Born to be free escrita por hidechan


Capítulo 7
Capítulo VII: Celebration


Notas iniciais do capítulo

o/ penúltimo cap ~



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Daiki olhou para o relógio pela centésima vez, detestava esperar, detestava encontros, detestava pessoas. Naquele exato momento estava num café esperando pela amiga de infância enquanto outros iam e vinham ao seu redor, seus risos e vozes animadas o faziam sentir cada vez mais raiva da vida; estava muito mais antissocial do que de costume agora que parara de sair como antes. Não era só para conhecer pessoas em troca de uma noite de sexo, era também um exercício diário de paciência e socialização – aprendera isso quando Kise, o popular, o apresentava para várias pessoas durante sua vida escolar – sem essa insistência acabava voltando sua personalidade fechada. Não era de todo ruim e agora que seu interesse voltara totalmente para o namorado, se sentia até melhor em estar sozinho mais horas do dia.

Olhou mais uma vez para a porta de entrada quando finalmente a menina passou por ela dando um sorriso em seguida, se aproximou de braços abertos requisitando o contato.

— Olá, Dai-chan! Quanto tempo _disse com a voz abafada pelo peito do amigo muito mais alto do que si.

 - O-oi, como você está? _um sentimento bizarro tomou conta de seu corpo, tentou afastá-la o mais rápido possível. Há anos não via a menina, chegar abraçando foi realmente muito estranho.

— Bem! Agora me conte o que está acontecendo _disse afobada, já tomando seu lugar à frente do moreno e cruzando os braços para prestar total atenção.

— Ótimo... bom, ahn _começou um pouco sem jeito. Era hora de falar? Achara que sim, ela não parecia estar preocupada com formalidades. Por isso detestava pessoas, elas são bizarras.

Daiki explicou tudo, desde o começo quando conheceu Taiga até o atual momento, a menina apenas ouvia atenta como se estivesse em uma palestra superinteressante sobre a vida de seu melhor amigo. Suas pupilas dilatavam e contraíam conforme ele narrava suas decisões erradas daquele meio tempo, seu peito subia e descia rapidamente deixando Aomine um pouco nervoso; não era para tanto, só queria uma brilhante ideia para seu problema. Ainda assim continuou, mesmo incomodado, até o final quando Satsuki finalmente pareceu voltar a respirar.

Ela ficou calada, processando todas as informações por um momento ou dois.

— Então... o Ki-chan está só se protegendo _começou lentamente brincando com a manga rendada de sua própria blusa _sabe, está tão perdido quanto você.

— Ele me disse isso _respondeu impaciente _o que eu faço?

— E-eu não sei, no lugar dele acho que... nem sei que estaríamos juntos ainda _disse baixinho, com certo medo que Daiki fosse reagir mal, felizmente apenas resmungou algo incoerente _claro que entendo os motivos dele, acho que não é questão de você simplesmente fazer algo e tudo ficar bem. Ele vai perceber com o tempo que você mudou e então se sentirá confiante novamente.

— Não posso fazer nada? _a decepção era clara em sua voz.

— Mostre a ele que você mudou. Tudo o que percebeu que fez de errado até agora, é só concertar isso, Dai-chan.

O moreno não pareceu satisfeito com a resposta.

— Não espera que vá acontecer alguma mágica, não é? _agora um pouco mais rígida, Satsuki segurou em seu pulso _você errou, já admitiu e isso é muito bom, agora precisa ter paciência.

— ...hn.

— Não entenda mal.

— Eu sei. Me desculpe _balançou a cabeça _acho que até agora estava um pouco fora da realidade. Sabe, esperando que do nada ele fosse voltar pra mim como sempre... pulando no meu pescoço, rindo _deu os ombros _sou muito ruim nesses assuntos. Um anti-herói babaca.

— Ah... você sempre foi assim, menos na parte do babaca _riu _é por isso e outras que tanto o Ki-chan quanto eu te amamos, não se preocupe com isso.

O sorriso doce fez Daiki corar. Ia ficar tudo bem.

— Obrigado, Satsuki.

