Um Anjo Protegido escrita por Moolinha


Capítulo 9
Capítulo Nove




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— Olá, futura advogada. — Bennie me cumprimentou com um sorriso forte e despreocupado em seu rosto.

— Olá, doutor. — Abri os botões do meu sobretudo e exibi o vestido que eu vestia, que se encaixava perfeitamente na minha silhueta fina. Bennie olhou todo meu corpo e balançou a cabeça satisfatoriamente . Ele não parecia ser um nerd que se congelava todo quando chegava perto de uma garota.

Era totalmente descontraído, com um olhar atento e natural, que o revelava de um jeito normal. Sem um jeito psicótico e sorrisos sombrios.
Entramos em seu carro vermelho que eu mal sabia o nome. Muito cavalheiro, ele fez questão de abrir a porta para mim. No rádio, close your eyes, dos Beatles tocava numa altura razoável, que facilitou muito na minha audição quando ele perguntou com quem eu morava.

— Sozinha. — Respondi, formulando inúmeras mentiras na minha cabeça. — Meu pai vive numa fazenda. Ele queria que eu fosse veterinária, mas eu odeio animais.

Uma risada baixa escapou de seus lábios finos quando começou a falar de suas duas tartarugas. Acho que só achei o jeito de Bennie perigoso porque ele estava bêbado na noite passada. E todo bêbado fica descontrolado de seus atos. Parecia um desses caras que só queriam curtir com as garotas, o que é bem típico dos homens. Observei-o durante quase todo o passeio, e parecia totalmente inofensivo.

Apenas um americano de olhos azuis que gostava de sair nos finais de semana para beber cervejas e dançar. Eu tinha que tirar minhas conclusões, porque se ele fosse tão “certinho” assim, eu logo teria que sair fora dele.

Eu não procurava um Bad Boy e nem um Filhinho de Papai, mas precisava de alguém para curtir a vida de um jeito diferente, que deixasse Jim preocupado.

O carro parou e logo o funcionário encarregado de estacionar carros assumiu o controle, desaparecendo na imensidão de veículos parados no estacionamento.

— Pronta? — Perguntou, abrindo a porta para mim e me fitando com seus perspicazes olhos azuis.

— Nasci pronta. — Respondi, desligando o celular, para que meu pai não me ligasse, reclamando do horário.

Não tinha hora exata para voltar, porque é como diz um velho ditado popular: a noite é uma Criança.

A porta mecânica se abriu quando pisamos na placa de metal — semelhante a um espelho — que detectava quando as pessoas queriam entrar. Seguranças ficavam em todos os cantos da danceteria, com as luzes coloridas e estereoscópicas batendo em suas faces. Não haviam dançarinos dançando em plataformas, e ao invés disso, eram “gaiolas” acima do chão, cobertas por negras cortinas, onde qualquer casal que quisesse ter mais privacidade poderia ir. Poucas pessoas dançavam na pista de dança, enquanto a maioria ficava no bar, tomando drinks , sentadas em bancos metálicos e modernos, esperando que alguma música mais badalada e agitada tocasse.

Mal consegui enxergar o ambiente. Não eram meus olhos, e sim a escuridão que todo o lugar transmitia. Reconheci o piso preto e branco da pista de dança, uma parede vermelho-sangue que parecia bilhar quando os flashes batiam nela e espelhos. Muitos espelhos que mulheres ficavam paradas diante deles, arrumando o cabelo ou retocando a maquiagem.

Vou ter que agir como uma universitária. — Pensei, quando vi mulheres com vestido justíssimos “soltando a franga” na pista de dança.
É, pelo menos acertei no visual e não me arrumei com roupas de uma menina precoce.

Enquanto eu observava os bêbados, drogados e homossexuais, Bennie me surpreendeu com duas taças de uma bebida esverdeada e espumante. Ele abriu dois botões de sua camisa, deixando os pelos de seu peitoral não muito definido á mostra.

— Calor aqui, não? — Levantou os olhos, como se estivesse propondo alguma coisa. Será que ele queria me levar para aquelas gaiolas? — Quer dançar?

Tive vontade de rir. Mas para não ter uma crise, dei uma longa golada no meu drink. Senti um sabor amargo, que desceu queimando pela minha garganta, fazendo o calor me dominar. Uma sensação maravilhosa. Como ir ao paraíso. Virei a taça num só gole e sorri de um jeito amável.

— Não! — Quase gritei, pensando na possibilidade de nunca mais sentir o envolvente sabor daquela bebida na minha boca. — Eu quero mais. — Exigi.

Satisfeito, Bennie sorriu para mim um tanto sedutor e voltou com mais duas taças. Dei mais longas goladas e o senti o mesmo processo ao beber: o calor, e a queimação na garganta, como se meu pescoço estivesse sido cortado por uma faca.

Nítida e esfumaçada, a figura de Jimmy parou na minha frente logo depois que pedi a Bennie para pegar mais bebidas.

— Olá, Gasparzinho. — Cumprimentei- o com a voz cortante, sentindo a maioria das palavras se embolarem na minha cabeça.

— Belatriz... — Rosnou impaciente, porém com a voz rígida. — Você não tem medo de morrer?

Soltei uma gargalhada descontrolada.

— Senta aí... Vamos beber alguma coisa. — Revirei meus olhos, tentando voltar ao normal. — Você vem sempre aqui?

Uma careta aterrorizante dominou sua pálida face.

