Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 58
Capítulo 58




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Flashback: 13 de julho de 2008.

A companhia de teatro preferida de minha esposa, Sabrina, estava de volta a cidade para uma apresentação única de um novo espetáculo. Sabrina sempre foi fã do teatro e eu não poderia perder a oportunidade de leva-la para uma noite de risadas e diversão. Meu pai e minha irmã do meio, Marcella, estavam viajando de modo que minha mãe e minha irmã caçula, Cecília, estavam sozinhas em casa. Eu as convidei para irem conosco. As três passaram o dia juntas, fazendo compras para o enxoval de meu primogênito. Eu estava tão feliz que as coisas finalmente estavam indo bem.

A princípio, ninguém de minha família apoiou meu casamento precoce com Sabrina, mas aos poucos eles viram que eu realmente a amava e que ela me amava. Não foi fácil, meu casamento com Sabrina era um tanto complicado. Tivemos vários problemas que o colocou em risco, mas resistimos. Nosso amor resistiu. Depois de muitas brigas e de um acidente que fez com que perdêssemos nosso primeiro bebê, Sabrina e eu estávamos prestes a nos separar. Coisa que pra mim era inconcebível. Eu a amava, e lutaria por ela e por nosso casamento.

Foi ai que ela engravidou novamente e essa nova vida que ela gerava conseguiu unir tudo e todos. Meus pais aceitaram nossa união e finalmente parecíamos uma família de verdade. Minha relação com Sabrina estava melhor impossível e ela aguardava a chegada de Gabriel tão ansiosa que chegava a me dar desespero. Eu não estava pronto para ser pai, mas ela estava mais do que pronta para ser mãe. Meu pai disse que o que eu sentia era medo. Mas que eu perderia esse medo no momento em que pegasse meu filho no colo pela primeira vez. Eu acreditei, pois ele disse que sentiu o mesmo medo quando minha mãe estava grávida de mim.

Isso tirou um peso das minhas costas e, confesso, foi bem mais fácil lidar com a gravidez de Sabrina. Ela tinha acabado de completar seis meses, embora não tivesse a aparência de uma grávida. Continua exuberante com seus saltos altos e roupas que não chamavam a atenção para a barriga. Ela continuava a trabalhar, mas não desfilava mais. Só fazia ensaios fotográficos.

Havíamos combinado de eu encontrar com ela, minha mãe e minha irmã na nossa casa. Mas eu tive um imprevisto no fórum e me atrasei. Fiz o que pude para desviar do trânsito caótico do fim de tarde, mas com certeza perderíamos alguns minutos do espetáculo. Sabrina com certeza ficaria brava.

Estacionei em frente a mansão e entrei em casa correndo sem me dar conta do que estava acontecendo.

— Meninas, desculpem o atraso. É melhor irmos logo ou... – eu me detive e parei de falar quando vi minha mãe e minha esposa paradas olhando para um homem armado, completamente assustadas.

O homem em questão se virou para mim. Eu o reconheci, tratava-se de André. Um homem que foi condenado em um julgamento no qual eu atuei como advogado de acusação. Ele havia estuprado uma menina de oito anos na frente do irmão dela, outra criança de três anos. Eu era o advogado da mãe das crianças que queria e conseguiu que a justiça fosse feita. Ele foi condenado a 35 anos de prisão em regime fechado. Esse não era o único crime que ele cometeu. Ele era chefe do tráfico do Morro do Silício e já matou várias pessoas por dívidas, por brigas ou pelo simples fato de estar entediado.

Como ele conseguiu sair da cadeia era um mistério. Como ele chegou na minha casa também era um mistério. Mas a única coisa que não era um mistério era o olhar de vingança e satisfação em seu olhar ao me ver.

— André, o que pensa que está fazendo?
— O que você acha? Vim fazer uma visita. Mas sua mãe e sua esposa não foram muito receptivas. Elas quiseram chamar a polícia acredita? Acho que um homem como eu merecia um tratamento melhor. Você não acha?
— É claro. O que você quer?
— Dinheiro. Tenho que sair do país e você vai me ajudar – ele disse apontando a arma pra mim. – ou então uma das duas ali vai desfilar no inferno. – disse mirando a arma para minha esposa – alias, vou te dar os parabéns. É uma bela mulher. Vai ser uma pena se eu tiver que acabar com um rostinho tão bonito.
— Quanto você precisa?
— Ah, agora chegamos na parte que interessa. – ele começou a andar, mas mantinha eu, Sabrina e minha mãe em seu campo de visão. – eu estava pensando em uns cem mil dólares. Mas ai eu cheguei aqui, vi essa mansão, reconheci que sua mulher é uma modelo internacional e vi que cem mil é muito pouco. – ele olhou pra mim e deu um sorriso – eu quero um milhão.
— Você está louco. Eu não tenho esse dinheiro.
— Será que não? – disse engatilhando a arma agora na direção de minha mãe.
— Agora eu não tenho. Mas eu posso conseguir.
— Quanto você tem agora?
— No cofre deve ter uns cinquenta mil. Eu posso conseguir o resto. Não guardo dinheiro em casa. Tá tudo no banco. Preciso de uns dias pra conseguir levantar todo esse montante.
— Você acha mesmo que eu sou idiota? Se eu sair por aquela porta, você não vai me dar mais nenhum centavo. Em menos de dois minutos a polícia vai estar na minha cola de novo. E aonde espera que eu vá com apenas cinquenta mil? Com isso eu mal chego na fronteira do estado. Eu preciso de mais.
— Eu não tenho mais.
— Tenho algumas joias no cofre – Sabrina se pronunciou atraindo a atenção de André a ela. – algumas são caríssimas. Um mísero conjunto pode valer mais de cinquenta mil. Posso dar todas elas a você. Eu tenho várias. Acredite, você vai fazer uma fortuna.
— O suficiente para eu sair do país?
— O suficiente para você sair do país e viver confortavelmente por muitos anos, talvez por toda a vida. Alguns modelos são exclusivos, feitos sob medida. Vão garantir o seu conforto e a sua liberdade.
— Gostei dela. – André disse pra mim – é mais inteligente que você.
— Eu posso te levar até o cofre e te dar tudo. Mas por favor, não faça nada – ela ergueu as mãos que estavam sob seu ventre. – não machuque a minha família, não me machuque. Eu estou grávida. – isso bastou para André trincar os dentes e falar com uma voz sem emoção.
— Grávida? Minha mulher também estava grávida. Seu marido me colocou na cadeia e eu não vou ter a oportunidade de criar o meu filho.
— Você se colocou na cadeia – eu disse.
— Você vai poder ficar com sua família bem longe daqui. Em segurança, com muito dinheiro. Vai poder criar o seu filho. - disse Sabrina 
— Não vou não gatinha. Minha mulher suicidou aos oito meses de gravidez. Eu perdi tudo. Perdi meu filho, minha mulher, minha liberdade. E sabe quem é o responsável? – ele apontou a arma para mim.
— O que acha que vai conseguir se matar a mim ou a minha família? – eu disse – Isso não trará sua família de volta. Nem fará com que consiga o dinheiro que precisa. Acho melhor você nos manter em segurança.
— Eu acho melhor você ficar quietinho. – ele vociferou e atirou em um vaso de flor que estava bem ao meu lado fazendo com que minha mãe e Sabrina gritassem. – Quem diz o que é melhor aqui sou eu.


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