Hearts Of Sapphire escrita por Emmy Alden


Capítulo 35
¨t h i r t y - f o u r¨


Notas iniciais do capítulo

MAIS UM CAP!!!



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Os sons estavam abafados para Conall. Era como se ele estivesse dentro de uma bolha, afastado da realidade.

O garoto apenas continuava parado no meio da Arena, olhos fixados no oponente — que tinha sua vida se esvaindo literalmente por sua boca — , os punhos, ainda cerrados, caídos ao lado do corpo, seu peito subindo e descendo dentro do tecido que, naquele momento, parecia sufocante.

Conall piscou e sua bolha estourou. Os sons voltaram, mas era apenas um silêncio gritante.

Diferente do silêncio paralisante de um segundo atrás.

O Simpatizante de Buford surgiu na sua frente com um dedo acusatório apontado para seu nariz berrando algo que parecia com:

— O que você fez?

O suor escorria pela coluna de Conall, sua respiração ainda era ofegante pela luta inacabada.

No segundo de mais uma piscada, Theo apareceu entre eles:

— Achei que os confrontos eram entre os Escolhidos, Ronan e, pelo o que vejo, esse confronto chegou ao fim.

— Chegou ao fim? O que esse desgraçado fez com o meu Escolhido? Isso sequer está dentro das regras!

Conall olhou em volta.

Os outros concorrentes do Sacrifício estavam sentados em suas posições, uma mistura de olhos arregalados, queixos caídos, quadros de apreensão e pitadas de choque.

Theodor levantou uma mão, sua voz era de um timbre calmo e normal enquanto o outro deorum tinha a coragem — ou a burrice — de continuar gritando no rosto de um Governante:

— Vamos parar com o espetáculo, Ronan. Nós dois, e todos os presentes, sabemos que Conall nem ao menos encostou em Buford o suficiente para causar uma convulsão.

Naquela altura, o Escolhido de Selene já jazia imóvel no chão.

Morto, Conall pensou com amargura, simples assim.

— Ronan, não tem nada que prove que Conall fez algo contra as regras. — Sage, a Governante que anunciaria o vencedor para aquele confronto, interveio.

O deorum não fez mais do que um gesto displicente com a mão, ignorando-a prontamente.

Conall estava abismado com a impunidade daquela irreverência.

— Achei que era ilegal usar magia para ganhar um confronto, Senhor Ônix. — Conall ficou alerta, tinha uma pequena suspeita que poderia ter causado aquilo. Afinal, ainda não entendia como os seus próprios poderes funcionavam.

O Simpatizante fez com que suas últimas palavras soassem como um insulto ao Governante. Deu mais um passo ameaçador na direção de Theodor.

Ronan aparentava estar na casa dos quarenta anos, se fosse humano, mas agia como um jovem tolo e imprudente.

— Se ele fosse usar magia para ganhar, já teria matado seu Escolhido no primeiro confronto. — Sage olhou com cara de nojo para o Simpatizante. Num tom mais baixo, ela acrescentou. — E se tivéssemos sorte, teria matado você também.

— Quem você acha que é, sua...— Ronan não conseguiu pronunciar as próximas palavras antes que um punhado de pó saísse de sua boca.

O homem engasgou, cuspindo mais e mais a areia que Sage fazia brotar diretamente da sua garganta.

— Que bom que resolveu colaborar. — A menina disse dando um sorrisinho e depois fingindo estar comovida. — Acho que podemos anunciar o vencedor. Alguém mais para se opor?

Conall estava numa espécie de transe. Ele via e ouvia, mas não estava de fato assimilando muita coisa.

Os Escolhidos e o restante dos Governantes assistindo também não pareciam muito inclinados a participar do que quer que estivesse acontecendo ali.

O Escolhido de Nix ouviu a comoção quando o corpo morto de Buford foi carregado por mãos firmes e ágeis para qualquer que fosse o lugar reservado a ele depois daquilo.

Conall reparou que Ronan apenas lançou um olhar indiferente para o Escolhido de Selene e saiu da Arena com passos pesados e raivosos.