— Que tal uma viagem? Dar um tempo do apartamento, de Ginza, ares novos pode ser uma boa ideia para vocês.

— Legal! Estão me devendo uns dias no trabalho mesmo, meu banco de horas está explodindo _disse com certo orgulho.

— Ótimo! Agora vamos bolar um plano para o Ki-chan ficar animado com o passeio. Perfeito. Vai ser perfeito! _divagou sozinha trazendo um clima leve para a conversa. Daiki finalmente via um fio de luz no fim do túnel.

Depois de conversarem sobre os problemas de Daiki, ele finalmente deu atenção para a garota, soube por ela que Kuroko estava morando fora do país com sua noiva e que logo menos se casariam. Ouviu também o pequeno pesar da mesma por não ter conseguido seu amor como tanto desejara no ensino médio, mas que estava feliz com sua vida de arquiteta, seu apartamento e seu namorado gringo. Não se teve notícias dos outros membros da geração dos milagres. Eles conversaram até tarde, Daiki queria realmente se desculpar pelos anos longe, mas não precisou, a amiga deixou implícito sua felicidade por ele ter voltado e isso já era o suficiente.

Daiki deixou a menor no taxi antes de voltar para casa, quando parado no farol esperando os minutos mais chatos de sua vida passar – detestava faróis, aliás, detestava tanta coisa que já desconfiava que sua irritação tivesse uma razão mais profunda – teve a brilhante ideia de parar na quadra de basquete ali perto. Talvez um jogo rápido fizesse baixar os níveis dos hormônios que estavam o deixando sem paciência; bom, fazia sexo numa frequência assustadora, parar com tudo de repente e ainda ficar sob uma situação de stress diário deixaria qualquer um irritado. Ligou para Kise pedindo que o mesmo trouxesse uma bola e seus tênis, era hoje que mataria dois coelhos numa cajadada só: se acalmaria e ganharia pontos com o namorado.

—---------- + -------------

Ao contrário do que imaginou Daiki não sentiu a falta de Taiga naquele meio tempo em quadra (nem após saírem dela para um lanche urgente na padaria). Enquanto jogavam apenas o sentimento de euforia era presente, queria vencê-lo, queria vencer sua cópia e provar que Kise ainda precisava de 10 anos para alcançá-lo. Claro que a disputa não duraria os 4 quartos nunca, o loiro a muito não fazia exercícios pesados e perdeu o fôlego depois de meia hora no ritmo frenético que Daiki impunha. Ainda assim fora satisfatório, ambos saíram leves e sorridentes. No momento Kise o observava devorar seus 500 ml de açaí, um doce novo vindo da América do Sul direto para aquele pequeno país, não gostara muito do gosto barrento, mas Daiki pareceu viciar.

— Isso é muito gostoso _disse de boca cheia, colocando mais frutas dentro do pote de porcelana.

— Não, obrigado _apoiou a mão em seu queixo e sorriu _podemos levar um pouco para casa se você quiser.

— Nah... fica mais especial quando não se tem na geladeira. Ah! Preciso perguntar uma coisa.

Kise ficou apreensivo por um momento, Daiki viu sua pupila dilatar. “Como ele era meigo em certas situações!”. Acabou sorrindo sem querer, com os dentes pretos pelo doce.

— Vamos viajar?

— Hn... ah, claro. Vamos sim _estendeu um guardanapo _mas agora? No meio do ano?

— Alguns dias, só para... hn... sabe, você sabe—desistiu de tentar ser natural _...não sei o que fazer _segurou a colher no ar fingindo interesse na mesma.  

Kise abaixou o olhar denunciando sua melancolia, eles ouviram os risos da mesa ao lado antes de continuarem a conversa. Depois que Daiki começou com sua jornada para a reconquista de Kise, percebeu que o mesmo dizia muitas coisas com sua expressão corporal; no momento suas mãos estavam sob a mesa, provavelmente juntas para conter a ansiedade, os olhos baixos não queriam encará-lo, pois isso diria que ainda estava chateado e por fim seus lábios tremeram com medo de responder.

