Old Habits escrita por kelly pimentel


Capítulo 5
Eu estou grávida




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Entro no estúdio e encontro Tina que me dá um olhar de suporte, sentado um pouco a frente, com fones no ouvido e concentrado no trabalho feito por Anderson do outro lado do vidro acústico, está MB. Aguardo impacientemente ao lado de Tina por alguns minutos, então quando Anderson finalmente para, ela faz um sinal para o noivo que fala alguma coisa no microfone fazendo MB se virar. Quando nossos olhos se encontram ele parece alguém que acabou de ver um fantasma, assisto calada enquanto ele retira o fone sem desviar o olhar de mim. 

—Acho que por hoje já deu. – Anderson avisa saindo da cabine. – MB?

—Sim, sim... o áudio tá incrível, mas podemos repassar se quiser.

—Não, tá ótimo! Além disso, eu preciso ir para casa e você parece que precisa resolver outras coisas. – Ele diz piscando para mim antes de deixar a sala.

—Posso falar com você? – Pergunto me aproximando quando ficamos sozinhos.

—Agora?  - MB passa a mão na nuca de forma desconfortável.

—Sim. Podemos ir para algum lugar?

—Não. – Ele responde ficando de pé. – Eu não vou para lugar nenhum com você Lica, nem acho que temos qualquer outra coisa para conversar. Afinal de contas, o que você pode querer agora? Acabar com o que sobrou...

—Eu estou grávida! – Disparo. Eu tinha planejado fazer isso de uma certa forma, mas MB claramente não pretendia facilitar as coisas, então acabei me deixando levar pelo impulso de conseguir fazer com que ele se calasse, o que de fato consegui. Os olhos verdes de MB olhavam na minha direção, mas era como se olhassem além de mim, ele ficou momentaneamente pálido.

—Grávida? - Pergunta. Sua voz nem mesmo sai direito. - Eu não preciso saber da sua vida. - Ele fala tentando parecer indiferente, mesmo que inutilmente. Agora seu rosto está vermelho, uma das veias do pescoço saltada.

—Na verdade, você precisa sim. Eu estou grávida de você.

—De mim? –Ele ri nervosamente. -Ok, que tipo de brincadeira é essa?

—Eu não estou brincando. Eu estou grávida de sete semanas. Que é exatamente a última vez que fizemos sexo. - Bem, várias vezes numa mesma noite, mas isso não faz diferença.

—Lica, eu não quero parecer um escroto aqui, mas você não dormiu com o Felipe um dia depois? Já considerou a possibilidade de estar grávida dele. Acho que isso te daria o que você sempre quis.

—Seria um alívio. -Digo irritada. Parte de mim sabe que MB tem o direito de fazer essa acusação, mas isso não me impede de sentir raiva pela expressão de superioridade e convencimento na sua cara. - Mas não, esse filho não pode ser do Felipe porque eu não dormi com ele.

—Não? - Ele pergunta surpreso. - Então você estava tentando fazer o que comigo Lica? Me enlouquecer? Você sabe o quanto eu… isso quase me destruiu. Eu fui até aquele ateliê e soquei a cara do idiota. Eu quase fiz uma besteira.

—Como dormir com a Samantha? Não se preocupe, eu sei que vocês estão juntos. Eu só queria te contar, acho que você tem esse direito. - Aviso dando as costas.

—Lica, caramba! - Ele fala. Não me viro, então sinto as mãos de MB em mim, me virando em sua direção. -Espere um minuto.

—O que você tem para me dizer MB?

Ele fica calado me encarando, mal posso olhar nos seus olhos sem me sentir dividida entre uma vontade enorme de gritar com ele ou beijá-lo. Diante de seu silêncio, eu simplesmente saio apressada do estúdio e entro no meu carro.

………………………………………..x……………………….

