Hearts Of Sapphire escrita por Emmy Alden


Capítulo 36
¨t h i r t y - f i v e¨


Notas iniciais do capítulo

mais um capítulo quentinho!



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A cabeça de Corinna atingiu a grama com um baque surdo. As folhas não eram densas o suficiente para amortecer minimamente o impacto, e a menina viu estrelas.

O combate entre a Escolhida de Fortuna e Nyota estava sendo inteiramente físico. Ou, pelo menos, majoritariamente.

Dessa vez, o cenário não era as arquibancadas e paredes cruas da Arena, e sim uma floresta tão realista que em alguns momentos Corinna acreditava que era real.

Pelo menos, a garota sabia que ali não havia nenhuma armadilha preparada especialmente para ela ou qualquer coisa que favorecesse sua oponente.

Como havia ganhado o último confronto, deveria ser seu direito poder ter a luta com algo a seu favor, entretanto, já que ainda não tinha concretizado o Juramento com Athlin para que ele fosse seu Simpatizante, aquele confronto seria neutro, criado genericamente pelos Governantes que não estavam ligados de alguma maneira ao Sacrifício.

Depois que ele fizera a sua oferta peculiar envolvendo amizade, Corinna teve exatos três minutos para ponderar sobre.

Aceitou, mas com uma condição: o Senhor Esmeralda só se tornaria oficialmente seu Simpatizante a partir da segunda etapa da competição.

— Você deveria ter me matado quando teve a oportunidade. — Nyota rosnou a centímetros do rosto de Corinna enquanto forçava seu braço contra a garganta dela trazendo a garota de volta ao momento presente.

A Escolhida de Fortuna arfou se amaldiçoando pelo passo em falso que dera segundos atrás.

— Vou guardar... sua dica. — Corinna disse com dificuldade.

— Espero que ela seja útil no além-mundo. — A Escolhida de Amara rebateu ofegante.

Corinna estava numa posição desfavorável por completo, mas não era como se Nyota detivesse uma grande vantagem.

Fizera questão de correr por grande parte da floresta ilusória, entre galhos espinhosos, troncos caídos e raízes protuberantes. Tudo aquilo com a oponente na sua cola.

Aos olhos externos, devia ter parecido apenas uma covarde patética, mas sabia o que estava fazendo.

Bem, esperava que sim.

Quando Nyota forçou um pouco mais, seu braço quase bloqueando totalmente a entrada de ar para os pulmões da caçadora, Corinna fechou os olhos tentando formular uma estrategia.

Tinha alguns poucos minutos, literalmente vitais, para pensar em um plano ou para que sua oponente cedesse apenas o mínimo.

O que acontecesse primeiro.

Sentia as gotas de suor de Nyota caírem sobre seu rosto, os pequenos cachos do cabelo dela roçando suas bochechas.

— Vamos lá.— Nyota disse entredentes. — Não deu aquele espetáculo todo da última vez para simplesmente desistir agora. Assim de maneira tão...covarde.

A Escolhida de Amara falava num tom que era possível ouvir das primeiras fileiras das arquibancadas de pedras, no mínimo.

Porém, suas próximas palavras eram apenas para que somente Corinna escutasse.

— Por que você não me mostra um pouco daquele seu olhar cruel? — Com o braço livre, Nyota passou uma de suas unhas afiadas o suficiente para riscar a pele da caçadora. — Está com medo de que eles saibam? Não se preocupe, talvez eles até te adotem como um animalzinho de estimação.

Corinna abriu os olhos apenas para encontrar os castanho-escuro de Nyota encarando de volta.

Seu tempo acabara. Não tinha um plano e a garota que pairava sobre o seu corpo não dava sinais de que cederia tão cedo. Ainda não.

O brilho na íris de Nyota dizia que a possibilidade de sua teoria estar certa a deixava animada.

Animada o suficiente para que se distraísse.

— Estou certa, não estou? — A Escolhida de Amara sorriu. — Você é diferenteImagina quando eles descobrirem isso depois que eu matar você. Talvez eu não precise nem vencer o Sacrifício para conseguir alguma glória.

A menina pareceu apreciar quando o corpo de Corinna ficou tenso sob o seu.

Aquilo poderia facilmente ser interpretado como uma confirmação.

Fora do campo de percepção da oponente, a caçadora esticava completamente uma de suas pernas, testando encostar toda a planta dos pés na enorme encosta de rochas logo atrás de Nyota.

