Ela estava sobre o corpo do velho, em um confortável sofá e imunda de sangue. Finalmente saciada, após secá-lo por completo. Fazia tempo desde que tinha a chance de alimentar-se tão livremente, e embora seu corpo nu recobrasse a força e beleza naturais, ela soube que as marcas de queimadura e demais cicatrizes seriam difíceis de curar. Com um empurrão ela jogou Harold Fremman ao chão, ficando com o sofá apenas para si.

Preguiçosamente estirada, pegou o celular dele em mãos, reproduzindo o vídeo que o velho filmou escondido. Nele, um casal de adolescentes se transformavam em um casal de lobos, correndo do quintal do homem. Jeanne riu, falando para um cadáver de olhos esbugalhados e boca aberta.

— Mas que velhote safado! Filmando menores de idade namorando... sabe que isso dá cadeia, né? Bem que eu podia denunciar, ligando pra Emma. — Sorriu, olhando para o casal sorrindo na tela. — Ai está um casal que eu shipo.

O celular tocou, anunciando a ligação que esperava. Ao que ela se ergueu, feliz por estar novamente livre para fazer algo tão simples quanto sair de uma casa. Do lado de fora um carro de luxo a aguardava, com vidros fechados e porta traseira destrancada. Ao que ela entrou, fechando a porta e sorrindo para o motorista.

— Tudo bem, dona Hillton? — perguntou Carlos, o motorista brasileiro que trabalhava para Adam.

— Levando em conta que acabo de beber até a última gota do sangue ralo de um velho ranzinza, enfiando esses dentes perfeitos no couro borrachudo dele... — Ela se olhou na tela do aparelho, usando-o como espelho. —... melhor do que há uma hora atrás, com certeza.

O carro se moveu em baixa velocidade. Ela abriu a bolsa com as coisas que pediu a ele, retirando dela um pano limpo e uma garrafa de água, com a qual retirou o excesso de sangue e sujeira de sua face, sob o olhar do humano que infiltrou na mansão de Adam, antes mesmo de apresentar-se ao vampiro.

— Carlinhos, se ficar me encarando assim, fico sem jeito — disse ela ao passar o pano sobre os seios, fazendo o sujeito desviar o olhar, visivelmente constrangido. — Mas pelos bons serviços, prometo enviar uma foto bem especial pra você ficar olhando no banheiro, ok?

— Que... que isso, senhora — respondeu o homem, sorridente e espiando pelo retrovisor aquela sedutora mulher. — A senhora é super gostosa, e tudo mais, mas sou profissional.

Jeanne piscou, rindo da reação do humano com quem gostava de brincar.

— E toco pra onde, senhora? — perguntou ele, aproveitando para espiar novamente.

A vampira olhou pela janela do carro. Dela, tinha visão daquele antigo casarão, erguido no alto de uma colina sombria.

— Vou pensar nisso ainda, Carlinhos. Tudo que eu quero agora é ir pra bem longe dessa cidadezinha amaldiçoada.

E abrindo o vidro, jogou fora os panos sujos de sangue, que voaram para longe.

— Adeus, Bleak Hill.

*** 

E esse foi o fim final ^^" 

Filhos da Noite foi uma nova versão de uma história chamada Contos de Garras e Sangue, que teve 23 capítulos e encerrou deixando certas coisas em aberto e pontas soltas. Depois dela escrevi outras coisas, e com a experiência que obtive com elas voltei a essa trama, o que resultou numa versão maior e melhor da história original. 

Vale dizer que toda a trama foi inspirada em sessões de RPG que narrei para 3 amigos meus, que deram vida a Adam, Andy e Paul. Claro que mudei muita coisa, tudo o que fosse necessário para transformar uma campanha de RPG entre amigos em uma história interessante e com personagens complexos. 

Fiz uma revisão geral corrigindo erros de escrita e de continuidade, além de melhorar alguns pontos aqui e ali. Apesar disso, sei que tenho muito a melhorar, por isso estou sempre aberto a críticas construtivas, seja nos comentários ou por mensagem privada. Então sinta-se livre para falar o que pensa. Também refiz a sinopse, na esperança de que ela reflita melhor a ideia e clima da história.  

Muito obrigado a você que leu até aqui, sua companhia é o que me motiva a continuar. Grande abraço, e até a próxima história!