Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 48
Capítulo 48




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/737700/chapter/48


— Meu pai também não apoiou. Ele disse que não era uma profissão valorizada e de fato não é. Mas eu também não sabia de quê eu queria dar aulas. Não era um sonho. Era só uma vontade sabe? Mas mesmo depois que eu me formei esse desejo não morreu. Eu adoro a minha profissão. Mas ainda tenho vontade de ser professor.
— Acho que devia tentar.
— Eu tentei. Um pouco antes de assumir a Duarte, comecei meu PhD em Justiça Criminal nos EUA. O plano era me formar e ser professor em universidades. Mas ai meu pai ficou doente e eu tive que assumir a Duarte, fui obrigado a abandonar. Meu pai melhorou, mas resolveu se aposentar. De qualquer forma eu continuei na Duarte, não tenho mais tempo pra estudar.
— Será que não consegue ter tempo mesmo?
— Sou advogado, investidor e empresário 24 horas por dia. Pra ser aluno precisaria de mais horas. – eu ri. – Eu não desisti. Eu nunca desisto. Eu tenho um plano.
— E qual é? – Ana perguntou sorrindo.
— O Dan. Estou o preparando pra assumir a presidência da Duarte, ele está se saindo muito bem. Não consigo imaginar pessoa melhor pra isso. Quando ele estiver pronto, eu vou ter tempo pra mim e ai eu volto a estudar. No futuro, eu serei apenas um professor. Daqui a uns anos.
— A parte boa é que você é jovem. Tem todo o tempo do mundo. Aquele ali não é o James? – disse olhando pra um homem de terno que estava longe da gente.
— Ele mesmo. Veio pegar a bicicleta.

Acabamos pegando uma carona com James até Estação Central de Amsterdão na Prins Hendrikkade. Era a principal estação ferroviária da cidade. Geralmente os passeios de balsa, barcos e cruzeiros tinham ponto de partida em frente a Estação Central. A vista já estava maravilhosa e eu mal podia esperar para visitar com Ana os principais canais e pontos turísticos da cidade.

— Parece um castelo. É linda. – disse Ana olhando pra fachada da estação assim que saímos do carro. – A arquitetura é única. – ela disse emocionada – É antiga, mas é moderna também. Não é ultrapassada, é... maravilhosa.
— Se você gostou da estação de trem, espera até ver o resto.
— Eu sabia que a Holanda tinha vários lugares maravilhosos e que a arquitetura daqui era referência. Mas eu realmente, não esperava isso. É incrível. – peguei a mão dela e fui em direção às embarcações.
— Você sabia que não estamos na Holanda?
— Claro que estamos.
— Na verdade Holanda é o nome de uma província. Existe a Holanda do Norte e a Holanda do Sul, e várias outras que juntas formam esse país em que estamos agora, que não se chama Holanda.
— E qual o nome oficial então?
— Países Baixos.
— Sério Rafael?
— Estou falando bem sério. Como Holanda era o nome de duas das mais famosas províncias, acaba que todo mundo chama os Países Baixos de Holanda.
— Não acredito que eu não sabia disso.
— A maioria das pessoas não sabem.
— Que ótimo, eu e milhões de pessoas passamos a vida sendo enganados. Quem diria, Rafael Duarte é cultura. Você realmente pode ser professor. Eu e o resto do mundo temos muito o que aprender com você. – eu ri.

Tinham muitas balsas de partida, mas estava muito cheio. Eu queria algo mais intimista, onde eu e Ana pudéssemos ficar a vontade sem ter uma multidão em volta. Foi quando eu vi um cruzeiro que tinha exatamente o que eu queria. Puxei Ana pela mão e fui em direção a ele. Assim que entramos fiquei super satisfeito com minha escolha. O cruzeiro era incrível. Tinha uma iluminação acolhedora que combinava com o fim de tarde. Os assentos eram dispostos harmonicamente perto das janelas e tinham tons claros.

Assistimos a aquele espetáculo maravilhoso acontecer bem diante de nossos olhos. O sol se pôs de maneira tão esplêndida que tirou o folego de todos que estavam vendo. Ana se emocionou, mas não era pra menos. Eu já vi aquilo centenas de vezes, mas ali, ao lado de Ana eu senti tantas coisas, percebi tantas coisas. A minha vida ganhava um novo significado. Nada mais era igual. Eu estava feliz, como há muito tempo eu não era. Era como se eu finalmente despertasse depois de muito tempo. Era como se eu estivesse vivo novamente. E eu sabia que tudo isso, pouco tinha haver com a paisagem ou com a visão do por do sol. Era a mulher que estava do meu lado e que despertava o melhor de mim. E bem ali, enquanto eu secava a lágrimas que brotavam dos olhos de Ana com um beijo, eu percebi que a amava.

Quando a noite caiu fomos jantar em um dos restaurantes que eu mais gostava. O restaurante ficava na torre mais alta de Amsterdam e dava pra ver toda a cidade lá de cima. Era uma visão de tirar o fôlego, principalmente à noite, pois a cidade estava toda iluminada. Era como um show de luzes. A comida estava maravilhosa e Ana provou uma variedade enorme de queijos holandeses, um melhor que o outro. Ela  não estava acostumada a beber, mas também provou a cerveja holandesa e disse que era a coisa mais gostosa que já havia provado. Queria muito que Ana chegasse perto do guarda-corpo pra apreciar melhor a vista, mas ela estava com medo.

— Você não vai cair
— Não tem como você garantir
— Claro que tem. A menos que você pule o guarda-corpo não tem a menor chance de você cair.
— Rafael, eu tenho medo de altura. Se eu cair eu morro antes de chegar no chão.
— Você confia em mim?
— Claro que confio.
— Então vem comigo. – eu a puxei pela mão e caminhamos até perto do guarda-corpo. Ana parou uns quinze passos antes dele, mas foi o suficiente para que ela entendesse o porquê insisti tanto.
— Uau. – ela disse lentamente – Isso é incrível. – sem perceber ela se aproximou do guarda-corpo. – Nunca vi nada igual.

Dava pra ver tudo ali de cima. As torres, as casas, os canais, os parques, tudo. Mas Ana se assustou quando um raio atravessou a cidade e iluminou tudo sendo acompanhado de um trovão bem barulhento. Ela deu três passos pra trás e bateu as costas no meu peito. Eu aproveitei a abracei por trás e apoiei meu queixo na sua cabeça.

— Calma. Estou aqui. – disse passando os braços por sua cintura.
— Obrigada – ela disse. – por tudo isso. Acho que esse foi o dia mais feliz da minha vida. Obrigada por você. – eu a soltei e fiquei na frente dela.

Era incrível como as luzes contagiavam seus olhos. Eles não estavam pretos como sempre, estavam iluminados de um jeito que eu nunca vi. Eu ia dizer a ela que a amava, mas ela tocou meu rosto e diminuiu a distância entre nós dois. Enquanto ela me beijava eu cheguei a conclusão de que foi melhor assim, pois eu poderia mostrar a ela mais tarde, quando estivéssemos só nós dois em casa, o quanto a amava.

Depois de convencer Ana a dançar duas músicas comigo partimos para casa. James foi nos buscar, pois estava chovendo muito. Ele me alertou que Mere foi pra casa dela, pois seu filho havia chegado de viagem. Dispensei James também e subi com Ana para meu quarto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aconteceu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.