A Escolhida de Fortuna tentou se mover um pouco mais, contudo a oponente sentou-se nas coxas da garota.

Temporariamente focada nas pernas de Corinna, Nyota afrouxou o aperto no pescoço da menina.

Quase o suficiente para que a caçadora virasse o jogo, não fosse pelo engasgo que escapou da garganta de Corinna quando um pouco de ar invadiu seus pulmões.

Corinna inalou profundamente antes de Nyota quase estrangulá-la de novo.

Contudo, dessa vez, a garota tinha um plano reserva. Dobrando bem um joelho, ela chutou a encosta. Ouviu algumas pedrinhas caírem a poucos metros de onde estavam.

— Espertinha. — A Escolhida de Amara provocou, agora apertando com força total a garganta de Corinna. Ela mal notava que a menina continuava a chutar, cada vez mais forte.

Lestat sentiu seu colo esquentar, mas pensou ser apenas um sinal de que estava bem próxima do seu próprio limite.

Não aguentaria por muito tempo.

Um calor subiu por sua clavícula, chegando ao seu pescoço. Corinna conseguia ver o reflexo de seus próprios olhos — brilhando como uma chama azul devastadora — nos de sua oponente.

Como quem levou um choque, Nyota soltou um gritinho e tirou bruscamente o braço da garganta de Corinna.

Uma onda forte demais de alívio atingiu a Escolhida de Fortuna fazendo com que seu abdômen se contraísse e ela se dobrasse sobre o seu corpo. O ar entrava em grandes coladas até os seus pulmões.

—O que você fez? — a voz de Nyota era um gemido arfado, provavelmente pela dor que sentia no local queimado de seu antebraço.

Queimado.

Corinna arregalou os olhos ao observar a pequena queimadura circular no membro de sua oponente, ao mesmo tempo que ambas concluíam o que havia causado aquilo.

A Escolhida de Amara avançou para o colar da caçadora no mesmo instante que Corinna acumulou toda a sua força para chutar a parede de pedras uma última vez.

Com a força necessária para que uma pedra — grande como uma roda de carroça —, a qual Corinna percebera que estava em falso, se desprendesse completamente.

— Nyota! — a Simpatizante da menina gritou por cima da ilusão. Nyota teve o tempo de apenas olhar para cima.

Então, ela e Corinna rolaram em direções opostas.

O pedregulho se espatifou entre as duas Escolhidas.

Corinna juntou os joelhos contra o peito e protegeu o rosto com um braço. Um uivo de dor cortou a floresta de mentira. Um fragmento atingiu a garota de Amara nas costelas.

A caçadora se forçou a levantar. Não podia deixar que Nyota sobrevivesse; a oponente sabia demais e não hesitaria em revelar tudo.

Se ambas sobrevivessem àquele confronto, não tinha dúvidas de que a menina abriria a boca.

Ainda assim, Corinna não se sentia pronta para fazer aquilo. Para matá-la. Era uma coisa egoísta demais.

Lestat enfim levantou-se ofegante e do outro lado Nyota fez o mesmo dolorosamente.

Poderia voltar a correr, como no início, porém não tinha fôlego restante para aquilo.

A oponente se recompunha lentamente. Corinna caminhou até uma das árvores que aparentavam estar mais frágeis ao toque.

Todos presentes na Arena esperavam o desfecho de olhos bem abertos.

A Escolhida arrancou um pedaço afiado de madeira que lembrava uma lança improvisada.

Queria ser altruísta o suficiente para pensar em transformar aquilo num auto sacrifício, mas pensou nas coisas que ainda tinha de fazer.

Não salvaria ninguém estando morta.

Os Governantes não se compadeceriam de seu ato e resolveriam, num piscar de olhos, mudar sua forma de agir para com os humanos.

Não.

Não serviria para nada morta.

Não passou anos desejando estar ali para simplesmente jogar tudo fora.

Mesmo assim, odiava a si mesma por ter de quebrar Nyota no processo.

Pesou a madeira nas mãos. Se fosse em uma floresta real, aquilo seria algo que cresceu na natureza, criado sem nenhum intuito malicioso, impelido por forças externas a se tornar uma arma.

Não conseguia evitar fazer a comparação entre a peça e os concorrentes daquele Sacrifício.

A oponente abraçava as costelas com um braço e o outro pendia derrotado ao lado do corpo.

As duas se encararam.

Um sorriso de canto surgiu nos lábios trêmulos de Nyota.

