Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 61
Capítulo 61




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De repente eu senti uma mão na minha cintura que me puxou para longe de Rafael, eu estava pronta para gritar e me debater, mas vi que era um paramédico então eu me afastei. Tinha muita gente em volta dele e eu não conseguia ver o que estavam fazendo.

— Senhorita, venha conosco até a ambulância, por favor, para ser examinada.
— Não. Eu não preciso ser examinada. Ele é quem precisa. Ajude-o, por favor. Faça o que puder, mas salve a vida dele – eu pedi, e ele hesitou antes de me deixar e correr até Rafael.

Eu senti uma mão em meu ombro e me virei rapidamente. Era Mere que estava machucada. Ela tinha um ferimento na cabeça e eu não consegui ver a profundidade dele, pois metade do rosto dela estava coberto de sangue.

— Mere, você está bem?
— Estou. Rafael me ajudou. Eles querem me levar pro hospital, mas eu não vou tirar os pés daqui enquanto não tiver certeza de que ele está bem. Como você está minha menina?
— Ganhei um tapa na cara e quase levei um tiro também. Mas alguém chamou a polícia porque bem na hora ele ia atirar em mim eles chegaram e o cara fugiu. Não sei quem foi que chamou, mas eu devo minha vida a essa pessoa.
— Fui quem chamou.
— Mere – eu a abracei com cuidado – obrigada.
— Não me agradeça. Agradeça a Rafael, ele foi atrás de mim e me levou para o quartinho de empregados em segurança. Deixou o celular comigo e disse que ia busca-la.
— Ele tentou me salvar. E eu não pude fazer nada por ele.
— Você fez, minha querida. Fez muito mais do que imagina.
— E agora, ele... ele... eu não sei o que aconteceu. Ele estava falando comigo e apagou do nada. Eu nem sei se ele está vivo.
— AFASTAR – gritou um dos médicos que cuidava de Rafael e eu corri até eles deixando Mere na companhia de um enfermeiro. Quando eu cheguei perto, um médico usava um desfibrilador e tentava reanimar Rafael com choques. Eu sabia o que significava. Vi aquela cena em vários filmes e novelas.
— Ele.. ele... – tentei perguntar a uma enfermeira que estava por perto.
— Ele teve uma parada cardíaca.
— Então ele está... – antes que eu pudesse completar a frase um aparelho começou a fazer barulho e Rafael abriu os olhos. – Rafael! – tentei me aproximar, mas a enfermeira não deixou.

Um alívio percorreu todo o meu corpo enquanto eu ouvia aquele aparelho fazer aqueles barulhinhos que agora, pareciam música para mim. Os médicos deram os primeiros socorros ali mesmo e me disseram que iam leva-lo para o hospital para fazer uma cirurgia para a retirada da bala. Eles não sabiam bem aonde ela estava alojada, e isso estava preocupando os médicos.

Não me deixaram ir na ambulância com ele, pois insistiam que eu também precisava ser examinada. Fui conduzida ao mesmo hospital que Rafael em uma ambulância junto com Mere. O corte dela não foi muito profundo, mas ela ia precisar de uns pontos.

Quando cheguei no hospital pediram a minha identificação e eu contei uma mentirinha. Eu sabia que não iam me deixar acompanhar Rafael porque eu não era da família dele. Então eu disse que era mulher dele, mas a enfermeira desconfiou quando viu que em meus documentos não constavam o nome de casada. Como se toda mulher fosse obrigada a usar o sobrenome do marido. Isso me irritou, mas eu complementei a mentira dizendo que éramos recém casados e que não tive tempo de tirar os novos documentos. Ela ficou desconfiada, mas Mere confirmou a mentira, então eu tive livre acesso as dependências do hospital depois de me liberarem da enfermaria.