Não que Aomine fora sempre um tapado em relação ao loiro, antigamente ele o observava o tempo todo, só perdera aquele costume.

— Ryo... me desculpe _tocou de leve seus joelhos, Kise gostava de toques, transmitia segurança.

— Não precisa _murmurou _não precisa se desculpar, já o fez.

— Vou me desculpar sim, até você se sentir melhor. Até for o suficiente.

Será que um dia será o suficiente?

— O-onde você que ir? _se referiu a viajem.

— Para qualquer lugar... talvez para o Sul?

O loiro respirou fundo e tentou seu melhor sorriso. Aomine estava se esforçando então faria o mesmo. Tentar e tentar, era o que precisavam naquele momento.

— Me requisitaram para levar um avião particular de pequeno porte até Kumamoto, podemos... você pode ir comigo, passar alguns dias viajando de trem bala até Tóquio. Parar em Beppu, nas termas, na Universal...! A-algo assim _a animação em sua voz não passou despercebida, ele a conteve de repente não querendo exagerar como sempre fazia, se Daiki estava tentando mudar era justo que Kise também o fizesse.

O loiro admitia, entre todas as coisas, que era demasiado chato e irritante em certos assuntos. Coisas que Aomine não precisava suportar só para agradá-lo afinal, mas que ao passar dos anos tudo foi caindo no comodismo. Euforia em excesso, brigas por qualquer coisa, viagens longas detalhadas em lugares que o loiro escolhia... sempre ele, era sempre Ryota Kise que levava o outro para onde ele queria, do modo que ele queria.

Aos poucos se acostumaram com isso, Daiki desistiu de reclamar principalmente depois do incidente de Kise, pois tudo remetia a ele um sentimento de pena; queria fazer o menor sorrir então se prendia para não dizer que estava cansado de certas coisas. Suas saídas noturnas o ajudavam nessa questão também, podia finalmente ser absoluto em seus desejos mesmo que com pessoas desconhecidas. Após Kagami Taiga, Kise parou para pensar como poderia mudar também, Daiki não tinha 100% de culpa para a relação deles não dar totalmente certo; se ele encontrou coisas tão boas em outra pessoa é por que seu atual companheiro não tem todas as características que ele precisa para viver uma vida plena.

Começaria tentando se conter e deixá-lo participar das pequenas decisões, pequenas porém importantes. E era necessário também dizer outra coisa, algo que estava girando em seus pensamentos ha um tempo... fazê-lo perceber algo simples. O loiro se encheu de coragem, respirou fundo e se preparou, mas assim que tomou o primeiro impulso Aomine fora mais rápido cortando sua determinação.

— Hey, eu amo você.

Kise corou no mesmo instante (aquilo o tirou do chão), era possível ouvir seu coração. Estava tão apaixonado, sempre estivera, sempre parecia ser seu primeiro encontro, sempre sentia a ansiedade formigando em suas mãos e pernas. Aquilo fazia Daiki se sentir tão único... como o único homem no mundo, colocado num pedestal, admirado, amado. Sua autoestima existia basicamente por causa de Kise afinal.

O moreno acenou brevemente voltando para o açaí, tivera sucesso em convidá-lo agora precisava pensar em como tornar aquela chance especial e eficaz. Faria um roteiro, algumas reservas em hotéis e passagens; logo percebeu que estava se divertindo muito mais do que previra. Isso era um ótimo sinal. Não estava se forçando, apenas tentando coisas novas.

— Óti-

Seu celular de repente começou a tocar, a música alta e irritante fez sua expressão congelar e na hora a colher de metal caiu sobre a mesa fazendo um barulho estridente. Na tela do Iphone o número restrito de seu capitão.

— Aomine-san! Emergência A.L.J, por favor venha o mais rápido possível. 160 vítimas.

— O... o que?! 160... eu... _olhou para os lados, perdido _claro, estou indo. Agora _completou sem real necessidade.

Daiki encerrou a ligação se levantando no mesmo instante, como Kise estava com seu próprio carro então simplesmente pegou as chaves de sua X6 para sair o mais rápido possível. Seu nervosismo era visível, as mãos foram cerradas para que parassem de tremer; Kise precisava ir embora.

