Born to be free escrita por hidechan


Capítulo 5
Capítulo V: Homeless


Notas iniciais do capítulo

Começamos com um flash back ok? s2 obrigada meus leitores lindos ~ e mês que vem tem BGS!!! o/



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Flash Back – Kise Ryota 19 anos

— Então até mais tarde meu amor _Kise se aproximou de Aomine lhe dando um selinho rápido, não queria se atrasar muito menos borrar a maquiagem recém-feita com tanto cuidado.

— Yo. Te ligo quando sair, mas acho que vai dar tempo de nos encontrarmos.

— Hai-su!

O menino desceu pelas estacadas do pequeno prédio em direção a saída, como era de costume se dirigia para a agência que ficava a menos de 20 minutos e então, uma hora mais tarde, era a vez do jovem recruta Aomine Daiki se dirigir para seu próprio emprego. Ambos haviam acabado de se mudar e apesar de Kise ainda manter seu emprego de modelo, optou por entrar no curso de design de interiores de uma faculdade local. Daiki por sua vez passara na prova de alistamento da polícia começando imediatamente.

Um começo feliz para o casal que havia passado por alguns problemas de relacionamento durante da fase escolar. Finalmente o sol após a tempestade.

Daiki arrumou seus pertences sem pressa, alguma coisa lhe fazia olhar para o relógio a cada aproximadamente 15 minutos – estava ansioso. Deixou o apartamento um pouco antes do horário, mandou um sms para o namorado antes de tomar a rua. O movimento da cidade estava tranquilo como sempre, nenhum caso aparente que precisasse da atenção imediata do mesmo.

— Só impressão _disse para si mesmo ao adentrar o posto policial.

— Bom dia Aomine-san! _a secretária logo o cumprimentou sorrindo de forma simpática _vai tomar seu posto já?

— Sim, tenho ronda agora... _olhou ao redor não encontrando nada de excepcional _vou me trocar então.

A menina apenas balançou a cabeça antes de voltar ao computador. Daiki colocou o uniforme ainda olhando para o relógio de pulso, Kise já estava na agência fazendo o ensaio fotográfico. Estava tudo bem. Saiu para sua ronda usando uma bicicleta de modelo antigo, pedalou de forma lenta como sempre fazia, mas tudo ao seu redor parecia um pouco distante. A sensação estranha que começara naquela manhã ainda se fazia presente.

Passou por algumas casas cumprimentando uma senhora que estava no portão, sorriu ao passar, depois dobrou a esquina e logo estaria perto da escola primária Himawari. Gostava do clima ameno que a cidade passava, apesar dos barulhos dos carros e milhares de pessoas conversando nas ruas, ainda era possível sentir paz e harmonia. Resolveu comprar um cappuccino na loja de fast-food antes de continuar, parou ao lado de uma pequena banca de revistas para matar o tempo enquanto degustava a bebida quente.

— Boa tarde, aqui é o comentarista Yamamoto. Estou agora na frente da agência...

O moreno olhou de canto para o monitor pequeno que ficava acoplado na parte alta do estabelecimento.

— Não temos maiores informações sobre os reféns...

Voltou seu rosto completamente agora, era um caso de sequestro muito fora dos padrões da segura Tóquio. Tentou ouvir melhor o que o comentarista dizia, porém o barulho das pessoas não o deixava prestar total atenção. Como todo recruta novato, qualquer coisa que envolvia a polícia o deixava extremamente curioso.

Quando a câmera do helicóptero focou no prédio em questão, Aomine amassou o copinho de plástico sem perceber: ele reconheceria aquela estrela prateada em qualquer lugar do mundo. Era a agência de Kise que aparecia no noticiário. Imediatamente saltou de volta na bicicleta e dirigiu-se para o posto onde trabalhava, poderia levar uma advertência por descumprir ordens ainda mais sem saber realmente o que estava de fato acontecendo, mas os hormônios estavam à flor da pele e não deixaria para mais tarde algo que o incomodava tanto.

A bicicleta azul marinho derrapou e fora largada de qualquer forma nos fundos da construção, Daiki entrou correndo pedindo desculpas ao esbarrar em um dos colegas de trabalho.

