Era dia 25 de Novembro, eu e Thiago estávamos fazendo dois meses de namoro. Ainda era muito recente, mas toda vez que eu o olhava, eu via o homem da minha vida. Sempre fui muito apaixonada por ele, e nós demoramos muito para assumir que gostávamos um do outro.

 Combinamos que passaríamos a tarde inteira vendo filmes de romance e comendo pipoca. Ele não gostou muito da ideia de ser um filme de romance. Thiago sempre preferiu os filmes de ficção científica, mas depois de muito esforço e muitos beijinhos, ele decidiu assistir “Simplesmente acontece” comigo. Era o meu filme favorito.

Estávamos jogados no sofá desde cedo assistindo filmes de romance. Quando chegou a hora de ver “Simplesmente acontece” ele se levantou e disse:

—Já deu de filmes de romance por hoje, né amor? Não quer sair para comer algo não?

—Ah, justo na hora do meu filme favorito? –Fiz biquinho.

—Catarine, a cada filme que eu coloco você diz “esse é meu favorito, vou chorar muito assistindo” –Respondeu imitando minha reação de forma muito mais engaçada do que era.

Joguei uma almofada nele.

—Isso foi um desafio para uma guerra de travesseiros? –Disse se jogando em cima de mim com a almofada.

Começamos a nos debater e rir. Ficamos nessa por alguns minutos, até não ter mais forças para tantas gargalhadas. Thiago estava em cima de mim com um travesseiro, mas seu foco era em meu rosto. Ele e olhou nos olhos e tirou meu cabelo do rosto.

—Você fica linda assim.

—Realmente, fico linda toda descabelada e vermelha de tanto rir. Você tem um péssimo gosto, Thiago –Respondi rindo enquanto saía debaixo dele.

—Você é linda de qualquer jeito, ruiva –Se levantou e me abraçou por trás –De qualquer jeito –Repetiu no meu ouvido.

Me soltei dele, peguei o DVD de Simplesmente acontece e me virei para ele. Thiago estava todo descabelado e com uma cara de sono tremenda. Seu estômago roncou. Realmente já estava na hora da gente sair para comer alguma coisa. Coloquei o DVD no lugar e disse:

—Vou tomar um banho para a gente sair e comer algo.

—Ah não, você demora séculos no banho, Catarine –Fez cara de cansaço –Qual parte do “você fica linda de qualquer jeito” você não entendeu?

—Você só disse isso para eu não ir tomar banho? –Respondi debochando e rindo.

—Lógico –Gargalhou e me abraçou –Tá bom, você tá uma porquinha mesmo, vai tomar banho –Colocou o dedo tampando o nariz fingindo que eu estava fedendo demais.

Fui correndo para o banheiro e tomei o banho ais rápido que eu havia tomado em toda a minha vida. Enquanto lavava o meu cabelo, fiquei pensando em lugares diferentes para ir comer com o namorado. Em todos os nossos encontros nós íamos ao Papa’s pizza. Eu amava a pizza daquele lugar, mas já estava na hora de dar uma inovada.

Saí do banho e corri para o meu quarto para trocar de roupa. Coloquei um vestido azul folgadinho com uma rendinha na barra dele. Sempre que eu o vestia, me sentia uma princesinha.

—Catarine, coloca um casaco –Gritou da sala –Está fazendo frio.

—Pode deixar –Respondi enquanto penteava o meu cabelo.

Desci correndo sem colocar nenhuma maquiagem. Thiago gostava de mim de qualquer jeito. Eu poderia estar com 50 quilos de maquiagem na cara que ele iria dizer “Poxa, exagerou dessa vez, mas não é que esse batom combinou com você? ”. Ele era sincero de uma forma fofa.

O encarei e ele estava com o cabelo penteado e a cara lavada. Dei um sorriso sem graça.

—Amor, vai tomar um banho, vai –O empurrei para o banheiro –Eu estou toda linda, cheirosa e você com cara de quem acabou de acordar. Deixa que eu pego alguma roupa do meu pai para você.

Subi correndo para o quarto dos meus pais e lá estavam eles, deitados na cama assistindo à novela das 19h. Entrei em silêncio para não atrapalhar, mas assim que pisei o quarto os dois se viraram para mim e disseram:

—Isso que dá namorar, acaba perdendo a novela.

—Papi, quando eu chegar você me conta tudo o que aconteceu, tá?

—Vai sair? –Minha mãe indagou –Com a permissão de quem?

—Ah, claro, vossa alteza, tu me concederias a honra de sair para lanchar com o meu namorado? –Fiz uma reverência.

—Debochada –Papai riu e fez que sim com a cabeça.

—Não volte tarde, ein mocinha, e vê se não come muito, vai acabar ficando sem fome para jantar.

—Verdade... Acho melhor então eu jantar com o meu namorado –Respondi fazendo sinal de que precisava de mais dinheiro.

Meu pai se levantou da cama e foi até a mesa onde estava a carteira dele e sacou uma nota de 50. Me entregou com um sorriso no rosto e disse baixinho para eu não gastar tudo.

—Marcos, Marcos... Olha o prejuízo que essa menina nos causa –Minha mãe gargalhou –Juízo ein mocinha! Não volte tarde –E virou-se para  a novela mais uma vez.

—Bom, tem mais uma coisinha... Thiago está no banho. Tem como você emprestar para ele alguma roupa sua?

—Shhhh –Fizeram os dois –Pega aí no meu armário –Respondeu sem tirar os olhos da televisão.

Fui até o corredor do banheiro com a roupa na mão e entreguei para Thiago. Logo ele se vestiu e saímos para jantar. Decidi ir até um restaurante que tinha aberto perto do parque central, ao lado do teatro. Jantamos lá e ele insistiu em pagar a conta. Depois decidimos caminhar pelo parque de mãos dadas, igual acontecia nos 500 filmes que tínhamos assistido mais cedo.

—Agora só falta eu te largar aqui e depois aparecer com um buquê de flores –Disse rindo.

—Ne precisa disso. Só de estar com você... Eu transbordo amor –Respondi dando um selinho.

Ele me abraçou e ficamos paradas abraçados ali por bastante tempo. Eu sentia seu coração batendo mais forte e bem mais rápido. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Ele se soltou do abraço e me encarou. Ele amava fazer isso.

—Eu te amo, Catarine, espero um dia que a gente possa ter um aniversário de namoro perfeito –Disse um pouco triste.

—Esse aniversário foi perfeito! Você teve paciência e assistiu todos os filmes que eu quis junto comigo, e de quebra jantou comigo.

Ele não respondeu, simplesmente colocou a mão no bolsou e sacou uma caixinha bem pequena. Mirou-me e abriu a caixinha para não perder a minha reação.

Era um colar com a inicial T.

Coloquei a mão na boca completamente surpresa com o presente e não consegui pronunciar uma palavra sequer. Simplesmente o abracei e o beijei em forma de agradecimento.

—Eu te amo –Disse antes de lhe dar um selinho.

—Eu também te amo, Catarine, e sempre vou te amar.