Old Habits escrita por kelly pimentel


Capítulo 2
Erro de julgamento


Notas iniciais do capítulo

Voltei, obrigada pelo incentivo. Espero que gostem do segundo capítulo. :)
Devo postar semanalmente.



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Benê é, obviamente, a primeira a chegar. Somos o máximo de contraste em termos de disposição. Enquanto minha amiga já treinou, tomou café da manhã e está pronta para ajudar na arrumação do meu apartamento, tudo que eu fiz hoje foi me arrastar da casa do MB para cá em um táxi, usando as roupas de ontem. Tina e Ellen chegam juntas, ambas parecem sonolentas, devem ter ficado até muito cedo na casa de shows. Benê se oferece para fazer um suco enquanto eu as meninas começamos a mover algumas das caixas.

Quase uma hora depois a quinta integrante do nosso grupo chega. Keyla entra animada e nos abraça.

—Olha o que eu ganhei! -Ela afirma balançado uma sacola. Observamos enquanto nossa amiga abre a bolsa e exibe um par de saltos maravilhosos.

—Quem te deu? - Ellen pergunta. - Presente do Tato?

—Não, eu comprei para me dar de presente. - Ela afirma sorrindo.

—Alguma ocasião especial? - Questiono.

—Além do fato de que tenho pés bonitos? Sim, eu acabei de ser contratada para dar aulas!

—Meu Deus, isso é incrível! - Afirmo abraçando-a. Antes que eu possa perceber estamos num abraço coletivo comemorando o emprego novo da Keyla.

—E o Butantã? - Tina pergunta assim que desfizemos o abraço.

—Vou dar aulas à noite, apenas três turmas. Então posso ficar em ambos sem problemas. Só vai ser ruim quando o Tato estiver viajando a trabalho, mas eu sempre posso deixar o Tônico com o Roney. Meu pai e a Josefina amam ficar com ele.

Sempre achei engraçado o modo como minha amiga se refere ao pai pelo nome, eu também faço o mesmo, mas é claro que no meu caso isso é devido ao fato de que o meu pai é um traidor duas caras que enganou minha mãe por anos e destruir a nossa família.

—É impressão minha ou você está usando a mesma roupa da noite passada? -Keyla pergunta me encarando com certo julgamento.

—Ela não dormiu em casa.-Benê pontua.

—Claro que não. - Keyla sorri. - Matando a saudade do MB?

—Não era exatamente saudade.

—Claro, claro… continue se enganando Lica. Isso é bastante saudável. Só fazem o que… uns oito, nove anos?

—Falando em anos, o aniversário do Tônico não está chegando?

—Claro, mude de assunto. A sua sorte é que o MB é louco por você, acredite em mim, nem mesmo o Tato teria tanta paciência.

—Você fala como se o MB fosse um santo.

—Não. Ele não é. - Tina afirma. - Nem você. E é por isso que vocês dois combinam tanto, mas é claro que depois de todo esse tempo você ainda quer fugir dele, você ainda está esperando que algo “melhor” apareça.

—Podemos falar de alguma coisa além de homens? - Ellen afirma. Eu sei bem que ela chateada porque tudo faz com que a mente dela pense em Jota e no modo como ela precisará encará-lo caso aceite a vaga de emprego na Califórnia, mas não digo nada. Na verdade, estou feliz com a pontuação dela, já que me livra de responder e ouvir acusações sobre MB.

—A Ellen tem toda razão. Como mulheres altamente capacitadas e independentes, podemos ter uma conversa que não gire em torno de homens, certo? - Provoco.

—E sobre o que você sugerem conversar? - Benê questiona. - Porque realmente deveríamos tentar trabalhar mais e falar menos.

—Sim senhora! - Tina brinca batendo continência.

—Podemos falar sobre seu trabalho Lica. Alguma coisa interessante chegando nas ruas? Eu adorei a peça para a campanha do orgulho LGBT, aquilo foi incrível. -Ellen pontua

—Sem falsa modéstia, eu também adorei. Foi uma das coisas mais gratificantes que eu já fiz em termos de trabalho, mas não temos mais nada tão bacana esses dias, quer dizer, muita coisa bacana, mas tudo bem mercadológico, por sinal, depois quero falar com você sobre um projeto transmídia que estou querendo usar para um cliente, para que você me diga se é tecnicamente viável.