— Meu amor, vá para casa. Darei notícias assim que puder.

— O que aconte-

Eu sei que está ansioso, mas por favor, apenas vá para casa.

A voz autoritária fez o loiro ficar sem ação, apenas concordou, mas não deixou Daiki partir sem antes lhe dar um abraço. Desde sempre o moreno sofria psicologicamente com emergências, no geral desastres naturais como terremotos, e seu abraço era um apoio momentâneo dizendo que tudo ficaria bem. Ele o viu saindo pelas portas de vidro da padaria e então se dirigiu ao caixa, o que poderia ter acontecido naquela cidade tão pacífica? Claro que todos os lugares do mundo estavam sujeitos a situações críticas, ainda assim eram pouco frequentes – e para requisitarem sua presença num dia de folga... – não quis pensar em nada no momento. Apenas pegaria o caminho de casa e de lá esperaria por alguma notícia.

Entrou em sua Mercedes, ainda aflito, passou pelas ruas conhecidas e logo estaria em seu prédio. Durante todo o caminho apenas o pensamento de que tudo dera errado em algum ponto da cidade, não fazia parte da polícia, mas tinha infinita empatia com vítimas de acidentes seja ele de qual natureza fosse. Se sentia tão melancólico quanto Daiki. Até nos dias atuais ainda não sabia explicar o motivo de ter entrado para a aviação, eram cerca de 300 vidas em suas mãos, morreria se fosse responsável por qualquer acidente. Não teria sido muito mais fácil uma profissão sem riscos? Talvez professor ou confeiteiro.

A verdade é que amava as pessoas. Amava o mundo. Amava viver mesmo com suas dores e isso lhe fazia querer salvá-las.

Kise divagou até passar pelo portão eletrônico de seu prédio, olhou de canto para o retrovisor enquanto manobrava com perfeição na vaga correspondente. Parou por um momento antes de deixar o veículo, Daiki não quis lhe contar, mas sabia que o mesmo descobriria de qualquer jeito. Desbloqueou o celular a fim de procurar as principais notícias e então descobriu o motivo: era um acidente aéreo ocorrido durante o pouso no aeroporto de Narita. Óbvio que o namorado quis protegê-lo.

Um avião comercial teve metade de sua carcaça arrancada por outro que estava parado na pista, um acidente trágico e ainda sem maiores detalhes. Uma falha humana causada por simples falta de comunicação. O loiro sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, Daiki havia dito 160 vítimas, então talvez o outro avião estivesse vazio, talvez a maioria dos passageiros tenham sobrevivido. Ele abaixou a cabeça no volante e rezou. Rezou por todas as almas inocentes; era por essas e outras que se dedicava 100% ao seu trabalho, mesmo com todos os problemas em casa nunca deixou de pilotar de corpo e alma.

O silencio do estacionamento estava o deixando ainda pior, resolveu ligar para Aomine esperando que o mesmo estivesse bem. Esperou alguns toques para o celular ser atendido com uma voz ofegante.

— Oi, Kise! Chegou?

— Acabei de ver no noticiário... você está no local?

— Sim e não, está uma bagunça no aeroporto, tive que voltar para a central e ajudar na organização dos policiais e burocracia. Vou trabalhar a noite toda.

— Hn, foram 160 vítimas?

— Oe... não fique pensando nisso agora, ah não foi da sua companhia. Ainda não temos um número exato. Te mando atualizações pelo whats.

— Ok, vou te deixar trabalhar então... até depois...?

— Ryo, me escuta, sei que foi um choque, mas não procure mais por isso agora. Só vai se desesperar.

O silencio fora o suficiente para Daiki desligar, Kise encarou a tela do celular por mais alguns segundos antes de prosseguir com suas ações.

Uma vez no apartamento, de banho tomado e quentinho sob as cobertas, o loiro relutou para não tomar seus calmantes decidindo que se livraria deles começando por enfrentar aquela situação com toda sua coragem. Esperou o sono vir, demorou muito, teve pensamentos horríveis, mas conseguiu adormecer. Estava orgulhoso de si mesmo.

