Old Habits escrita por kelly pimentel


Capítulo 6
"o que você quer?"


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouco mais que o normal, sinto muito, mas espero que gostem.



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Depois que MB foi embora da minha casa de madrugada ele simplesmente se recusou a me atender, então fui obrigada a ir atrás dele, não poderia deixar que voltasse para o Rio sem que antes tivéssemos uma conversa sobre essa gravidez, não sobre nós dois como ele queria ter, mas sobre como vamos lidar com isso. Me apresento na portaria e sou imediatamente liberada, o que me deixa confiante, mas na medida que o elevador se move eu começo a me preocupar com o que vou dizer, a verdade é que eu não tenho a menor ideia, não tenho um plano, nem mesmo minha impulsividade parece ter algo para destacar nesse momento, talvez ela tenha me abandonado.

Assim que toco a campainha MB abre a porta, ele não dá uma palavra, apenas abra espaço deixando que eu entre. Caminho até a sala, o percurso parece interminável, mas minha atenção é desviada pela mala de MB, que já está fechada num canto.

—Eu achei que o seu voo só fosse as 19h. – Observo.

—Eu quero me adiantar, talvez tenha trânsito.

—Todo esse trânsito daqui para Congonhas? Ainda são duas da tarde.

—Obrigado. É bom saber – ele retruca com um tom grosseiro, mas sem nem mesmo me olhar.

—Você vai embora mais cedo, para outro estado, para não ter que falar comigo? Bem maduro.

—Vou! Não é isso que você quer? – Ele pergunta me encarando.

—Não é o que eu quero.

—Então o que você quer Lica? Você quer ficar comigo quando for conveniente, mas continuar esperando que um cara perfeito apareça? Porque eu estou cansado, principalmente quando eu sei que você me ama, mas não quer deixar para lá esse ideal de parceiro que colocou na sua cabeça, um ideal que eu claramente não posso atender.

—Eu não sei MB, não é tão simples assim.

—É! – Ele afirma avançando na minha direção. – Deixa eu te dizer o que eu quero, eu quero que você tome uma decisão para que eu possa seguir a minha vida.

—MB, por favor, podemos parar um pouco com isso, parar de pensar em nós dois e pensar no fato de que eu estou grávida? Pensar nessa criança. Afinal de contas, nem tudo gira em torno de se voltamos ou não.

Ele fica em silêncio por um tempo, me encarando como se eu estivesse dizendo algo absurdo, mas aos poucos a ficha vai caindo e MB me olha com serenidade –Você foi no médico?

—Ainda não.

—Pode fazer isso numa data que eu possa vir? Eu gostaria de acompanhar, se você permitir, claro.

—Posso. Claro que posso. – Afirmo.

—Ontem, depois que você foi embora, eu achei que essa gravidez fosse o sinal que faltava sobre como deveríamos estar juntos, era nisso que eu estava pensando quando foi até sua casa, mas você não se sente assim, sente?

—Eu não estou mentindo quando digo que não sei MB, eu não sei se é a decisão certa, e com tudo que eu estou passando agora, com o choque de estar grávida no começo da minha carreira, minha cabeça está a mil, eu não quero tomar nenhuma decisão assim, eu não quero que eu ou você olhemos para o lado no futuro e percebamos que estamos juntos por um descuido. Não é assim que as coisas saudáveis são, ninguém deveria ficar junto por um filho.

—Você tem razão. – Ele afirma. –Eu sinto muito e não vou insistir.

—Tudo que eu quero agora é focar na gravidez, em organizar a minha vida considerando-a.

—Tudo bem. Eu entendo.

—Você nunca me perguntou se eu pretendia ter o bebê. – Pontuo.

—Não preciso. Eu te conheço bem o suficiente para saber que você não me contaria se já não tivesse tomado uma decisão.

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—Então, o que aconteceu? Vocês voltaram? – Keyla pergunta enquanto caminhamos pelo shopping.

—Não. Nós falamos sobre o bebê. Ele disse que quer fazer parte da vida dele, que quer fazer isso comigo e que vai tentar passar mais tempo aqui em São Paulo, essas coisas. Por sinal, ele volta na sexta porque temos uma consulta.

—E você vai mesmo fazer isso assim? Lica, o Tonico não tinha pai nenhuma até o Tato e foi aterrorizador, acredite em mim.

