Born to be free escrita por hidechan


Capítulo 6
Capítulo VI: Only One


Notas iniciais do capítulo

YEeeeey ~ quem foi na BGS?! Quem está sem grana para sempre agora?! É nóis.

ENjoy.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/738275/chapter/6

— Ryo? Ryo!! _Daiki o chamou logo na porta de entrada, tirou os sapatos e pendurou a blusa de frio antes de avançar pelo cômodo _onde você está?

Reparou que a mala ainda estava no hall, fechada, e o sapato social retirado as pressas uma vez que se encontravam jogados de qualquer jeito. Não era bom sinal, Kise detestava deixar o hall bagunçado; mas que tudo estava putamente fodido ele já tinha certeza, não sabia por que ainda tinha esperanças de algo.

— Ryo... _balançou a cabeça de forma negativa e se dirigiu para o corredor, sentiu uma leve tremedeira quando chegou à porta do quarto. Sua mão gelou _Ryota _o chamou pela última vez antes de girar o trinco.

Passara os quatro dias com Kagami Taiga, finalmente tinha colocado todas as coisas em ordem. Tinha uma resposta agora. Mas ao fazer isso deixou seu egoísmo se elevar além do limite, não fora capaz de voltar para casa e esperá-lo, não fora capaz de mentir para si mesmo dizendo que era aquilo que queria fazer.

Errara, admitia e agora estava com medo de enfrentar as consequências. Ele sabia que era tudo na vida do loiro, o que o mesmo deve ter pensado quando chegara em casa no dia anterior? Kise era gentil demais e isso ainda traria sua própria desgraça, aceitou esse fato quando decidiu que o cativaria, então por que estava rompendo isso justo agora? Eram 12 anos, uma pessoa muda em 12 anos. Claro. Ainda assim algo em seu peito crescia cada vez mais, dia após dia, durante 12 longos anos! Seus olhos marejaram de repente, estava chorando. Lágrimas doloridas que só sentira uma vez em toda a sua vida.

Aomine empurrou a porta e viu o menor deitado de lado, adormecido, se aproximou com medo de tocar no mesmo e tudo desaparecer. Antes de qualquer outro movimento as capsulas de calmante chamaram sua atenção no criado mudo ao lado do mesmo.

— Ryo, acorda... acorda, amor _o chamou tocando de leve em seu ombro, ele ouviu um resmungo e então Kise piscou antes de abrir os olhos totalmente.

— Daikicchi _murmurou, depois calou-se novamente sem saber o que dizer.

— Você está se sentindo melhor?

— ...não. Sabe que não _sua voz era fria e ao mesmo tempo passava um pesar enorme.

— Podemos conversar agora?

Kise se sentou apoiando as costas nos travesseiros macios, olhava sempre para frente onde a janela fechada deixava passar apenas um fino raio de sol na parte superior.

— Quando nos conhecemos na escola, joguei aquela bola de basquete em você de propósito, pois admirava muito o modelo teen Ryota Kise, mas não tinha coragem de me aproximar. Confesso que estava extremamente curioso com você. Quando aceitou entrar no time, tive um pequeno ataque de euforia indo para casa, me lembro com um pouco de vergonha agora porque meu vizinho viu e ficou rindo, ele disse que a juventude era algo mágico. Depois disso minha vida escolar ficou muito divertida, gostava de acordar de manhã para ir à escola, logo eu o preguiçoso _daiki brincava com a beirada da coberta felpuda enquanto caía em nostalgias _e ai... nos beijamos pela primeira vez nos fundos da quadra, foi um selinho. Você nunca teve problemas por eu ser um garoto, era tão popular com as meninas, mas nunca saiu com nenhuma delas... eu ao contrário acabei caindo na espiral de opinião da sociedade sobre minha escolha de gênero e blá-blá-blá e... você só ficou esperando paciente. Dispensando todas as garotas, esperando que eu desse o pé na bunda de todas que pegava... afinal eu sempre prometia que iríamos ter um encontro até o final do ano e você acreditou em mim. Quando fomos contar aos meus pais que estávamos namorando, você apareceu pela primeira vez de roupa social lá em casa (tão romântico). Foi engraçado, meus pais nem falaram nada e eu todo desesperado, foi ridículo e ao mesmo tempo um alívio, percebi o quanto EU era criança. Depois disso o basquete me fez ter aqueles pensamentos horríveis, mudei de escola na última hora para estudar na Toou e terminei com você, por uma semana, mas terminei. Você sabia que eu precisava de ajuda e todos os dias ia até a Toou levar meu lanche, as vezes jogar basquete ou me fazer faltar na escola; também me apresentava a um monte de pessoas novas. Aos pouquinhos, mesmo sendo um babaca, consegui me aproximar da sua maturidade... tanto que tive coragem de pedir para os meus pais me ajudarem a alugar nosso primeiro apartamento. Era pequeno, velho _riu pelo nariz _tinha formigas e uma floreira quebrada na janela da cozinha, mas caramba... era como um sonho pra mim. Tudo lembrava você, as cores, os arcos franceses nas janelas e nos batentes, os móveis claros. Amava aquele lugar. Amava ficar com você sentado na sala vendo qualquer coisa na TV sem precisar pensar no jantar ou no trabalho no dia seguinte.