— O que está acontecendo na agência Star Platinum?! _perguntou para a primeira pessoa que viu na sala do diretor. O senhor de cabelos grisalho, muito apreensivo com a situação, o fitou por um momento antes de responder calmamente.

— Você é um recruta. Volte para a sua ronda, não pode interferir nesse caso em específico.

— Não está entendendo, tenho uma pessoa da família que trabalha lá. Então realmente aconteceu algo não é?!_a essa altura seu quepe já estava no chão tamanho os gestos que fazia para se expressar.

— Muito bem... _murmurou fazendo um segundo de silêncio antes de continuar _nossa corporação é pequena e apesar de estarmos muito próximos ao local não temos como interferir diretamente. Sente-se _apontou para uma cadeira aos fundos da sala, aos poucos outros policiais iam se aglomerando na porta, alguns tinham a permissão do capitão, outros simplesmente seguiam seu rumo _você pode nos dizer o nome do seu parente para conseguirmos ajudar na investigação?

— R-ryota Kise _disse em meio a um engasgo.

— E ele está lá nesse exato momento ou você não tem certeza? _o tom frio fez Daiki sentir a garganta secar. Por que aquele velho idiota estava tão absurdamente controlado?

— Sim, falei com ele há poucos minutos, me disse que ia começar um ensaio de fotos... _sentiu um arrepio horrível subir pela espinha, suas pupilas estavam extremamente dilatadas e as mãos frias, nem sabia como seu corpo lhe obedeceu sentando educadamente na cadeira. 

— Tem mais algum nome pra mim?

— Não senhor _respondeu fraco _por favor...

— Tudo bem _acenou para um dos homens da sala que saiu imediatamente e se voltou para o menino _a informação que nós temos é que a agência foi invadida por um ex funcionário, ele foi direto para a ala de modelos profissionais e fez reféns em uma das salas de ensaio fotográfico. Os outros funcionários saíram e pediram ajuda da polícia, nesse momento o meliante está trancado nessa sala com cinco pessoas. Sua motivação é vingança, assuntos internos da empresa. Nenhum dos reféns tem ligação direta com ele.

— ...e o Kise faz parte das vítimas, senhor? _murmurou.

— Ele é a vítima.  

O mundo de Daiki desabou. Tudo em sua mente fervilhou e mil hipóteses passaram em milésimos de segundos, como assim Ryota Kise era a vítima se ele não tinha ligação com o meliante? O que aquilo poderia significar para uma vingança? Seus punhos se fecharam e ele se levantou, sua visão estava turva e a voz do capitão já não chegava em seus ouvidos.

Entraria lá e mataria aquela pessoa. Traria a ele uma dor tão excruciante que o deixaria louco, queria ver seus olhos revirarem e seus pulmões ficarem sem ar.

— Você! _o senhor de meia idade segurou seu ombro com força _não ouse sair da corporação. É apenas um recruta, não pode fazer absolutamente nada por enquanto.

— Me solte _murmurou _me solte, vou matá-lo.

Sua voz era baixa e controlada, mas sabia que se mexesse um centímetro tudo explodiria.

— Se não for capaz de se controlar, então estará expulso _esperou a resposta que não veio _...vamos dar nossas vidas para tirá-los de lá. Provaremos nosso valor para que jovens como você possa sempre confiar na polícia e continuar a nos admirar, Aomine-san. Não se preocupe.

As palavras do capitão ainda demorariam algum tempo para surtir efeito, Daiki acabou se encolhendo na cadeira que lhe foi dada e ficou somente a ouvir o que os outros policiais diziam. Muitos iam e vinham, ligações, o noticiário da TV, a correria... ele ficou ali parado, sem ser notado. Horas se passaram, as piores seis horas de sua vida, perdido sem saber o que pensar ou como agir.

Como uma criança que se separa dos pais e infelizmente ninguém nota o fato. Impotente, inocente.

