A Nossa Secessão escrita por Bela Escritora


Capítulo 3
Annabeth Chase: O cara que baba enquanto dorme é o nosso salvador


Notas iniciais do capítulo

Hey-yo pessoas!

Estou de volta! E hoje é dia de capítulo novo!

YAAAAAY

Deixei vocês na sexta passada com o Percy brincando de Jason e agora eu lhes trago a nossa querida General Annabeth!

Espero que gostem. Boa leitura a todos!



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3 de Julho de 1863:

— Não esperava te encontrar aqui. - falei assim que entrei na tenda de comando no acampamento improvisado no monte Mitchell.

Quíron se virou para me olhar, o que não era nada fácil naquele espaço apertado que o forçava a ficar recurvado para não bater com a cabeça na cobertura. O homem de meia idade, cabelos ralos e barba desalinhada deu de ombros enquanto cruzava os braços, abrindo um sorriso gentil.

— Bom, dadas as circunstâncias, achei que era uma medida necessária. - ele respondeu.

— Estamos infiltrados em território inimigo, Quíron. - afirmei, deixando sobre a mesa de mapas o chapéu e a faca - Não acho uma boa ideia ficar zanzando por aí sempre que der na telha.

O centauro riu.

— Ora, vamos, Annabeth. - ele brincou - Está assim tão insatisfeita com a minha presença?

Não consegui evitar sorrir em resposta. Quíron era o mais próximo que eu tinha de uma figura paterna. Meu pai... Bom... Vamos dizer que depois que ele se casara com a minha madrasta, ele se tornara bem menos tolerante à minha... Realidade. Eu não o via fazia bastante tempo.

— E então? - ele prosseguiu, trocando o peso de uma pata para outra - Como está Percy?

— Bem. - respondi me apoiando contra a mesa - Desacordado ainda, mas bem.

— Aconteceu alguma coisa? - ele perguntou preocupado.

Encarei-o, confusa.

— Luke não te entregou a mensagem? - ele negou com a cabeça e eu não pude deixar de sentir como se uma pedra afundasse em meu estômago. Onde estaria ele? Respirei fundo e me forcei a controlar as minhas emoções. Poderia entrar em pânico depois, quando estivesse sozinha - Os romanos o alcançaram antes. - falei - Conseguimos resgatá-lo, mas a mãe dele foi levada. Eles nos perseguiram e Percy usou suas habilidades com a água para despachar uma unidade inteira do exército romano de volta para o outro lado do rio.

— Hum... - Quíron coçou a barba - Interessante.

Pensei se deveria acabar com a sua ilusão ao contar para ele que no momento o garoto se encontrava babando em um travesseiro, mas resolvi deixar o comentário de lado já que ele era bem pouco profissional.

— Ele está esgotado, mas Will disse que não há riscos. - dei de ombros - Apenas um pouco de descanso e ele estará novo em folha.

— E quanto à mãe dele? - ele perguntou me olhando.

— Como eu disse, - suspirei - Os romanos à levaram. Não tivemos tempo de tentar localizá-la.

— Talvez as ninfas saibam de alguma coisa... - ele murmurou mais para si mesmo do que para mim e em seguida estalou um dos cascos no chão - Bom. Melhor eu usar esse tempo para preparar uma explicação para o pobre coitado. - ele abaixou a cabeça - Não vai ser fácil ser arrastado para essa vida depois de tanto tempo no escuro.

Dei de ombros.

— Ele parecia saber muito bem o que estava fazendo quando derrotou o Minotauro e quando controlou o rio. - resmunguei. Era difícil para mim acreditar que aquela era a primeira vez que Percy, sendo quem era, se deparava com uma situação como aquela.

O centauro, por sua vez, me deu um sorriso compreensivo, como se soubesse exatamente o que estava se passando em minha mente.

— Instintos de batalha, Annabeth. - ele respondeu - Todos os semideuses têm. Mesmo os que nunca entraram em combate antes. Percy foi mantido fora desse mundo sob minhas recomendações. Não seria nada vantajoso para nós perdermos uma peça tão importante tão cedo, não é mesmo?

Suspirei. Ele tinha razão. Não era porque a minha infância como semideusa fora uma droga que isso significava que outros não podiam ter tido algo relativamente normal. Ainda assim, eu não conseguia afastar a sensação de que era algo suspeito.

— Agora, se não se importa, querida, eu vou ocupar a sua tenda. - Quíron falou - Fique de olho no garoto por mim e, assim que ele acordar traga-o para cá.

— Sim, senhor. - respondi recolhendo as minhas coisas e me encaminhando para a saída.

— Ah! E Clarisse está esperando por você. - ele prosseguiu distraído, olhando para os mapas sobre a mesa - Disse que queria relatórios da missão.

