Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 23
Capítulo 23




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A noite foi péssima, tive um sonho ruim. Imaginei como teria sido o acidente que levou minha mãe.  No sonho ela estava feliz, pois ganhou numa rifa uma viagem para a Holanda. Estava alegre e fazendo planos enquanto conversava comigo no telefone, completamente distraída ela não viu quando o carro preto veio com tudo para cima dela. Eu acordei assustada às três da manhã e não consegui mais pregar o olho. Isso me rendeu uma bela olheira, mas quem se importa?

De manhã, Stella e eu estivemos sozinhas no escritório e posso dizer que aquele lugar estava uma paz. Mas isso mudou logo depois do almoço, pois Rafael tinha uma reunião com a equipe de advogados e logos todos ficaram agitados e correndo de um lado para o outro. Nada fora do normal. Talvez uma coisa fora do normal: quando Rafael chegou ele estava feliz e sorridente, não que isso fosse ruim, mas o que aconteceu depois foi estranho. Estranhamente adorável.

— Boa tarde – entrou assoviando, repito, assoviando.
— Boa tarde – respondi com os olhos vidrados no computador, ele havia passado por mim e então voltou e ficou me olhando sem dizer nada.
— Que foi? – perguntei.
— Tudo certo pra reunião?
— Sim, já estão te esperando lá na sala de reuniões. – ao invés dele ir para a sala de reuniões ele continuou lá, parado, me olhando.
— Quer alguma coisa Rafael? – disse impaciente, a noite passada realmente azedou o meu humor.
— Tá tudo bem?
— Não, meu chefe não me deixa trabalhar. – ele sorriu.
— Algo mais a incomoda? – ele estava sendo gentil, não havia motivos para eu descontar as minhas frustrações nele.
— Não – suspirei – só estou tendo um dia ruim. – fiz um coque no meu cabelo e ele acompanhou cada movimento meu.
— O que posso fazer para ele melhorar?
— Você? Além de entrar na naquela sala e acalmar aqueles advogados agitados? Nada.
— Tem certeza?
— Tenho – sorri, ele estava sendo cuidadoso, estava me dando atenção e naquele momento eu me senti feliz. – acho que as únicas coisas capazes de melhorar o meu dia, seriam: minha pantufa, meu edredom e um pote de sorvete de creme. – e você do meu lado me abraçando e me beijando, eu acrescentei mentalmente.
— Nesse caso, eu não posso ajudar mesmo. Mas se você quiser ir pra casa, tá liberada. Hoje nossa agenda está bem tranquila.
— Não. Se eu for é capaz de eu ficar pensando e tudo que eu não quero agora é pensar. Vou ficar, obrigada.
— Disponha – ele sorriu. Me olhou por mais um momento e foi para a sala de reuniões. Antes de entrar me olhou novamente e balançou a cabeça para mim.

Ok, pode não ter sido nada. Mas meu coração bobo e idiota não encarava aquilo como nada. Eu me apegava a cada momento que tinha com Rafael, por mínimo que seja. Eram as únicas coisas que eu tinha dele. E, sinceramente, provavelmente eram as únicas que eu teria. Graças a Rafael meu dia melhorou um pouco, mas aquele sonho idiota permanecia na minha mente.

Alice e Daniel saíram juntos do escritório, ninguém além de mim viu. Ele queria recompensá-la pelo furo de ontem. Na verdade a mãe dele passou mal, teve uma queda de pressão e ele ficou com ela. Super compreensível e perdoável. Eu iria pra casa, depois do sonho da noite anterior tudo o que eu queria era poder deitar na cama e descansar sem o risco de ter pesadelos novamente. Assim que saí do escritório e fui em direção ao meu maravilhoso e problemático carro, fui puxada por uma mão e me deparei com alguém que eu não via a muito tempo.

— Oi Ana, sentiu saudades?
— Gustavo?
— Tudo bem?
— Não. O que está fazendo aqui?
— Estava passando por aqui e te vi, resolvi dar um “Oi”.
— Oi, tchau. – me virei para sair, mas ele me puxou de novo.
— Me solta ou eu vou gritar. – ele soltou. - Como descobriu onde eu trabalho?
— Não sabia que trabalhava aqui. Foi só uma coincidência. É o destino agindo sobre nossas vidas de novo. – Gustavo sempre disse que eu e ele estávamos destinados a ficar juntos, que a gente se completava e que éramos perfeitos um para o outro. Eu costumava concordar, naquela época é claro. Hoje eu acho que ele combina com um soco na cara.
— Não vem com esse papinho. Eu não acredito em você.
— Por que eu mentiria?
— Ah, não sei – disse irônica – talvez seja porque é a única coisa que você sabe fazer.
— Senti falta dessas suas respostas. A vida é bem chata sem você.
— Não pareceu quando eu te encontrei entre as pernas da vizinha.
— Aquilo foi um erro. A Tati foi só ... uma aventura. Você é diferente.
— Claro que sou. Sou a trouxa que você enganou por quase dois anos.
— Foi um deslize. Eu me arrependi. Vi que era você quem eu queria do meu lado. Eu estava com ela, mas só pensava em você.
— É uma pena pra você. Quanto a mim, estou muito bem sem você.
— Você sabe que é mentira. – ele sorriu, cretino! – me contaram que você não foi vista com mais ninguém. Eu sei que você ainda me ama. E, sabe, a gente pode dar certo. Eu juro para você que eu vou ser fiel. Não vou olhar para mais ninguém além de você.
— Vai iludir outra com esse seu papinho ridículo. Mas em uma coisa você está certo. Não fui vista com mais ninguém porque me afastei de todo mundo que se envolvia com você. Não queria que você soubesse de mim. Mas não fiquei sozinha. – menti, não sei o que é um beijo na boca a mais de um ano – conheci outras pessoas, homens de verdade. Que você nunca vai nem chegar aos pés. Agora me dá licença, eu tenho mais o que fazer do que ficar conversando com um imbecil no meio da rua.
— Ei, baby, calma. Vamos conversar – ele me puxou pelo braço quando eu ameacei caminhar novamente, mas dessa vez ele segurou com força e tinha um olhar severo.
— Me solta – pedi, mas ele não soltou.
— Algum problema aqui? – disse Rafael chegando
— Nenhum. Só um casal discutindo a relação – respondeu Gustavo.
— Que casal? Que relação? Não temos mais nada. Acabou Gustavo, agora me solta, você tá me machucando.
— Eu sugiro que você faça o que ela pediu.
— Ou o que?
— Você não vai gostar – Rafael sorriu olhando fixamente para Gustavo. Me senti no meio de uma disputa de cachorrinhos por território. Mas eu, claramente, queria que Rafael ganhasse.


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