A areia ainda escorria de sua boca. A raiva do deorum certamente não era por uma vida ter chegado ao fim e sim pela derrota e humilhação.

Theodor passou para o lado de Conall e a Governante Bronze deu um tapinha no ombro do garoto, lançando-lhe um pequeno sorriso encorajador.

Quando sua mão foi erguida, o Escolhido não sentiu a satisfação da vitória.

Pensou que continuar naquela competição fosse de muitas 
formas pior do que se fosse seu corpo desfalecido no lugar de Buford.

Ao erguer o rosto, encontrou dois pares de olhos, como se fossem os únicos lugares com foco no mundo.

Talvez fossem os únicos que verdadeiramente entendiam a sensação de ter um alvo no centro de suas testas.

Corinna e Mattia não desviaram o olhar.

 

— Você não teve nada a ver com isso, teve?

Odiava ter de questionar, mas sua vida estava em jogo.

Aquilo não era um tipo de competição boba entre os seus amigos do vilarejo.

Só havia três cenários bem delineados para que Conall voltasse para casa: vivo e vencedor, quebrado para sempre ou morto.

O garoto estava sentado na sala de reuniões onde ele e o Governante Ônix costumavam conversar sobre as estrategias antes e depois dos confrontos.

O cômodo era cheio de paredes falsas.

Aperte um determinado ponto e veja a parede se tornar um mural de mapas.

Encoste num outro e veja uma prateleira repleta de livros brotar bem na sua frente.

Naquele momento, tudo estava escondido.

A madeira das paredes brilhava com o verniz recém aplicado e deixava o cômodo fechado como uma sala de interrogatório.

Conall nunca pensou em como o clima no recinto ficava pesado daquele jeito, mas a morte mais cedo ressaltava as sensações.

Theodor estava de costas para o Escolhido. Olhava pela janela como se respostas fossem ventos que seriam trazidos a ele com um gesto de mão. O deorum apoiou os dedos na cintura e se virou lentamente para Conall.

— Você acha que eu perderia meu tempo colocando você para treinar se eu pudesse apenas mover os dedos e fazer seu oponente ter um ataque e morrer? — Seu tom era calmo, mas Conall era capaz de perceber o toque de raiva sob a língua de Theodor.

O Escolhido de Nix abaixou a cabeça.

Theo tinha razão. Sempre notou e apreciou a praticidade do Governante.

Se ele podia fazer algo, não procurava rodeios.

— Vão acabar transformando nosso mundo num inferno. —o deorum sussurrou para si. — É isso que vão fazer.

Conall não tentou entender suas palavras.

— O que você acha que aconteceu? Acha que ele foi envenenado?

— Não exatamente.— Theodor ajeitou o colarinho como se já não estivesse perfeitamente no lugar.

— O que isso quer dizer?

O Senhor do Ar segurou a ponta do nariz e suspirou:

— Se tem uma coisa que me irrita mais do que não saber respostas para perguntas, é pessoas que fazem perguntas 
para as quais eu não sei a resposta.

Conall soltou um risinho que ecoou no cômodo.

— Te incomoda não ser o sabe-tudo o tempo todo?

O Senhor Ônix soltou uma lufada de ar.

—Me incomoda não saber todas as nuances do jogo em que estou jogando.

O Escolhido estreitou os olhos.

— Então deveríamos ir atrás de descobrir essas nuances? Theodor voltou a olhar pela janela.

—É claro, mas antes precisamos saber o jogo um do outro. Precisamos colocar nossas cartas na mesa.

O Escolhido entenderá bem dessa vez o que o rapaz queria dizer.

Conall tinha nutrido uma espécie de confiança para com Theodor.

Apesar de ele ser um deorum, eles tinham o Juramento.

A vida do Escolhido estava nas mãos do Governante.

No entanto, não se deixou esquecer das histórias e lendas que ouvira enquanto crescia.

Sabia o quanto eles poderiam ser vis, maldosos, cruéis, frios e indiferentes.

