Eu subi as escadas totalmente tremula. Sentia dificuldades para respirar, demorei quase meia hora pra subir as escadas e assim que entrei, encontrei minha melhor amiga colocando nossa série favorita na TV.

— Você demorou! Onde estava? Disse que ia vim direto pra casa! Quase que eu não te espero, saiu o episódio novo da série. – disse Alice animada, não respondi, só sentei no sofá. – o que foi Ana?
— Ele tá apaixonado por mim.
— Ele quem?
— O Rafael
— O que? Como você sabe? – disse sentando do meu lado
— Ele disse – contei para ela tudo o que tinha acontecido. Eu não estava conseguindo pensar direito, talvez Alice me ajudasse a entender o que estava acontecendo – Mas ele só fica dizendo que é complicado, que é perigoso. Mas eu não entendo.
— Rafael é estranho.
— Essa situação é estranha. Eu... estou apaixonada por ele também.
— Eu sabia que isso ia acontecer.
— Alice – repreendi.
— Como foi? O beijo?
— Nunca senti nada parecido. Foi incrível, mágico. Parecia que eu finalmente estava no lugar certo sabe? Que aquele beijo era o certo! Mas pra ele foi um erro – disse ainda magoada.
— Olha Ana, eu não sei o que falar. Essa situação é muito chata, mas acho que você precisa de tempo.
— Tempo?
— É. Já tem 3 anos que trabalho na Duarte, e nunca vi ninguém conseguir se aproximar assim do Rafael, além do Dani, mas ele não conta. Eles já eram amigos antes de trabalhar juntos.
— Pensei que eles tinham se conhecido no escritório.
— Eu também, mas eles se conheceram na faculdade, na verdade Rafael e Daniel eram da mesma turma, a Ju também os conheceu lá, mas era de turma diferente. Mas isso não importa. Vamos voltar para o assunto que interessa?
— Tá legal, tempo. Tempo pra que?
— Você conseguiu furar a bolha onde o Rafael se esconde. Se aproximou e sabe mais dele do que qualquer um de nós. Talvez com um pouco mais de tempo você pode conseguir descobrir o que ele tanto esconde, o que é tão perigoso. – mas a cara dela estava estranha ao dizer isso.
— O que o seu sexto sentido mágico diz?
— Pra você ter cuidado. Acho que o Rafael pode ser a melhor ou a pior coisa que te aconteceu. – ah, ótimo Alice, obrigada. Como se eu já não tivesse coisas o suficiente para pensar. – Mas vamos mudar de assunto? Jamais pensei que Gustavo fosse capaz de te ameaçar e te machucar.
— Pois ele foi. Rafael me convenceu a denunciá-lo, mas eu confesso que não queria.
— Por que? Isso é crime sabia?
— Eu sei, mas ele não é assim. Acho que só estava com raiva pelo que eu disse e ai o Rafael apareceu e o encarou... Não sei, mas não acho que ele vá me fazer mal novamente.
— Espero que tenha razão. – ela colocou o novo episódio da série para rodar.
— Como foi com o Daniel?
— Tudo ótimo, até o carro dele morrer. Fomos no cinema e estava tudo lindo, mas quando viemos embora o carro não queria pegar, ficamos quase uma hora esperando um guincho.
— E você adora esperar né?
— Ah, esperar beijando é até legal. Começou, vou pegar a pipoca. – foi correndo para a cozinha e voltou com o balde enorme de pipoca doce. Tirei meus sapatos e me deitei no colchão inflável que Alice colocou no chão da sala e começamos a ver nossa favorita série sobrenatural, mas nem mesmo os vampiros, bruxas e lobisomens conseguiram desviar meus pensamentos de Rafael.

No dia seguinte, Rafael chegou e logo se trancou no escritório. Ele estava de volta a sua caverna, totalmente frio, distante e profissional. O meu “Bom dia” não foi respondido, como na época em que não éramos amigos. Eu não devia ficar tão mexida com isso, mas fiquei. Poxa, nos beijamos ontem, e não foi só uma vez. Foram duas! Por que ele não agia naturalmente? Depois de ontem, daquele beijo e daquela conversa interrompida por Daniel, eu precisava de mais. Mas seu comportamento deixava claro que ele não iria me dar mais nada. Infelizmente, Juliana flagrou Rafael me ignorando, e isso foi motivo para mais uma provocação.

— Parece que o romance não está em seus melhores dias. O que houve? Ele descobriu seus planos?
— Juliana, pela milésima vez. Não tem plano nenhum. Eu não tenho, nunca tive e nunca terei nada com Rafael – não por escolha minha, mas ela não precisava saber disso – eu estou aqui para trabalhar. Apenas isso, trabalhar. Como você. Então faz o seu trabalho que eu faço o meu.
— Olha, ela tá nervosinha. – disse sorrindo – Com certeza seus planos deram errados. Não vou negar, tô feliz por isso. Não é todo mundo que engana o Rafael assim por muito tempo e sai ileso. Tô aguardando ansiosa sua demissão. – piscou para mim e deu a volta dando de cara com Daniel.
— E por quê ela seria demitida? – ela não respondeu, estava de costas pra mim, mas sem dúvidas podia apostar que ela estava bem surpresa. – Então Juliana, tô esperando. O que a Ana fez de tão grave para ser demitida?
— Ela... confundiu uns documentos, de clientes muito importantes e isso gerou uma bagunça – improvisou.
— E por isso Rafael vai demiti-la? – Daniel arqueou a sobrancelha, olhando para ela, depois para mim e para ela de novo. Seu olhar era bem intimidador e eu dei uma leve estremecida. – convenhamos isso não é nada que ela nunca tenha feito, Rafael foi tolerante antes.
— Mas... mas... é que ele vai ficar furioso.
— Ana, que documentos são esses?
— Eu não sei do que ela está falando Daniel. – disse a verdade, não ia queimar meu filme por conta de uma advogadazinha louca. Minha mãe sempre dizia: “Nunca confie num advogado”, estou começando a entender o motivo.
— Então tem algo de errado. Se você não fez confusão nenhuma, por que Juliana aguardaria ansiosa sua demissão?
— Eu não sei Daniel. – eu estava bem confusa, apesar das provocações, eu realmente não sabia o motivo de Juliana estar fazendo tudo isso, portanto eu não menti.
— A pergunta volta para você então. – disse Daniel olhando para Juliana com o semblante sério. – Não vai me responder? Tudo bem, eu acho que talvez o Rafael queira saber sua resposta.
— Não! – disse de imediato – não vamos incomodá-lo com coisas bobas.
— Creio que uma demissão não seja coisa boba. – rebateu.
— Eu me expressei mal, não vai acontecer novamente. – disse apressada – Garanto! Agora, eu tenho uma audiência, preciso ir. – colocou a bolsa ao lado e se virou novamente, me fuzilou com os olhos, antes de Rafael abrir a porta.
— Ana, liga para a agência de viagens e... O que tá acontecendo aqui?
— É o que eu estou tentando descobrir. – disse Daniel. – parece que Juliana acha que Ana vai ser demitida.
— Ah é?! Por que? – Rafael perguntou franzindo o cenho de um jeito extremamente sexy.