Mordi lábio inferior. Definitivamente não eram relatórios que ela queria. Hora de enfrentar a fera.

Deixei a tenda com um peso no peito. O que eu realmente preferia fazer agora era procurar por Luke. Falar com os irmãos dele que não tivessem sido despachados em missões de espionagem e coleta de informação e tentar descobrir se eles sabiam alguma coisa de seu paradeiro. Mas, por mais que ele fosse como um membro da minha própria família, assuntos oficiais em tempos de guerra vinham primeiro. Com um suspiro resignado, me encaminhei para a tenda de Ares.

O lugar era, no mínimo, sombrio. O tecido vermelho mal tingido e com marcas de batalha, ao ser iluminado pela luz do crepúsculo, dava ao seu interior o aspecto de ter sido pintado com sangue. Em seu centro reinava o crânio de um javali sobre um braseiro apagado, o que tornava o lugar ainda mais hostil. Tirando as esparsas esteiras de palha jogadas de qualquer jeito pelo chão, juntamente com alguns cobertores e travesseiros improvisados, seria fácil confundir o ambiente com um arsenal de tantas armas que tinham ali dentro. Lanças e escudos ficavam recostados contra as paredes aos montes e espadas ficavam penduradas junto as suas respectivas armaduras.

Mas nada disso era tão assustador quanto Clarisse La Rue com raiva.

A garota estava sentada em uma cadeira com os pés sobre a mesa, completamente sozinha ali dentro. Seus cabelos castanhos ensebados caiam sobre o rosto e o uniforme de general da União estava amarfanhado e sujo de terra e sangue. Em sua mão ela trazia uma faca de caça e o brilho assassino em seus olhos - intensificado pelo reflexo vermelho do ambiente - deixava claro que ela não teria nenhum problema em usá-la. Minha chegada não lhe passou despercebida e, assim que entrei, ela abriu um sorriso.

— Ora, ora. - ela falou, passando a lâmina de baixo da unha do dedão - Se não é a Srta. Princesa.

Revirei os olhos.

— General La Rue. - cumprimentei, tentando manter a pose.

— Pode parar por aí, espertinha. - ela rosnou se levantando e, para o meu alívio, deixando a faca sobre a mesa - Sabe, para uma filha de Atena, você até que foi bem burra roubando a minha carruagem voadora.

— Sei que não foi o mais correto a se fazer, Clarisse. - admiti, mantendo o tom calmo - Mas você não estava presente durante a organização da missão para que eu pudesse pedir permissão, então...

— Então você só pegou na mão grande?! - ela perguntou, se aproximando de forma ameaçadora.

Troquei o peso de perna, cruzando os braços.

— Vale lembrar que acordamos que essa carruagem pertence a ambos os filhos de Ares e Apolo. - argumentei - Minha missão era formada por uma maioria do último chalé, portanto não me venha com essa de que eu roubei a carruagem.

— Não venha você com esse joguinho para cima de mim, Chase. - ela sibilou, se colocando diante de mim e fazendo contar cada centímetro a mais que tinha.

— Sinto muito se isso te causou algum inconveniente, Clarisse. Mas era uma emergência e eu não tinha outra escolha.

A filha de Ares agarrou a frente da minha casaca militar, me olhando nos olhos.

— Se você acha que vai escapar dessa com palavras fáceis, você...

Antes que ela pudesse terminar de falar, ouvi o som da tenda se abrindo atrás de mim e Clarisse se apressou a me soltar. Olhei por sobre o ombro, curiosa, observando a silhueta de um garoto de cabelos pretos, pele jambo e olhos castanhos.

— Clarisse, eu... - ele ergueu os olhos dos papeis que trazia na mão e observou a nós duas com ares preocupados - Er... Eu... Eu espero não ter interrompido nada importante.

— Não se preocupe com isso, Chris. - falei me virando para encará-lo, dando as costas para Clarisse - O que o traz aqui?

— Nada muito específico. - ele falou coçando a nuca, desconfortável - Mas, aproveitando que você está aqui, Annabeth... Ouvi os filhos de Apolo comentando que o garoto que você resgatou está acordado e perguntando por você.

Assenti e me virei para a filha de Ares. Ela me olhava através de pálpebras semicerradas, com os braços cruzados e com uma postura desafiadora.

— Ainda não acabamos. - ela sussurrou.

— Não tenho mais nada a discutir sobre esse assunto, Clarisse. - retorqui - A carruagem já foi devolvida ao seu devido lugar sem nenhum dano. Agora, se me der licença...

Encaminhei-me para a porta com passos confiantes, mas, antes de sair, detive Chris pelos ombros. Ele era um dos irmãos de Luke... Talvez soubesse onde ele estava.

— Chris, você por acaso viu Luke hoje? - perguntei com uma leve esperança.

O garoto pensou um pouco e negou com a cabeça.

