Dirty Laundry escrita por TheStrangeSong


Capítulo 8
Ela, número 4/ State of Grace- Taylor Swift


Notas iniciais do capítulo

traição



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Estou andando rápido pelos semáforos
Ruas lotadas e vidas ocupadas
E tudo o que sabemos é viver rapidamente
Estamos a sós com nossas mudanças de ideias
Nos apaixonamos até doer ou sangrar
Ou desaparecer com o tempo

Após um dia estressante no trabalho, eu estava andando por aí para finalmente poder pegar um ônibus e ir para meu apartamento, que hoje eu dividia com meu noivo. As ruas estavam completamente lotadas, os semáforos e as luzes dos comércios piscavam e trocavam de cor incessantemente.

A única coisa que eu fazia era viver muito rapidamente. Levantar, comer, escovar os dentes, ir para o trabalho, voltar do trabalho, fazer um jantar. Tudo isso se repetia irritantemente todos os dias.

Minhas ideias sobre o que eu queria para minha vida haviam mudado brutalmente nesses sete meses de noivado. Eu me apaixonei pelo Vinicius de um modo tão forte que as vezes chegava a doer. Mas toda essa dor não era mais uma dor boa, como a de amar demais. Começou a parecer com facadas no meu coração, quando percebi que o amor dele despareceu em sete meses.

E eu nunca previ você chegando
E eu nunca mais serei a mesma

Apesar de correr muito, perdi o ônibus. Droga. O próximo só passaria dali a uma hora e meia. Eu estava morrendo de fome.

Decidi ir a alguma lanchonete ali por perto. Eu estava com tanta fome que minha pressão começou a baixar bem rápido, e eu não conseguia mais enxergar com tanta clareza. Me escorei numa parede tentando me acalmar. Estava tudo bem. Eu estava chegando a lanchonete. Eu ia ficar bem.

Meus olhos começaram a ficar pesados a medida que eu pegava o celular para conseguir chamar alguém. Meu corpo começou a amolecer, e quando eu finalmente comecei a cair, senti um mão em minha costas, segundos antes de minha consciência se esvair por completo.

Acordei numa ambulância. O barulho da sirene irritava meus ouvidos e eu estava muito confusa. Eu me lembrava de ter passado mal, mas como eu tinha ido parar dentro daquela ambulância permanecia um mistério, até que mexi minha cabeça.

Esse movimento me deixou um pouco tonta novamente, mas consegui focar na pessoa sentada ao meu lado, com uma expressão preocupada e transtornada.

—Josh?

—Você acordou! Graças a Deus. Tive medo de que você perdesse a consciência por muito tempo e algo ruim acon...

—O que você está fazendo aqui?- o interrompi, com os pensamentos cada vez mais confusos em relação a tudo que estava acontecendo.

—Eu vim pro Brasil te encontrar. Eu nem sabia onde você estava ou se ainda morava aqui, mas decidi arriscar. Precisava te ver e consertar o que eu fiz.

Você chega e a armadura cai
Atravessa o quarto como uma bala de canhão
Agora tudo que sabemos é não soltar
Estamos sozinhos, só você e eu
No seu quarto [...]

Meus olhos começaram a pesar de novo. Mas eu não estava mais tão tonta, ou passando mal. Apesar de minha visão estar completamente embaçada, ainda que eu estivesse usando meus óculos, eu sabia que aquilo não era minha pressão baixando novamente. Eu estava prestes a chorar e largar a armadura que criei para me proteger dele.

—Pelo visto, você continua a mesma- Ele continuou dizendo- Claro, parece mais linda a cada vez que eu pisco, mas, de qualquer modo, ainda vejo a criança de treze anos em você.

—Não devia. - Foi a única coisa que consegui responder. Minha pressão ainda não havia voltado ao normal.

Não só não havia voltado ao normal como também estava abaixando de novo. Meu estômago se revirou e eu comecei a tremer. Eu sabia que não vomitaria, mas também sabia o que aquilo podia significar. Minha visão se apagou, mas eu ainda estava consciente.

—Josh, eu não consigo enxergar...

Os paramédicos se mobilizaram ao ouvir isso e vieram até mim. A única coisa que eu conseguia sentir era meu corpo se chacoalhando e a falta de controle sobre ele. Além disso... Apenas ouvia a voz de Josh dizendo que estava tudo bem.

Perdi a consciência de novo e acordei num quarto de hospital. Ele atravessou o quarto tão rápido quanto uma bola de canhão, indo até a porta e chamando o médico de plantão.

—Ela acordou, doutor. – Ele disse, se dirigindo a um senhor calvo, com roupas branquíssimas e um sorriso preocupado.

—Como você se sente? – O doutor perguntou.

—Me sinto bem melhor. Com certeza isso foi apenas fome, não ando me alimentando direito.

—Bom... Não foi bem isso. – Sua expressão era preocupada, o que me assustou. – Você tem epilepsia, mas não parece ser grave. A pior parte foi que você teve um aborto espontâneo durante o ataque, sinto muito.