O horário do almoço passou, algumas pessoas foram para casa, outras chegaram para trabalhar. O próprio Aomine já estava teoricamente dispensado, mas ainda continuava a fitar a mesa cheia de papéis de seu capitão; e o mesmo o deixara em paz depois das duras palavras. Não queria sair do posto sabendo que jamais encontraria Kise na frente da agência, não voltariam juntos e isso o corroia. Queria apenas que o dia acabasse.

Depois de muito tempo baqueado, finalmente o caso teve um desfecho: Kise estava livre, mas saíra em uma ambulância até o hospital mais próximo. Aomine fora levado até o local por seu superior ainda sem saber qual a gravidade de suas injúrias; ninguém tinha coragem de lhe contar a verdade. Ao chegar no prédio subiram rapidamente os três andares pelas escadas de incêndio evitando assim chamar a atenção de outros pacientes, pararam em frente a sala de número 37, num corredor isolado pela polícia. Todos passavam por si apenas com uma expressão fechada, Kise dormia no leito protegido por um par de cortinas verdes, em seu braço a agulha com soro parecia ser dolorida, esse era porém o menor dos problemas. Ele só queria entrar no quarto e abraçá-lo.

Daiki fora esquecido mais uma vez no banco de espera ao lado de fora do quarto, não lhe deram permissão para entrar e muito menos explicações. Apenas o largaram ali como se nada daquilo fosse real, um pesadelo sem sentido. Queria rir da situação, ao mesmo tempo chorar ou então começar a quebrar tudo, mas de alguma forma sair daquele estado catatônico no qual entrara. Demorou muito para seu capitão se lembrar de que o recruta recém-formado estava esperando por ordens, ele se sentou ao lado do menino e começou a contar todos os detalhes da ocorrência. Algumas coisas não foram absorvidas pela mente cansada de Daiki, começou a prestar atenção somente quando o nome de Ryota Kise fora tocado de fato.

— Ele sofreu um estupro, não foi totalmente invasivo. Seu corpo está bem, fisicamente alguns arranhões e uma bala de raspão na parte superior que já está suturado. Não se preocupe, apesar de que isso é algo inútil a te dizer nesse momento... _disse já com um semblante choroso demonstrando que ele também era um ser humano afinal _leve-o para casa, terá um carro esperando por vocês. Amanhã será um novo dia.

— Hn... _apenas acenou de forma positiva.

— Entre e demore o tempo que precisar.

O mais velho o observou passar pela porta de madeira antes de retirar os óculos e descansar a cabeça na parede atrás de si.

Daiki entrou no quarto e caminhou até o segundo leito, reparou que havia mais um paciente ao fundo do quarto, uma menina que dormia tranquilamente com um sorriso ameno nos lábios.

— Kii? _o chamou baixinho ao afastar uma das cortinas _hey meu amor, está acordado? _acariciou seu rosto com todo o cuidado do mundo, Kise abriu os olhos lentamente.

— Ikki _balbuciou o apelido curtinho, se sentia enjoado e tonto pelo remédio em sua corrente sanguínea.

— Estou aqui, vamos pra casa daqui a pouco, ok? A enfermeira vai tirar esse soro e então... vamos para casa juntos.

O loiro acenou de leve com a cabeça e voltou a fechar os olhos. Daiki continuou com o carinho até a enfermeira chefe aparecer, a mulher ossuda afastou as cortinas e mediu o soro, depois descolou o esparadrapo retirando a agulha de uma só vez.

— Pronto, se sente bem Kise-san? Consegue se levantar? _disse em bom tom o observando sem pressa.

— Hum... estou, obrigado.

— Você tomou uma dose de calmante, então vai dormir bastante daqui a pouco. Está liberado.

— Obrigado _voltou a agradecer enquanto descia da cama com o auxílio do moreno, só então percebeu que estava com outra camiseta, diferente da qual usava no estúdio. Olhou ao redor procurando suas coisas, Daiki percebeu e logo recolheu os pertences espalhados pela mesinha ao lado da cama; alguns anéis, pulseiras e sua carteira, tinha também o chapéu creme.

Caminharam para fora do quarto em passos lentos, depois de uma breve conversa com alguns policiais de plantão, entraram no carro para irem embora. Ambos não pareciam nada além de bonecos em farrapos. Olheiras, expressão fechada, o olhar parado. Precisavam sair do redor das pessoas para finalmente desabarem, estavam se segurando o máximo, dando o melhor de si.