Humanos e deorum não eram apenas espécies distintas, eram espécies antagonizantes.

Poderia haver um tipo de amizade entre Conall e Theodor, mas o garoto tinha certeza que ambos estavam cientes dos papéis que tinham na vida do outro.

Conall poderia ser humano, mas não era fraco.

Poderia estar só agora aprendendo a ler e escrever, mas não era burro.

Desde que chegara ali, Theodor nunca o tratou como inferior. O Senhor Ônix o tratara quase como um igual.

Era a hora de Conall finalmente assumir aquela posição. Não se faria de bobo.

Então disse:

— Se você colocar suas cartas na mesa, eu coloco as minhas.

A cabeça de Theo virou apenas minimamente, o suficiente para Conall ver o pequeno sorriso em seus lábios:

—Eu não teria demonstrado interesse em uma parceria com você se pensasse que agiria diferente.

Todos os Governantes ficaram tensos enquanto o Escolhido de Selene se debatia no chão.

Raina nunca tinha dado mais do que uma segunda olhada no garoto desde que ele chegara no Setor Superior.

Suspeitava que era assim que um inimigo em potencial deveria se camuflar.

Porém, nunca suspeitou que o menino poderia ser um dos que estavam procurando até vê-lo morto no chão da Arena.

Certamente morto pelo tônico.

O rapaz era pura força bruta e apenas isso.

A Governante Prata esperava o mínimo de astúcia para quem ele poderia ser.

Mas, como julgar se sua própria espécie era repleta de idiotas?

O sangue que corria espessso e pegajoso por suas veias lamentava o fato de não ter sido suas mãos ou suas lâminas a acabar com a vida do infeliz.

—Seria mais seguro se nós fôssemos confirmar a morte, não acha? — Rexta se inclinou discretamente sobre seu assento e sussurrou para a Senhora Prata enquanto Sage fazia o imbecil, Ronan, cuspir areia por não saber a hora de fechar a boca e então anunciava a vitória legítima de Conall.

O corpo de Buford já estava sendo levado para a verificação.

Raina apenas inclinou a cabeça sutilmente em concordância, Rexta voltou à sua pose.

Quem visse de fora pensaria que as duas apenas faziam algum comentário sem importância sobre o ocorrido.

Num suspiro, a Governante do Gelo percebeu. Aquele segundo que pareceu durar mais do que isso.

Enquanto a mão e o olhar do Escolhido de Nix se erguiam, ela viu — sentiu — a centelha de uma energia diferente, mas não totalmente desconhecida.

Como uma movimentação sutil percebida de canto do olho.

Raina seguiu o ponto de atenção do garoto de pé no centro da Arena.

Suas pálpebras se estreitaram para as Escolhidas de Fortuna e Amara, sentadas lado a lado, focadas no menino.

Todos estavam focados em Conall, mas ainda assim a Governante Prata sentiu algo peculiar. Essas duas, Conall as encarava de volta.

Talvez fosse um sinal ou talvez aquele não passasse de um flerte estranho ou uma aliança comum.

Teorias, Raina as odiava.

A energia não estava mais lá para que tivesse certeza e ela não poderia afirmar nada sem provas.

Odiava ser refutada tão quanto gostava de estar a pelo menos meio passo a frente de seus aliados.

Raina desceu de seu assento acompanhando a movimentação para a saída.

Esperou a Senhora Rubi dispensar os seus Escolhidos de volta para sua Mansão, e Auremio dar o ar de sua graça.

Para sua infelicidade, a primeira pessoa que se juntou a ela na caminhada pelos corredores mal iluminados do Galpão até o laboratório, foi Clyne, a Senhora Jade.

As mãos juntas na frente do corpo, a testa franzida era a indicação do pesar pela morte do humano:

— O que será que pode ter acontecido com o pobre rapaz? Não acredito que Ronan, ambicioso como é, tenha o envenenado. A menos que fizeram uma contraproposta melhor do que vencer o Sacrifício.

Raina suspirou e disse indiferente ajeitando a capa prateada que descia por suas costas.