Residência de Kise e Aomine, 12 horas depois.

— Ryo! Che-che-guei _o bocejo fora quase maior do que sua frase, olhou ao redor assim que se livrou dos sapatos não encontrando o namorado, apesar de já passar das 10 horas da manhã.

Um pouco preocupado correu para o quarto e empurrou a porta semiaberta, rolou os olhos ao ver o menor capotado na cama. Por um momento achou que ele não estivesse em casa, sempre fora o senhor desesperado em situações como aquela, morreria se soubesse que Kise resolvera ir até a central ou no aeroporto. Felizmente estava tudo bem.

— Dormindo de boca aberta, não tem nem vergonha... _pegou o celular _vou tirar uma foto se você não acordar.

Nada. Bateu duas fotos antes de cutucá-lo.

— Bom dia, Ryo _afagou os cabelos loiros e macios, o cheiro doce de seu shampoo chegou até Aomine. 

— Hn... _virou para o lado oposto _você está bem? _resmungou ainda no sono.

— Ih... eu ein. Banho _deu um tapinha em sua bunda antes de deixar o quarto, Kise despertou de vez dando um audível resmungo de insatisfação. Estava num sonho tão bom! Tentou voltar para o mesmo, mas depois de alguns minutos desistiu, ficou a ouvir o barulho do chuveiro.

De repente sua mente deu um estalo e precisou respirar fundo antes de entender o contexto. Aomine havia voltado depois de 12 horas de trabalho, estava de super bom humor, mas era um fudendo acidente aéreo com 160 vítimas, então como? Olhou incrédulo para a porta do banheiro, como ele podia ter se tornado tão frio? Onde estava o Aomine Daiki que conhecia? Kise foi direto para o banheiro não fazendo cerimônia ao abrir a porta.

— Daiki!

— Oi _gritou de dentro do Box _calma ai, já falo com você.

Entrou debaixo da água totalmente para enxaguar os cabelos. Não demorou muito, logo desligou o chuveiro se enrolando na primeira toalha que vira pela frente, estava frio. Assim que abriu a porta de vidro teve que encarar um par de olhos fixos e sobrancelhas franzidas. Kise estava furioso e decepcionado.

— Calma, não é o que parece _começou a se secar sem ousar tirar os olhos do outro _...160 vítimas não fatais, está tudo bem. Você não acompanhou no noticiário?

— ...foi você que pediu para eu não acompanhar _disse entre dentes um pouco aliviado, mas ainda sem querer dar o braço a torcer pelo julgamento precipitado.

— O avião parado estava vazio, o outro bateu somente a cauda então ficou tudo bem. Mas recebi uma notícia muito melhor depois!

E apesar de supostamente ser uma boa notícia, Daiki tremia da cabeça aos pés. Ele rumou até o quarto sendo seguido por Kise, ainda com a toalha na cintura estendeu os braços para que o menor chegasse mais perto. Deu um pequeno beijo em sua testa antes de contar.

Aquela pessoa estava entre os passageiros, estava sendo transferido para uma detenção ao sul do país, escoltado por um de nós _se referiu aos policiais _algemado. Na batida... o seu assento fora o único que sofreu danos graves, era o último assento ocupado perto da cauda do avião. Ele faleceu no hospital uma hora depois. Hey, meu amor... _o abraçou mesmo sem permissão, se é que precisavam disso ainda _acabou. Acabou finalmente. Consegue ouvir meu coração?

— ...aquela... pessoa está morta...? _balbuciou, sua voz saiu rouca.

— E o policial não sofreu nenhum arranhão, a algema se partiu o deixando morrer sozinho.

— ...

— Está aliviado?

Sentiu o loiro tremer e as lágrimas quentes caírem sobre sua pele. Daiki sabia que naquele momento um conflito enorme se passava dentro de Kise; sua natureza não permitia sentir alívio pela morte de ninguém e ao mesmo tempo era algo que desejou de forma inconsciente. O moreno por sua vez ficou genuinamente feliz, não se sentia culpado por aquilo. Pessoas diferentes, sentimentos diferentes.  