Assim que o casal subiu o último lance de escadas, Aomine pescou as chaves no bolso da calça destrancando o apartamento com um pouco de dificuldade uma vez que amparava o sonolento Kise em um dos braços. Conseguiu o deitar na cama antes do mesmo apagar pelo efeito do remédio, tirou seus sapatos e calça, o deixou apenas com a camiseta branca que ganhara no hospital e deitou ao seu lado. Seu coração estava despedaçado, o abraçou com força chorando baixinho com a testa encostada em sua nuca, as lágrimas quentes fluíram pesarosas: eram as primeiras lágrimas de dor em toda sua vida.

Fim do Flash Back

Aomine abriu os olhos após ouvir a voz de Kise pela segunda vez. Era madrugada de Sábado para Domingo. Tinha dormido praticamente o Sábado inteiro uma vez que chegaram de manhã em casa após a jogatina, só acordara para comer e voltar pra cama. Enjoado e com dores de cabeça mal conseguiu pensar na conversa que teriam, quando encontrou Kise na sala o ignorou.

— Estou indo, fique bem e não se atrase para o treino noturno _beijou o topo de sua testa.

— Que horas são?

— 4:50 _consultou o relógio _vou fazer o voo em duas horas. Te ligo quando chegar nos Emirados.

— O- o que não era... Domingo?

— Já é Domingo meu amor _sorriu de leve antes de cobri-lo melhor.

— Não sabia que você ia sair de madrugada, eu te levo _tentou se levantar, mas Kise o segurou pelos ombros.

— Já chamei um taxi. Até Quinta-feira, Ikki _usou o apelido que quase nunca o fazia, pois era costume de seus pais e tinha receio de Daiki não gostar.

— Me desculpe... eu... _disse ainda atordoado pelo sono _não sabia que era tão cedo, você está bem? Dormi o dia todo...

— Dorme, estou bem sim _o beijo cálido fez o moreno relaxar novamente _tchau.

— Tchau...

O loiro deixou o quarto ainda no escuro, Daiki ouviu apenas a mala de rodinhas e o barulho das chaves. Como pode deixar Kise partir assim sem mais nem menos? Quer dizer, estavam no meio de uma conversa importante, mas dormira o dia todo e agora ele não estava mais ali para ouvi-lo. Era alguma espécie de piada? O sono não o deixou, mais uma vez, continuar com seu dilema então resolveu se entregar. Foda-se. Não podia fazer mais nada agora.

Daiki dormiu até seu estômago reclamar de fome. Uma fome absurda. Se levantou indo direto à geladeira, comeria tudo o que encontrasse pela frente e quando a abriu uma surpresa: um mega prato de onigiri, chá gelado, torta salgada e um pudim. Mordeu os lábios sentindo o peso da culpa voltar. Rolou os olhos, onde estavam as câmeras escondidas? Kise era uma pessoa tão submissa que não tinha coragem nem de lhe deixar passando fome, sempre fora assim, mesmo chateado estava lá dando o melhor de si. Já discutiram sobre o assunto muitas vezes e Daiki chegara apenas a uma conclusão: aquilo era da personalidade do loiro. Já provada desde que soube de sua história com seus tios e o problema do dinheiro... ele era simplesmente assim. Bonzinho. Talvez por aquele motivo Aomine fosse tão imbecil com o mesmo, se ele próprio desse bandeira se sentiria um monstro uma vez que o loiro sempre o perdoaria e nunca faria o mesmo. Então era muito difícil ser certinho o 100% do tempo, Aomine queria que Kise também errasse e quebrasse regras, que brigasse de frente consigo para ele ter uma desculpa para seu comportamento ruim.

Tão difícil admitir certas coisas. E aquilo era um dos motivos que gostava tanto de Kagami Taiga, o ruivo nunca deixaria barato nenhuma “filha da putagem” que fosse. Eles cairiam em brigas e mais brigas todas às vezes sem dar o braço a torcer. Se fosse bom ou não para um relacionamento, quem sabe?

