Um Anjo Protegido escrita por Moolinha


Capítulo 8
Capítulo Oito


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora! Estou entulhada com os trabalhos da uni :(



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Achei que eu tivesse levado uma pedrada na cabeça quando acordei no dia seguinte.  Consegui me levantar da cama pouco depois do meio-dia, depois de várias tentativas que Ana teve de pular na cama e gritar no meu ouvido.

Horas depois de acordar e ficar perambulando pela casa gritando o nome de Jimmy, percebi o que realmente tinha feito e que se eu quisesse trazer Jim de volta para o mundo real, como humano, teria de agir como uma outra pessoa...Uma Belatriz diferente.

Porque eu tinha um belo plano na cabeça. Um pouco estúpido, mas eu estava disposta a arriscar minha relação com meu anjo da guarda. Eu teria de fazê-lo, não havia outro jeito. Não queria ter Jimmy como fantasminha.

Não queria ficar trancada com ele noites em meu quarto. Eu queria ter um futuro com ele. Eu queria casar com ele, ter filhos, netos, bisnetos e ter meu túmulo ao lado do túmulo dele, quando fosse nossa verdadeira hora de partir. Porque nós tínhamos que ter um futuro. Não passamos por tanta coisa juntos para uma hora tudo acabar. Tinha que durar, tinha que ser para sempre.

A primeira ideia que surgiu na minha mente foi fazer a mesma coisa que Jack fez para “salvar” Bridget. Eu iria me arriscar cada minuto para que Jimmy me salvasse. Eu iria me revelar como nenhuma outra garota se revelou, iria fazer coisas diferentes de forma avassaladora.

Ou seja, entrar em confusões, correr perigo de propósito, como fiz na noite passada. Não fiquei morta de bêbada e atravessei o sinal vermelho por acidente. Claro que não. No fundo da minha cabeça eu tinha sã consciência do que fazer. Pensei que se batesse o carro com o outro carro, Jimmy iria me salvar, é claro. E aí já seria um avanço e a chance dele se tornar humano seria cada vez maior.

 Lembro que uma vez Louise me disse que Jimmy não era um rapaz muito bom, filhinho de papai. Era diferente e aproveitava a vida de um modo totalmente errado, se é que você me entende. Assim como Bridget, também, ele poderia ter uma segunda chance. Não havia outro jeito, eu o queria, eu o desejava, teria de arriscar até não aguentar mais para trazer Jimmy de volta. Dependia apenas de mim.

— Pensei que você fosse fazer como a Branca de Neve. — Ana gritou, correndo na minha direção. Tentou subir nas minhas costas, mas vacilou.
Minha cabeça doeu, mas eu disfarcei e ri.

— Onde está papai, Ana? — Beijei o topo de sua cabeça e a peguei no colo.

— Dormindo. — Ela apontou para ele.

Certo, eu deveria levar uma bronca por chegar quase cinco horas da manhã em casa, e ainda por ter vomitado no meu banheiro. E ainda tive de limpar tudo disfarçadamente.

— Pai. — Sussurrei, cutucando em seu ombro relaxado.

— Pai! — Falei mais alto, acrescentando ternura na minha voz.

Seus olhos descansados se abriram lentamente e bocejou, arqueando suas grossas sobrancelhas.

— Oh! Pensei que nunca mais fosse acordar, Belatriz. Como foi ontem?

— Eu me diverti... — Sorri.

Embora eu não me lembre de tudo o que aconteceu na noite passada, eu lembro nitidamente de poucas coisas, inclusive de Louise dançando com o cara da plataforma.

— Alguém ligou para você. — Ele esticou seus braços e pegou um papel embaixo da almofada. — Era um cara. Deixou número. — Ele me entregou o papel.

Analisei o número e peguei o telefone em cima da mesa de centro, indo para meu quarto. Repleta de curiosidade, disquei e esperei que alguém atendesse.

Era uma voz rouca, irritante e máscula que soou do outro lado da linha em quatro simples palavras: ”Olá, minha querida Belatriz.”.

— Quem está falando? — Perguntei, desinformada.

— Não se lembra de mim? — Pausou. — Sou o cara da noite passada.
“O cara da noite passada” dá uma tremenda impressão que fiz mais do que dançar com ele. Se é que você capta minha mensagem.

— Oi! — Respondi a ele, tentando lembrar seu nome.

— Sou eu! Bennie!

Bennie! Isso mesmo e não Brad. Permaneci calada e esperei que ele falasse alguma coisa.

— Então... O que acham de repetirmos a dose hoje? Tudo bem que hoje é domingo... Mas a noite é uma criança para nós universitários, não é mesmo?

— Isso aí... — Concordei.

— Topa ou não? Nós, universitários, alugamos uma casa de festas essa noite. Só para maiores de vinte anos. O que acha?
Imaginei-me em uma festa para universitários. Qual é? Eu, Belatriz Keaton, com dezessete anos de idade, em uma festa cheia de universitários bêbados, drogados e tarados.

Um bom jeito de correr perigo.

— Claro! Eu topo!

— Certo. Passo aí as nove, tudo bem?

— Nove horas? — Olhei no relógio e vi que eram cinco e meia.