Quando fui recrutado para a polícia você fez meu bolo preferido, na verdade você fez meu jantar preferido, minha sobremesa preferida e comprou minha bebida preferida. Tinha ficado até tarde no estúdio e ainda voltou correndo, cansado, para preparar tudo; sei que arrumou parte das coisas na madrugada anterior... eu ouvi você assoviar Endless Love. O que você sofreu naquele dia, quis pela primeira vez tirar a vida de alguém e isso me assustou quando tudo passou. Será que realmente deveria continuar com a posse de uma arma? Só que a vontade te proteger me fez colocar a cabeça no lugar, se eu fizesse besteira você ia ficar sozinho e vulnerável então fiz de tudo para ter o máximo de sangue frio dali pra frente... e quantas vezes eu não perdi para mim mesmo?! Se não fosse seu carinho todas as vezes que via mortes e mais mortes, como estaria hoje... você me deixava deitar em seu colo e então acariciava meu cabelo até eu dormir e no dia seguinte me acordava com um café da manhã delicioso. Sempre fui fraco por comida _deu os ombros _você sempre foi tão doce, aceitou todos os meus pedidos egoístas, sempre fez de tudo para me ver sorrir e não esqueceu nunca nenhuma data comemorativa. Natal, aniversários, dia dos namorados; mesmo que para a maioria dos casais isso se torna banal depois de um tempo, pra você não e sua insistência tem a minha mais profunda admiração, afinal sou um cabaço para essas coisas.

Nosso relacionamento aberto te magoou mais do que pude imaginar na época, tudo parecia bem e cada um tinha sua forma de escape quando aqui em casa algo caía no comodismo. Você saía para o cassino, eu ia atrás de alguma balada... mas eu te amava tanto que queria te matar um pouquinho aqui dentro, por que sempre tive medo de voltar pra casa um dia e você não estar mais lá. Como sou idiota, o único que não estava em casa era eu afinal. Ryo, você é tão incrível que achei que um dia fosse simplesmente encontrar algo melhor, tive medo de ficar para trás e esse foi meu pensamento por algum tempo quando começamos a ter esse tipo de relacionamento então saía muito mais do que você para quem sabe me escorar em alguém que pudesse te substituir um dia caso isso acontecesse. Então conheci Kagami Taiga, que surpresa, ele era perfeito! Mas... _respirou fundo e sorriu deixando mais uma leva de lágrimas cair _e daí? E daí que ele é perfeito? Você está aqui, esperando paciente como sempre fez, se segurando para não chorar na minha frente, dando o melhor de si para mostrar o quanto é incrível. Mas você não precisa fazer nada disso porque eu sei quem é Ryota Kise e todos os motivos dele ter me conquistado e me transformado no homem que sou hoje. Você não é substituível, nunca será, nem que termine comigo agora e vá embora, mesmo que seja o Taiga a pessoa que proponha passar a vida toda comigo... foda-se. Preciso de você. Amo você.

Me perdoa por não estar aqui, por ter te traído, por ter dito todas aquelas coisas sem perceber que só estava te magoando ao invés de explicar alguma coisa. Agora, depois de fuder com absolutamente tudo, finalmente percebi que não amadureci nada! Estou com medo de te perder. Kise _ofegou _Kise eu atravessei a linha e estou pronto. Se você sentir que pode me perdoar, mesmo que demore 10 anos, case-se comigo! Case-se comigo por favor!! É a minha vez te esperar. É a minha vez... _Kise desviou o olhar para o nada _ por favor, diga alguma coisa...

