Novas direções escrita por Aurora Vermelha


Capítulo 9
Detenção


Notas iniciais do capítulo

Gente do céu, a semana está muito corrida! Por sorte eu tinha metade desse capítulo salvo aqui no meu computador. Bom, aí está!
Espero que gostem :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/738756/chapter/9

            Acordei atrasada para o primeiro tempo. Me levantei e tomei uma ducha correndo, já me arrependendo de ter perdido o café da manhã. Bianca não tinha feito o favor de me acordar depois das 5 vezes que eu resmunguei que estava com sono e sem cabeça para assistir aula. Ela deveria ter insistido em me acordar.

            Fui em direção ao corredor da sala de aula e tive que esperar sentada em um banco até bater o sinal do próximo tempo. Enquanto xingava mentalmente Bianca por não ter me acordado, reparei que estava falando um pouco alto e que tinha um aluno na minha frente.

            -Perdão, não foi para você –Disse extremamente envergonhada.

            -Confesso que eu estranharia você estar me chamando de oxigenada –Respondeu enquanto se sentava do meu lado –Prazer, Henrique –Estendeu a sua mão para mim.

            Apertei sua mão e voltei a pensar em coisas aleatórias. Estranhei o fato de nunca ter visto Henrique na minha sala. Talvez tenha sido pelo fato de que eu nunca prestei atenção nos alunos, somente naqueles que eu tentei fazer amizade.

            -Me falaram que o professor de física queria te convidar para a turma avançada –Disse tentando puxar assunto. –Você tem sorte de ser de exatas.

            -É... Eu não diria muito bem sorte, eu diria que é prática mesmo –Tentei ser educada.

            Henrique deu os ombros e sacou de sua mochila um exemplar de “simplesmente acontece”. Coloquei a mão na minha boca para abafar o grito que viria em seguida. Me ajeitei no banco e tentei conter minha animação.

            -Sou apaixonada por essa história.

            -É? Sua amiga que me recomendou. Estou tentando ler todos os gêneros, mas para ser sincero, o que mais me fascinou foi o de aventura –Disse com os olhos presos na capa do livro.

            -Que amiga? –Indaguei curiosa.

            -Priscila. A do comitê de boas-vindas –Virou seu rosto para mim e sorriu. –Antes que pergunte, não, eu não sou um stalker. Quando estávamos na biblioteca eu estava resmungando que queria encontrar um livro de romance interessante para ler, então ela escutou e logo veio me recomendar esse. Alegou que era o seu favorito.

            -Curioso... –Só consegui responder isso. Fiquei feliz por dentro por ter influenciado a mais pessoas lerem esse livro fantástico.

            Henrique se levantou e fez sinal para eu me levantar também. Logo em seguida abriu a porta da sala e balbuciou com os lábios dizendo “já podemos entrar”. Fui até o final da sala sem encarar os alunos e sentei na única carteira vazia (Já que Henrique tinha sentado lá na frente ao lado de um menino ruivo). A menina que estava ao meu lado era morena dos cabelos enormes. Tinha olhos cor de mel e seu cabelo era castanho escuro na raiz e mel das pontas. Quem a visse de longe juraria que era uma versão da Yasmin mais bonita. Fiquei meia hora processando a pessoa que estava ao meu lado, até que percebi que foi um tanto constrangedor.

            -Perdão, você parece com uma pessoa que eu conheço –Disse completamente sem graça.

            Ela sorriu e não respondeu nada. Olhei para seu livro e vi que estava resolvendo os exercícios de matemática. Bem curioso, já que a aula era de Geografia. Notei que ela tinha dificuldade com as matrizes, então arrisquei perguntar:

            -Precisa de ajuda com o exercício?

            -Tô de boa –Respondeu sem tirar os olhos do livro –A não ser que você queira me ensinar a matéria desde o começo do bimestre –Riu da sua própria piada.

            -Não é impossível –Dei os ombros.

            -Foi uma piada, mas se estiver disposta... –Se ajeitou na cadeira e pegou o livro de geografia abrindo rapidamente na página 84.

