Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 22
Capítulo 22




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— Eu fiquei de ir no cinema com ... – fui interrompida por Camila.
— Não precisa se explicar minha querida. Nós entendemos. – o clima pesou e nesse momento, para salvar minha vida, Alice chegou.
— Menina, a fila do banheiro estava imensa e eu nem ... Dr. Duarte? Boa noite.
— Nós já não havíamos conversado sobre toda essa formalidade Alice? – Rafael respondeu.
— Você não é o único Dr. Duarte presente Rafael. – disse Alice
— Gostei dela – disse Marcella fazendo Rafael revirar os olhos.
— Boa noite querida Alice. – disse o pai de Rafael – já tem um tempo que não a vejo no escritório.
— Quase não tenho ficado lá ultimamente, estou com uma audiência atrás da outra.
— Ela não para nunca – me intrometi – o fórum é a nova casa de Alice.
— E esse é um dos motivos que me fazem gostar tanto dela. – disse Dr. Duarte
— Tá vendo Rafael? Custa ser gentil com seus funcionários? Vê se aprende com o papai. – disse Marcella.
— Mas ele é gentil – respondi e ele sorriu discretamente para mim.
— Não posso discordar senão sou demitida. – disse Alice.
— Não posso te demitir fora do escritório Alice. – retrucou Rafael.
— E nem lá – disse Dr. Duarte.
— O senhor podia tanto voltar pro escritório. Por que resolveu se aposentar? Não tem graça trabalhar com Rafael.
— Se você não fosse da área criminalística eu te contrataria para ser minha advogada pessoal.
— Alice estávamos falando com Ana sobre um restaurante tailandês aqui no shopping, infelizmente ela não vai poder nos acompanhar, pois tem um encontro, mas você gostaria de se juntar a nós? – ofereceu Camila.
— O encontro dela sou eu. Vamos ver um filme agora. De super-herói – ela revirou os olhos – Mas quem sabe em outra oportunidade Senhora Duarte?
— Vocês também gostam de filmes de super-heróis? São os preferidos de Rafael! – ele sorriu quando sua irmã revelou mais esse fato.
— Ah eu não. Ela é quem gosta. – disse Alice apontando para mim. – Eu prefiro um romance ou uma comédia. – A fila andou e chegou minha vez de pagar.

Me afastei e deixei Alice com eles. Demorei um pouco mais propositalmente no caixa, pensando em Rafael. Será que ele gostava de mim também? Ele parecia frustrado quando eu disse que esperava uma pessoa. Eu queria muito entender Rafael. Confrontá-lo e saber o que estava se passando. Mas cadê a coragem? Apesar de tudo, de todo o sentimento, ele ainda era o meu chefe e isso era errado. Eu estava digitando a senha do meu cartão, quando senti o característico perfume de madeira de Rafael atrás de mim, me fazendo perder a linha de raciocínio e errar um número da minha senha.

— Senha incorreta senhora – disse a atendente.
— Eu sei, desculpa. – Olhei para o lado e o vi com uma cara um pouco preocupada. – que foi? – perguntei enquanto digitava novamente a senha.
— Sua amiga me odeia.
— Ela não te odeia. Alice é incapaz de odiar uma pessoa.
— Não pareceu.
— Ela só não te conhece de verdade. Mas eu não julgo, você não deixa as pessoas se aproximarem de você.
— Eu não era assim.
— O que te fez mudar?
— Percebi que quanto mais próximas de mim, mais perigo as pessoas correm.
— Perigo? Por acaso você é algum tipo de lobo mal? – ele sorriu.
— Não, mas é complicado. Eu prefiro manter as pessoas longe de mim para o próprio bem delas. O personagem do lobo mal não é tão ruim assim, e percebi que cai bem em mim.
— O problema é que você não é ator. Não consegue convencer todo mundo. A mim você não engana.
— Você é diferente.
— Qual o meu problema?
— Eu diria que eu tenho um problema. Um problema bem sério.
— Que seria?
— Não consigo me afastar de você, mesmo sabendo que é errado, que é perigoso. Não tenho mais forças para ficar longe. Você desperta coisas em mim que estavam ha muito tempo adormecidas, não sei se gosto disso.
— Que tipo de coisas?
— Próximo – chamou a atendente nos olhando com cara de poucos amigos, tendo em vista que tinha uma fila enorme e estávamos lá parados conversando no caixa.
— É melhor deixar isso de lado. – disse caminhando ao meu lado em direção a sua família e Alice.
— Você tá se esquivando.
— É complicado Ana. Cada vez mais complicado – suspirou. Sua feição era de dor e naquele momento eu só queria abraça-lo e dizer alguma palavra de conforto. Eu sentia que devia fazer isso e só não fiz porque... Eu não sei porque.
— Vamos? O filme deve ter começado. – disse Alice. – assenti.
— Foi um prazer conhecer a senhora – disse para senhora Montana.
— Oh minha querida, imagine. Você é um amor. – já me chamaram de muita coisa na vida, mas que eu era um amor era novidade. Nem mesmo Gustavo me chamava assim quando estávamos juntos. Aliás, por que eu me lembrei dele mesmo? – quem sabe em outro dia vocês possam jantar conosco? – ela disse no plural, mas olhou apenas para mim.
— É claro. Podemos combinar – em um dia que o meu salário ainda esteja na minha conta. Jantar com os ‘’Duarte” deve ser uma coisa muito cara.

Depois das despedidas fomos para o cinema, mas eu não consegui assimilar nada do filme. Por que Rafael era perigoso? O que eu despertava nele? Por que é complicado? Quanto mais eu tentava descobrir as respostas mais menos eu as encontrava.

Alice estava feliz, no caminho de volta para casa Daniel ligou para ela, e eu fui todo o caminho ouvindo aquela maravilhosa e melosa conversa de casal no início de um relacionamento. Eu estava feliz por ela, mas confesso que gostaria de estar passando pelo mesmo que ela. A diferença entre eu e Alice é que pra ela as coisas não eram complicadas demais.


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