ele se vire para ela, mas Hermes empurra Diana jogando-a sobre o chão com força. Diana, caída no chão, sente o quão poderoso Hermes é e fica com medo. Ela se levanta se limpando da sujeira do chão. Ele se aproxima:

—__Me desculpe, mas ninguém deve me tocar!

—__Porque?

—__Porque eu vejo coisas, e não posso, isso faria com que eu tomasse decisões precipitadas, mudasse minhas ações.

—__ Você vê o futuro. - Ela afirma.

—__ Eu vejo coisas, não sei se são do futuro, do passado…mas as vejo.

Diana suspira:

—__ Hermes, eu amar o Steve não atrapalha em nada.

—__ Com certeza não ajuda, Diana. Você fará coisas, dirá coisas, não dirá coisas… - pelo tom deixa claro que está falando sobre ela ter omitido a mensagem de Zeus: ___... apenas para que tudo termine bem para Steve!

—__ Mas Zeus quer que a gente salve ele, não é mesmo?

—__ Diana, é tão difícil entender que isso tudo já aconteceu antes, e que quando aconteceu as coisas eram diferentes! Você não o amava, ele era apenas um cara! Agora tudo está tão diferente, meu Deus! Quanto mais a gente muda, pior fica!

—__ Quando Steve passou por aquele portal pela primeira vez e eu o conheci… aquilo não deveria ter acontecido, não é mesmo?

—__ Exatamente! Aquilo só aconteceu porque você já havia mexido com o tempo… e com isso trocado tudo. Agora provavelmente Barbara…

—__ Barbara? Essa é a mulher com quem não devo me encontrar?

—__ Sim. - Ele fica com raiva de ter pronunciado o nome dela. “Outro erro!”. ___ Quem você teve a infelicidade de conhecer. - Hermes sentou-se, balançando a cabeça, cansado. Diana sentou-se longe dele, mas queria entender, porque ele estava tão atordoado:

—__ Hermes, o que não está me contando?

—__ Tenho medo do que possa lhe acontecer, Diana.

—__ Mas porque isso importa?

Hermes ri:

—__ Engraçado… quando você viaja por dimensões há tanto tempo, perde a referência da linha de tempo. Você perdeu, Diana! Mas eu não!

—__Já nos conhecemos há algum tempo, não é? - Diana fala triste.

—__Sim. Bastante tempo… - ele ri sarcástico. Em seguida seus olhos enchem d’água. Diana repara, receosa, resolve questioná-lo:

—__Tivemos algo… eu e você?

—__ Já disse que quanto menos souber, melhor.

Diana faz que “sim” com a cabeça. Já obteve sua resposta.

Ele ri alto. Em seguida começa a brincar:

—__ Você está tão menina, que até esqueço que a Diana que eu conheço é tão adulta, tão decidida.

Diana ri:

—__ E Steve? Como ele é, no seu mundo?

—__ Nosso mundo, Diana. Nosso mundo…- ele não deixa que ela esqueça que ela faz parte da vida dele. Em seguida começa a respondê-la: ___ Steve é… - hesita. __ Ele é um soldado forte, frio, não demonstra muitas emoções. Diferente de mim e de você!

Diana abaixa os olhos, triste. Ele prossegue:

—__ Tem que lembrar que o Steve de lá não é o mesmo Steve que conheceu aqui, Diana. O tempo que ele voltou era à frente e quando ele voltou muita coisa aconteceu. Ele ficou preso pelos nazistas durante alguns anos, foi torturado.

—__ Torturado? - Diana faz uma expressão de sofrimento.

—__ Sim. Isso depois que você alterou o destino dele. - Ela abaixa a cabeça se sentindo estranhamente culpada. ___ Só quero que esteja preparada…

Ela faz que “sim” com a cabeça. Hipólita aparece Os dois param de falar, enquanto ela se aproxima:

—__ Espero não estar interrompendo.

—__ Não, está…  - Hermes olha para Diana que se levanta dizendo:

—__ Vou me deitar!

—__ Não! Fique! - Sua mãe gesticula para que ela volte a se sentar. __ Eu vou se te incomoda tanto minha presença…

Hermes estranha a relação delas. Ele faz um gesto para que Diana se sente, ela faz menção de ir embora mesmo assim e ele a recrimina:

—__ Diana!