De repente seu celular vibrou, atendeu no primeiro toque levando um leve susto ao ouvir a voz rouca.

— O-oi Taiga, diga _disse com a boca cheia, sinceramente esperava por uma ligação de Kise já que era costume do mesmo ligar a qualquer hora do dia.

— Tudo bem cabeção?

— Sempre.

— Então, o que está fazendo além de comer?

— Ah... _engoliu tomando um bom gole de chá em seguida _Dom Perignon é foda. Nada de mais e você?

— O que?

— Nada. E você?

— Basquete?

A pergunta soou mais como uma ordem, logo um afobado Aomine já estaria em direção à quadra de basquete que tanto amavam.

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Taiga quicou a bola pela última vez antes de desabar na quadra, olhou para o céu cheio de estrelas e ficou a admirar as constelações. Sorriu ao se lembrar de algo bom. Aomine percebeu, porém a curiosidade morreu em seus lábios frios; não se sentia muito a vontade para se intrometer em suas nostalgias.

— Então... borá lá em casa?

O ruivo se virou para o lado sentindo a quadra fria gelar seu braço que agora servia de apoio para o rosto.

— Não irei. Respeite suas próprias regras.

A resposta veio como uma navalha. Resmungou um pouco irritado se deitando também, onde estava o Taiga libertino que conhecera?

— Vamos a um motel? _Taiga sugeriu.

— Hn _concordou discordando. Queria fazer birra e ao mesmo tempo aceitar a proposta.

— Agora vai ficar com cara de cu?... ótimo, vou pra casa. Você tem muito a pensar sobre seu relacionamento, Aomine.

— O que?!

O ruivo tinha os olhos estreitos e as sobrancelhas quase unidas. Alguma coisa havia acontecido para ele ficar irritado com o moreno, só não sabia exatamente o que.

— O que eu fiz pra você?! Me desculpe pelo telefonema, ah mas espera, já me desculpei por isso.

— ...você é muito babaca _respirou fundo _tudo bem, olha. São duas coisas que estão acontecendo: primeiro eu realmente gostei de você, somos parecidos em muitas coisas... gostamos das mesmas coisas, você é ótimo, divertido, bonito, o sexo é do caralho. Eu ficaria tão apaixonado, Daiki _amenizou o tom de voz _em 27 anos talvez nunca tivesse conhecido alguém que realmente daria certo passar o resto da minha vida junto. Sei que não somos crianças mais, não me apaixonei, sei que seria impossível de repente fugirmos para as montanhas _fez um gesto de mãos como se apagasse a ideia _mas queria continuar um pouco mais. Infelizmente, Aomine Daiki, você me decepcionou... se tivéssemos 17 anos eu não pensaria duas vezes, mas agora... _deu os ombros.

— Como assim? _trincou os dentes sentindo a ira esquentar seu rosto.

— Seu namorado... namorado _riu pelo nariz _12 anos juntos e ainda é seu namorado. Já deveria ter pedido ele em casamento, mas enfim, por um acaso do destino encontrei sua ficha no corpo de bombeiros. Ele sofreu tudo aquilo não foi? Kise é uma pessoa que já passou por dois traumas pesados, você tem noção do quanto ele é forte hoje?

— Cl-claro que tenho! Por que está tocando no nome dele?! _não pode segurar mais e aumentou o tom de voz erguendo a mão para agarrar o colarinho de Taiga, não o fez parando no último instante.

— O que você acha que esse seu tipo de relacionamento, hoje em dia, trás de bom pra ele? Meu cacete, Daiki! Abre os olhos, você quebrou as regras comigo não foi?! Está traindo a pessoa que mais te ama na vida _se exaltou, a calmaria que tentou transparecer não funcionara muito bem _traição! TRAIÇÃO, eu odeio traição. E isso é a segunda coisa que está acontecendo: você vai perdê-lo. Onde ele está agora? Hum? O que está fazendo? Lhe deu bom dia? Se ele não voltasse nunca mais pra casa você dormiria em paz?