            Me virei para saber o que tinha acontecido e dei de cara com a professora Anabeth. Me virei rapidamente para frente e fingi estar acompanhando algo no livro da menina que estava ao meu lado, que todavia eu ainda não sabia o nome.

            -Acho maravilhoso esse comportamento de vocês –Vociferou para que todos pudessem escutar –Os alunos chegam atrasados e sequer se preocupam em acompanhar a matéria . Sabe o que eu deveria fazer? Dar uma detenção –Ameaçou me olhando –Mas como é o seu primeiro atraso, senhorita Catarine, vou relevar.

***

—Eu estou te falando, ela ameaçou me dar uma detenção –Contei para Mariana e Lucas durante o almoço. Eles estavam realmente impressionados. Falaram que nunca viram a professora Anabeth desse jeito –Ela não deve ter dormido bem, sei lá, mas o mal humor dela era evidente.

—Bom, pelo menos ela não fez nada, só ameaçou –Mariana me confortou.

—Para mim não faria diferença, de verdade, eu não faço nada de noite mesmo –Dei os ombros enquanto saboreava meu macarrão ao molho branco. As cozinheiras do internato eram maravilhosas.

—Hum –Resmungou Lucas.

—Que foi? –Eu e Mariana perguntamos em uníssono.

—É que esse papo todo me lembrou que na detenção passada eu e os garotos tivemos a ideia de criar uma banda. Só que até agora não escolhemos um nome.

—Que garotos? –Mariana perguntou desconfiada.

—Ah, a galera de sempre... Eu, Bruno e Hugo.

Senti meu estômago revirar quando ele pronunciou o último nome. Permaneci escutando atentamente.

—Ficamos de levar uns nomes legais para a reunião de hoje –Continuou enquanto comia.

—Reunião de hoje? –Mariana pareceu estar um pouco nervosa –Lucas Santana Oliveira, vocês pegaram detenção mais uma vez?

Senti o clima pesar na mesa.

—Ah, ela é justamente na sala de música. É só vantagem –Tentou se explicar.

—Não, Lucas, não é vantagem. Isso vai para o seu histórico!

—Ah, eu estou pouco me lixando para esse histórico –Deu os ombros repetidamente e voltou a comer.

Mariana fechou a cara e me encarou, como se estivesse suplicando para eu concordar com ela.

—Excelsior –Quase sussurrei.

—O que? –Os dois falaram juntos.

—Excelsior. Significa majestoso, grandioso, superior, em latim. Seria um nome legal –Sorri de canto de rosto.

Mariana se jogou na cadeira e bufou. Pelo visto ela não apoiava a ideia de seu namorado estar em uma banda e ficando de detenção de propósito. Lucas aparentou ter gostado do nome sugerido.

—Quem toca o que na banda? –Perguntei curiosa.

—Com licença –Mariana pegou seu prato e se retirou.

Lucas olhou para ela e depois voltou a me olhar.

—Não liga não, ela prefere sair de perto para não discutir. Enfim, eu toco bateria, o Bruno guitarra e o Hugo toca baixo –Respondeu minha pergunta anterior.

—Acha melhor eu ir atrás dela? –Perguntei dando a última garfada no meu macarrão.

—Depende, você fala com as meninas do terceiro ano? –Fez com a cabeça mostrando para onde Mariana tinha ido. Ela estava sentada com Yasmin e outras meninas que eu jamais tinha visto antes na escola. –Deixa que eu levo isso.

Lucas pegou os pratos que estavam na mesa e entregou na cozinha. Me levantei e fui para o meu quarto escovar os dentes e descansar um pouco. Muitos alunos estavam transitando pelos corredores, assim fazendo eu demorar a chegar até meu quarto. Quando finalmente cheguei, encontrei Bianca fazendo alguns exercícios de matemática.

—Deixou para fazer em cima da hora? –Indaguei com certo tom de superioridade.

Bianca fingiu não escutar e continuou fazendo.

—Poderia ter me acordado hoje, né? –Insisti em dialogar sentando na minha cama.

—Eu te acordei ué, você que não quis levantar –Disse sem desgrudar os olhos da conta que estava fazendo.