—Talvez foi só uma intoxicação alimentar. Muitos humanos não apreciam nossos…temperos.

Clyne parou de andar quando chegaram em frente ao destino e virou a cabeça bruscamente para encará-la. As pulseiras espalhafatosas demais para o gosto da Senhora Prata tilintaram com o movimento.

—Espero que esse tônico de vocês seja mesmo para fortalecer os humanos e não mais uma forma de matá-los por puro prazer.

A Governante Prata deu um sorriso de canto.

— Matar os humanos por prazer? Nós nunca faríamos algo do tipo.

Os cachos do cabelo da Senhora dos Bosques se moviam cada vez mais agressivamente enquanto ela começava a se exaltar.

— Isso é sério, Raina. Os últimos acordos das Novas Leis são claros: deixamos os humanos no canto deles e seguimos nossas vidas. Infelizmente, não conseguimos extinguir essa loucura arcaica de Sacrifício, mas os acordos são claros.

A Governante Prata segurou uma mecha do cabelo da deorum congelando da ponta do fio até a metade.

—Pode deixar para nos agradecer mais tarde quando a nossa espécie, que você tanto repugna e rejeita, estiver salva, Clyne.

Naquele momento, as portas do pequeno laboratório foram abertas, o cheiro pungente de produtos de esterilização permearam o ar e Raina adentrou o recinto sem delongas.

O corpo robusto do Escolhido quase não cabia na maca.

Os jovens deorum de vestes brancas deslizavam pelo chão silenciosamente checando e conferindo suas telas e frascos e livros.

Os laboratórios do Setor Superior eram onde ocorriam o maior embate da tecnologia. A praticidade contra a certeza de sucesso.

A pele outrora bronzeada de Buford agora tinha uma coloração cinzenta mórbida, os cabelos que chegavam aos ombros estavam opacos, as veias, aparentes sob a pele como linhas de um mapa.

Realmente parecia mais um envenenamento do que o que Raina esperava de uma sobrecarga de magia.

Rexta e Clyne por fim entraram silenciosamente enquanto Auremio trovejou:

—Já sabemos a causa da morte?

Uma das jovens com os cabelos escuros cortados bem rentes à cabeça fez uma reverência profunda antes de responder:

— Vossas Excelências, suspeitamos de um colapso nervoso natural a princípio. Apesar de não termos muitos registros aqui no Setor Superior, é algo muito comum entre os humanos. Porém, descartamos a possibilidade. — Auremio, sem nenhuma educação, bocejou enquanto a menina estalava os dedos e uma ficha aparecia suspensa no ar com os dados médicos do Escolhido de Selene. — Além dos históricos serem quase impecáveis, como podem ver, o estado rápido de decomposição tornaria improvável uma causa natural.

Raina poderia conseguir sentir o despertar da excitação do antigo Senhor Esmeralda com aquelas últimas palavras.

Se Buford fosse um dos que eles procuravam, a Profecia estava um passo mais longe de se realizar.

A Senhora Prata também deveria estar se sentindo assim, mas não tinha a sensação de estar se aproximando de uma vitória.

— Não temos um diagnóstico definitivo. — a jovem continuou. — O mais coerente é envenenamento não intencional. Uma junção equivocada de ingredientes que resultou numa fórmula fatal. As substâncias encontradas no sangue não coincidia com nenhum veneno tradicionalmente conhecido.

—Onde está Ronan? Ele não deveria estar aqui dando explicações? — Clyne questionou. —A responsabilidade da do garoto era dele. — Ela se aproximou do rosto de Buford apoiando uma mão em sua testa.

Todos olharam para Rexta; o Simpatizante era residente da Ordem Rubi.

—Ele disse que viu o Escolhido ingerir um líquido suspeito, do qual Ronan não identificou a procedência. — Rexta disse num tom monótono. Todos sabiam que aquela última parte era uma mentira deslavada.