—Aborto? Você só pode estar enganado, me confundindo com outra paciente... Eu não estava grávida! Eu não posso engravidar!

—Tenho plena certeza que este é o seu diagnóstico, Laura. Meus pêsames ao pai, também.

—Eu não sou o pai. - Josh disse, rapidamente.

—Ah, me desculpe. Seja como for, você está de alta, Laura, mas deverá consultar um neurologista e, por enquanto, tome esse anticonvulsivo. – Ele disse, me entregando um papel.

Josh passou o braço por mim e um calor percorreu todo o caminho que seu braço fazia em torno de meus ombros. Sempre sonhei em ter filhos. Vinicius já tinha Zion, e eu o amava, mas não sentia que ele era meu. Eu estava grávida e perdi meu filho.

Eu não queria nunca mais soltar do abraço de Josh. Tudo que eu sabia no momento era não me soltar dele. Saímos do hospital abraçados e ao chegarmos na porta, Josh pediu um Uber.

—Quer que eu peça um pra você também? Tem alguém pra cuidar de você na sua casa?

Subitamente, veio a mim a memória de que Vinicius estava viajando a trabalho e eu estava sozinha em casa.

—Meu noivo está numa conferência da empresa dele...

Josh parecia arrasado com a menção de um noivo, mas foi mais forte que isso, dizendo:

—Você vai vir para o hotel comigo, então. Eu pago a sua estadia. Não posso te deixar sozinha.

Não relutei. Sabia que ele estava certo e que eu devia mesmo ir ao hotel com ele, pois poderia passar mal novamente. Quando vi, já estava no quarto junto com ele, deitada na cama.

E ali estávamos nós, sozinhos num quarto e dividindo uma cama.

Então você nunca foi santo
E eu amei em tons errados
Nós aprendemos a viver com a dor
Mosaico de corações partidos
Mas este amor é valente e selvagem

Ele deitou-se de lado e passou a mão em meus cabelos.  Aquele toque foi tão esperado em toda minha adolescência e agora era tão errado recebê-lo. Mas não reclamei. Ainda queria aquele toque.

—Posso te contar uma coisa?- Ele disse, sorrindo enquanto me virava para me deitar de frente para ele.

—Pode, é claro.

—Meu sonho sempre foi estar assim com você. – Ele tirou a mão dos meus cabelos e coçou a nuca. – Na verdade, meu sonho era estar fazendo mais que isso. Queria estar te beijando... E fazendo muito mais que isso. Sei que agora você está noiva e tudo, mas te ver deitada numa cama comigo, usando só minha camiseta... Era meu sonho. Não quero parecer um pervertido ou nada do tipo, mas eu sempre te imaginei assim e isso me deixava muito...

Ele parou no meio da frase, tentando encontrar uma palavra que se encaixasse. Talvez ele estivesse se arrependendo de dizer essas coisas.

—Duro? – Perguntei, descaradamente.

Ele concordou com a cabeça e eu ri. Aquela era a fantasia sexual mais fofa que eu já havia ouvido em minha vida.

—Eu achava que você era um santo.

—Visão errada. E eu não achava que você gostasse de mim.

—Eu te amei do jeito errado, Josh. Talvez tenha sido melhor assim.

—Nós dois aprendemos a viver com essa dor, certo? Daria para formarmos um mosaico com nossos corações quebrados.

Isso é um estado de graça
Esta é uma briga que vale a pena
O amor é um jogo cruel
A não ser que você o jogue bem e direito
Estas são as mãos do destino
Você é meu calcanhar de Aquiles
Esta é a era de ouro de algo bom
E certo e real

Rimos dessa frase idiota e eu me aproximei dele. Passei um braço por cima da cintura dele, e ficamos abraçados um olhando para o outro. Eu estava cansada e sabia que meus olhos estavam mostrando isso. Ele pôs a mão sobre minha cintura e me puxou para ainda mais pra perto. Nossas pontas dos narizes estavam encostadas, e eu via o quão profundo era o azul de seus olhos.

—Isso é errado. – Eu disse, baixinho, quase sussurrando.

—Você já está na metade do caminho. Já errou, de qualquer modo. Percorra o resto do caminho.

Eu sorri. Era verdade. Vinicius andava tão preocupado com trabalho, fazendo tantas horas extras, ficando tanto tempo no escritório que eu mal o via. Quando o via, ele me tratava de modo estranho. Já era hora de dar um basta naquilo. Talvez Vinicius não fosse o homem da minha vida.

Fui mais pra frente e o beijei.

Aquele era o meu estado de graça. Aquele amor que eu tinha por Josh era um amor pelo qual valia a pena lutar. Ele era meu ponto fraco, meu calcanhar de Aquiles. E finalmente, eu tinha chego a minha era de ouro. Aquilo era algo bom, certo e real.


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