Kise olhou para ele uma dezena de vezes enquanto Aomine dizia seu monólogo, mas foi incapaz de fazer qualquer comentário. Seus olhos brilhavam como duas piscinas cheias que transbordavam a cada batida de seu coração acelerado, não sabia o que responder. Não era questão de acreditar ou não em Aomine, era um sentimento confuso que fazia seu peito doer; precisava perdoá-lo antes de qualquer coisa e depois colocar os pés no chão.

Mas Kise tinha sua própria dose de orgulho. Era um homem que crescera sob chicotes, com sua gentileza muitas vezes sendo alvo de piadas; amava Daiki com todas as suas forças, porém precisava de uma prova para finalmente também atravessar a linha. Cansou de ser vítima do destino e Kagami Taiga era o último destino que lhe faria sofrer. Doía mais em si mesmo no fim das contas.

Ele secou as lágrimas e o abraçou, acariciou suas costas ouvindo apenas as batidas de seu coração e a respiração pesada. Daiki tinha o perfume de Taiga em suas roupas, mas não ligou para isso agora.

— Eu... _começou baixo _reconheço que o meu medo é muito maior quando se trata de você, Daikicchi. Tenho medo de te dizer muitas coisas, pois sei que pode simplesmente ir embora e sem você não tenho nenhum lugar para voltar. Literalmente. Não tenho meus pais, nunca fui bem vindo na casa onde eu cresci, não... tenho ninguém; por medo da solidão acabei acatando um monte de coisas que, se eu tivesse falado na época, não estaríamos assim agora. Sei que sou covarde. No fundamental você foi a primeira pessoa que se aproximou sem nenhuma segunda intenção, só estava curioso e gostou de mim... tem ideia de como me senti? Pela primeira vez em 15 anos alguém se importou comigo de verdade. Claro que eu me apaixonaria por você. Porém a solidão, nunca mais quis sentir isso novamente então me acovardei e realmente as vezes não era sincero comigo só para te fazer se sentir bem.

Não me arrependo, foi cansativo ir até à Toou ou te ver saindo com várias meninas, mas valeu apena no final _sua voz saia abafada pelo abraço apertado, aos poucos seu corpo relaxou e Daiki pode ver seu rosto _o Kurokocchi, o começo de tudo sobre nossa relação aberta, foi algo que quis experimentar uma vez que eu queria ter certeza que jamais conseguiria me apaixonar por outra pessoa. Estava tão assustado de ter amar naquela intensidade que eu também tentei te matar um pouquinho aqui dentro, foi inútil afinal. Depois disso, meu Deus, te ver todo arrumado saindo daqui para as baladas... eu só podia seguir o mesmo caminho. Gastar dinheiro e jogar quase se tornaram meus vícios para não pensar em você! Mas Aomine Daiki sempre foi mais forte, uma hora eu cansei. Parei de sair. Só ia trabalhar levando meu medo de dizer algo sobre isso. Então apareceu Kagami Taiga e tudo transbordou... esse último mês tem sido meu inferno na Terra, toda vez que vocês estão juntos quero realmente explodir _disse com os dentes cerrados _o que fiz, o que deixei de ser, o que falta para você olhar só pra mim? Ontem quando você não estava depois de quatro dias, depois da joia da Tiffany ter desaparecido do closet, senti novamente o desespero da solidão. Você sabe o que é solidão? Ver somente o escuro à sua volta, nadar para a superfície que nunca chegará. Mesmo que saia pelo mundo, as vezes nada preenche você... é tão ruim. É tão desesperador... mas o que posso fazer se somente você completa a parte que falta? O que eu faço com esse medo de te perder? Mesmo que prometa se casar comigo... como mudo o que sinto?

— Ryota... não sabia que... se sentia assim. E-eu não sabia mesmo.

— Não era para saber mesmo. Já disse que sou um covarde que esconde as coisas de você _disse com a voz doce olhando para baixo _mas juro que isso é só amor. Eu amo você.

— Nunca duvidei disso, sabe que não... então, vamos atravessar a linha juntos!

— Não posso! Não consigo, tenho medo. Tenho medo de sofrer de novo, tenho medo de lá fora ter outros 10 Kagami Taiga te esperando!

