Assim que a aula terminou eu fui direto para a sala da detenção. Não queria que Bianca ficasse fazendo um interrogatório. Entrei na sala de música e a professora ainda não estava lá. Observei os instrumentos desencapados e em perfeito estado. Me sentei em uma cadeira próxima ao violão e passei o dedo por suas cordas. Estava perfeitamente afinado.

            -Dessa vez não vai ter como você me evitar –Uma voz, infelizmente, conhecida ecoou pela sala de música

            Suspirei e o encarei. Era Hugo.

            -Não vai negar que está me evitando? –Se aproximou.

            -Não –Encarei o violão.

            -Será que podemos conversar decentemente agora sobre o que aconteceu? Sem ninguém, nem o Bruno, para interferir? –Pareceu ter nojo de Bruno no momento em que citou seu nome.

            -Não –Respondi rapidamente. Não queria ter aquela conversa. Não estava preparada.

            -Ok. Então eu falo e você escuta se quiser –Suspirou e me encarou. Fixei meu olhar no seu. –Eu fui bem babaca em ter me afastado de você do nada, confesso. Sua amizade parecia ser muito boa, e infelizmente, eu me afastei a pedido da Yasmin. Fui mais babaca ainda em ficar trocando olhares com você. Eu fiz isso... Sei lá porque. Talvez se não desse certo com a Yas, eu teria você. Lógico, fui um idiota em te colocar como segunda opção. Acontece que do nada eu comecei a olhar a Yasmin de outro jeito. Quando eu fiquei com ela na noite da festa, eu fiquei meio sentido, mas achei que era coisa da minha cabeça. Quando fiquei contigo, tentei esquecer ela, talvez por medo de não ser reciproco, ou....

            -Eu não quero saber da sua história com ela, obrigada –Disse sarcasticamente o interrompendo.

            -Só queria que você entendesse o meu lado –Suspirou fortemente.

            -Pelo menos você reconheceu que foi um babaca –Sorri sarcasticamente.

            -E esse babaca aqui quer uma segunda chance de ser seu amigo –Deu um leve sorriso.

            Não tinha como negar que Hugo era um menino muito bonito e charmoso.  Parecia com aqueles galãs de filme de romance, com exceção de que eles eram muito mais altos e fortes. Hugo era magro, branquelo e tinha olhos azuis. Seu cabelo vivia sempre bagunçado, mas naquela hora, estava mais arrumado do que o normal. Seu sorriso era o que mais chamava atenção depois de seus olhos.

            Respirei fundo e escolhi as palavras com bastante calma. O meu silencio estava deixando o menino agoniado. Não me importei. Ameacei falar algo, o que o deixou cheio de expectativas e depois fechei a boca. Vi seu rosto entristecer. Suspirei e finalmente disse:

            -Você vai precisar reconquistar a minha confiança.  O que não é nada fácil. Se quiser, vai em frente. Se não quiser... Eu não me importo mais.

            A Catarine de alguns meses atrás jamais teria coragem de falar algo do gênero. Sempre fui muito quieta e aceitava tudo. Nunca fui de discutir muito, ainda mais causar intrigas. Ser fria com as pessoas era uma característica que passava longe de mim. Até aquele exato momento.

            Antes que Hugo pudesse responder algo, a professora que cuidaria da turma na detenção chegou junto com os outros alunos. Dei de cara com Bruno e Lucas de imediato. Saí correndo e dei um enorme abraço em Bruno, como se precisasse de um consolo. Ele entendeu o recado.