Taiga sentiu uma dor terrível em seu rosto, o soco o jogou para trás lhe fazendo bater as costas no chão. Todas as verdades foram jogadas em sua cara de modo que o sangue ferveu, tudo o que Kise deveria estar lhe dizendo era dita pela boca mal educada daquela pessoa estranha. Sim, estava o traindo. Era fato e ambos sabiam. Daiki sem coragem de admitir e Kise guardando tudo pra si por medo.

Estava claro como água agora. Taiga apenas organizou tudo em sua mente.

— Meus pais _limpou o sangue que escorria de seu lábio inferior _se separaram por causa de uma traição. Por isso eu também cresci sozinho e muito mais rápido do que qualquer criança. Sei o que é nunca ter tido nada na vida até ganhar a liberdade. Meu pai tem outra família e a minha mãe mora nos EUA; saí pelo mundo depois da maioridade para tentar me encaixar em algum lugar... o Kise tem apenas a você. Você faz com que ele tenha um lugar para voltar.

— ...você não me ama?

O silencio veio espontâneo, Kagami era um ser humano afinal e apesar do soco que levara não sentia mais nada em relação a isso. A dor passou, a raiva também.

— Foram apenas algumas semanas _murmurou _foi tão intenso, cada vez que nos encontramos sinto meu peito queimar de ansiedade, felicidade, vontade de você. Se tivéssemos 17 anos... _respirou fundo _não, mesmo agora com 27 e totalmente amadurecido, ainda me arriscaria a dizer que sim.

— Não é preciso ser criança para se apaixonar, não é?

— ... _negou com a cabeça.

Daiki o abraçou se desculpando pelo soco, acariciou seu rosto e em seguida beijou seus lábios de forma leve.

— O Kise me fez ser o homem que sou hoje, Taiga _disse baixinho, quase num sussurro _se ele não tem um lugar para voltar, quem dirá a mim?

— Entendo.

— Espere aqui um instante!

Se levantou num pulo já tirando as chaves do carro da mochila jogada no fundo da quadra, Kagami apenas o observou um pouco perdido. Viu Daiki atravessar a rua, pegar algo no banco traseiro de sua X6 e voltar correndo, nem ao menos se deu o trabalho de acionar o alarme. Voltou a se jogar no chão ao seu lado, agora ofegante e com um embrulho pequeno em mãos.

— Isso é pra você.

Taiga ficou alarmado, podia até ser pobre e ignorante com algumas marcas mas Tiffany era impossível não conhecer. Seu interior gelou. Não estava preparado para absolutamente nada naquele momento.

— Não posso _respondeu de imediato.

— Abre cacete, você nem sabe o que é.

Suas mãos trêmulas pegaram o embrulho e o suspiro de alívio foi audível quando tirou de lá apenas uma corrente.

— O seu está com o fecho ruim não é? _apontou para o anel pendurado no pescoço do ruivo _me disse algum dia desses.

— A-ah sim! Obrigado, que foda, deve ter sido caro...

— É um presente _sorriu _pelo basquete que você nunca conseguiu ganhar _assoviou ganhando um soco no ombro.

— Teu cu que eu nunca ganhei.

Eles se beijaram novamente, agora com mais ávidos do que antes. Kagami Taiga estava decididamente apaixonado.

—---------- + -------------

Quinta-feira – 4 dias depois.

Kise estalou os joelhos e ombros antes de passar pelo portão branco de seu prédio, o pequeno salto de seu sapato social ecoou pelo salão sendo acompanhados pelo barulho das rodinhas da pequena mala.  Finalmente em casa. Subiu os 17 andares desejando um banho, sua cama e seu namorado; ajeitou os cabelos no espelho antes de sair.  

A chave já estava em mãos quando percebeu a luz apagada por debaixo da porta, talvez Aomine estivesse dormindo já que estava perto da meia noite então tentou não fazer muito barulho destravando-a lentamente. Entrou deixando os sapatos na entrada assim como sua mala – Na sala apenas o silêncio, acendeu a luz tocando de leve no interruptor e olhou ao redor: o cobertor que deixara dobrado no braço do sofá ainda estava do mesmo jeito, bem como o controle sobre ele, na cozinha a cortina tapava totalmente a janela e sobre a pia um prato e um copo, ainda sujos. Seu sorriso sumiu. Daiki não estava em casa e pior, não havia passado nenhum dos quatro dias lá. Antes de pegar o celular para conferir se o mesmo havia lhe respondido, rumou direto para o quarto acendendo a luz sem ao menos verificar se o moreno estava dormindo – nada – pegou o banquinho branco deixado embaixo da escrivaninha e entrou furioso no closet: a embalagem da Tiffany não estava mais no lugar onde a encontrara. As lágrimas vieram caindo direto em sua blusa de couro.