Ronan era um dos loucos que estavam investindo na criação autônoma de tônicos. Simplesmente Ronan era um dos loucos de qualquer coisa. Raina deveria ter se lembrado disso antes de criar esperanças.

Por mais que a Clyne não soubesse dessa criação clandestina, ela tinha consciência que o Simpatizante nunca estaria alheio a nada.

—Iremos colocar um encanto sobre o corpo, se vossas excelências concordarem, para que ele possa ser levado de volta para o seu vilarejo natal. Como não sabemos qual componente está acelerando a decomposição, não podemos prever quanto tempo ainda será higiênico manter o corpo exposto.

Os três Governantes estavam prestes a autorizar o procedimento quando Raina levantou a mão.

— Algum problema, Excelência?

— Só uma...teoria. — A palavra soou amarga em sua língua. Tinha quase certeza do resultado.

Agilmente, a Senhora Prata pegou o pulso direito do Escolhido e cravou as unhas, afiadas como lâminas, profundamente no local e alargou um pouco como um fórceps.

O arfar abafado de Clyne ecoou pelo cômodo.

Carne branca ficou à mostra, mas, como Raina temera, nenhuma pedra preciosa jazia sob a pele. A aparência era frágil demais para que houvesse um pingo de magia em suas veias quando vivo.

Buford foi apenas um infeliz experimento humano sob os cuidados de um idiota.

— Fechem o corte. — Raina analisou a minúscula mancha de sangue na ponta de uma das unhas. — Depois coloquem o encanto e preparem o corpo. Ele deve ser levado de volta para Selene o mais rápido possível.

Ninguém ousou dizer nada para a Governante do Gelo. Auremio tinha uma expressão de desgosto pelo tempo perdido, Rexta estava resignada e Clyne, de tão abismada, não conseguiu emitir uma reprimenda sequer.

Raina não deu atenção a nenhum deles ao sair pelas portas. Precisava se apressar se quisesse continuar na frente de sua própria investigação.

Corinna ainda tentava processar tudo o que tinha acabado de acontecer enquanto caminhava nos corredores de volta ao Galpão.

Laeni e Marjorie já tinham plena consciência de que não havia nenhuma maneira de que ela tentasse fugir, não quando a cada esquina havia um guarda de prontidão.

Também não era como se a menina soubesse para onde fugir. Já era um milagre ter aprendido o caminho da Arena até o Galpão por aqueles corredores que mais pareciam parte de um labirinto.

Tinha acabado de virar uma esquina — cumprimentando por diversão um guarda carrancudo que sempre fazia uma careta quando a Escolhida se dirigia a ele — quando foi puxada para uma das depressões na parede.

A garota nunca reparara que aqueles vãos eram tão profundos a ponto de caber duas pessoas, porém ela poderia culpar a iluminação precária e...

Não sabia por que estava pensando sobre aquelas coisas aleatórias quando deveria estar gritando e se debatendo contra os braços de seu captor.

No momento em que caiu em si e tentou começar a se mover, a mão desconhecida a segurou mais forte, embora não fosse o suficiente para machucar.

— Sua reação está alguns poucos segundos atrasada. — A voz de Athlin foi um sopro na lateral do seu rosto.

Todo o corpo de Corinna ficou tenso. Sabia que era loucura desejar que fosse qualquer outra pessoa ali, menos o Senhor Esmeralda. Os deorum não costumavam ser gentis com humanos em um vão escuro na parede.

Contudo, depois do jeito que deixara o local onde se viram da última vez, ficar cara a cara com Athlin não era muito mais animador.

Lógico que o Governante percebeu a tensão na menina e prontamente soltou o braço dela.

— Está tudo bem, Corinna. — A mistura do seu nome sendo pronunciado, e não o usual “senhorita Lestat”, com o tom de voz agora sólido da voz do deorum tinha um efeito muito mais perigoso do que o toque físico.

O sotaque que ela apreciara nas vozes dos deorum era bem mais carregado na de Athlin.

Ao levantar o olhar, a caçadora conseguiu distinguir os olhos brilhantes na pouca luz.

— Sim, está. — Foi o que se permitiu responder.