— E-eu deveria? Isso me parece tão errado... ele já estava... preso... _soluçou _mas me si-sinto aliviado...

— Não é errado, Ryo _intensificou o aperto em suas costas _não podemos controlar o que sentimos. Apenas isso.

Eles ficaram ali, fechados num mundo só deles. Nada mais importava naquele momento.

—-------- + --------------

Flash Back – os 4 dias com Kagami Taiga

— Taiga... _Daiki, como era de costume, estava deitado em seu colo e recebia carinho nos cabelos. Isso o fazia fechar os olhos e quase ronronar como um felino, mas por hora sua preocupação não o deixava apreciar totalmente o gesto _o que vai acontecer agora?

A pergunta quase infantil fez o ruivo desviar o olhar da TV.

— Nada _respondeu após algum tempo _ não acontecerá nada, tudo será como sempre foi.

— ...está tentando me consolar? _seu tom de voz era mal educado.Taiga suspirou.

— Daiki, escuta... está vendo esse anel que uso na corrente? _o moreno concordou com um aceno, já notara antes obviamente, só não sabia se tinha algum significado _tem uma pessoa que mora a quilômetros daqui que também usa um igual. Seu nome é Himuro, temos a mesma idade, usamos o mesmo uniforme na escola, tínhamos a mesma professora de basquete... crescemos juntos em Los Angeles, como irmãos. Eu... nós nos apaixonamos um pelo outro, porém nunca tive coragem de admitir; pra mim era impossível ser gay e ainda mais pela pessoa que praticamente considerava parte da minha família. Por muito tempo achei que isso era uma doença, imagina... querer beijar seu próprio irmão _riu um pouco descrente _acabamos brigando por um motivo fútil, usando o basquete como desculpa para nos separarmos e assim não continuar com aquela amizade distorcida. Quando tudo aconteceu na minha vida, a separação dos meus pais e tal, achei que tivesse encontrado meu lugar aqui no Japão, na Seirin... junto com todos meus colegas e o basquete. Só que o destino é um filho da puta e voltei a reencontrar Himuro numa escola rival, foi um jogo pesado, cheio de ressentimentos _Taiga brincou com a corrente de forma quase inconsciente _chegamos a jogar isso fora, mas... depois de algum tempo caindo numa espiral de sentimentos, decisões e pensamentos errôneos, voltamos a nos falar. Ele se desculpou por ter feito o que fez no passado e eu me desculpei por ter rejeitado meus próprios sentimentos bagunçando tudo entre nós.

Himuro voltou para Los Angeles no final do colégio e eu sai pelo mundo numa jornada de vida, tentando me conhecer melhor, conhecer outros lugares, outras culturas. Crescer. Esse era o meu sinônimo de crescer, me acho a pessoa mais esperta e vivida do mundo, mas... veja, você está passando por várias coisas sem precisar sair de Ginza. Isso é tão fantástico e então me pergunto, pra que fui tão longe afinal? Bastava eu ter pensado melhor na vida _sorriu de leve _depois que te conheci percebi que não aprendi quase nada nessa aventura perigosa. Tinha plena confiança que se apaixonar é algo que não precisamos na vida, uma besteira, tem tanta coisa melhor pra se viver do que ficar preso a uma pessoa... como sou idiota! Amar afinal não é se prender, não é mesmo? É poder dividir o que sente, seguir em frente ao lado de alguém. Ao ficar com você, eu vi que estar com você é viver um amor utópico; risos, coração acelerado, ansiedade por um bom dia!

E nessa altura do relato, o próprio coração de Daiki estava acelerado. Ele não sabia o que esperar até o final.

— Mas Daiki você ama Ryota Kise, ele é seu porto seguro. Não posso superar 12 anos em três meses.

— N-não é bem assim _disse tão baixo que duvidou se o lamento chegara até Taiga. 

— Me escuta, a verdade é que tenho medo de não te fazer feliz, de não ser o suficiente... e o pior, medo de carregar esse fardo e acabar definhando. Não sou aquele que para num lugar e fica para sempre, você nunca terá estabilidade como tem agora. Dinheiro, casa... pelo menos é essa a minha vida atual. Sempre me mudando.

