Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 60
Capítulo 60 - Parte III


Notas iniciais do capítulo

Parte III narrada por Ana Siqueira



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Existe um ditado popular que diz que “tudo o que é bom dura pouco”. Eu nunca fui uma pessoa que acreditasse em ditados populares. Mas foi tudo o que eu pensei quando eu vi um homem parado armado olhando pra mim na sala de estar da casa de Rafael. Ele tinha ido para a cozinha ver o que tinha acontecido com Mere e estava demorando. Eu me levantei disposta a ir até lá e ver o que estava acontecendo quando eu o vi.

Um homem alto, largo, que estava totalmente vestido de preto e que tinha uma touca na cabeça que só permitia que os olhos azuis dele fossem vistos. Eu não sabia quem aquele homem era e porque estava apontando uma arma pra mim. Por um momento eu pensei que pudesse ser um assalto e sabia que isso ia devastar Rafael, uma vez que ele passou pelo mesmo anos atrás. O desfecho não foi favorável. Sua irmã, sua esposa e seu filho morreram no fatídico dia.

Tudo o que eu queria naquele momento, é que Mere segurasse Rafael o máximo de tempo possível na cozinha. Que ele demorasse até que esse homem fizesse o que tivesse que fazer. Por incrível que pareça, em momento algum eu tive medo por mim, eu tive medo por Rafael. E esse medo foi elevado à enésima potencia quando ele apareceu atrás do homem misterioso com um cutelo na mão.

Eu me rendi ao homem e rezava para que Rafael sumisse dali e ligasse pra policia, que ficasse escondido em algum lugar em segurança. Mas ele não moveu um único músculo. Ficou ali segurando o cutelo como se sua vida e a minha dependessem disso. Tudo ficou pior quando o homem disse que as balas tinham um dono, e esse seria o meu Rafael. Eu sabia o que ele ia fazer. Tentei lançar olhares sem denuncia-lo ao homem, mas ele parecia bem convicto do que fazer. Pra falar a verdade, Rafael não poderia ter outra atitude senão me defender. E eu sabia que ele faria qualquer coisa para isso, até mesmo colocar a sua vida em risco.

E ele colocou. Eu tinha que protege-lo já que ele mesmo não fazia isso. Por isso, enquanto ele conversava com o homem e esse parecia ter esquecido da minha existência naquela sala, eu me aproximei devagar e peguei um vaso de cima do aparador. Minha ideia era acertar ele na cabeça do homem, mas ele foi mais rápido do que eu. Ele atirou, covardemente, no homem da minha vida. Sem dó, piedade, remorso ou sem pensar duas vezes. Eu não consegui conter o grito de desespero e isso o fez voltar a sua atenção pra mim.

Infelizmente eu estava perto demais, mas ainda assim tentei acertar o vaso na cabeça dele. Mas ele desviou e o vaso espatifou no chão. Como premio de consolação ele me deu um tapa tão forte que me fez perder o equilíbrio e eu cai no chão. Eu tinha despertado sua raiva e ele ia fazer comigo exatamente o que fez com Rafael. Ele estava pronto para atirar em mim quando ouvimos as sirenes da polícia. Eu não sabia quem tinha chamado a polícia, mas eu amava essa pessoa. O homem saiu correndo pela porta da frente me deixando sozinha na casa com Rafael. Rafael que estava caído no chão e que manchava o carpete com sangue.

— Rafael. – toquei o seu rosto – amor, fala comigo. – ele mexia a cabeça devagar e pela forma como ele apertava os olhos eu tinha certeza de que estava tonto e não tinha noção nenhuma do que estava acontecendo.
— Calma, a polícia já chegou. Ele tentou fugir, mas eu tenho certeza que vão pegar esse maldito. Ele vai pagar pelo que fez com você. – eu disse, mas eu não tive certeza se ele estava conseguindo me ouvir. 
— Você vai ficar bem. Só fica de olhos bem abertos e respira. – eu disse fungando. Eu não conseguia evitar o choro. O ferimento de Rafael não parava de sangrar. Pra ser sincera eu nunca vi tanto sangue na vida assim. O movimento leve da mão de Rafael chamou a minha atenção. Ele estava tentando erguê-la em direção ao meu rosto. Provavelmente a bofetada que ganhei já estava deixando marcas. Eu peguei a mão dele e levei pro meu rosto e ele fez carinho em mim.
— Você es...tá be...eem? – ele disse com dificuldades
— Por que tá se preocupando comigo? Você levou um tiro! Eu é que devia perguntar como você está.
— Eu estou bem. Estou com vo...cê. – eu ri. Como ele podia falar uma coisa dessas naquele momento? Ele começou a fechar os olhos e eu tive medo de que eles nunca mais voltassem a se abrir.
— Não. Rafael abre os olhos, meu amor. Fica comigo. – então ele abriu – se você tiver vendo uma luz ignore-a. Fica comigo, foca em mim, não vai embora, por favor. – ele conseguiu rir enquanto eu só conseguia chorar. Me peguei desejando que aquele som se repetisse mais um milhão de vezes e que fosse um sinal de que ele não estava tão ruim assim.
— Eu... Ana. – ele tentava falar alguma coisa, mas eu não queria que ele falasse. Não queria que ele se esforçasse, só queria que ele respirasse e mantivesse seu coração batendo.
— Não. Não fala. Vai ficar tudo bem. – então alguns policiais entraram pela porta da frente e eu chamei por eles. – ele precisa de uma ambulância agora. Tá perdendo muito sangue – me dei conta de que não tinha falado em inglês e estava prestes a repetir quando a voz de Rafael chamou a minha atenção de novo.
— E... eu amo vo...você – eu sorri e ia responder, mas então seus olhos fecharam novamente e a mão dele que estava em meu rosto ficou leve demais.
— Rafael? – eu chamei e ele não respondeu. Eu soltei a mão dele e ela caiu na lateral de seu corpo como se ele estivesse totalmente sem vida.
— RAFAEL – eu gritei e dei leves tapinhas no seu rosto pra reanima-lo. Mas ele não se mexia. Eu não podia deixa-lo ir embora assim tão facilmente. Então fiz uma respiração boca a boca e tentei fazer uma massagem cardíaca. Era muito mais difícil do que aparecia nos filmes. Meus braços doíam e eu tinha certeza que não estava fazendo do jeito certo, então eu voltei para seus lábios e recomecei a respiração boca a boca. Ele podia não estar se mexendo, mas seus lábios ainda eram seus lábios. Estavam quentes e com o mesmo gosto de sempre. Ele tinha que estar ali. Tinha que estar.
— Rafael, acorda. Por favor. Eu deixo você fazer cosquinha em mim, eu prometo. Eu nunca mais te chamo de mal humorado ou de chato, mas, por favor. Volta meu amor. Volta pra mim – eu chorava que nem uma criança e não estava nem ai para os policiais que estavam me vendo.


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