Dois anos atrás…

Estou dançando com Tina e algumas amigas de faculdade numa festa no campus - tentamos arrastar Ellen, afinal de contas é o nosso último ano de faculdade, mas ela está escrevendo o código de um aplicativo para o projeto final do curso junto com Jota e usou o mesmo argumento “é o último ano” - quando ela me olha parecendo um pouco em conflito entre dizer ou não alguma coisa. Então viemos apenas eu e Tina, e acabamos encontrando um pessoal. Eu estou prestes a abrir uma cerveja quando minha amiga chama meu nome, encaro-a, mas ela não diz nada.

—Desembucha garota! O que é que você quer me dizer? Você estragou aquela minha blusa, não estragou? -Pergunto rindo, mas antes que ela possa falar qualquer coisa eu sigo seu olhar e dou de cara com MB, ele está conversando com um cara que desconheço. Fico boquiaberta olhando para ele.

—Você quer ir embora daqui? - Tina pergunta. É uma questão justa, eu estive evitando MB pelo último ano, por duas principais razões: a primeira delas era o fato de que eu nunca tinha ido visitá-lo no hospital, a segunda era o namoro com Felipe.

—Não. O contrário disso. -Afirmo. -Você acha que eu deveria ir lá falar com ele? Eu vou lá falar com ele!

—Eu não sei nem porque você pergunta. - Ouço Tina falar enquanto me afasto.

—... a maioria do equipamento é alugado. - Um rapaz moreno explica enquanto MB escuta com atenção, chego perto dos dois e meus olhos encontram os de MB.

—Oi. - Falo sem jeito. Um clima estranho se estabelece quando nenhum de nós dois fala mais nada, suficientemente estranho para que o colega de MB se despeça e diga que troca uma ideia com ele depois. - Sinto muito atrapalhar a sua conversa.

—Não… não. - Ele fala passando a mão na nuca. - Não era nada importante.

—Ok. - Afirmo sorrindo. - Eu só queria dizer oi e que estou feliz de te ver. Vou te deixar em paz agora. - Dou um passo para trás, mas MB avança na minha direção, compensando o espaço.

—Lica, você está ótima. - Ele diz. Fico sem graça, e ele percebe. - Sinto muito, eu não queria te deixar sem graça, eu só queria, eu não sei o que queria, antigos hábitos eu acho.

—Tudo bem. - Respondo. - Você também está ótimo.

—É, mas eu sempre estou. - ele brinca.

—É bom ver que você continua o mesmo.

—Não exatamente.

—Nas coisas boas pelo menos. Você está aqui com alguém?

—Eu vim apenas deixar uma amiga no dormitório e acabei ficando para festa. Um pessoal da minha antiga turma está aqui.

—Uma carona para uma amiga? Gentil como sempre.

—É, você me conhece. Eu sempre tenho que ser cavalheiro.

—E a sua amiga não se importa por você estar aqui agora?

—Não, não cabe a ela se importar com isso, mas e o seu cavalheiro da armadura brilhante? Ele te deixa desacompanhada em festas?

—Não estamos mais juntos. Terminamos alguns meses atrás. -Conto.

—Ótimo, assim não preciso fingir que me importo com ele. Você quer sair daqui e comer alguma coisa? - Pergunta me encarando. Noto o quanto senti saudades daqueles olhos verdes e expressivos. -Eu juro que te deixo em casa sem tirar nenhum pedaço.

—Qual a graça disso? - Pergunto sorrindo.

Envio uma mensagem para Tina e entro no carro de MB, que dirige até uma burgueria que fica há uns trinta minutos do campus.

—Então você largou mesmo a engenharia de som por administração? - Pergunto encarando-o enquanto esperamos nossos pedidos.

—Eu fiz um acordo com meu pai. Era isso ou simplesmente ser cortado da família. Além disso, eu não poderia me negar depois de tudo que ele fez por mim com o acidente e todo o resto. – Me sinto mal pela menção de tudo que ele passou. – Mas está tudo bem agora. E você, o que está fazendo? Estagiando?