— Seria um recomeço _murmurou.

— Teria que ser um começo para nós dois, seríamos perfeitos aos 17 anos. Agora não mais, prefiro te ver seguro ao lado de Kise, ele te fará feliz para sempre se assim desejar. Sabe disso. Não posso te tirar dele para prometer tudo e nada ao mesmo tempo, nem mesmo cogitar essa ideia maluca; sou o meu pior pesadelo e sabe-se Deus lá quando isso irá mudar.

As palavras vieram como flechas velozes e certeiras tirando toda a vivacidade que ainda restava em Daiki. Era algo absurdo, covarde e ao mesmo tempo honesto, ele não sabia o que dizer ou o que pensar. Tentou desesperadamente contradizer Taiga, porém seria impossível naquele momento, então o ruivo prosseguiu.

— Daiki eu... resolvi dar um passo e voltar atrás com Himuro. Agora que você me mostrou que posso sim voltar a me apaixonar por alguém, quero dizer a ele o que sinto... ou melhor, o que senti na época. Se for para ficarmos juntos então assim será.

Queria mesmo tentar alguma coisa com você, sei lá, brigar por seu coração. Me firmar no emprego, dar rumo à minha vida, mas não posso. Não consigo. Espero que entenda isso, se não tivesse me apaixonado então teríamos esse contato por muito mais tempo só que já deu pra mim. Me entende? Me perdoa por ter bagunçado tanto a sua vida; de certa forma me sinto culpado por isso.

— Você não tem culpa nenhuma por nada! Absolutamente nada _se exaltou levantando do sofá e ficando de frente para Taiga. Sentiu o sangue ferver deixando todo seu corpo quente.

— Mais ou menos, sabia desde o começo que poderia te fazer sair da linha, não sou inocente. Vi nos olhos de Kise que ele estava desesperado por você, ah Daiki... vi tantas coisas e só fui passando por cima. Não que você não tenha livre arbítrio, ainda assim... me desculpe.

— ...então acabou? _cerrou os dentes, ainda desacreditado em todos os fatos.

— Acabou. Já tinha acabado um pouco antes na verdade. Aliás, não quis ser rude agora pouco.

— De certa forma sempre soube que você iria partir se acabasse gostando de mim _voltou a se sentar, agora com uma distância que antes não existia entre eles.

— Uhum.

Daiki estava num conflito entre seu orgulho parcialmente ferido (afinal havia levado um fora) e o alívio de ter finalmente resolvido tal questão. O amor que sentia por Kise em contrapartida com sua ansiedade por conhecer Taiga, as coisas estavam ficando confusas em seu coração, queria terminar com o ruivo e ao mesmo tempo não conseguia ter a coragem para se afastar. Talvez Taiga estivesse enfim lhe protegendo dando um passo a frente e para Daiki aceitar tal decisão só ferindo seu orgulho. Fazia total sentido, Taiga o conhecia muito bem apesar de ser tão recente em sua vida.

— Com se sente? _Kagami perguntou sentindo o rosto corar um pouco, sempre ficava eufórico perto do outro e dizer tudo aquilo lhe deixou pior.

— Ah... não... sei lá.

— Pode me dizer _disse com a voz macia _hey, você sempre vai ficar no meu coração.

Daiki ponderou e resolveu engolir a vergonha.

— Com o orgulho um pouco ferido, mas vou superar. Você tem total poder em decidir isso, não se preocupe.

— Hum... que bom que não está bravo.

— Jamais ficaria!

Taiga sorriu, nos cantos de seus olhos algumas tímidas lágrimas, ainda assim estava satisfeito com a solução do problema. Daiki por sua vez sentia-se liberto de algo que não sabia explicar, Taiga era ótimo e amava aquela relação, mas ao se ver sem nenhum peso nos ombros seu coração ficou leve; jamais diria aquilo para o ruivo. Era melhor assim.

Ele atravessaria a linha e Taiga encontraria seu lugar no mundo.

