O dia se passou, e Violet não conseguiu nem comer por conta do choque, se trancou no quarto e passou o dia chorando e pensando em como seria sua vida se ela tivesse nascido em uma família estabilizada, se ela fosse uma garota normal popular e bonita, se seu pai fosse uma pessoa diferente e que soubesse controlar suas emoções e resolvesse os problemas apenas com uma conversa, pensou em como seria sua vida se sua mãe tivesse casado com uma pessoa que realmente a merecesse, pensou em como seria se ela não tivesse nascido... Violet pensou em muitas coisas, mas não conseguiu pensar no principal: em como salvar sua mãe de agressões físicas e tanta humilhação sem quebrar a promessa que fez. Os pensamentos de Violet são interrompidos por passos que ela ouve debaixo do seu quarto, são passos rudes e pesados, ela os conhece e percebe que seu pai chegou, depois não ouve mais nada e permanece no quarto.

Passado alguns minutos sua mãe a chama para o jantar e Violet desce para a cozinha, o dia estava nublado e por isso a mãe de Violet tinha feito uma sopa para o jantar, ela parecia orgulhosa do que tinha feito e quando Violet perguntou o que tinha para o jantar ela respondeu com um grande sorriso dizendo que era sopa, a sopa preferida de Violet e que até então ela achava que era a preferida de seu marido também. Violet sorriu e disse para a mãe: “O cheiro está ótimo, mamãe, eu adoro quando você faz essa sopa!”. Quando a mãe de Violet pôs a sopa na mesa para servir o pai de Violet fechou a cara e suspirou, as duas tinham percebido o ato mas ignoraram e apenas sorriram uma para outra. O pai ao colocar a colher na sopa fez expressão de nojo e começou a gritar jogando o prato quente de sopa no peito da mãe de Violet: “Eu tenho um dia péssimo no serviço, tenho que escutar desaforos do meu patrão pra chegar em casa e minha esposa que deveria cuidar de mim e da casa me faz uma gosma dessas?!”, Violet olhou para seu pai assustada e depois para a sua mãe que estava tremendo e parecia um pouco constrangida, sua mãe abaixou a cabeça e enquanto fazia gestos com a mão assoprando disse bem baixinho e com o máximo de respeito: “Querido... Violet esta na mesa. Eu pensei que você gostasse e fiz, você me disse que adorava minha sopa. Eu faço outra coisa se você quiser.”

Ele ignorou completamente o que ela disse e olhou pra Violet que estava chorando. “Por que essa garota esta chorando? Vá pro quarto agora, sua peste, e não saia de lá ate eu falar que pode, me escutou?” ele disse. Violet olhou para sua mãe que assentiu fazendo sinal para obedecer, ela obedeceu e subiu, Violet subiu as escadas o mais devagar que pôde e enquanto subia escutava fortes barulhos de talheres caindo no chão, a cada coisa que Violet escutava cair no chão seu corpo tremia e ela fechada os olhos imaginando o que estaria acontecendo com sua mãe lá embaixo.

Violet chegou ao quarto e decidiu quebrar a promessa que fez, não aguentava mais ver sua mãe com marcas diferentes no corpo quase todos os dias, não aguentava o jeito que o pai a tratava, não aguentava mais se esconder do pai quando ele chegasse e ter que trancar a porta do quarto com medo de ele ir ate lá e descontar seu estresse do trabalho nela, Violet chegou ao seu limite e agora estava pensando em como iria enfrentar seu pai. É claro que Violet não estava pensando em enfrentar seu pai no sentido físico, a menos que você seja um (a) lutador (a) de boxe com 17 anos, sabe que uma garota dessa idade jamais teria chance contra um homem maduro cheio de músculos de 30 anos. E apesar de tudo o que ele fazia, ele era pai de Violet e Violet não conseguiria fazer tal coisa. Ela pensou em várias coisas para falar, mas conhecendo seu pai sabia que ele não ia dar a mínima para o que ela dissesse quando chegasse do trabalho, então decidiu acordar bem cedo e falar com ele antes de ele sair para o trabalho.

Depois do jantar, Violet não foi autorizada a descer para a cozinha novamente e como não conseguiu jantar por causa da briga sentiu muita fome durante a noite, pois não tinha conseguido comer nada o dia inteiro. Então Violet ficou acordada até de madrugada, não aguentou e foi até a cozinha pegar alguma coisa para comer, Violet foi na ponta dos pés porque estava com medo de acordar seus pais, mas chegando lá ela percebeu que ninguém estava dormindo, bem...seu pai não estava dormindo, ele estava desesperado, com as mãos ensanguentadas na cabeça, repetindo baixinho “eu não quis fazer isso” várias vezes e olhou para Violet espantado, Violet não retribuiu o olhar. A primeira coisa que Violet olhou não foi o seu pai, foi para a sua mãe. Sua mãe estava estirada no chão com o seu vestido preferido lindo e branco manchado de sopa e sangue escorrendo de sua cabeça na parte de trás e com o rosto e corpo já pálidos. Maioria das pessoas quando acontece algo muito ruim com elas ou quando elas veem algo muito absurdo, tem a mania de esfregar os olhos para ver se elas não estão alucinando ou se estão vendo algo errado na esperança de isso ser verdade, e foi isso que Violet fez, mas aquilo não era uma alucinação, o que estava na frente dos olhos de Violet era algo real, numa madrugada fria como aquela Violet e seu pai não estavam dormindo, mas sua mãe sim, ela estava dormindo... para todo sempre.