—Sim, estou no grupo de iniciação cientifica e estagiando também.

—Então você agora é uma pessoa responsável? – Ele pergunta rindo.

—Não tanto quanto você, pelo que fiquei sabendo.

—Procurando saber sobre mim Lica? Não parece com algo que você faria.

—Claro que sim. Eu sempre quero saber como você está MB, mesmo quando... mesmo quando eu não estava lá...o que eu estou tentando dizer, bem perguntar, é se você não está chateado porque nunca fui te visitar quando você estava no hospital;

—Não. Eu sei que você esteve lá enquanto eu estava desacordado. Eu imagino que deva ter sido péssimo, e eu não estava nada bem depois que saí do hospital, então eu fiquei grato pelo fato de que você não estava lá para me ver naquele estado, embora eu tenha sentido sua falta.

—Eu sei que pode não parecer. - Digo me aproximando de MB. - Mas eu também senti sua falta. - Passo a mão no rosto dele e uno nossos lábios. -Sinto muito, eu não deveria ter feito isso. - Afirmo quando ele me encara surpreso.

—Não. Não deveria. - MB diz me beijando de volta.

………………………………………………………………..x………………...

A campainha toca e assim que abro a porta dou de cara com MB, eu realmente deveria fazer uma reclamação formal sobre o porteiro do meu prédio.

—Lica, eu sinto muito. Podemos conversar?

—Lembrou de mais alguma coisa terrível para me dizer? Outro possível pai para o meu filho.

—Você vai ter um filho meu, eu...

—Você não precisa pontuar o óbvio MB, eu já sei disso. Você também não precisa se envolver, não precisa fazer nada, eu sou perfeitamente capaz de fazer isso por conta própria, e só te contei porque achei que era a coisa certa a se fazer.

—Não me diga o que eu posso ou não fazer! - Ele afirma impaciente. - Lica, eu sinto muito pelo modo como reagi, mas o que você esperava? Estamos separados, transamos com camisinha, você tinha jogado na minha cara que dormiu com outro… eu não, eu não sabia o que dizer, mas esse é o meu filho e eu quero fazer parte da vida dele.

—Que gentil da sua parte. - Pontuo. -Era tudo que você tinha para dizer? Pode voltar para o Rio, para Samantha - frizo o nome dela com desprezo, sei que não deveria me sentir ameaçada por ela, sei que Samantha não tem culpa alguma em tudo isso, mas não consigo evitar. Começo então a fechar a porta, mas MB coloca a mão no caminho me impedindo.

—Eu não vou para lugar nenhum até você conversar direito comigo. Me deixa entrar, por favor, Lica. - A mão livre de MB esfrega o espaço entre as sobrancelhas e sei que ele está em conflito com tudo que está acontecendo. Na minha mente, posso ouvir Tina falando algo como “dá uma chance para o cara processar a notícia”. Então resolvo ouvir a versão imaginária da minha amiga.

—Primeiro, tire a mão da minha porta e nunca mais tente se impor dessa forma. – MB tira a mão do caminho e pede desculpas. – E tudo bem, você pode entrar. - Afirmo abrindo a porta de vez e deixando-o passar.

—Por que você procurou pelo Felipe depois da nossa briga? – Ele questiona me olhando.

—Essa é a primeira coisa que você quer saber? Sério? – Pergunto sentando no sofá.

—Sim. Eu não consegui parar de pensar nisso nos últimos dois meses.

 -Eu não sei MB. Você apareceu depois de semanas fora e me disse que estava com saudades, foi todo fofo, mas então me contou que estava se mudando. Eu me senti insegura, assustada e.… eu agi por impulso.

—Um impulso de fazer a coisa que mais ia me machucar? 

—MB, eu não posso voltar no tempo. A única coisa que eu posso é te garantir é que nada aconteceu. O Felipe me levou para casa, me colocou na cama e foi só isso. Além disso, eu podia dormir com qualquer pessoa, eram essas as regras.