Flash Back - fim

Kise encarava Daiki sem saber o que responder, o moreno ainda se perguntava o motivo de ter lhe contato a conversa definitiva entre ele e Taiga. Porém em seu interior, algo o alfinetava, precisava esclarecer os fatos para finalmente prosseguir com seus planos ou tudo seria em vão, inclusive a viagem.

— Então... é isso. Obrigado por me contar _o loiro olhou para qualquer ponto que não os olhos escuros do namorado.

— Se eu não te contasse, começaria a divagar o motivo de eu estar tentando mudar... e então não confiaria em mim _a conclusão veio como mágica.  

— ...eu sei _não pode refrear o sorriso _você me conhece muito afinal.

— Sou capaz desse tipo de coisa, mesmo sendo o idiota do Aomine.

— Incrivelmente me sinto ótimo agora. Você sendo sincero assim e tudo mais, quero dizer, o Aomine que conheci nunca deixou de ser sincero! Ma-mas é como se eu... voltasse a me apaixonar por você todos os dias, cada vez por um motivo diferente. Óbvio que não será de um dia para o outro _entrelaçou seus dedos com os de Daiki, sentiu a pele quente esquentar a sua _...obrigado por não desistir de mim.

E Kise sempre tinha a capacidade de dizer coisas que faziam Daiki ficar sem palavras. Quem deveria estar agradecendo era ele afinal.

— Quando você me diz obrigado, por alguma razão isso dói.

— Na... não _Kise estreitou os olhos _está tudo bem.

O silencio existiu por alguns segundos até o moreno sorrir um pouco envergonhado. O que estava para dizer era algo muito importante na história deles, um turbilhão de sentimentos em meia dúzia de frases.

— Você pode celebrar? Você pode me beijar esta noite? Nós nos amaremos por muito, muito tempo... por muito tempo procurei por alguém que me protegesse. Procurei, achei, perdi, procurei de novo...

— Sem chances _seus olhos se encheram de lágrimas, a nostalgia bateu com força em seu íntimo.

— Amor doce a angustiado, jovem e infantil, mas que olhando para trás é bem bonitinho. Revoltado com alguma coisa corri percursos errados, mas alguém me ensinou _tocou em seu rosto com delicadeza, secando suas lágrimas em seguida _você pode celebrar? Você pode me beijar esta noite?

Era o trecho de uma música antiga, ela celebrava o amor entre duas pessoas que finalmente encontraram a felicidade. Sua autora fizera um especial com Kise quando o mesmo tinha apenas 16 anos e estava entrando com força em sua carreira de modelo; no Japão, artistas não se limitam a apenas uma coisa, são ditos como artistas completos, e Kise se esforçava muito para ter um ótimo físico, ser inteligente tirando excelentes notas, também aprendeu a cantar, dançar e interpretar.

Nesse dia, quando cantara ao lado da estrela do pop Namie Amuro, Daiki estava na plateia e nunca se esqueceu de como Ryota Kise brilhava, seja ele estando no basquete ou no palco.

Claro que o loiro tinha saudades daquela época. Fora forçado a se retirar, porém seu desejo era ter continuado como ídolo, mais do que um simples desejo ganancioso por fama, ele realmente tinha o sonho de se tornar um alguém admirado onde suas ações poderiam de fato influenciar outras pessoas as levando para um bom caminho. Na época em que começou a ingressar como artista seu esforço era 10 vezes maior do que de qualquer outro, mesmo tendo um talento natural ainda ficava horas a mais no estúdio, horas a mais treinando.

Hoje qualquer pequena nostalgia o faz chorar, um pouco de angústia, um pouco por felicidade. Infelizmente o Japão era cético demais para aceitar um ex-artista caído, eles sabiam disso. Daiki se sentia péssimo ao encarar a verdade de que era impotente em ajudá-lo na realização daquele sonho antigo; mas o passado não pode ser mudado e assim seria.

Kise começou a cantarolar a música, sua voz macia e doce combinava perfeitamente com as notas altas. O moreno parou para admirá-lo, mesmo que seja ele apenas um, Kise tinha seu mais fervoroso fã.  

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