A Herdeira Stark - Livro I escrita por Jojs


Capítulo 10
In your DNA




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A porta da sala do diretor estava entre aberta, uma garota de quase 16 anos balançava a perna sentada sobre uma das cadeiras que ficava do outro lado da mesa, o homem de meia idade assinava alguns papéis esperando que o responsável legal da garota chegasse, aquela era uma cara escola de Manhattan, eles não aceitavam esse tipo de comportamento e a garota tinha ido além dos limites aceitáveis, mesmo que ela discordasse com aquilo.

— Seu pai está um pouco atrasado, senhorita Stark. — O homem olhou no relógio em seu pulso.

— Bem vindo ao meu mundo, diretor Campbell. — Lila falou olhando o relógio sobre a cabeça do diretor e depois para o calendário um pouco ao lado que marcava o ano de 2008. — Ele nunca tem tempo para mim.

— Senhorita ... Olha ele chegou. — O sorriso do diretor ao se levantar da mesa se desfez. — Senhor Hogan? Onde o Senhor Stark está?

— Oi Happy. — Lila falou sem nem olhar para trás. — Qual a desculpa da vez?

— A reunião do Senhor Stark atrasou. — Happy sorriu amarelo. — Mas em casa ele e essa mocinha vão conversar.

— Claro, vamos sim. — Lila ainda dizia em tom de deboche enquanto balançava a cabeça de forma negativa para o diretor. — Depois ele vai me dar o corretivo que ele promete desde quando me conheceu.

— Liz. — Happy balançou a cabeça de forma negativa. — O que ela fez dessa vez, diretor?

— Ela quebrou o nariz de um colega de turma com um soco. — O diretor olhava com uma cara de péssimos amigos para Lila.

— Era o quarterback, você tinha que ver o soco. — Lila sorriu, dessa vez olhando para Happy. — Posso ir pra casa agora?

A porta do carro bateu com força, Lila foi no banco de trás em todo o trajeto, escutara uma lição de moral vinda de Happy, não precisava daquilo, não tinha que ouvir nada dele, ele não era o seu pai, mas Tony também não era muito preocupado com a filha, ele pagava por tudo que ela consumia e para ele isso era o suficiente, só que para ela o dinheiro não é exatamente a forma como se usa para pagar por tudo, na relação pai e filha que ambos tem tudo ainda era um pouco complicado.

Depois daquela conversa com Happy no início dos anos 2000, a situação de Tony e Lila melhorou, mas não foi muita coisa, pai e filha tinham gênio forte e mesmo tendo alguns poucos momentos juntos, acabavam brigando, Tony preferia manter-se mais longe e Lila o via como negligente e arrogante, achava que o pai não se preocupava com ela e mesmo que Tony visse o brilhantismo da filha, ela não permitia que ele se aproximasse, no fim das contas ele colhia parte do que plantara ao tratar a filha com hostilidade quando ela chegou para viver com ele, isso ainda no milênio passado.

— Como foi lá na escola? — Tony terminava de assinar algumas folhas e lacrava um envelope. — Eu queria ter ido, mas ...

— Você não sabe muito bem como lidar com essas situações. — Happy ponderou com a cabeça. — Mas você é o pai dela.

— Eu estou tentando. — Tony entregava o envelope ao motorista. — Eu tenho feito isso por oito longos anos depois daquela nossa conversa, mas ela não se abre.

— Um pouco é culpa sua. — Happy coçou a cabeça. — Ela socou um garoto, o quarterback, o diretor cogitou expulsá-la, mas ...

— Ele não vai perder a matrícula da filha do Stark. — Tony balançou a cabeça negativamente. — Leve isso ao General Rhodes e diga ao James que eu espero ele para um jantar na quinta.

— Tudo bem. — Happy suspirou, ele estava ficando velho para aquilo. — Mas fale com ela.

— O que eu vou falar? — Tony enchia um copo com um pouco de whisky. — Ela me odeia.

— Ela não te odeia e não vá falar com ela depois de beber, ela sente o cheiro. — Happy revirou os olhos tomando o copo da mão dele. — Quem sabe não é uma conversa de pai e filha que vocês precisam?

— Você tem razão. — Tony suspirou, e como ele tinha.

Ele bateu duas vezes na porta do quarto, nada dela abrir, Tony sabia que a raiva dela era bem justificável. Nos anos que se passaram desde aquela conversa entre ele e Happy, o Stark até que tentou, mas nem sempre conseguia ser o pai que ela precisava, seja por estar perto, seja por falar as palavras certas ou até agir certo, ele nunca conseguiu decifrá-la e tinha medo da pessoa que ela se tornaria por culpa dele, ela era uma boa menina, mas distante.