—As suas regras. Regras que eu não queria mais seguir. Eu queria ficar com você, só com você...

—Você lembra que eu já quis isso antes e você estava muito ocupado com a Samantha, com a K1, com meio mundo?

—Eu tinha dezoito anos Lica, e ainda assim você já importava mais que todo o resto do mundo, mas você tinha transado com um amigo meu, e não dava para simplesmente passar por cima disso.

—Por que não? Ele era só outro cara. Você nunca ligou para nenhum outro, nunca teve ciúmes.

—Tinha. Eu tinha ciúmes sim, de todos, mas eu não acho que ciúmes é uma demonstração saudável de amor, e não fazia sentido em um relacionamento aberto. Além disso, nenhuma outra pessoa que você ficou de fato apresentava nenhum tipo de ameaça, eu sabia que você não ia simplesmente se apaixonar, mas o Felipe, ele era o que você estava procurando, talvez ainda seja. E eu tinha essa ideia de que ele podia te fazer feliz, enquanto eu não podia.

—Ele não podia. Nem pode. – Confesso. – Mas eu também não sei se nós dois, juntos, podemos ser felizes, tem coisa demais no passado para simplesmente passar por cima, esquecer... Como é que nós vamos ter um filho juntos se nem podemos ter uma conversa sem trazer toda essa bagagem? Isso é um erro. Eu não posso fazer isso.

 -Isso é ridículo! – MB afirma sentando ao meu lado. – Lica, você nunca nem nos deu uma chance de verdade. Em todos esses anos, nunca tirou a armadura, nunca me deixou entrar. Nosso relacionamento só é uma tragédia porque você se nega a ver as coisas do jeito que elas são, você se nega a ver o fato de que eu te amo mais que qualquer coisa nesse mundo, você se nega a aceitar o quanto é feliz ao meu lado. – As palavras de MB causam um frio no meu estômago. – Só me responda uma coisa: Quantas vezes você quis ligar para mim desde que eu fui embora? Seja honesta.

Encaro o rosto maravilhoso de MB e o beijo. Ele tem razão em uma coisa, eu senti sua falta.

—Lica... precisamos...

—Você quer saber se eu senti sua falta? Eu senti falta do cheiro da sua nuca, do toque das suas mãos, da sua boca...- Falo provocando-o.

MB começa a avançar suas mãos pela saia do meu vestido, pressionando seu corpo contra o meu, seu toque é cheio de pressa, tesão, eu ergo os braços para que ele levante o meu vestido totalmente e MB distribuí beijos pelos meus seios enquanto seus dedos circulam dentro de mim me fazendo gemer. MB levanta do sofá me levando junto com ele, uma das mãos na minha coxa, a outra apoiando minhas costas, e então ele nos leva para o meu quarto e me solta na cama, assisto enquanto ele termina se despir e abro minhas pernas encarando-o, ele vem na minha direção e retomamos as carícias.

Acordo horas depois, de madrugada, estou de costas para MB, encostada nele. Sua mão repousa no meu ventre. Dou um sorriso e me viro devagar para encontrar seus olhos abertos.

—O que você está fazendo acordado?

—Não consegui dormir. – Ele afirma. – Estava pensando em como as coisas vão ser daqui para frente. Eu tenho que voltar para o Rio em algumas horas, mas..

—Eu não quero fazer planos MB. Se você parar para pensar, nada mudou..

—Sério? – Ele pergunta levantando o corpo para me encarar. Está claramente bravo. –Isso só pode ser brincadeira. Lica, você precisa decidir o que quer... – Ele começa a dizer levantando da cama.

—Aonde você vai? – Pergunto enquanto MB procura por suas roupas. Ele não responde apenas deixa o quarto, eu me demoro na cama, considero a possibilidade de que ele esteja andando em círculos na minha sala, sendo dramático, mas quando finalmente me levanto, ele já foi embora. 


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