—Lica, que tanta porcaria é essa? - Tina diz abrindo uma caixa e nos interrompendo. - Eu não acredito que você ainda tem essas tralhas do tempo de escola. - Todas paramos o que estamos fazendo para olhar na caixa. Bilhetes trocados, trabalhos, fotos velhas, cadernos, agendas.

—Ok, você me pegou. - Falo sorrindo. - Eu sou uma acumuladora, mas na verdade essa caixa veio da casa da minha mãe, não via isso em anos.

—Lixo? - Tina questiona.

—Não. Você pode colocar no meu closet, eu vou olhar com calma depois.

Continuamos desencaixotando livros, roupas e outras coisas até o horário de almoço, então tomo um banho e telefono para um restaurante próximo e fazemos nossos pedidos. Encerramos o dia juntas com um grande pote de sorvete e uma comédia na TV.

—Já sabe o que vai fazer sobre a proposta de emprego? - Pergunto a Ellen. Ela é a última das meninas a ir embora.

—Se eu estivesse sendo racional, eu simplesmente diria sim e faria o que é melhor para minha carreira.

—Eu não sou a melhor pessoa para te aconselhar. - Digo olhando.

—Na verdade, você é a pessoa perfeita. Você nunca deixa as coisas te abalarem, eu lembro de quando o MB se machucou e você não… - Ela para. Talvez algo na minha expressão tenha entregado o modo como aquela lembrança me faz sentir. - Sinto muito, sei que você não gosta do assunto, mas eu só queria dizer que você é tempestuosa, e isso é bom. 

—Tudo bem. - Minto. - De qualquer forma, eu tenho certeza de que você vai tomar a decisão certa.

Nos despedimos e ela vai embora, então me jogo no sofá da minha sala, agora finalmente arrumada, sem nenhuma caixa no meio do caminho, mas não consigo deixar de pensar no que Ellen falou, eu sou mesmo tempestuosa, mas eu não sei se isso é mesmo uma boa coisa.

Lembro do acontecido, MB estava uma bagunça por causa do vício em bebida, eu tinha transformado toda dor com relação à separação dos meus pais em um comportamento autodestrutivo e todo sofrimento com relação ao fato de que Clara sabia de tudo e me escondeu em uma obsessão pelo Felipe, então MB era a última coisa na minha lista de prioridades. Então ele sofreu um acidente de caro, capotou diversas vezes e estava entre a vida e a morte no hospital e tudo que eu fiz foi me comportar de uma forma ainda mais desajustada, eu não estive lá por ele, não consegui estar, em vez disso, eu me aproximei ainda mais de Felipe.  

Ligo o computador e tento trabalhar um pouco, tenho uma campanha para apresentar. Estou justamente finalizando uma peça quando a portaria me avisa que MB está subindo. Abro a porta assim que campainha toca e dou as costas voltando para o computador, MB me segura pelo braço e me puxa de volta, esbarro em seu peito e ele me beija.

—Viu só? Quanto mais você me esnoba, mas eu quero ficar com você.

—Esse é um péssimo argumento MB.

—Seria se você também não quisesse estar comigo, então eu seria só um idiota insistente, o que não é o caso. - Ele fala presunçosamente. - Ou é?

—Não. Não é. - Respondo fazendo com que MB dê um sorriso cínico.

Me solto de seus braços e volto para a minha estação de trabalho, em pouco tempo MB está atrás de mim, falando no meu ouvido.

—O que a minha designer predileta tá fazendo? - Ele coloca o telefone em cima da minha mesa.

—Fechando um peça que preciso entregar amanhã.

—Fechando? Então quer dizer que se eu te convidar para jantar fora você aceita?

—Depende. Onde você pretende me levar?

—Que tal irmos naquele italiano que você adora?

—Um lugar calmo? Você não vai me pedir em casamento, vai?

—Não, não ainda. - Ele diz beijando meu rosto. - Vou deixar você trabalhar.

