Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 28
Capítulo 28




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— Eu adoraria continuar essa conversa, mas tenho uma audiência agora Rafael, e você mesmo diz que não podemos deixar ninguém esperando. Pontualidade é essencial aqui na Duarte. – disse Juliana nervosa e apressada.
— É sim, tudo bem. Eu não estou com tempo para suposições e fofocas. Você pode ir Juliana, mas fique sabendo que o único que sabe a hora de demitir ou contratar alguém aqui sou eu. E não se preocupe com o emprego de sua colega, não pretendo desliga-la da Duarte. – se virou para mim, e ignorou completamente a existência de Juliana. – liga para a agência de viagens, preciso estar na Holanda na quinta-feira. Você tem passaporte? – eu ainda estava assustada e confusa com o que estava acontecendo, mas consegui assentir. – Ótimo, providencie tudo. Estou de saída e não vou atender ligações, resolve tudo para mim. Daniel, depois do almoço venha até minha sala, por favor, preciso falar com você. – ele se virou para sair e encontrou uma Juliana paralisada. – Juliana, eu achei que estivesse atrasada. – ela nada respondeu, foi para a saída de emergência e desceu as escadas evitando ficar com Rafael no elevador. Assim que as portas do elevador se fecharam e Rafael se foi, eu soltei a respiração que até então não havia notado que havia prendido e me joguei na cadeira.

— E então? Estamos só nós dois aqui. Não vai me contar o que aconteceu? – Daniel perguntou
— Dani, não sei o que aconteceu.
— Tudo bem – ergueu as mãos em sinal de rendição. – Você é quem sabe, só estou tentando ajudar. Não é de hoje que eu percebi que o clima entre vocês duas anda tenso. Quando quiser falar, sabe onde me encontrar. – piscou e foi para sua sala.

Quase no fim do expediente, Rafael parou na frente da minha mesa, me desconcentrando completamente, enquanto eu falava com um americano irritado que sua reunião com ele deveria ser reagendada por conta da viagem. Pra onde mesmo?

— Posso ajudar? – perguntei e ele sorriu. Por que ele sorriu? Ele não foi capaz de responder o meu “bom dia” e agora estava sorrindo para mim. Se existia alguém mais bipolar no universo que Rafael, eu desconheço.
— Já conseguiu as passagens para a Holanda? – Ah Holanda! Eu sabia.
— Já. – menti – estava remarcando alguns compromissos da sua agenda. Os americanos não estão muito felizes.
— Droga, esqueci deles. – ele pressionou a testa como se estivesse com dor de cabeça – Mas conseguiu uma nova data?
— Sou sua assistente, se eu não conseguisse não estaria a altura para o cargo.
— Que sorte a minha. – disse abrindo um sorriso que com certeza teria me feito desmanchar por inteira até ontem. Hoje aquele sorriso me deu nos nervos.
— O que foi? Por que tá sorrindo assim? Tá feliz?
— Na verdade não.
— Ah então é só pra me irritar? Ou é pra me deixar no escuro como na noite passada?
—Eu jamais iria querer te irritar.
— Mas com certeza quer me deixar no escuro.
— Aqui não é lugar para essa conversa.
— E existe algum lugar para essa conversa?
— Vai ter uma recepção no Hotel Maragogi esta noite. – lá estava ele voltando para a casinha profissional e me ignorando completamente. Se esse era o jogo, eu estou pronta para jogar.
— Não tem nada marcado na sua agenda.
— Eu sei, esqueci de te mandar. É um problema? Posso ir sozinho se não puder.
— Quer que mande buscar o seu smoking preferido? – ele sorriu.
— Não precisa. Vou direto daqui, tenho uma videoconferência com os holandeses e...
— E o que?
— Você não precisa ir se não quiser.
— Rafael, você me paga para cuidar da sua vida e ficar atrás de você que nem um cachorrinho. Não se trata se eu quero ir ou não, é minha obrigação.
— Você sempre tem uma resposta na ponta da língua né?! Acho que é uma das coisas que eu mais gosto em você.
— Pensei que aqui não fosse local para esse tipo de conversa.
— Que conversa?
— Eu posso ser demitida se eu te mandar sumir da minha frente?
— Hoje não. – piscou e voltou para sua sala.

Foquei no meu trabalho e resolvi todas as pendencias de Rafael e comprei as passagens, me lembrei do sonho que tive com minha mãe a algumas noites atrás. Ela estava animada por uma viagem para a Holanda, mesmo lugar para onde eu iria com Rafael. Não sei se era uma coisa boa. Mas era o meu trabalho e eu tinha que ir.

A recepção no hotel sei lá o que, foi de longe a mais chata de todas que já acompanhei Rafael. Ele também não estava se divertindo e aposto que queria ir embora tanto quanto eu. Não era um evento luxuoso como os outros mas tinha muitas mulheres, bem elegantes, e minha simplicidade foi evidenciada pela blusa social e o jeans preto. Minha sorte é que eu e Alice usamos o mesmo tamanho de sapatos, de modo que no fim do expediente pude trocar as minhas sapatilhas gastas pelo salto preto novo que ela usava e que combinou com a minha roupa. Rafael notou a mudança no elevador, mas não comentou nada. Apenas riu sozinho e como eu estava irritada com ele não respondi, só ignorei. No caminho de casa estávamos calados e o único som que se ouvia era o rádio que tocava uma música clássica. Até que ele resolveu puxar assunto.

— Nem acredito que acabou. Se a senhora Siqueira falasse por mais 10 minutos eu explodiria.
— Era a que estava de azul exibindo o belo par de peitos siliconados para você?
— Era. Ela não tava exibindo nada para mim. E como sabe que ela tem silicone?
— A natureza não seria tão legal a ponto de dar tudo aquilo de presente para ela. – ele riu. – mas a voz dela era meio chata mesmo.
—Tem planos para a noite? Ainda tá cedo.
— Tenho, dormir. E esquecer que o dia de hoje existiu. – suspirei.
— Antes disso, me acompanharia em um jantar? Tô morrendo de fome e pelo que eu vi você também não comeu, deve estar com fome também.
— Você me convidando para jantar? Sua vida mudou por acaso? – não resisti e tive que dar uma alfinetada.


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