— Não terá.

— Você não sabe... por Deus, eu te amo tanto... mas o medo me corrói e estou tão chateado com você!  

Daiki abriu e fechou a boca sem saber como continuar a conversa, ele entendeu os sentimentos da pessoa amada e agora estava tão perdido quanto o mesmo. Como ele conquistaria sua confiança? Não era culpa de Kise se sentir assim, ele só estava assustado. O clima pesado continuou até que ambos chegaram ao fim de suas forças.

— Hey, posso deitar ao seu lado? _Daiki pediu _...vou só tomar um banho, tirar esse perfume _engoliu a culpa _por favor.

Kise fez um gesto positivo com a cabeça.

— Vou pegar algo pra você comer, me desculpe pelos calmantes, sei que só os toma quando não estou _confessou _sei quando começou a tomá-los.

                O moreno saiu do quarto deixando a porta aberta ao passar.

Na margem do outro lado da tristeza

Dizem que se encontra um sorriso

Quando chegarmos lá

O que será que nos espera?

 

Naquele dia distante, parti para uma viagem

Em busca do sonho, e não para fugir

 

No lugar onde termina o sofrimento

Dizem que a felicidade nos espera

Ainda procuro o girassol

Fora da época

 

                Only Human – K

—----- + --------------------

Taiga suspirou atraindo a atenção de seu superior, o senhor de sorriso gentil se aproximou com as mãos atrás do corpo e o andar calmo.

— Dia ruim?

— ...nah... um pouco. Mas foi como deveria ser _disse mais para si mesmo, se conformando em seguida.

— Oh, juventude _balançou a cabeça _a vida é assim mesmo meu rapaz _deu um tapinha leve em suas costas.

— Obrigado, Senhor! _sorriu _vai ficar tudo bem. Sempre fica.

— Sempre fica _repetiu deixando o ruivo sozinho no vestiário.

Ainda era tão recente, mas o cheiro de Aomine já não estava mais em suas roupas. Depois de quatro dias então finalmente veio a despedida: era óbvio que aquele Aomine Daiki jamais seria seu, talvez 10 anos atrás tivesse chances, hoje infelizmente não. Eles conversaram sobre tudo, passado, presente e divagaram sobre o futuro, fizeram também uma promessa: Daiki atravessaria a linha e Taiga encontraria seu lugar. Eram duas coisas que faltavam em suas vidas.

Kagami sempre se escondeu atrás da liberdade que criou, não podia admitir para si mesmo que era solitário ou acabaria no tão horrível mar de desespero. Sempre se imaginou caindo em águas geladas e escuras, quanto mais nadava para cima, mais afundava e uma hora sabia que não haveria mais forças... aquele sentimento não era exclusivo seu, Kise era uma clara prova que também se sentia solitário. Todos têm seus medos afinal. Aomine foi seu porto seguro por algum tempo, mas não era seu Aomine então fora obrigado a dizer adeus.

O Aomine de hoje jamais aceitaria seu conceito de liberdade, ele teria que entender que Taiga, apesar de precisar de um porto, partiria de tempos em tempos. Ele tinha muito mais de uma coisa importante em sua vida e todas ficavam em primeiro lugar; aquilo era sua liberdade. Ao passar do tempo Daiki se cansaria de nunca ser o numero um, depois de 12 anos vivendo o amor incondicional de Kise jamais se acostumaria e seus medos cresceriam como sombra em seu coração. A relação teria um fim.

Taiga tirou uma lição importante dessa aventura afinal: ainda era capaz de amar. Isso significava que cedo ou tarde encontraria seu caminho para casa... e ele já fazia uma leve ideia de como. Um fantasma que vagava em sua mente quando sozinho, seja ele no Japão ou em qualquer outra parte do mundo. Mas tinha medo de voltar e ter sua última esperança jogada ao vento, seu último lar. Contara tudo ao moreno nesses quatro dias, tudo sobre o anel que carregava consigo e fora encorajado a correr atrás de seus sonhos; Daiki também precisaria enfrentar seus medos e pedir perdão, e ele o faria.

Se fossemos mais jovens sua liberdade seria totalmente possível. Hoje minha maturidade não permite sonhos tão loucos, mas fico admirado com a sua coragem Taiga... Kise é tudo para mim _completou.