Eu tinha que escolher minha roupa, sapatos, maquiagem e como usar meu cabelo.

— Muito cedo? — Estranhou, alterando a voz.

Afastei o telefone da minha orelha e dei uma gargalhada baixa. Certo, ri mesmo. Quem diria eu, Belatriz Keaton, saindo às nove horas da noite de pleno domingo para ir em uma festa de universitários. Geralmente eu ficava conversando e dando uns bons amassos em Jimmy, mas isso iria mudar.

— Perfeito! — Ressaltei minha voz, lembrando de tudo o que eu tinha que fazer para trazer Jimmy de volta como um humano.

Desliguei o telefone e passei o resto da tarde me preparando. Tentei usar uma roupa que me deixasse sexy, provocante e ousada ao mesmo tempo. Com cara de adulta. Coloquei um vestido justo e curto, que deixava boa parte das minhas fartas coxas a mostra e um salto bem alto. O maior que eu tinha. Não sei se citei, mas não sou alta e às vezes, para beijar Jimmy, é necessário que eu levante meus pés.

Era minha obrigação parecer uma mulher adulta e vulgar. Claro que se meu pai me visse daquele jeito poderia me deixar um mês de castigo, por isso coloquei meu batom vermelho na bolsa e um casaco negro, para que não pudesse ver meu vestido que era como uma tira de tecido preto.

— Vai tentar se matar outra vez? — Interrogou Jimmy, bem na hora em que eu abria a porta.

Não respondi.

Sem muita delicadeza, ele puxou meu braço e bateu a porta, dando a impressão de que as paredes do meu quarto iam cair.

— Como fez isso?

— Eu sou um fantasma. Bato portas e fecho portas e ainda balanço correntes. Faço coisas inacreditáveis quando estou com raiva. — Respondeu, grosseiramente.

— Eu tenho que ir. — Voltei para a direção da porta.

— O que aconteceu com aquele papo de ter futuro comigo? — Suas sobrancelhas se uniram e sua voz se alterou. — Acho que era apenas há meses atrás que você queria isso, não é? O que foi? Cansou de passar noites trancada no quarto?

— Eu não estava mentindo...

— Cale a boca! Deixe-me dizer uma coisa para você!

Encolhi-me.

— Não pense que sou satisfeito por ser assim, por que não sou. Eu queria estar aproveitando minha vida e fazendo coisas diferentes do que fiz antes, mas não posso. Você tem todas as oportunidades e fica agindo ridiculamente, jogando sua vida fora. Pense muito bem antes de fazer qualquer coisa. Porque uma hora, tudo pode acontecer do jeito que nós menos esperamos. — Murmurou.

— Eu não estou tentando me matar. — Menti.

— Eu sei, mas parece. Você vai dirigir bêbada hoje?

— Não.

— Vai se esfregar com aquele cara na pista de dança outra vez? — Ele me interrogava como um delegado e como se eu fosse uma assassina.

— Não. — Menti outra vez, sabendo que Bennie tinha outras intenções comigo.

— Você promete para mim que não vai fazer nada que te prejudique? Eu vou estar do seu lado para te salvar. — Pausou, olhando-me intensamente. — Mas você tem que ter consciência das coisas que você faz.

— Terminou, lançando-me um olhar de advertência.

Ele estava parecendo meu pai quando disse para eu ter consciência do que fazia. Só que no fundo de tudo isso, no fundo de toda a raiva que ele estava sentido, parecia verdadeiramente se preocupar comigo. Porque enquanto ele queria me proteger de tudo, eu agia como uma vadia inútil e mentirosa, a procura de alguma forma para “tentar me matar”.

Doía muito pensar em tais circunstâncias. Era como ter o peito perfurado por uma estaca, pois é como eu disse milhares de vezes: eu preciso fazer isso. Preciso trazer Jimmy de volta em carne e osso. A todo custo.

— Eu prometo que vou apenas dançar. — Disse a ele, cabisbaixa e com uma tremenda vontade de chorar.

Invento de ser emotiva nas piores horas. Suspirei e pisquei algumas vezes, impedindo que qualquer lágrima escapasse dos meus olhos.

— Eu sei que você está saindo com um cara mais velho e vivo... Mas como você me disse, nós temos um compromisso, e eu ainda estou aqui.

— Ele é apenas meu amigo, Jim. — Eu disse a “típica” frase que toda adolescente geralmente diz para o namorado.

De alguma forma, Bennie tinha um jeito meio, perigoso. Que parecia ser realmente o que eu precisava, por isso mesmo que aceitei o convite dele. Acho que será ótimo tomar umas doses daquela bebida com ele, e acho que será ainda melhor se ele me trouxer para casa bêbada. O interfone tocou e o atendi. Era Bennie que estava lá em baixo na portaria, me esperando.

— Eu tenho que ir. — Grunhi.

Jim se aproximou e tomou-me em seus braços num forte abraço e disse:

— Me preocupo com você e não quero que você fique como eu. — A ponta de seu lábio se repuxou num mero sorriso.

— Confie em mim. — Fiz minha voz parecer reconfortante.

— Eu amo você, Bells. — Disse, antes que eu pudesse desaparecer do quarto.

— Eu também, Gasparzinho. — Sorri.


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