Você e eu fizemos uma promessa

Na alegria ou na tristeza

Não acredito que você me decepcionou

Mas a prova está no jeito de como isso dói

Por meses a fio eu tive minhas dúvidas

Negando cada lágrima

Eu queria que isso acabasse agora

Mas sei que ainda preciso de você aqui

 

Você diz que sou louco

Porque acha que não sei o que você faz

Mas quando você me chama de "amor"

Eu sei que não sou o único

Kise perdera o lugar que chamava de “casa”. Sentou-se na cama desejando apenas que a dor passasse. Apenas que tudo tivesse qualquer fim.

 

Você tem estado tão ocupado

Agora, infelizmente, eu sei o porquê

Seu coração é inalcançável

Apesar de, só Deus sabe, você tem o meu

 

Você diz que sou louco

Porque acha que não sei o que você fez

Mas quando você me chama de "amor"

Eu sei que não sou o único

 

I’m not the only one – San Smith

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O ambiente escuro não fazia diferença alguma para o homem sentado no sofá com a xícara de chá nas mãos. Na verdade a porcelana inglesa assim como o aroma perfumado de jasmim também não fazia a menor diferença.

Quatro dias, sem ao menos ter se despedido direito, e ele não estava lá quando voltara para casa. Era mesmo a sua casa? Casa não é o lugar onde o esperam? Kise sorriu sem realmente sentir algo bom. Talvez fosse a hora de seguir em frente – mas em frente para onde? Se terminasse com Daiki então o que faria? Já tinham lhe tirado os pais, a carreira de modelo que tanto amava, a dignidade naquele fatídico dia, agora Aomine Daiki? Será que o próximo passo não seria sua própria vida?

As perguntas fizeram sua garganta embolar e a ânsia aumentou. E daí que ele queria que aquele fosse realmente o fim, ninguém estava lá para lhe dizer o contrário afinal. Ninguém nunca estaria.

— Daiki, me ajude... _murmurou _não me deixe pensar nessas coisas novamente. Por favor.

Era o mesmo sentimento de desespero ele sentira na manhã daquela quarta feira há oito anos. Quando acordou depois dos calmantes perderem o efeito, tudo veio á sua mente, gritou desesperado por ajuda, o gosto de fel vinha em sua boca repetidamente e sua cabeça pesava, doía, parecia querer explodir. Era um misto de dor física e mental. Kise jurou que arrancaria aquela dor alucinante tirando sua própria vida; seria o fim de todo o seu e do sofrimento da pessoa amada e que apesar de estar ao seu lado ainda chorava escondido quando Kise fingia dormir.

Daiki nunca o deixou sozinho, ficava ao seu lado o tempo todo e por suas lágrimas serem tão sentidas, Kise conseguiu que sua dor fosse diminuindo em troca de um sorriso. Foi um esforço descomunal, sim, mas sozinho foi forte pelos dois e logo a vida voltara ao normal. Abandonara apenas a faculdade para um ano depois começar sua carreira como piloto.

Já estava acostumado com desgraças. Sua vida era uma tragédia contada de forma porca pelo palco da vida, quem teve suas primeiras lágrimas de dor foi Aomine por isso prometeu que jamais o faria sofrer novamente. Jamais o faria sofrer se ele ainda estivesse ao seu lado, sem seu sorriso como faria para ser forte mais uma vez? Sem o próprio Aomine atuando no palco, o que sobrava? A verdade era que Ryota Kise se tornava ninguém sem a presença de Aomine Daiki e por mais errado que isso fosse, a vida quis assim.

Kise cambaleou até o quarto e se jogou na cama. Cansara de ser vítima do destino.

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