Aconteceu escrita por Alanna Drumond


Capítulo 24
Capítulo 24




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— Ele é o cara? – me perguntou Gustavo sem olhar para mim.
— Não impor ... – eu ia responder, mas Rafael me impediu.
— O cara que vai quebrar a sua cara se você não soltar essa mulher em 5 segundos. – eu tenho certeza que Gustavo estava avaliando as possibilidades dele ganhar em um possível embate. Embora ele estivesse mais encorpado, ele não era páreo para Rafael que era uns 40 centímetros mais alto e era mais forte. A lembrança do tanquinho de Rafael me veio na cabeça e eu corei imediatamente. Gustavo viu isso e entendeu completamente errado.
— Então é ele né. Não sabia que você gostava de caras assim – soltou meu braço bruscamente me fazendo cambalear, mas fui amparada por Rafael.
— Tá tudo bem? – perguntou Rafael ignorando completamente Gustavo.
— Tá, eu só quero ir embora.
— Isso não acabou – Gustavo disse entre dentes para nós dois. – divirta-se com seu namoradinho, enquanto pode.
— Isso é uma ameaça? – disse Rafael se aproximando com o queixo duro e ficando cara a cara com ele.
— É uma promessa. – Gustavo deu uma ultima olhada em mim e seguiu seu caminho.

Eu estava desestabilizada, eu queria chorar. Minhas pernas estavam fracas e a respiração entrecortada. Eu nunca senti ódio de ninguém, mas naquele momento odiei Gustavo, com todas as minhas forças. E odiava ainda mais a mim mesma, por ficar afetada por causa daquele canalha. Rafael se abaixou e pegou alguma coisa no chão e falou com alguém. Eu estava tão absorta que não ouvi. Eu só conseguia sentir raiva e nada mais.


— Eu vou tirar você daqui. Vou cuidar de você – disse Rafael fazendo carinho no meu rosto. Ele me puxou, pelo outro braço, e me conduziu até seu carro, que estava estacionado atrás do meu. Abriu a porta do carro pra mim, me acomodou e arrancou o carro.
— Espera, meu carro! Eu tenho que voltar.
— Não, eu pedi pro meu motorista leva-lo de volta. Não se preocupe.

 Eu não consegui segurar as lágrimas, coloquei tudo para fora e chorei. Chorei muito, até não ter mais forças para chorar. Rafael respeitou o meu momento e me deu apoio. Não sabia para onde ele estava em levando, mas queria ficar perto dele. Chorar na frente do chefe não deve ser uma coisa certa a se fazer, mas foi inevitável. Eu tinha que colocar toda aquela raiva para fora ou explodiria e faria alguma besteira.

No caminho – para algum lugar que eu não sei qual – eu me acalmei, graças à presença de Rafael. Era tão estranho como ele me fazia bem. Assim como eu, Rafael também despertava coisas em mim. E, no fim, eu só conseguia me sentir grata a ele, por provocar essas coisas e cuidar, mesmo que não intencionalmente, de mim.

— Obrigada e desculpe pelo transtorno.
— Não teve transtorno nenhum, não precisa me agradecer. Mas se quiser processar aquele idiota por ter te ameaçado e te machucado pode contar com meu serviço como advogado. Ficarei feliz em ajudar.
— Eu só esquecer que o Gustavo existe. E quero contar com o amigo Rafael, posso?
— Sempre. – ele sorriu e pegou minha mão e levou a seus lábios onde plantou um beijo. Sabe aquela sensação de uma corrente elétrica percorrer todo o seu corpo? Foi assim que me senti e, involuntariamente, sorri.
— Que bom ver você sorrindo. Acho que seu dia melhorou um pouco.
— Graças à você melhorou um pouco.
— Bom, então vamos dar um jeito de melhorá-lo ainda mais. – estacionou o carro em frente a uma sorveteria.
— É serio?
— Sorvete de creme também é o meu favorito. – ele sorriu – depois eu te deixo em casa e você pode correr para o seu edredom e sua pantufa.
— Não preciso mais deles. Já tá ótimo pra mim.