Na quarta batida ele simplesmente abriu, a porta nunca estava trancada, essa era uma regra na casa, as portas não são trancadas e sempre se bate antes de entrar, ela poderia odiá-lo, mas pelo menos suas regras não deixava de seguir. Ela estava sob a cama, já com outra roupa, parecia escrever algo em seu caderno, resolver o dever de casa? Talvez não, já que ela tinha uma concentração bem maior com aquilo. Desenhar? Também não, Tony poderia ver o que estava no caderno ao pé que se aproximava, eram letras.

— Achei que seria autoexplicativo de que eu não quero falar com você quando não abri a porta. — Ela nem mesmo tirou o olhar do caderno.

— Eu sou o sei pai, Lizandra. — Ele coçou a cabeça ainda se mantendo de pé. — Eu não preciso de permissão para andar dentro da minha própria casa.

— Quando te convém você é meu pai, não é? — Ela sorriu torto, tirou os óculos de leitura da face e os colocou sobre o caderno. — O que você quer?

Algo nele irritava Tony, mas não de uma forma totalmente ruim, aqueles olhos, os malditos olhos de Howard, os olhos que desafiavam só de encontrar os seus, que deixavam Tony meio sem chão só de encarar os dele, aqueles olhos que eram verdes quando Lizandra era pequena e que aos poucos foram ficando em um tom castanho e em raros momentos, e com a luz adequada, viravam um verde escuro muito bonito que lembrava Tony de Samantha, sim, ele ainda lembrava dela.

— Nós vamos conversar sobre o que você fez na escola. — Ele ocupou um lugar aos pés da cama. — Por qual motivo você socou aquele garoto?

— Por que eu quis? Por que eu posso? — Ela ia fazendo indagações a si mesma. — Nem tudo na vida precisa de um bom motivo. — Tipo suas armas.

— O que minhas armas têm haver com você se tornando uma delinquente juvenil?

— Qual o propósito de fazê-las? — Ela franziu os lábios o encarando. — Dinheiro não é uma boa desculpa para armar terroristas.

— Eu não armo terroristas. — Tony falou entre os dentes e Lila soltou uma risada de deboche. — O seu falso patriotismo me assusta.

— E a sua falta dele me enoja. — Ela respondeu de prontidão.

Ela sempre tinha uma resposta pronta na ponta da língua, ela era rápida, a língua afiada, Tony não gostava de lidar com ela, mas tinha que render-se a inteligência dela, mesmo aos quase 16 anos ela era mais inteligente do que ele jamais foi naquela idade, o convívio talvez tenha surtido esse efeito, ele não sabia, mas tinha que admitir que Lila e ele eram mais parecidos do que ele gostaria que fossem, malditas semelhanças.

— Agora que já encheu a minha paciência. — Ela apontava para a porta, para que ele saísse. — Tchau.

— Nós não terminamos de conversar. — Tony estava sério quando se levantou. — Você tem que me obedecer, se você brigar na escola de novo eu serei obrigado a tomar medidas mais sérias.

— Vai fazer o que? — Ela comprimiu os lábios segurando a risada. — Me colocar de castigo, papai?

— Você vai ficar tanto tempo trancada dentro desse quarto que quando sair daqui estará com rugas. — Ele falou sem mudar o semblante. — Eu não crio um animal dentro dessa casa.

— Você cria uma prisioneira! — Ela gritou se ajoelhando na cama ao vê-lo de afastar. — Eu sou o que pra você, Anthony? Uma experiência de laboratório?

— Você é minha filha e eu sou o seu pai! — Ele se virou para ela. — Posso não ser o pai que você sempre quis, mas você me deve respeito, abaixa esse tom de voz.

— Se não o que? — Ela ainda desafiou Tony.

— Se não nada. — Ele suspirou cansado. — Você sabe o que acontece.

— Não sei! — Ela falou se levantando da cama. — Eu nunca sei o que acontece com você ou comigo, você é distante, relapso, eu só queria amor e você em encheu com o seu dinheiro, eu nunca quis a droga do seu dinheiro, eu queria ser feliz como era com o tio Phil.

— Felicidade é um conceito muito complexo. — Tony respirou fundo. — Descanse, te espero no jantar mais tarde.

Lila ficou trancada no quarto o dia inteiro, não comeu, não dormiu e nem nada, só ficou lá e dessa vez com a porta bem trancada, olhava para a vista que tinha do seu quarto, era um lugar bem bonito, diga-se de passagem. No jantar ela não se juntou ao pai e a Happy, que as vezes fazia a refeição com eles, pediu para comer no quarto e assim ficou, ignorou Tony por todo o tempo, não tinha paciência para ele de forma nenhuma, ele conseguia ser cabeça dura, chato, imaturo e o tipo de pessoa que não a ouvia nunca.