O médico havia dito que a cirurgia de Rafael seria delicada.  A bala havia perfurado parte do intestino e do apêndice dele. O apêndice não me preocupava. Milhões de pessoas vivam sem o apêndice tranquilamente, minha mãe era um exemplo. Ela havia retirado o dela antes mesmo de eu nascer e nunca teve problemas. Mas o intestino era diferente. Ninguém vive sem intestino! Eu acho...

Eu precisava falar com alguém. Mere foi liberada da enfermaria e James a levou para casa para que pudesse descansar. Ela protestou, mas eu prometi que ligaria assim que tivesse qualquer notícia. Eu estava completamente sozinha ali. Toda aquela espera angustiante estava me matando. Desorientada, precisava de alguém pra pelo menos escutar o meu choro. Pra me dizer que tudo ia ficar bem e que ele ia sair da cirurgia bem e com vida. Eu precisava da Alice. Então eu liguei.

— Espero que seja importante – ela disse logo que atendeu – são quatro e pouca da manhã. – droga, eu me esqueci do fuso horário.
— Desculpa – eu disse – mas eu precisava falar com você.
— Você tá chorando? – a voz de sono deu espaço para uma voz super preocupada. Eu não respondi, continuei chorando. – Amiga, o que houve? Foi o Rafael? Me fala. Se ele fez alguma coisa com você eu juro que acabo com ele.
— Foi ele sim. Mas ele não fez nada. – eu funguei. – ele levou um tiro.
— O QUÊ? – ela gritou e eu ouvi vozes do outro lado da linha. Droga, Daniel estava com ela. – Ana, o que foi que aconteceu? Você está bem? – então eu contei tudo em um só folego, eu não soube se ela entendeu, pois nem eu mesma tinha entendido o que tinha acontecido. A questão é que eu estava mais chorando do que falando, mas foi bom colocar tudo pra fora. Eu me senti aliviada e amparada.
— E ele teve uma parada cardíaca no carpete da sala. Por um momento eu achei que ele não fosse mais voltar. Mas ele voltou. Ele tá em cirurgia agora. A bala tá em um local delicado. Já tem umas mil horas que ele entrou naquele bloco cirúrgico e eu tô aqui sozinha sem saber o que fazer ou o que pensar. Ninguém me dá notícias dele, ninguém fala nada. Eu vou ficar louca aqui.
— Calma Ana. Eu e o Dan vamos pegar o primeiro avião e vamos para ai ficar com vocês.
— Não. Vocês não podem. Tem a Duarte e todos os compromissos de vocês, não posso pedir que abandonem tudo por nossa causa.
— Que se danem os compromissos. Vocês são mais importantes.
— Exatamente – a voz grave e preocupada de Daniel surgiu – você já falou com a família dele?
— Não. Vou ligar pra Marcella agora.
— Não liga. Pelo menos não por enquanto. Espera a cirurgia do Rafa acabar pelo menos. O pai dele foi operado mais cedo e tá todo mundo uma pilha de nervos. Essa notícia não vai ajudar o Dr. Duarte agora. – disse Daniel
— E como ele tá? O Rafael estava super preocupado. Ele ia amputar a perna né?!
— É, já amputou na verdade. A cirurgia foi um sucesso e ele tá bem. Mas tá no CTI por enquanto. Os médicos disseram que é de praxe ir pro CTI depois de uma cirurgia dessas.
— Ah, que bom que deu tudo certo.
— Eu vou inventar alguma coisa. Vou dizer que voo de vocês foi cancelado por questões climáticas. Eles vão acreditar, acontece todo o tempo. Pelo menos a gente ganha tempo.
—Tá bom
— E você fica calma. Precisa estar bem e tranquila pra quando o Rafael voltar – Alice disse – ele vai precisar de você. Vê se consegue um calmante na enfermaria, toma um chá de camomila, uma água com açúcar, sei lá. Mas fica calma.
— Vou tentar.
— Não vamos demorar a chegar ai Ana. Vai dar tudo certo – disse Daniel e então eles desligaram.


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