Alguns meses depois...

Hoje era o dia do casamento de Marcella. Ela quis se casar na mesma praia em que conheceu Pedro. Segundo ela, a água os uniu e ela tinha que estar presente no dia do casamento. As flores, os vestidos das madrinhas, a decoração... tudo estava perfeito. Alice, acompanhada de Daniel, acompanhava tudo junto aos demais convidados com seu vestido azul curto e flores delicadas no cabelo ruivo. Eu estava no lugar destinado aos padrinhos e madrinhas ao lado de Rafael, que com seu terno cinza e gravata rosa atraia todos os olhares dos convidados.

Quando a música especial da noiva começou a tocar, Marcella apareceu deslumbrante com um vestido longo bem praiano no auge dos sete meses de gravidez. Mas ela estava diferente, estava nervosa. Ela tremia e seu caminhar estava vacilante. Rafael percebeu que havia algo de errado e olhava para ela com preocupação. No meio do caminho ela começou a chorar e empacou. Não conseguia andar. Foi nessa hora que meu namorado entendeu o que acontecia, saiu do meu lado e atravessou o tapete vermelho em direção à irmã.

Marcella não conseguia andar por que não havia ninguém a conduzindo. Ela sentia falta de Dr. Duarte e por isso, a ideia de ir até o homem que escolheu para chamar de marido sem o pai era assustadora para ela. Quando chegou até ela, Rafael falou meia dúzia de palavras no ouvido dela que soltou um sorriso. Ele limpou as lágrimas da bochecha dela, a tomou nos braços e a levou para Pedro.

— Obrigado cara – disse o noivo abraçando meu namorado.
— Cuida dela – Rafael respondeu e beijou a testa da irmã. Segundos depois ele estava ao meu lado.

— Acho que me apaixonei de novo por você. – eu disse emocionada.
— Que bom. Isso acontece toda vez que eu olho pra você – ele respondeu me dando um selinho.

A festa foi linda. Tudo muito elegante e sofisticado. Em todos os detalhes havia um toque de Marcella. Quando a noite caiu, foi feito um luau, e eu nunca, nunca, nunca, vi um casal tão feliz quanto Pedro e Marcella. Eles eram a definição de uma família linda e amorosa que começava a ser construída. Eu, certamente, me espelharia neles no futuro.

Apesar de ser uma linda ocasião, Dan e Rafael estavam tensos. Confesso que eu também. O julgamento de Gustavo e Júlio seria em três dias. E eu não estava nada preparada para isso.

— Eu vou na delegacia de novo – disse Daniel – talvez eu consiga arrancar alguma coisa dele.
— Ele não vai falar – disse Rafael – ele ficou meses preso e não abriu a boca. Por que ele falaria agora?
— Eu acho que devia mesmo ir – Alice disse para Dan – Tente convencê-lo de que se ele colaborar e falar alguma coisa pode ter uma pena menor. Eu não acho que ele e esse tal de Júlio tenham feito tudo sozinhos. Ele com certeza teve ajuda de fora e não tá falando pois quer proteger alguém.
— Será? – Rafael perguntou.
— Tenho certeza. Tudo foi muito bem feito. O plano deles quase não teve falhas, quase não teve pontas soltas, eles quase conseguiram o que queriam. E eu tenho a mais absoluta certeza que o Gustavo não conseguiria armar isso tudo sozinho.
— É – eu disse – ele não é muito inteligente.  Também acho que teve ajuda de fora.
— Por isso eu vou lá com todo o meu charme de advogado que sabe das coisas tentar fazê-lo falar. - disse Daniel.
— Se depender do seu charme ele não vai falar nada mesmo – disse Rafael brincando.

Eu percebi que Rafael tinha ficado meio tenso. O jeito como ele trincava os dentes, deixava o maxilar dele mais quadrado e ele sempre fazia isso quando estava nervoso. Eu o puxei para dançar para ver se ele ficava mais tranquilo.

— Vai dar tudo certo. Em três dias ele será condenado e estaremos livres.
— Você tá tão confiante. 
— Confio na justiça. 
— Eu também confio. Se eu não confiasse poderia mudar de profissão.
— Então o que é que te deixa com o pé atrás?
— O silencio. Não gosto de não saber qual é o próximo passo, o que vem a seguir. Eu sempre tenho o controle de tudo e agora...
— Você não precisa do controle. Não há nada para ser controlado. Mesmo que ele fale alguma coisa, nada vai fazê-lo escapar da prisão. E se ele não falar... bem, vai ser preso mesmo assim.
— Você tem razão. Tô ficando paranoico. Que bom que você está aqui. Me dá segurança.
— Eu sempre estarei aqui – eu o beijei. – A noite tá linda, a cerimônia foi linda... tá tudo tão lindo...
— É, Marcella se superou dessa vez. Mas ela sonhava em se casar desde que eu me entendo por gente, estou feliz por ela. E pela minha mãe também. Achei que ela nunca mais fosse conseguir sorrir e hoje ela simplesmente não conseguiu parar de sorrir.
— E ela tá sendo paquerada... Olha lá.
— O que? Onde? – ele bufou quando encontrou a sua mãe com um homem que eu diria ter uns 40 anos. – ele não é muito novo para ela?
— Sua mãe não aparenta ter a idade que tem... Até que eles combinam. E esse lance de idade não muda nada. 
— Não combinam não – ele disse ciumento e eu ri. – Ah, dane-se. Quero que ela seja feliz. Meu pai não ia querer que ela ficasse sozinha pelo resto da vida. Todo mundo precisa de amor... espero que ela encontre um novo.
— É isso ai. Vamos sentar um pouquinho? Esse salto tá me matando. – eu pedi e ele riu. Me pegou pela mão e voltamos para nossa mesa, onde Alice e Daniel estavam.
— Um... dois... – Marcella começou a contagem regressiva para jogar o buquê.
— Amiga – disse Alice se aproximando e cochichando no meu ouvido – Vamos ao banheiro? Preciso de ajuda pra fechar o vestido. – mas eu nem tive tempo de responder pois o buquê de Marcella veio voando direto na minha direção.