Pela manhã ela saiu calada, preferiu o silêncio ao entrar em embate com ele, Happy já tinha deixado o seu lanche sob a bancada, ele sempre buscava na cozinha e deixava sobre a mesa do hall, só para que ela descesse e pegasse, ela não era muito fã do lanche da escola. A garota estava sentada sobre a escada, como fazia na maioria das vezes, quando o segurança acenou para ela, para se juntar a ele e seu pai na mesa do café.

— Eu não estou com fome. — Ela reclamou no beiral da porta da cozinha onde havia uma pequena mesa onde eles comiam raramente. — Porque não estão comendo no salão de jantar como sempre?

— Porque eu queria que fosse algo simples. — Tony sorriu esticando a caneca para ela. — Só nós três.

— Happy ... — Ela mirou o olhar no segurança. — Eu não estou com fome e vou pra escola de ônibus, obrigado.

— Ela não abaixa a guarda nunca? — Tony reclamou olhando o segurança enquanto a filha já havia saído. — Eu vou atrás dela.

— Não. — Happy segurou o ombro do Stark. — Seu jato saiu em vinte minutos, termina de se arrumar e vá para o heliporto lá em cima, o piloto já está te esperando para te levar pro jato, você tem um encontro em algumas horas com aqueles investidores.

— Mas ...

— Eu cuido dela, okay? — Happy terminava de tomar o café e se levantara.

Lila encostara a cabeça na janela do ônibus, as pessoas olhavam estranho para ela, era muito raro quanto a garota Stark ia junto com outros mortais para a escola de ônibus, era um modelo bem bonito e caro, isso porque a escola era parte da elite nova-iorquina, mas mesmo assim vê-la ali não era normal, ela não costumava se relacionar com muitas pessoas, a não ser com Connor Fairchild, seu colega de laboratório e amigo.

— Pela sua cara ele fez alguma coisa. — Connor torceu os lábios. — O que seu pai aprontou?

— Ele é um babaca. — Lila revirou os olhos. — E o que o filho do prefeito faz no ônibus?

— O mesmo que a filha de Tony Stark. — Connor sorriu fazendo-a sorrir também. — Tentando ter um pouco de normalidade, o que nem sempre é fácil.

Eles se conheciam a alguns anos, eram colegas de laboratório, participavam de alguns clubes juntos, o avô de Connor era alguém importante no cenário político americano também, ele já tinha sido vice-presidente quando o garoto era pequeno e foi um dos amigos de Howard antes do inventor morrer, Lila cansara de ouvir George Fairchild compará-la a beleza de sua avó, Maria Carbonell.

Era um dia muito cheio de atividades escolares, um daqueles que Lila não tinha Connor com ela, então era um dia muito, mas muito chato para variar. A escola era integral, um jeito que Tony tinha de manter sua filha entretida por mais e mais tempo, mas depois do almoço algo peculiar aconteceu. Ao chegar a sua aula de ciências, Lila recebera da professora Gardner o recado de que o diretor a esperava, isso em si não era peculiar, o estranho é que ela não tinha feito absolutamente nada.

— Eu não bati em ninguém hoje, diretor. — Ela já entrou se desculpando, mas ao ver quem estava na sala ela arqueou a sobrancelha, além de Happy havia uma ruiva junto a eles, era Pepper Potts, a secretária de seu pai. — O que aconteceu?

— Liz, nós temos uma notícia pra você. — Happy se levantava devagar. — Algo muito sério aconteceu com o Tony.

— Ele vai ser pai de novo? — Lila falou em tom de deboche. — Isso realmente pode ser muito ruim no ponto de vista dele.

— Seu pai foi sequestrado por terroristas, querida. — Pepper se levantou. — Não sabemos nem se ele está vivo ainda.

Naquele momento o corpo de Lizandra gelou, mas gelou como nunca havia gelado antes em sua vida, ela ficou paralisada, foi como um filme da sua vida passasse na sua frente, tudo que ela conseguia se lembrar, principalmente das últimas semanas do relacionamento com Tony, mesmo que ela o odiasse tinha uma parte de si que queria encontra-lo, saber que Tony estava bem e provar a ele o quão capaz ela poderia ser. Tony estava sempre lá, sendo chato e irritante, mas estava lá, era muito irreal para ela não o ter por completo pela primeira vez desde que o conhecera.


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