—Claro que foi, mas você só tinha dezessete anos. Eu sou uma mulher, não uma adolescente despreparada.

—Sim, você tem razão, mas suporte faz toda diferença.

—Eu tenho suporte. Eu tenho você, a Benê, a Tina, tenho a minha mãe, a Ellen mesmo de longe, tenho o MB. Filhos vivem com pais separados o tempo todo e ficam bem, o Tonico mesmo só vê o Deco o que, duas vezes no ano?

—Sim, mas o Tonico tem o Tato, ele é louco pelo Tato. O Deco mal consegue convencê-lo a passar dez dias com ele nas férias porque o garoto morre de saudades do pai.

—Você tá me dizendo que mães solteiras não podem criar filhos?

—Ai Lica, não, claro que não, mas tudo isso já é uma guerra e sozinha fica ainda mais difícil.

—Eu já disse que não estou só, a senhora mesmo me deve várias trocas de fralda, pelos dois anos que eu troquei fraldas do Tonico. – Afirmo rindo.

—Claro, claro que você não está sozinha sua ativista patricinha. E eu sinto muito por ficar colocando pilha errada, tenho certeza de que vocês vão ficar bem, que tudo vai ficar bem. Agora, vamos comprar alguma coisa para esse bebê, eu quero passar na frente das outras tias.

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Um ano e meio atrás...

—Esse filme é uma porcaria. – MB diz enquanto avança a mão no balde de pipoca. Bato minha mão na dele tentando impedi-lo. – Vai me negar um pouco de pipoca, sério? – Ele pergunta mordendo o lábio. Tento conter a vontade de beijá-lo, estou, afinal de contas, tentando estabelecer um ponto.

—Você já comeu a sua, além de estar falando mal de um bom filme, você não merece a minha pipoca.

—Não? – Ele pergunta passando a mão na minha nuca e me puxando para um beijo. – E por que eu não mereço?

—Porque mentiu para mim. – Pontuo encarando-o severamente. Não estou brava de verdade, mas não posso dizer que a ideia seja refrescante, embora tenha sido minha.

—Ah, então isso não é sobre o filme? – Ele pergunta. – É sobre ontem.

—Claro. Vai me contar como foi?

—Não acho que isso era parte do acordo. – MB observa. – Mas você deve conhecer as regras melhor do eu, foi você quem as escreveu. – Ele ri. – Quer mesmo saber como foi o meu encontro?

—Quero, mas principalmente quero saber porque mentiu para mim. Quando sugeri que voltássemos a ter um relacionamento aberto, era para evitar mentiras.

—Eu não queria que você soubesse que eu estava com outra pessoa, é estranho, eu sinto como se estivesse fazendo algo errado.

—Mas não está.

—Eu sei, mas você tem certeza de que essa é a melhor opção?

—MB, - Desligo a televisão e me levanto para juntar um pouco da bagunça que fizemos na sala– você sabe como eu me sinto por você, certo? Mas em alguns momentos eu desejo ser outra pessoa, uma pessoa livre, que pode fazer o que quiser. Se nós decidirmos pela monogamia, vamos ficar entediados, ambos, acredite em mim. – Afirmo caminhando pelo apartamento.

—Ok, eu faço esse sacrifício de ficar com outras mulheres. – Ele debocha.

—Seu idiota! – Falo sorrindo. – Agora me conte, o que ela fez com você?

—Venha aqui e eu te mostro! - Ele fala. Aceno a cabeça negativamente soltando um “hum hum” com um sorriso nos lábios. MB então fica de pé e caminha na minha direção, me afasto em direção ao quarto e ele avança conseguindo me agarrar pela cintura. Passo minas mãos ao redor de seu pescoço e o beijo, então entramos no quarto.

MB está terminando de tirar a camisa quando escutamos a voz de Ellen alarmada. “E quando você pretendia me contar Jota?” – A voz dela ecoa pelo quarto. MB faz menção e ir em direção a porta, mas eu o interrompo.

—Não. – Digo baixinho puxando-o para sentar na cama. – Não atrapalhe. – Ellen é o tipo de pessoa que odeia confrontos, para ela estar gritando com o namorado algo sério deve ter acontecido, e eu não vou impedi-la de se expressar aparecendo.

—Ellen, por favor, dá para tentar me escutar? – Jota pergunta.

—Não haja como se eu estivesse sendo irracional. Nós tínhamos um acordo.

