Soundtrack escrita por Mia Lehoi


Capítulo 2
Track 1: Close Your Eyes


Notas iniciais do capítulo

Close Your Eyes é uma canção da banda The All American Rejects.
(https://www.youtube.com/watch?v=CW-0DcZ2_1c)



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The day you said it
(No dia que você disse aquilo)
That's when I knew, that's when I knew, that's when I knew
(Foi quando eu soube, foi quando eu soube, foi quando eu soube)
I'll never forget it
(Eu nunca vou esquecer)
The day you said it
(No dia que você disse aquilo)
That's when I knew, that's when I knew, that's when I knew
(Foi quando eu soube, foi quando eu soube, foi quando eu soube)
I'll make you regret it
(Eu vou fazer você se arrepender disso)

Carmem se olhou no espelho do banheiro da boate e riu, mesmo sabendo que não havia graça nenhuma. Se ela fosse uma mocinha de comédia romântica, seria naquele momento que ela criaria coragem e tomaria alguma decisão que mudaria completamente sua vida. Nos filmes as pessoas sempre fazem coisas incríveis em seus momentos mais caóticos, não é?

Mas não era um filme. Era a realidade, monstruosa como sempre, lhe mostrando que mesmo que estivesse linda, com os longos cabelos loiros caindo suavemente sobre seus ombros descobertos pela blusinha de alças que vestia, nada nunca mudaria. Ela aplicou novamente o batom vermelho nos lábios, deu uma ajeitada nas roupas e saiu, dando de cara com a pista de dança quase vazia. Embora estivesse terrivelmente triste por dentro, nunca deixaria isso transparecer.

Mais cedo aquilo ali estava apinhado de gente, todos os seus amigos comemorando o jogo que a Atlética Limonada ganhara naquele dia. Enquanto todos dançavam, cantavam, bebiam e se divertiam, ela fazia o mesmo. Mas por dentro não conseguia parar de pensar que nunca se sentira tão sozinha em um lugar. Às vezes era como se assistisse a própria vida em terceira pessoa, como se fosse uma simples espectadora numa sala repleta de críticos cheios de opiniões negativas. Como se ela fosse um roteiro mal feito que não conseguia passar mensagem nenhuma.

Haviam muitas coisas que seus amigos não sabiam sobre ela. Com certeza eles conheciam a garota linda, rica e mimada, mas nem sonhavam que por baixo daquilo tudo ela guardava um lado sensível, aficionado por música e secretamente apaixonado por Cebola.

Encarou a pista, vendo as pessoas se despedindo e indo embora. Tudo o que ela mais queria era deitar em sua própria cama por muitas e muitas horas, mas tivera que assistir seus amigos um por um se despedindo e indo para casa enquanto ela dava desculpas para continuar ali, já que não podia dizer a eles que tinha que esperar estar aparentando sobriedade, porque seu pai não ficaria nada satisfeito se os empregados lhe contassem que ela chegara naquele estado em que estava.

Lá do outro lado ela avistou Do Contra sentado junto ao balcão, vendo alguma coisa no celular. A banda dele tinha tocado naquela noite e ele ficara até mais tarde para arrumar as coisas. Carmem sabia que não teriam assunto nenhum, mas detestava tanto ficar sozinha que cruzou a pista de dança em direção a ele mesmo assim.

Nas próximas semanas, ela desejaria várias vezes nunca ter feito isso.

O garoto não percebeu a chegada dela, entretido demais encarando a foto de Mônica e Cebola que a baixinha postara em seu Instagram. Os dois haviam passado o semestre anterior inteiro separados, mas naquela noite as conversinhas animadas e risadas alegres indicavam uma aproximação que só podia significar uma coisa: o romance deles ainda não tinha acabado completamente.

— Uau, achei que você já tivesse superado! – a loira riu debochadamente, vendo a foto por cima do ombro dele. O moreno se assustou, quase derrubando o telefone no balcão e apagando a tela com uma pressa constrangedora.

— E o que você tem a ver com isso, hein? – ele perguntou, obviamente aborrecido.

— Nada. – a loira deu de ombros, sentando-se ao lado dele – Odeio ver eles dois juntos. – confessou, a voz arrastada demonstrando sua embriaguez. – O que vocês todos veem na Mônica?

— O que? Eu não... – começou, sem saber ao certo o que dizer. – Não tô entendendo o que você quer. – completou, fechando a expressão completamente.

— Eu gastei uma fortuna no meu vestido da nossa formatura. Sério, uma fortuna! E o Cê nem olhou na minha cara... – ela se apoiou no balcão para não cair – Aí ela apareceu lá com um vestidinho ridículo de uma loja horrorosa de shopping e ele se derreteu todo. – completou, apontando para o nada.

— Você tá bêbada, Carmem. Não tá falando coisa com coisa. – ele arqueou as sobrancelhas.

— Você me acha bonita? – ela perguntou, com um olhar suplicante e desesperado que fez o garoto se sentir um tanto esquisito.