— Você está lamentável. — Falou com nojo, como se eu fosse uma ameaça para o Planeta Terra.

Fiz um barulho estranho com a boca e sorri de deboche, olhando bem no fundo de seus olhos verdes.

— Você é um esqueleto, não está vivo, e ainda está esquecido à sete palmos abaixo da terra e ainda tem a capacidade de dizer que eu sou lamentável? — Rebati. — Eu sou lamentável?! Ah, por favor! Olhe para você!

Mais tarde eu iria me arrepender profundamente de ter falado aquelas palavras. Mergulhei na inconsciência, perdendo o controle e a noção de tudo o que eu falava e fazia. Por um tempo indeterminado, Jimmy ficou ali parado, de braços cruzados, me olhando de modo enojado.

— Vai querer ficar bancando o papai? Vai ficar me proibindo de fazer tudo? — As palavras saíram da minha boca num jorro.

— Com quem você está falando, Belatriz?

Olhei em volta e vi Bennie com nossas taças. Dei rápidas e incontroláveis goladas em nossas bebias: na minha e na dele.

— Com meu anjo da guarda. — Jimmy havia desaparecido.

— Você está precisando dançar. — Encostou seus lábios no lóbulo da minha orelha esquerda e sussurrou, com um hálito quente. — Urgente!

Levantei da minha cadeira num pulo, segurei sua mão e o puxei para a pista de dança. No decorrer de todas as músicas, eu me esfregava no corpo de Bennie. Era músicas dançantes que transmitiam uma adrenalina eletrizante para o meu corpo. Não conseguia ficar parada! Era impossível! Colávamos nossos corpos, um ao outro e nos requebrávamos o máximo que podíamos.

 As mãos dele faziam longos caminhos pelo meu corpo — do pescoço até as coxas, onde fazia questão de apertá-las. Por tal atitude, rebolei de forma vulgar e sensual  e contorci todo meu quadril, tentando impressioná-lo com um jeito sexy, porque estávamos num puro jogo de sedução. Por fim, suados e bastante agitados, tomamos mais algumas bebidas até Bennie olhar no seu relógio e dizer que tínhamos que ir embora.

— São quase quatro horas...

— E daí? — Cuspi as palavras, protestando.

Ele soltou uma risada eufórica e revirou os olhos, que já estavam avermelhados.

— Tenho que trabalhar amanhã... Droga! — Reclamou.

Cambaleamos embriagados até o estacionamento, um apoiando-se no outro, rindo debilmente. Como dois malucos que fugiam de um hospício. Saímos do estacionamento e Bennie dirigiu em alta velocidade numa rua razoavelmente movimentada. Ele estava descontrolado, afinal, nós dois estávamos, que pensei que fôssemos rodas com o carro na pista.

Porque apenas rodar na pista era pouco. Muito pouco”. — Pensei, aumentado o volume do som do carro.

Ao invés de rodar e acabar de vez com minha vida, ele freou o carro bruscamente no meio fio e olhou para mim, com um sorriso tentador.
Naquele momento, o que aconteceu comigo era o que geralmente acontecia nos desenhos animados: olhei para meu ombro direito e fantasiei, como se estivesse um anjinho ali, falando para eu parar de fazer o que eu estava pensando fazer, sair do carro e não fazer nada de absurdo com ele. Já no meu ombro esquerdo, eu via um diabinho dizendo para eu fazer o contrário, ou seja, o que eu realmente tinha vontade.

Como eu estava a procura de confusões, confiei no diabinho. Agarrei minhas mãos no pescoço de Bennie e lhe dei um beijo rápido e selvagem,— diferente dos que eu costumo dar — colocando meu corpo em cima do dele. Eu sabia que estava fazendo tudo errado, mas era um beijo, apenas para saciar minha vontade. Não a vontade de beijar Bennie, mas sim de trazer Jimmy de volta. Por um lado, achei até bom: eu poderia deixá-lo mais louco e ele poderia fazer mais loucuras. Mas por outro, bem... Eu tinha um relacionamento com Jimmy e se ele soubesse ou até mesmo visse, jamais iria me perdoar. A sorte é que ele estava bravo comigo e devia estar bem longe numa hora daquela.

Não senti nada de sentimentalismo e a tão desejada “química” no nosso beijo desapareceu. Esquivei-me e falei ofegante:

— Vamos embora. — Me ajeitei no banco, tentando não olhar para ele.

Não falamos nem uma palavra, porque afinal, não tínhamos mais nada a declarar. Estávamos bêbados, não tínhamos noção de nada e tive a impressão que Bennie estava quase cochilando no volante.

Num determinando ponto, percebemos que estávamos fora da pista, entre o acostamento e o passeio. Num júbilo, Bennie virou o volante de todas as formas, mas acabou piorando tudo, porque batemos numa árvore, que estava no passeio. Como eu estava sem cinto de segurança, bati minha cabeça no vidro e senti uma dor fraca, mas atordoante. Até porque não foi um acidente tão grave, e sim razoável, mas que iria render um bom dinheiro para reparar os estragos do carro.

Permaneci sentada e por mim, eu dormiria ali mesmo, até alguém me tirar dali. Ouvi sirenes se aproximando e logo me perguntei se eu iria virar polêmica como Paris Hilton, Britney Spears e Lindsay Lohan.

A luz forte de uma lanterna se fixou no meu rosto, obrigando-me a fechar os olhos.

— Certo. Vocês dois, saiam do carro! Preciso ver seus documentos! Agora!


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