—Não parece certo ficar aqui ouvindo. – MB sussurra.

—Calado! Ela vai ficar morta de vergonha se souber que estamos aqui. - Peço.

—Mas eu já tinha feito a inscrição... - Escuto Jota dizer.

—E porque não me contou? Se você tivesse me dito, tudo ia ficar bem, eu entenderia, mas você tinha que fazer isso pelas minhas costas não tinha?

—Eu achei que não ia conseguir, então não importaria, nunca teríamos que ter essa conversa.

—Você achou que não conseguiria ou que tinha medo de que eu passasse no programa e você não, você sabia que só era uma vaga. Foi por isso que combinamos que nenhum de nós se inscreveria.

—Você tá querendo dizer que é melhor do que eu? - O namorado da minha amiga pergunta.

—Você vai negar que sabia que eu tinha mais chances de ser aprovada? Afinal de contas, você teria mentindo se isso não fosse verdade?

—Eu não pretendia ir! – Jota grita. O tom dele faz com que MB me pergunte se não deveríamos entrar na sala, nego, conheço Jota o suficiente para saber que ele ladra, mas não morde. – Eu nunca iria sem...

—Então porque me contou? – Ellen questiona. – Você entende o quanto isso é ridículo? É claro que você quer ir, você me contou porque sabe que eu nunca te pediria para ficar. E eu não vou, por favor, vá embora, vá embora do meu aparamento, da minha vida, do país, simplesmente vá embora, eu não quero mais olhar na sua cara.

—Ellen...

—Não. Eu não quero ouvir mais nada. – Minha amiga fala com firmeza. –Apenas vá embora.

Escuto a porta bater e em seguida um grande silêncio se estabelece.

—Você sabe o que aconteceu? – MB pergunta vestindo a camisa.

—Uns meses atrás eles combinaram de não se inscrever para uma vaga num programa de treinamento de uma empresa famosa da Califórnia porque só tinha uma vaga e eles estariam concorrendo um contra o outro, o que poderia criar um atrito na relação, mas parece que o Jota se inscreveu mesmo assim, e que passou se eu entendi bem.

—Que grande idiota. - Meu namorado afirma me encarando.

—Eu vou lá fora, tentar falar com a Ellen, vê se ela precisa de alguma coisa.

—Ok, eu vou para casa. Você me liga mais tarde?

—Claro.

Quando abrimos a porta damos de cara com Ellen no sofá, sentada, encarando o nada. Ela se assusta ao notar nossa presença.

—Vocês chegaram agora? Eu nem noite, desculpa. – Ela não está chorando, parece muito mais chocada do que qualquer outra coisa.

—Não exatamente. – Mb diz. Dou um tapa em seu ombro.

—Vocês estavam aqui o tempo todo?

—Sinto muito. – Digo sentando ao lado dela. – Você está bem?

—Não, mas eu vou ficar. – Ellen diz me olhando. Um monte de porcaria já aconteceu na minha vida, eu já passei por tanta coisa, não vai ser isso que vai me derrubar. Não mesmo! – Ela diz ficando de pé. – Eu vou tomar um banho e voltar para o laboratório do campus, tenho que finalizar um código e acompanhar a monitoria. Ele não vai atrapalhar minha carreira duas vezes, ninguém vai. – Ela parece falar mais consigo mesma do que comigo.

—Ellen, você precisa de uma carona? – MB pergunta. -Eu posso esperar.

—Claro, se não for te incomodar.

—De forma alguma. – Ele responde. Ellen entra no banheiro e MB senta ao meu lado. – Isso foi estranho. – Ele pontua.

—A Ellen é assim mesmo, eu só me preocupo com como essa experiência pode afetar as próximas relações dela, parece que todo o amor que ela sentia se transformou em ódio em dois segundos.

—Não se transformou não. Você pode até odiar alguém que amou, mas não pode parar de amar alguém mesmo que o odeie.

A frase de MB me impacta, me pergunto se ele está falando por experiência própria, se ele chegou a me odiar em algum momento, mas mesmo assim não conseguiu parar de me amar.

—Desde quando você ficou tão profundo?

—Eu sempre fui. –Ele diz beijando meu rosto. – Não é você mesma quem diz que eu sou uma alma atormentada? Almas atormentadas estão sempre pensando profundamente sobre amor.


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