Relembrou de suas palavras finais com um sorriso ameno, na hora desejou que a morte o levasse para não derramar nenhuma lágrima e fazer o papel de fraco, mas agora que tudo passara seu coração estava mais leve.  Tudo o que restava era desejar felicidades ao casal e seguir em frente: sua próxima parada seria Los Angeles, colocaria de vez um ponto final em seus problemas, pararia de fingir que estava tudo bem o tempo todo.

—--------- + --------------

— O-o que isso é sério?! Está mesmo indo pra Los Angeles? _Aomine se exaltou, olhou de canto para a porta do banheiro e abaixou o tom de voz quando ouviu que o chuveiro ainda estava ligado _boa sorte, Taiga.

— Obrigado... e ai, deu tudo certo?

— Me sinto um adolescente de 15 anos. Estou fodido.

— Não só você. Vou desligar, meu chefe chegou. Depois te conto como foi.

— Até mais. Ei, nunca será um adeus, certo?

— Claro idiota! Vai estar sempre no meu coração, sabe disso.

— Você também.

Eles sabiam que não era em primeiro lugar, mas estariam lá. Isso bastava.

— Até! Ahomine _e desligou.

Daiki desligou olhando para tela do celular sem real interesse. Precisava reconquistar Kise e só voltaria a falar com Taiga quando cumprisse sua promessa, precisava mostrar para ele sua melhor versão. Até lá repensaria em sua própria vida, em tudo o que fizera até aquele ponto: quase perdera Ryota Kise, foi preciso quase um empurrão para o precipício para entender o quanto o loiro é importante para si. Fora uma vida toda juntos afinal. Se arrependia de tantas coisas e ao mesmo tempo acreditava que sem elas estariam fadados a continuar com seus erros. Agradecia por tanto pelo ruivo ter aceitado sua companhia naquela sexta-feira de Março, podia se lembrar como se fosse ontem o homem de quase 1,90 chegar ao seu lado, tímido, com um copo de vodka em mãos e o sorriso enorme. Divagou, mas voltou a si em seguida espantando o ruivo de sua mente.

Kise saiu do banho e topou com o namorado no corredor, deu um sorriso meio sem graça entrando no quarto; o clima estava pesado e depois de tantas coisas ditas ambos simplesmente não sabiam mais como agir. Daiki queria abraçá-lo, mas teria que respeitar seu tempo, era hora de mostrar o quanto crescera. Sentou no sofá ligando a tv – a séculos esquecida – na NBA, começou a ver uma partida do Golden States Warriors que no momento ganhava por 5 pontos de diferença contra os Cavaliers. Bufou, Cavaliers era muito mais foda! Apesar de o namorado discordar com voracidade em todos os campeonatos. Uma briga infantil que acabou lhe tirando um breve sorriso, estava com saudades daquelas bobagens.  

— Estou indo até a empresa _Kise anunciou voltando do quarto já de social, segurava o quepe em uma das mãos e as luvas brancas na outra _volto à noite, vou só á uma reunião.

— Ok _perdeu o fôlego por um instante, amava seu uniforme _vá com cuidado.

— Obrigado... Daikicchi _se aproximou surpreendendo Daiki e lhe dando um selinho _estou saindo.

— KISE! _se levantou repentinamente assustando o outro _...Tiffany, era apenas uma corrente para substituir uma que ele usava. Não foi nada de mais, eu juro. Você... eu só conhecia essa marca, você entra tanto naquela loja que não sei como não virou garoto propaganda de lá. Me perdoe.

— ...toda vez que você se desespera me chama de ‘Kise’ _riu brevemente _tudo bem, obrigado por me contar... estou saindo _repetiu agora passando pelo hall de entrada, Aomine o viu fechar a porta com um sorriso leve no rosto. Fez bem em se explicar.

Aomine se jogou de volta no sofá, seu coração tinha ficado acelerado e agora estava quase rindo sozinho: a ansiedade de ter Kise por perto havia voltado. Precisava apagar seus medos... ou melhor, fazê-lo entender que ambos tinham medo de perder um ao outro. Tanto tempo gasto saindo com pessoas aleatórias, como era idiota, não precisava de nada daquilo para viver. Pelo menos não mais.