Ela o olha, curiosa, tentando entender o que ele diz: ___Deixe que a sabedoria… - ele aponta para Hipólita: ____... vença a juventude! - Aponta para ela: ___E aprenda: as vezes estamos certos, e às vezes estamos errados.

Diana se senta, resignada. Hermes agora faz um gesto para que Hipólita se sente. Ela assim o faz:

—__ Hermes? Esse é o seu nome, certo?

—__ Sim. Não foi o nome com o qual eu nasci, mas é o nome que carrego já há algum tempo. - gargalhou.

Diana riu dele, Hipólita achou bonito o sorriso de sua filha e também sorriu levemente, mas assim que ela olhou para sua mãe, Diana fechou a cara deixando Hipólita sem graça. Essa voltou-se para Hermes:  

—__Você vai levar Diana onde ela quer ir? Atrás desse Steve?

—__Sim. Eu tentarei trazê-la de volta a tempo para que não perca seus poderes.

—__ É de suma importância que faça isso, Hermes. Acho que você e eu sabemos o que implicaria caso isso não acontecesse.

Hermes indaga:

—__Falou com Zeus sobre isso?

Hipólita responde, bastante séria:

—__ Sim. Ele me revelou. Preciso que me prometa!

—__ Não posso prometer o que está além dos meus limites. Mas prometo que darei minha vida para que Diana chegue aqui há tempo.

—__ Obrigada!

Hipólita se levanta e se aproxima da relutante filha que se contorce querendo se levantar, mas ao ver a expressão de reprovação de Hermes, permanece sentada. A rainha se senta ao lado dela:

—__ Diana, sei que agora não consegue entender como posso ter feito o que eu fiz. Mas sei que algum dia irá me perdoar por ao menos tentar endurecer seu coração. Mas enquanto esse dia não chega, aceite esse medalhão como parte da prova do amor que sinto por você…

—___ É o medalhão de Panaceia, mãe. Não posso aceitar! - Diana se recusa a pegar:____ Sem esse medalhão, mãe, você pode se ferir. Foi Zeus quem te deu!

Hipólita coloca o medalhão na palma da mão da filha:

—___ Eu sei, Diana. Mas caso…

Diana abre os dedos visualizando a bela peça e interrompe sua mãe:

—___Eu estarei aqui a tempo, mamãe. - Ela segura sua mãe pela mão querendo devolver, mas é parada pela rainha:

—___ Não posso te perder, Diana. Se você perder os seus poderes, quero certificar de que ao menos permanecerá viva.. - ela aperta os dedos de Diana sobre o medalhão com força e continua:

—___ Façamos assim. Volte sã e salva e me devolva o medalhão. Só dessa forma o aceitarei de volta.

Diana faz que “sim” com a cabeça. As duas se abraçam.

A noite Diana está dormindo. Hermes fecha a boca dela e coloca um dedo em seus próprios lábios, enquanto cochicha:

—__ Não, diga, nada, levante-se devagar!

Ele a puxa pelo braço erguendo-a com grande facilidade. Ele corre com ela enquanto Diana começa a escutar diversos gritos e movimentação em sua aldeia. Ela olha para trás e a aldeia está em chamas. Hermes a segura pela cintura e ela não consegue se livrar. Diana começa a gritar:

—__ Mãe!

—__ Vamos! - Hermes continua puxando-a pela cintura impedindo-a de ir.

—__ O que está havendo? Me larga! Preciso voltar e salvá-las!

—__ Você não pode! Precisamos ir agora e quem sabe ainda possamos mudar isso!

—__ Não! - Diana berra. ___Eu preciso salvar minha mãe, ela me deu o medalhão de Panaceia dela, veja! Se algo acontecer com ela, ela irá morrer.

Hermes joga Diana no chão para escondê-la e tapa a boca dela. Diana consegue livrar um braço e soca Hermes no rosto, se soltando dele. Consegue se virar de barriga para baixo para fugir, mas Hermes com uma mão a mantém contra o chão e então roda seu cajado no ar e um grande portal se abre na frente deles. Um vento forte sopra dele chamando a atenção de Diana que fica completamente espantada com toda aquela força:

—__ Confie em mim! Sua mãe só ficará bem se você sobreviver! Agora venha!.

Ele estica a mão para que ela passe o portal com ele:

—__ Venha agora ou nunca mais poderá passar.

Diana segura a mão de Hermes e um clarão faz com que ela passe pelo portal com ele.