Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 47
Capítulo 47




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— Ué? Como a gente vai? - perguntei. 
— Vem. – ela me puxou e eu subi na bicicleta e ela se sentou na minha frente de lado, de modo de seu corpo ficou bem encaixado no meu. Mas ela estava sentada em um ferro de um jeito que com certeza a deixaria com dores.
— Não parece muito confortável pra você. Vai se machucar.
— Eu tô bem. Pode ir
— Tem certeza?
— Tenho
— Então, vambora. – dei um beijo no alto da sua cabeça e comecei a pedalar.

Meu plano inicial era levar Ana para um passeio de balsa quando o sol estivesse se pondo, era uma vista incrível que eu queria muito que ela visse. Mas como eu antecipei nossa saída, ainda estava um pouco longe do fim da tarde então resolvi leva-la para um passeio no parque. O parque de Keukenhof – Ana precisou de oito tentativas para pronunciar o nome corretamente – era um dos lugares mais lindos que já vi. Era conhecido como o parque das tulipas e ele serviu como inspiração para minha mãe criar o nosso jardim. Eu não vinha aqui a anos mas me lembrava exatamente de como era. Passei boa parte da minha infância aqui. É um lugar maravilhoso pra crianças e um dia trarei meus filhos aqui. Quero que eles se sintam renovados pela natureza assim como eu me senti, que deem valor as pequenas coisas, como uma flor delicada que precisa de cuidados.

 Ana parecia encantada com tudo o que via. Fizemos uma caminhada pelo parque e ela pegou uma flor no chão e disse que levaria para casa como lembrança. Eu não esperava por isso. Ela era uma mulher que a cada dia, a cada hora, a cada minuto me surpreendia cada vez mais. Eu sei que não devia, mas, involuntariamente, a comparei com Sabrina. Sabrina compraria uma bolsa ou um sapato, talvez os dois, de uma das melhores grifes holandesas e os traria para casa.

Ana era simples, inocente sem ser má, via a real beleza das coisas e as valorizava. Não que eu ache que ela não iria gostar de uma bolsa ou um sapato de grife, afinal ela é uma mulher e mulheres gostam disso, mas não era a coisa principal. Não era o mais importante. Sabrina jamais pegaria uma flor do parque pra levar pra casa, na verdade ela nem entrava lá. Não via graça. Estava quase na hora do por do sol, então liguei pro James para que ele viesse pegar a bicicleta para que Ana e eu pudéssemos ir para um passeio de balsa como eu tinha planejado inicialmente. 

— Eu poderia ficar nesse parque o resto da vida. – disse Ana me tirando de meus pensamentos
— Gostou?
— Se eu gostei? Eu amei.
— A gente deu sorte de estar na primavera. O parque fica fechado o resto do ano.
— Sério? Por que?
— Por que as flores são plantadas no outono. Elas precisam passar pelo frio debaixo da terra no inverno pra florescerem na primavera. Uma coisa legal daqui é que a cada ano o parque tem um tema diferente. E cada flor é plantada manualmente, então dá um trabalhão.
— Se eu pudesse viria todo ano pra ver.
— Eu fazia isso quando era mais novo. Mas ai as responsabilidades com a Duarte falaram mais alto e tive que abrir mão das viagens. Marcella vem todo ano.
— Já tirei um milhão de fotos eu acho. Quero me lembrar de tudo.
— Bom, então vamos criar boas memórias. – a puxei pela mão para que ela viesse de encontro a mim, peguei o celular da mão dela e a beijei. E tirei uma foto nossa.
— Gostei dessa forma de criar memórias. – eu ri e ela me beijou novamente.
— Que tal um passeio de balsa? – perguntei quando ela recuperou o fôlego. Ela assentiu e sorriu e eu devolvi o celular dela.
— Caramba. – ela exclamou de repente enquanto íamos na direção da saída do parque.
— Que foi?
— Como você fez isso? – disse virando o celular pra mim de modo que eu pude ver a foto que tirei.

Ficou linda. Estávamos no centro da imagem com a bicicleta atrás da gente perto de uma árvore que tinha uma sombra que deu um efeito bem legal, do nosso lado tinha umas tulipas rosas e no fundo um cachorro deitado na grama de costas.

— Eu mal consigo tirar uma foto descente sem tremer com os dois olhos bem abertos e as mãos livres e você segurando a bicicleta, me abraçando, de olhos fechados e me beijando consegue tirar a foto mais linda que eu já vi.
— Eu tenho um segredo – disse rindo, cheguei pertinho do ouvido dela e sussurrei: - fiz um curso de fotografia quando era mais novo.
— Isso é frustrante na mesma proporção em que é reconfortante. – ela disse rindo. – Foi por causa da Sabrina?
— O que?
— O curso de fotografia.
— Não. Na verdade foi por causa da Marcella. Quando ela começou a carreira meu pai não apoiava. Ele queria que ela fizesse direito como eu e pudesse me ajudar a tocar a Duarte. Mas ela nunca quis. Na época meu pai era bem rigoroso e disse que ela ia ter que fazer tudo sozinha. Minha mãe ajudava escondido, ela pagou o meu curso de fotografia e ajudava a bancar as primeiras roupas que a Marcella confeccionava. E por um tempo foi assim, eu era o fotógrafo, Marcella a estilista, as modelos eram as amigas dela, e minha mãe organizava tudo. No fim deu certo e ela mostrou pro meu pai que esse era o caminho certo pra ela.  
— Ela é incrível. Realmente tem talento. Fiquei impressionada com os vestidos dela.
— Fico feliz que tenha dado certo.
— Você sempre quis ser advogado?
— Não foi uma coisa planejada. Só aconteceu. Quando eu terminei o ensino médio eu queria colocar uma mochila nas costas e sair por ai pra conhecer o mundo, meu pai não deixou na época. Insistiu pra eu fazer o vestibular e eu fiz. Passei e aqui estou eu.  Na verdade eu queria ser professor.
— E por que não seguiu em frente?


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Notas finais do capítulo

O Parque de Keukenhof, o parque das tulipas, de fato existe. Entretanto, ele não fica em Amsterdam, mas sim em uma cidade que fica cerca de 30 km de distância, em Lisse. Ele realmente só é aberto anualmente na primavera e as flores são sim plantadas no outono. Porém, todo o resto é fruto da imaginação desta autora. Nada mais é verdade.



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