Pessoas mudam de repente? Quem se importa, Daiki se sentia daquela forma. Com urgência de Ryota Kise. Sabia que apesar de seus desejos desenfreados não podia simplesmente avançar passando sobre os sentimentos do outro. Assim como tivera infinita paciência há 8 anos, teria que ter naquele momento novamente e parando para pensar, em ambas as vezes Daiki não se forçou a nada; o fez porque quis. Isso era a real forma de amar? Se doar quando preciso, sem esperar nada em troca, apenas desejando o melhor. Até uma pessoa como ele era capaz disso e a constatação o deixou satisfeito.          

Mas a pergunta ainda vinha e ia sem respostas, o que faria para dar fim a aquela situação horrível? Teria que ser um verdadeiro gênio. Aomine rolou pelo sofá resmungando qualquer coisa, não sabia ser romântico, nunca aprendera direito a fazer coisas como surpresas e declarações. Um perfeito anti-herói, queria se xingar até a décima geração.

Ou pior, ele nem mesmo tinha certeza que aquelas coisas fariam Kise se sentir melhor ou se a resposta era outra muito longe aquilo.

Cogitou então a hipótese de perguntar a sua mãe, mas senhora de quase 50 anos entraria num mar de paranoias e ele teria que explicar tantas coisas! Ela adorava Kise, ficaria mais irritada do que ajudaria de verdade então logo descartou a ideia.  

— Oh! _e como um estalo, voou para o celular jogado acidentalmente no chão _esquilo!!

Satsuki claro, como poderia se esquecer da menina de cabelos rosa? Abriu a agenda imaginando se a mesma ainda estaria com o mesmo número, há tempos não entrava em contato... também teria que explicar toda a situação, se desculpar pelo sumiço, perguntar como ela estava e ouvir parte de sua vida. A preguiça tomou conta de seu ser interior. Tudo culpa de uma personalidade idiota que não dava a mínima para ninguém e agora arcava com as consequências em cadeia, não era só reconquistar Ryota Kise, era rever 27 anos de decisões certas e erradas.

O moreno respirou fundo e mandou uma mensagem, tentou ser o mais sucinto possível antes de entrar na espiral de explicações. Faria isso quando a encontrasse pessoalmente, isso se ela realmente fosse o ouvir.

À noite, depois de um dia longo e chato, Aomine olhava com tédio para o cardápio online do restaurante preferido de Kise; queria começar com sua dedicação ao loiro pedindo algo bom para comerem e fazendo uma pequena surpresa. Quer dizer, Daiki nunca fora atencioso com ele, mal sabia o que gostava de comer (além de doces), sempre que pediam comida fora Daiki reclamava... – rolou os olhos – como era babaca! Depois que começara a sair com outras pessoas, simplesmente parou de se preocupar em fazer Kise se sentir bem fora das datas comemorativas e só as comemorava na verdade, pois o namorado era insistente. Agora ele entendia o motivo de tanta insistência... se não fosse assim, Aomine simplesmente nunca prestaria atenção em si e Kise também era um ser humano afinal.  

Ok, hora de recomeçar. Sentir vergonha e se açoitar não traria benefício nenhum. Assim que terminou o pedido ouviu as chaves na porta de entrada e logo ficou atento para a mesma. Kise entrou no hall de acenando em seguida, deixou o quepe, luvas e chaves sobre o aparador enquanto se ocupava com os sapatos.

— Boa noite, Ryo! Como foi a reunião? _sua voz saiu tremida e alta demais. Se estapeou mentalmente.

— ...tranquila _respirou fundo _me requisitaram para um trabalho no mês que vem.

— Hum... _o observou afrouxar a gravata antes de se aproximar do sofá.

— E você? Teve um bom dia?

— Meio tedioso. Pedi comida para nós _tentou sorrir, mas o espanto de Kise o fez ficar com vergonha e acabou retraindo os lábios. Era nítido seu desespero afinal.  

— Obrigado, meu amor. Vou me trocar então.

— Claro! Te aviso quando a comida chegar?

— Uhum _concordou com um aceno sumindo pelo corredor com passos largos.  

Kise o chamava de “meu amor” e aquilo nunca soou tão distante. Queria que as coisas voltassem ao normal logo. Ouviu a porta do quarto se fechar num estalo baixo.

O próximo final de semana precisava chegar o mais rápido possível.

>>> 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Born to be free" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.