— Agradeço por não desistir. Mesmo perdendo, prefiro que seja de igual para igual.

Corinna trincou o maxilar. Aquilo tinha acabado de ficar um pouco mais difícil com o tom sem ressentimentos da menina de Amara.

Não julgava a vontade da menina de acabar com a sua vida minutos atrás.

O Sacrifício obrigava os humanos a serem daquele jeito.

— Não precisa ser assim.

Nyota negou com a cabeça e a meneou em direção às suas pernas. A caçadora seguiu com olhar.

Não tinha reparado até aquele momento.

Provavelmente um grande fragmento da pedra que caiu sobre elas atingiu também uma das canelas de Nyota.

O sangue empapava a sua calça clara e a garota não apoiava aquela perna no chão. O membro estava levemente inclinado numa posição estranha.

Os deorum não se dariam o trabalho de curar um ferimento tão grave. A Escolhida de Amara já seria dada como perdedora daquele confronto de qualquer forma e voltaria como inválida para o seu vilarejo natal.

— É exatamente assim que tem que ser. Mesmo.

Corinna mordeu o lábio inferior enquanto caminhava os passos que separavam as duas.

—Você pode voltar para casa. — A garota disse no mesmo tom baixo que Nyota usara mais cedo. — Voltar para sua família.

— Não tenho para quem voltar. Serei apenas um estorvo para meu vilarejo. Mais um fardo para que carreguem. — A Escolhida de Amara rebateu rapidamente. Corinna franziu a testa tentando conter as lágrimas. — Quero que enfie essa lança bem no meu coração e só tire quando ele parar de bater.

Uma lágrima escorreu pela bochecha cor de bronze de Nyota.

Uma similar empoçou o canto do olho da menina de Fortuna, mas ela se recusou a deixá-la cair.

— Não deveria ser assim. — A voz sussurrada de Corinna era um contraste com a intensidade com que ela agarrava o pedaço de madeira.

— Você vai ter perguntas bem afiadas para responder se continuar sendo piegas. Acabe logo com isso.

A Escolhida de Amara tinha razão.

Respirando fundo, Corinna levantou a lança na altura do peito da oponente. Sua mão tremia um pouco.

— Ouvi falar de você, sabia? A esperança do nosso povo. — Corinna paralisou com as palavras. A ponta da arma parou a centímetros da oponente. — Só tive certeza que era você, ali no chão. Quando me queimou. A chama em seus olhos.

A garota de Fortuna sentiu seu coração acelerar e aquela conhecida pressão nas veias aumentar. Corinna queria ter mais tempo para perguntar o que aquilo significava.

Que esperança era aquela.

Alguma dica do que deveria fazer.

Alguma dica de quem ela era de verdade.

Colocou a mão no ombro de Nyota e se preparou.

— Pague minha morte fazendo com que eles se arrependam. Mate todos até que virem pó, como viramos um dia por causa deles. — Nyota tinha fúria nos olhos. Fúria de alguém injustiçado durante toda a vida. — Todos, Corinna. Nenhum deles vale a pena. Nenhum deles.

Corinna fechou os olhos por um instante.

A imagem de olhos verdes passou como um flash em sua mente.

Quando os abriu, Nyota ainda a encarava de maneira firme.

— Todos eles. — Repetiu a oponente.

Então, se afastando um pouco, Corinna se impulsionou para frente, enfiando a lança improvisada no peito da Escolhida de Amara.

Nyota grunhiu baixinho, seus olhos se arregalando.

Num último ato, a garota segurou a mão de Corinna próxima à madeira, para que a caçadora sentisse o seu coração desacelerar como havia pedido.

O sangue de Nyota começava a envolver os dedos de Corinna enquanto ambas caíam de joelhos.

Lestat estava em choque, como se ela estivesse levando o golpe também.

A Escolhida de Fortuna ouviu alguns gritos de comemoração, mas a única coisa que escutava com clareza era o coração da garota à sua frente desistindo até finalmente parar.

Quando a menina retirou a lança do corpo de Nyota, os gritos se intensificaram.

Tinha certeza de que nunca esqueceria daquele momento.

Corinna olhou para seus dedos banhados de um vermelho morno. Olhou para a lança manchada.

Foram as mãos calmantes de Clyne que a ergueram do chão enquanto o corpo de Nyota era arrastado para a análise.

— Só mais um pouco, querida. — A Senhora Jade disse ao pé de seu ouvido.