— Você foi embora de um jeito brusco da outra vez... Fiquei preocupado e, confesso, intrigado.

— Perdão, foi uma indelicadeza da minha parte.

O Senhor Esmeralda riu.

— Não quero que me peça desculpas. Quero que me explique por que agiu daquela forma. Eu fiz algo errado?

Aquele era o problema. Athlin não tinha feito nada de errado. Ele tinha feito tudo certo. Certo demais. Não poderia ser natural.

Corinna respirou fundo e voltou a encarar o rosto do deorum, por mais que não conseguisse ver nada além dos olhos.

Era o suficiente.

Sentia que o tempo estava acabando. Logo as Examinadoras voltariam para o Galpão, não a encontrariam lá e toda a confiança que a Escolhida lutara para adquirir iria por água abaixo.

Também duvidava que Athlin a liberaria antes de receber uma resposta.

— Que tal sermos sinceros? — disse de uma vez e assistiu às íris do rapaz cintilarem com surpresa. — Eu fui embora porque achei que você estava jogando um encanto sobre mim. E você? Por que realmente quer me ajudar?

Quando falou, Athlin soou ultrajado:

— Um encanto? Como eu... Por que... — O garoto soltou o ar do nariz achando graça. — Provavelmente, você não acreditará em mim, mas eu não fiz nada. Estávamos apenas dançando. E quanto à minha oferta: Por que não pode simplesmente acreditar que quero fazer uma boa ação?

Corinna cruzou os braços e seu tom era amargo e sério quando disse:

— Porque eu não vivi os últimos dezoito anos num universo alternativo. Conheci deorum o suficiente para saber que dificilmente vocês se permitem ou são capazes de fazer uma boa ação para humanos. — A menina deu um passo para trás se recostando na parede. — Principalmente sem querer nada em troca.

— Talvez eu seja diferente. — Athlin comentou e Corinna conseguiu notar o sorriso em sua voz.

Tentou fazer uma careta, mas, involuntariamente, ela sorriu também.

— Isso você não conseguirá provar para mim num espaço de menos de três metros quadrado onde não conseguimos ao menos ver o rosto um do outro.

O Governante deu um passo à frente diminuindo novamente o espaço entre os dois.

— Vou ignorar o desafio, além disso...você é sempre tão insolente? — O hálito do deorum roçou seu nariz.

Lembrava bem da primeira vez que o viu em um daqueles mesmos corredores. Corinna não sabia como, mas tinha quase certeza que a mesma lembrança passava pela mente do Senhor Esmeralda.

Athlin estendeu a mão como se fosse tocar o rosto da garota e ela paralisou.

— O que quer em troca de me ajudar? — A Escolhida arqueou uma sobrancelha, mas sua voz era bem menos confiante.

O garoto deixou a mão cair no espaço entre eles.

— Nunca pensei em me aproveitar de você, Corinna. — Ele respirou fundo. — Mas se insiste em me dar algo em troca, pois bem, seja a minha amiga.

A Escolhida arregalou os olhos como se não estivesse acreditando em seus ouvidos.

— Amiga? Você quer que uma humana seja sua amiga?

— Nada mais que isso. — Prometeu Athlin estendendo a mão como quem fechava um acordo.

A caçadora sabia os riscos de aquilo ser apenas uma armadilha. Já imaginava as formas de humilhação que sofreria se aquilo se revelasse ser apenas uma armação e ela tivesse caído na conversa de um deorum.

Entretanto, os olhos de Athlin reluziam com um brilho de honestidade tão puro que foi um golpe em seu coração. A visão dos olhares que ele lhe lançara naquela outra ocasião quando dançaram também era fresca em sua cabeça.

Aquilo não poderia ter sido mentira, uma encenação. Aquilo foi real.

A menos, é claro, que o Senhor Esmeralda fosse um mentiroso de excelência.

Para o seu próprio bem, Corinna esperava que não fosse o caso.

O braço do deorum ainda estava estendido:

— E então?

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Notas finais do capítulo

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