A sorveteria era em um bairro próximo a minha casa. Modesta mas confortável. Rafael serviu duas bolas para mim e três para ele, caprichou na cobertura de caramelo para ele e de morango para mim. Nos sentamos e conversamos sobre nada e tudo ao mesmo tempo, foi leve e tranquilo. Senti um súbito calor e tirei minha jaqueta. Choveu de manhã e estava muito frio, mas esse clima era mais instável que Alice em dias de TPM, e o sol brilhava como se não houvesse amanhã. Enquanto tirava minha jaqueta senti uma dor incomoda no braço em que Gustavo me apertou, e assim que me libertei dela os olhos de Rafael – que antes estavam vidrados em cada movimento meu – foram parar imediatamente do meu braço.

— Dói? – disse passando as pontas dos dedos sobre as marcas em meu braço dolorido e a dor instantaneamente passou. Meu braço estava anestesiado onde ele tocou.
— Não muito, vou colocar um gelo quando chegar em casa.
— Esse cara não pode ficar te ameaçando desse jeito. Ele não pode sair impune disso. Foi uma violência! Vai denunciá-lo né? – me lembrei da oferta que ele me fez no carro, de ser meu advogado.
— Não vou à delegacia Rafael.
— Ele te ameaçou, te machucou. Há não ser que você ainda goste dele não vejo um motivo para você não ir. – ele estava bravo e temeroso.
— Não sinto nada por ele, a não ser raiva.
— Ótimo, então vamos.
— Não Rafael, eu não acho que o Gust ...
— Sabe quantas mulheres sofrem por ai dia após dia na mão de caras como o esse seu ex-namorado? – ele tinha razão.
— Tudo bem, eu vou. – cedi – Vou precisar de um advogado. – ele sorriu com isso.
— Não é minha especialidade, mas ficarei feliz em acompanha-la. Posso perguntar uma coisa?
— Claro
— O que houve?
— Ele me traiu com a vizinha.
— Você tinha me dito uma vez algo relacionado a isso – fiquei impressionada por ele se lembrar.
— É, eu fui uma tola. Perdi quase dois anos da minha vida com ele, achei que íamos casar e construir uma família. Pensei que ele realmente me amava. Mas não. Ele preferiu ficar com a loira oxigenada e peituda do apartamento da frente. O mais difícil foi ver que não foi só uma vez. Pelo que eu soube ele me fez de idiota por quase um ano.
— Eu sinto muito.
— Eu também – sorri sincera.
— Mas como você mesma disse, pelo menos você se livrou do traste. – meu sorriso se alargou.
— Não foi fácil, mas eu superei. Não penso mais nele, nem sinto nada. Na verdade eu nunca o amei. Na época eu achava que amava. Mas hoje eu vejo que não era amor. Eu me acomodei.
— Você já amou de verdade?
— Gustavo foi o único homem na minha vida. Eu hoje estou com 24 anos, começamos a namorar eu tinha apenas 18, estava apaixonada pela ideia da paixão. Mas quando acabou eu simplesmente não consegui me envolver com mais ninguém, estava machucada e com medo de que outros fizessem o mesmo que ele. Não creio que já tenha amado alguém, mas me apaixonei de verdade depois dele. É uma pena que eu não sou correspondida. – sim eu estava me declarando para ele, mas sem dizer que era ele o dono da minha paixão. Ele não precisava saber, afinal ele mesmo disse: “é complicado demais”.
— É uma pena mesmo.
— Você obviamente já se apaixonou.
— Por que obviamente? – ele sorriu curioso.
— Ah, você é bonito, inteligente, um imã para mulheres, tem tudo o que uma mulher pode querer de bom em um homem. Tenho certeza que pelo menos uma já fez seu coração bater mais forte.
— Já aconteceu. Me apaixonei duas vezes. Mas eu só vivi essa paixão uma vez.
— Como foi?
— Incrível. E aterrorizante.
— Aterrorizante? Sério?
— Sério. Geralmente eu sempre estou no controle de tudo, dos meus sentimentos, das minhas ações. Quando eu me apaixonei, nas duas vezes, acabei perdendo um pouco o controle.
— E isso é um problema?
— Quando coloca a vida de pessoas que eu me importo em risco sim. – então eu me lembrei que ele disse que era perigoso.


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