A garota não ouviu as palmas, nem viu quem celebrava; na verdade, sua visão estava embaçada pelas lágrimas que segurava e seus ouvidos, tapados.

Ela não percebeu que já tinha sido anunciada vencedora até Marjorie passar os braços em volta dos seus ombros e levá-la dali.

Laeni as encontrou no meio do caminho.

As duas irmãs foram as mais gentis das criaturas, mas Corinna tinha uma raiva acumulada no peito.

Pensou em morder Marjorie como um animal selvagem enquanto ela limpava todo o seu rosto com um pano úmido.

Queria estrangular Laeni enquanto ela lavava o sangue de suas mãos.

Como podiam passar suas vidas imortais assistindo e compactuando com aquilo?

Queria gritar, mas estava cansada demais.

Pensou em arranhar a si mesma com o intuito de sair da própria pele, mas não tinha forças.

Quando deitou na cama depois do banho, a garota chorou um oceano.

Chorou por Nyota.

Chorou por seu pai em Fortuna.

Chorou por sua mãe de verdade.

Chorou por si mesma.

Quando finalmente pegou no sono, sonhou com ondas gigantes a afogando.

Conall apenas lançou um olhar para o Governante Ônix antes que o rapaz lhe desse o aval para ir atrás de Corinna.

O Escolhido de Nix tinha revelado sobre seus poderes ao deorum.

Theodor não se mostrou surpreso e admitira que já desconfiava.

É claro, nada passaria despercebido aos olhos do Senhor do Ar debaixo do seu próprio teto.

Eles vinham treinando desde então. Lutas com Thales, o irmão do meio. Leitura e escrita com Thaddeus, o mais novo. Magia com Theodoro, o deorum mais poderoso de Excelsior.

Apesar de ter tido oportunidades, o garoto não havia contado sobre os poderes de Mattia e Corinna — não eram segredos dele para que contasse —, apenas se limitou a dizer que tinha uma afeição notável por ambas.

Theo lançou-lhe um olhar sugestivo mas não insistiu no assunto.

Em troca, contara-lhe o motivo daquela competição fora de época.

Aparentemente os deorum estavam sob algumas ameaças de um continente desconhecido e precisavam fortalecer seus exércitos. Precisavam recrutar, sem levantar suspeitas, humanos para incrementar suas forças.

Não precisavam de muitos, mas os deorum também não existiam em tanta abundância em Excelsior.

Além disso, não tinham ideia do que poderia vir do outro lado do oceano.

Theo contou também sobre os tônicos que aperfeiçoariam teoricamente os humanos e lhe dariam uma fração de magia.

Como a ambição e egoísmo de Ronan tinha levado-o a matar seu próprio Escolhido.

O garoto de Nix sabia que tinha mais coisas a serem reveladas, mas, como ele próprio não estava disposto a revelar tudo o que possuía, não insistiu para que o Senhor Ônix fizesse aquilo.

Por causa do que aconteceu com Buford, Conall estava indo em direção ao Galpão naquele momento.

Era a noite depois do confronto de Corinna e Nyota.

O rapaz quis dar espaço para a amiga se estabilizar. Se recuperar do choque.

Os Céus sabiam que mesmo não sendo ele próprio a matar efetivamente o oponente, Conall teve seu emocional afetado.

Deu duas batidas rápidas nas portas do Galpão antes de pôr a cabeça para dentro.

— Cori? — Avistou a menina encostada na parede abraçada com os joelhos e encarando o nada.

A Escolhida de Fortuna virou minimamente a cabeça para olhá-lo enquanto Conall passava pela porta e caminhava até onde ela estava.

Não via a menina de cabelos soltos com frequência. Na verdade, as mechas pareciam bem mais longas do que da última vez que as vira livres.

Os olhos de Corinna que costumavam irradiar luz, agora estavam opacos e vagamente sombrios. Perturbados.

Provavelmente ela tinha chorado durante todas as horas que separaram o confronto daquele momento.

Conall sentou-se ao seu lado passando um braço por seus ombros.

Ela usava um vestido claramente emprestado. Era ajustado nos lugares errados e a cor era destoante de tudo ao redor: o Galpão era preenchido de tons acinzentados e o branco puro do tecido parecia quase uma ofensa.

— Ei, você. — Conall aumentou um pouquinho o aperto.

— Ei, você. — A voz da menina quase não saiu.

Um silêncio quase palpável pairou no ambiente.

O Escolhido de Nix sabia que seria de mais utilidade se esperasse o tempo da aliada.