Olho por cima do ombro enquanto MB se joga de coturno em cima do meu sofá branco e liga a TV, disfarço meu sorriso e volto a me concentrar no trabalho, mas então, depois de alguns minutos, o telefone de MB acende e observo a notificação “nova mensagem de Samantha”, baixo a tela rapidamente e vejo apenas parte do texto “Adorei te ver outra vez, espero que possamos”... Possamos o que? Minha mente pergunta. Sinto uma raiva daquilo que não parece ter explicação, mas não digo nada. Finalizo o material e aviso que vou me trocar, quando volto o celular não está mais na mesa, e sim na mão de MB.

—Uau! - Ele diz ficando de pé e vindo na minha direção. - Você está tentando me fazer desistir de sair? - ele pergunta olhando para a minha roupa. Estou vestindo uma saia preta curta com uma blusa cropped da mesma cor.

—Pare de me olhar como um pervertido. - retruco esquecendo, mesmo que só por um segundo a Samantha.

—Eu não acho que posso de fato, não quando diz respeito à você.

—Vamos embora antes que eu desista de sair. - Afirmo puxando-o em direção à porta.

Já no restaurante, nos sentamos numa mesa perto da sacada, o que faz com que eu fique com frio e MB insiste para que eu vista sua jaqueta, o que acabo aceitando.

—Eu sei que disse não ia te pedir em casamento. - MB diz assim que pedimos. - Mas tem algo importante que quero falar com você. -Sinto um pequeno aperto do meu peito, nem quero imaginar o que pode ser. -Você sabe que uma das condições do meu pai para não me cortar totalmente depois de tudo que aconteceu foi eu assumir os negócios…

—Sei. - Digo com certo desgosto. Detesto que MB desistiu de fazer algo que amasse para seguir os passos do pai, mas entendo o sacrifício que ele está fazendo.

—Então, eu estou adiando isso porque, para ser honesto, porque eu não queria ficar longe de você, mas eu preciso ficar no Rio por um tempo.

—Algumas semanas? Eu posso sobreviver MB

—Não. Alguns meses, talvez um ano.

Não tenho tempo de reagir, pois, o garçom se aproxima com os nossos pratos.

—Obrigado. - MB afirma assim que o homem termina de por os pratos na mesa. -Você não vai dizer nada? - Pergunta quando o garçom se afasta.

—O que eu posso dizer MB?

—Não sei Lica! Que vai ficar tudo bem, que eu e você podemos passar por isso sem nos separar, que o Rio fica aqui de lado, que você vai me visitar.

Sinto algo vibrar e percebo que o telefone de MB está dentro da jaqueta, coloco a mão devagar no bolso e retiro-o por baixo da mesa. Observo a foto de Samantha sorrindo na tela.

—Eu posso dizer que a Samantha está te ligando. Serve isso? - Questiono mostrando o telefone. MB pega o telefone da minha mão, ele não parece irritado, nem mesmo surpreso.

—Eu avisei que estava com você, mas é claro que a Samantha sendo quem é faria algo assim. - Ele diz calmamente. - Eu encontrei com ela no Rio.

—E?

—Nada aconteceu Lica. Achei que você não quisesse discutir esse tipo de coisa.

—Isso não se aplica a Samantha.

—E por que não?

—Porque você foi um idiota comigo quando estava com ela. Porque você me colocou em segundo plano diversas vezes.

MB passa a mão no rosto e me encara.

—Eu não quero falar do passado. -Parece que desistiu de falar algo, posso imaginar o quê.

—Você quer jogar o Felipe na minha cara agora? - Pergunto irritada erguendo meu tom de voz.

—Não. Eu não quero nem ouvir o nome desse idiota. - Ele devolve no mesmo tom. Então o garçom se aproxima e pede para que baixemos nossos tons ou ele terá que pedir para que nos retiremos.

—Não precisa. - Aviso ficando de pé e pegando minha bolsa. - Eu já estou de saída.

—Lica, por favor… - Escuto MB gritar, mas não paro. Saio do restaurante e entro no primeiro táxi livre que encontro. Na manhã seguinte, eu acordo na minha cama e Felipe dorme ao meu lado.


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