— Você sabe que é bonita. – desconversou, desviando do olhar dela. Mas sabia que mesmo assim ela continuava a encará-lo, insatisfeita com a resposta. – Tá, tá! Eu acho você bonita. – completou, emburrado. Garotas com uma beleza convencional como a dela não o interessavam, mas tinha que admitir para si mesmo que ela era realmente linda. Sabia que ela só estava perguntando aquilo pelo puro capricho de saber que todos os meninos do bairro tinham pelo menos um pouco de interesse nela.

— Então por que o Cê não quer nada comigo? – continuou, como se uma informação tivesse qualquer relação com a outra.

— E você pergunta isso pra mim? – riu debochadamente – Porque você é uma chata. – girou os olhos, fazendo-a rir.

— A gente devia separar eles! – gritou, como se tivesse acabado de ter a epifania mais importante de sua vida. – Você combina muito mais com ela e nem tô dizendo isso porque quero o Cê pra mim. – deu uma risada baixa.

— Você é maluca, hein? – ele disse, levantando-se da cadeira disposto a ir embora.

— Por ele eu sou! – ela sorriu, sonhadora. – E você é louco por aquela sonsa, eu sei. – continuou – Eu tô falando sério. A gente faz um plano! Aí eu fico com ele e ela com você, ninguém precisa saber.

— Nossa, como você é genial. – ele ironizou, sem emoção alguma na voz. – Fica aí pensando no seu plano que eu tô indo pra casa. – completou, saindo sem dar tempo para que ela dissesse mais nada. Sabia que não era educado, mas tinha tido um fim de noite péssimo e não estava com a menor paciência para aquelas maluquices. Carmem o assistiu dar alguns passos sem ao menos olhar para trás, mas no meio do caminho ele parou, como se estivesse pensando decidindo o que faria a seguir. Por fim virou-se para ela novamente, ainda com uma expressão aborrecida. – Quem vai vir te buscar? – perguntou, a voz alta o suficiente para que ela ouvisse de onde ainda estava.

— Eu não sei. – deu de ombros – Se o motorista me ver assim ele vai contar pro meu pai e eu tô ferrada. – riu.

Ela o encarou por alguns instantes, sem esperar nada. Não era louca de achar que ele se importava com ela a ponto de oferecer alguma ajuda. Por mais que parte dela quisesse espernear para que o garoto a deixasse em casa, seu orgulho nunca a deixaria fazer isso. E se ele fosse embora, ela nem tentaria argumentar, afinal sabia que os dois não deviam ter trocado nem dez frases um com o outro na vida inteira, e ele provavelmente não era educado o suficiente para ajuda-la só por ser gentil.

— Vamos, eu te deixo em casa. – suspirou pesadamente, já imaginando que se arrependeria disso depois.

— É sério? – ela arregalou os olhos, um pouco surpresa.

— É, mas vamos logo. – respondeu, logo voltando a andar.

A loira o seguiu silenciosamente enquanto ele procurava seu velho Gol preto no estacionamento. Antes de deixa-la entrar ele se apressou para tirar as ferramentas que usava para montar e desmontar a bateria do banco do passageiro e jogou-as no porta-malas, junto com as demais peças. Só ao dar a volta no carro para entrar pela porta do motorista percebeu que ela abraçava os próprios braços por conta do frio. Esperou que ela se acomodasse, tirou a jaqueta preta que usava e jogou-a no colo da garota, que nem se moveu, como se estivesse chocada demais com aquele ato para fazer algo.

— Anda, veste. – ele murmurou, desconcertado, fazendo-a finalmente acordar do transe.

O trajeto até a mansão foi rápido e silencioso. Do Contra, como todo mundo na turma, já sabia muito bem o caminho, por conta das famosas festas dadas pela família da loira de tempos em tempos. Ela, por sua vez, praticamente cochilava com a cabeça apoiada na janela, mas despertou assim que chegaram à calçada de sua casa. Esticou a mão para abrir a porta, mas antes de sair hesitou por um instante, parecendo querer dizer algo muito importante ao garoto.

— Er... – começou, constrangida. – Obrigada. – completou, antes de sair tão rápido que nem teve tempo de ouvir uma resposta.

Mesmo no meio da confusão na qual sua mente se encontrava, ela percebeu que o carro dele continuou silencioso, indicando que ainda estava parado. Podia sentir os olhos do garoto a assistindo, esperando que ela estivesse segura dentro de casa.

Ainda assim ela não teve coragem de olhar para trás.


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Notas finais do capítulo

HEEEEEY GALERA
Cheguei com o primeiro capítulo!
Bom, meu plano inicial nem era de colocar músicas nos capítulos, maaaaas essa semana eu ouvi o novo EP maravilhoso dessa banda (que é responsável por muitos dos hinos da minha vida e que eu já tinha perdido a esperança de ver lançando coisas novas) e essa música além de ter sido um belo tapa na minha cara de tão boa que é, também me fez pensar bastante na fic. E pensando bem, por canções tem tudo a ver com o título da história e com coisas que acontecerão no decorrer dela.
No momento é isso, muito obrigada a quem decidiu dar uma chance a esse casal inusitado! ♥
Kisses



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