Ambos encararam a parede pelo o que pareceu uma eternidade até que Corinna foi a primeira a se pronunciar:

— Eu a matei, Conall.

O menino respirou fundo acariciando os cabelos da garota.

— Eu sei, Cori, eu sei.

Num primeiro momento, achara que, por Corinna ser uma caçadora, tudo aquilo seria mais fácil para ela. Principalmente a morte.

Porém, olhando-a naquele estado, Conall quis proteger a amiga do mundo. Talvez dos três do trio, ela fosse a que mais...sentisse.

— A sensação do sangue dela ensopando minha mão foi avassaladora. — Corinna continuou como se precisasse urgentemente externar tudo aquilo — O sangue de outra pessoa. Sangue humano. E se não fosse o dela a ser derramado, seria o meu. Como posso me sentir feliz, como posso comemorar, agradecer, isso?

Corinna apoiou a cabeça no ombro do aliado. Um soluço teimoso escapou dos seus lábios.

— No fundo, sabíamos que esse dia iria chegar. — Conall disse baixinho ainda afagando os fios de cabelo dela. — Mesmo assim, no fim, isso não tornou nada mais fácil para nós, não é?

Com um estalar da lembrança, a Escolhida de Fortuna ajeitou a postura e limpou os olhos com as costas das mãos:

— Céus! Você está aqui para que eu me sinta melhor e nem percebi que essa é a primeira oportunidade de te ver e saber como você está depois do que aconteceu com Buford.

O rapaz apenas se inclinou para trás novamente, levando Corinna a se apoiar também na parede fria.

— Naqueles primeiros instantes, eu fiquei tão assustado, Cori. Quer dizer, foi repentino, eu não sabia dizer se eu tinha causado aquilo de algum modo. — Conall passou a mão livre no rosto. — Quando relaxei a postura, tive a certeza de que não fui eu, mas, mesmo assim, quando me anunciaram vencedor, eu não me senti aliviado. Na verdade, até um pouco de culpa começou a pensar nos meus ombros. Acho que foi a primeira vez que caiu a ficha que para que eu vença de verdade isso aqui, terá que ser às custas da morte de outras pessoas. Pessoas tão inocentes quanto eu.

A Escolhida de Fortuna assentiu com a cabeça. Entendia e sentia até os ossos o que o menino queria dizer com aquilo.

— Vai chegar o dia que eu terei que passar genuinamente pelo mesmo que você, matar alguém de fato, mas não sei se estarei pronto.

— Estou tentando me convencer de que não há como se preparar para isso. — Corinna negou com a cabeça tentando afastar as imagens dos últimos minutos naquela Arena. — Pelos Céus, Nyota pediu para que eu a matasse porque sabia os deorum não curariam sua perna quebrada. Entende a gravidade do que esse mundo significa para nós, humanos, hoje?

Conall apenas confirmou com a cabeça mordendo o lábio.

— Acho que se vivermos o suficiente, vamos ser assombrados pelas lembranças disso tudo aqui pelo resto de nossas vidas.

— Pelo bem ou pelo mal, é nossa obrigação nos lembrarmos desses momentos, serão eles que nos farão seguir em frente. Por mais doloroso que seja.

Corinna estendeu a mão para que Conall segurasse.

— Sei que não tenho o direito de pedir isso, mas preciso que descubra mais sobre a tal Profecia. Nyota disse algo sobre ter ouvido sobre mim.

O Escolhido de Nix se virou para a garota com o cenho franzido, cobrindo sua mão com a dele.

— Ouviu sobre você?

Corinna suspirou:

— Não sobre mim exatamente. Ela disse algo do tipo "você é a esperança do nosso povo". Disse que soube que era eu de quem ela ouvira falar enquanto estava sobre mim, olhando no meus olhos.

— Ah, lembro desse momento. Aliás, eu fiquei com um puta medo, Corinna. Ainda não sei como ficou tanto tempo consciente sem uma passagem de ar. Como fez que ela saísse de cima de você?

— Ela viu que eu era a tal esperança.

Conall ainda estava confuso:

— O que você fez?

Corinna puxou minimamente para baixo a gola do vestido branco. A pele parda que começava a ficar pálida parecia imaculada sob o pequeno pingente do colar que ficava sempre ali.

Até que a menina passou suavemente a mão pelo local e uma mancha avermelhada ficou visível como se sempre estivesse ali.

— Eu a queimei.

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Notas finais do capítulo

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