—Ah, poderia ter insistido –Dei uma risadinha –Sempre que você levanta mais cedo, me acorda junto. E quando não quero, insiste.

—Eu insisti umas 5 vezes, Caterine. Tem limite para tudo.

Eu realmente não queria acordar naquela manhã. Estava com a cabeça cheia de coisas e informações do dia anterior. Talvez enquanto resmungava de manhã eu deveria ter falado algo que não devia. Exatamente por isso tinha acordado com um grande mal humor e tinha xingado Henrique sem querer.

Bianca soltou um grunhido quando errou novamente a última questão da lista de exercícios. Resolvi ficar quieta e fui escovar meus dentes. Sempre que eu os escovava eu lembrava de uma música boba que meus pais cantavam para mim quando era criança. Era a música dos dentinhos. Nunca mais esqueci de passar o fio dental depois dela.

Coloquei uma calça de moletom e uma blusa regata vermelha para descansar. Me joguei na cama e peguei um livro aleatório da minha pilha de livros para ler. Resolvi ler, mas como estava cansada, não passei da página 5. Apaguei completamente por horas sem perceber.

—Acorda logo, você vai perder as aulas! –Disse uma voz doce e um pouco distante e nervosa.

Abri os olhos lentamente sem vontade alguma de levantar. Dei de cara com a figura de Bianca completamente nervosa.

—Tem ideia de quantas vezes eu te chamei? –Bianca afinou a voz sem perceber. Ela fazia isso quando estava nervosa.

—Eu não escutei –Respondi colocando a mão na testa em sinal de reprovação.

—É aula de matemática agora, vamos logo, não quero me atrasar –Disse saindo do quarto.

Troquei de roupa o mais rápido possível e corri para a classe. Infelizmente cheguei dois minutos atrasada e tive que ficar no corredor esperando. Como teria que esperar quase 50 minutos, resolvi dar um passeio pela escola.

Fui até a quadra, onde as meninas do primeiro ano estavam fazendo educação física. Me sentei na arquibancada que estava cheia de copos embalagens de biscoito e latinhas de refrigerante que largaram no campeonato anterior. Claramente via-se que os funcionários da limpeza não limpavam as arquibancadas.

Me sentei em uma parte razoavelmente limpa e comecei a observar o treino. Até que as meninas jogavam bem. Algumas ali tinham talento mesmo, poderiam até jogar no time da escola. Comecei a tentar memorizar as técnicas de ataque delas. Observei que uma menina jogou a bola tão alto que acabou caindo na arquibancada oposta a minha. Segui a bola com os olhos e eles pousaram em um grupo de pessoas que se encontravam na arquibancada da frente.

Merda.

A diretora estava com um grupo de professores observando o jogo das meninas. Pela roupa toda colorida com algumas faixas, eles eram professores de outra escola. Talvez fossem da escola que ia competir com a nossa.

A diretora pousou seu olhar em mim e fez com a mão para que eu descesse da arquibancada imediatamente. Obedeci sua ordem e encontrei com ela em frente a quadra. Via-se que ela estava furiosa.

—Senhorita Catarine, o que faz na quadra em horário de aula? –Tentou fazer uma voz doce, mas soou mais severa do que qualquer outra coisa.

—Estou esperando...

—Matando aula, óbvio –Me cortou bruscamente –Esse tipo de comportamento na nossa escola é inadmissível. Não sei como os inspetores não te flagraram aqui. Sabe a vergonha que eu passei ao explicar para aqueles avaliadores que estavam junto a mim o que estava acontecendo? Não podemos mostrar desordem!

—Mas eu... –Tentei contestar.

—Não interessa, você deverá receber uma punição. Depois da aula ficará na detenção até às 21h –Disse escrevendo um bilhete me encaminhando para a detenção.

Todos os diretores e professores andam pela escola com papéis de advertência?

Peguei minha advertência e caminhei até a minha sala de aula. Ainda faltavam 10 minutos para bater o segundo tempo. Me sentei no banco do corredor, guardei minha advertência e fingi que nada tinha acontecido. Antes eu tivesse ficado dormindo a tarde inteira.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Novas direções" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.