— Depois que vocês saíram eu não o vi de novo. - ele respondeu e eu senti que murchava - Por quê? Aconteceu alguma coisa?

Forcei-me a manter a compostura e lhe dei um aperto gentil no ombro.

— Provavelmente não. - falei forçando um sorriso e esperando que ele não parecesse falso - Eu o enviei em uma missão, nada de mais. Só... Queria saber se você tinha notícias.

Ele assentiu e eu deixei a tenda.

A noite começava a se fazer presente do lado de fora. Pequenas fogueiras eram acesas nas frentes das tendas principais ou onde a comida estava sendo preparada. Eu caminhei com passos largos em direção ao pavilhão da enfermaria, a maior tenda que tínhamos armado e que, no momento, abrigava uma boa quantidade de feridos devido a empreitada que eu liderara.

O ambiente era limpo e bem iluminado. Curandeiros passavam de um lado para o outro carregando pacotes de ataduras, cantis com néctar e potes com ambrosia pelo corredor central criado pelas várias camas de armação perfiladas de cada lado da tenda. Do teto pendiam discos de bronze celestial, lançando seu brilho fraco sobre as figuras ali acomodadas.

Logo avistei Percy. O garoto estava sentado na cama, ainda usando as mesmas roupas esfarrapadas de quando o resgatáramos. Seu cabelo estava desalinhado e ele trazia uma expressão assustada no rosto enquanto olhava ao redor, claramente confuso. Tenho que admitir: ele era bonito quando não estava babando no meu uniforme. Os olhos verdes contrastavam com a pele bronzeada e os cabelos pretos, o que lhe davam uma aparência incomum. Afastei esses pensamentos da cabeça. Estávamos em guerra. Aquela, definitivamente não era a hora para ficar avaliando a aparência de um garoto que eu mal conhecia.

— Você pediu para me chamarem? - perguntei me aproximando dele.

— É, bom... Sim... - ele coçou a nuca, parecendo constrangido - Você é meio que a única pessoa que eu conheço por aqui, general. Me desculpe se pareci pretensioso ou se fui inconveniente...

Dispensei o comentário com um aceno e tive que morder a língua para não admitir que ele muito provavelmente tinha acabado de salvar a minha pele.

— Como está se sentindo? - coloquei as mãos atrás do corpo.

— Bem. - ele respondeu - Com um pouco de dor de cabeça, mas bem.

— Isso é normal, considerando a quantidade de energia que você gastou. Na verdade, estou surpresa que você já esteja acordado.

— Eu... - ele baixou os olhos para o cobertor - Deixa pra lá. Onde estamos?

— No nosso acampamento no Monte Mitchell. - respondi resolvendo não pressioná-lo - Quíron queria falar com você assim que acordasse. - completei - Acha que está em condições?

Ele assentiu e se colocou de pé, calçando um par de botas surradas. Enquanto esperava, meus olhos recaíram sobre a mesa de cabeceira entre a sua cama e a do vizinho. Ali repousava o chifre branco e preto do Minotauro transformado em um berrante por algum filho de Hefesto desocupado, muito provavelmente Jake Mason, o único que nos acompanhara na missão. Eu pedira para Will deixá-lo guardado, mas ele provavelmente o encontrara entre os suprimentos e voilà! Tínhamos um berrante novo em folha.

— Vamos? - Percy perguntou.

— Não esqueça o seu espólio. - falei apontando para o objeto - Espero que não se importe que alguém o tenha transformado em um berrante. Mas com certeza ele vai se provar mais útil agora do que um chifre.

O garoto pegou o objeto com ambas as mãos com um cuidado exagerado, como se ele estivesse prestes a explodir. Sob a luz fraca do interior da enfermaria, sua expressão parecia indecifrável.

— Então isso quer dizer que... Que eu realmente matei um minotauro? - ele perguntou a meia voz, como se estivesse falando consigo mesmo.

— O Minotauro. E sim. - respondi me encaminhando para a porta. Ele veio atrás - Uma façanha para alguém com a sua falta de experiência. Mas não deixe isso subir à sua cabeça, Jackson. - empurrei para o lado o tecido que cobria a entrada da tenda, deixando que ele fosse à frente - Você baba enquanto dorme.

— Eu... Hã... O quê? - ele perguntou enquanto, inconscientemente, levava uma das mãos ao canto da boca, como se para checar se estava babando naquele momento.

Para disfarçar o sorriso que surgira nos meus lábios, dei-lhe as costas e, com passos firmes, segui para a tenda de comando.

— Vamos, Percy. - chamei - Quíron está te esperando.


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Notas finais do capítulo

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Não sejam tímidos! Deixem seus comentários que eles serão respondidos!

Por hoje é isso, pessoas! Nos vemos sexta que vem!



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