Old Habits escrita por kelly pimentel


Capítulo 3
"Você deveria saber"


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, obrigada pelos comentários. Estou adorando compartilhar essa história com vocês. Espero que gostem do capítulo novo. Estou tentando manter minha meta de postar toda semana.
Abraços!



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Levanto da cama assustada enquanto  Felipe dorme. Estou apenas parcialmente vestida e tudo que lembro da noite passada foi ter entrado no táxi e ligado para Felipe, ele concordou e me ver e começamos a beber, depois disso, nada. Não faço a menor ideia do que aconteceu. Encaro relógio, são oito e meia, estou atrasada para o trabalho e tenho uma reunião em meia hora. Abro as portas do closet tentando não acordar Felipe e me visto o mais rápido que posso, escovo os dentes, pego meu computador e saio correndo.

No caminho, confiro as várias mensagens de MB me perguntando onde estou, dizendo que passou no apartamento e que precisa viajar para o Rio em alguns dias, mas que não quer ir embora sem falar comigo. Eu me sinto terrível, não posso acreditar que retomei aos velhos hábitos com tanta facilidade, não posso acreditar que dormi com Felipe. Compartimento meus problemas enquanto xingo o trânsito, preciso deixar o meu momento de descontrole para depois. Entro na agência e minha estagiária, Ane, vem na minha direção.

—O cliente acabou de chegar, o atendimento está desesperado procurando por você.

—Tudo bem. Me faça um favor, afirmo passando minha carteira, compre uma pílula e um café e me traga na sala, tire o comprimido da embalagem. - Então respiro fundo e entro na sala de apresentações toda sorridente e me desculpando pelo pequeno atraso. Os clientes abandonam as caras amarradas quando veem as peças e o conceito criado pela equipe de redação, o que me deixa mais calma.

Ainda estamos no meio da reunião quando nossos cafés são servidos, o meu acompanha um pequeno comprimido em um copo descartável, engulo-o tentando não pensar nos últimos acontecimentos, principalmente, porque eu não sei exatamente parte do que aconteceu.

Quando saio da agência, por volta das oito da noite, encontro MB parado na recepção. Ele está de terno e gravata, suponho que veio direto do trabalho.

—Podemos conversar? -Pergunta.

—Eu não acredito que você veio até aqui.

—Claro que vim Lica. Você saiu do restaurante daquele jeito, eu corri atrás de você, mas não consegui alcançar, te liguei, fui no seu apartamento, te liguei novamente, deixei mensagens… Eu estava preocupado. Até liguei para as meninas. -Minhas amigas haviam enviado mensagens dizendo que MB estava me procurando e que estavam preocupadas, mas eu respondi todas elas apenas com um “estou bem, estou trabalhando”.- Lica, a Samantha não significa mais nada para mim, já você, meu Deus, você significa tudo.

—Ela ferrou com a sua vida eu não entendo porque você…

—A Samantha não fez nada, não me forçou a nada. Todas as escolhas ruins que eu fiz, foram por mim mesmo. Eu não teria dois anos de sobriedade agora se achasse mesmo que me tornar um alcoólatra foi algo que começou por causa da Sam, mas eu não quero falar sobre ela, eu quero conversar com você sobre a minha ida para o Rio.

—Como vocês se reencontraram? - Pergunto.

—No Rio. Ela mora lá agora, você sabe que ela é atriz.

—Então você está indo morar no Rio e, convenientemente, a Samantha, que também mora lá, acaba de reaparecer na sua vida?

—Não. Eu a procurei um tempo atrás, alguns meses, eu tinha que fazer emendas com pessoas do meu passado.

—Emendas? Claro que a Sam está na sua lista, que tal o Felipe?

—Lica, eu já falei que não quero esse cara na minha vida. Nem quero ouvir falar dele...

—Sinto muito MB, mas eu preciso terminar essa conversa falando nele, porque foi para ele que eu corri na noite passada. - No momento que as palavras saem da minha boca eu me arrependo, eu queria machucá-lo, mas a expressão no rosto de MB, o modo como ele me olhava, fez com que eu entendesse que tinha passado do limite.

—Você o que? Você dormiu com o Felipe?

—Dormi sim! Agora você pode ir dormir com Samantha e com quem mais você quiser no Rio - Afirmo. MB se cala e dá as costas para mim, os punhos pressionados, o corpo rígido. E então ele se vira para mim novamente posso ver o quanto ele está abalado.

—Você deveria saber que eu não ia suportar isso, que essa era a única coisa que eu não ia engolir, não outra vez. - ele afirma dando as costas e indo embora.

Foi a última vez que vi MB, uma semana depois ele se mudou para o Rio de Janeiro, não contei a nenhuma das minhas amigas sobre o que aconteceu entre nós, nem mesmo contei que havíamos terminando. Até onde todas elas sabem, eu e MB continuamos juntos, em cidades diferentes, o que é uma boa desculpa porque desde a briga com MB, desde que acordei na cama com Felipe, eu não consigo nem pensar em ficar com outra pessoa. Na verdade, tudo que eu consigo pensar é em como MB está lá no Rio, ao lado de Samantha.

Tudo piora quando Benê me manda uma foto com os dois juntos nume evento e me pergunta desde quando eles são amigos. Encaro a foto com uma raiva sem igual, é como voltar no tempo, me sinto novamente a garota dezessete anos que sugeriu um relacionamento aberto, mas morria de ciúmes do namorado. Me sinto novamente como a garota que deixou o que sentia no não dito e seguiu em frente, mas talvez, dessa vez, essa seja a coisa madura a fazer. O que eu poderia fazer? Ligar para MB e dizer: Eu quero ficar com você? Eu havia ido para cama com Felipe, com quem também tenho evitado falar, não havia nada que pudesse fazer MB mudar de ideia.

Um mês depois, eu estou no meio de uma reunião quando tenho uma vontade terrível de vomitar e saio correndo. Isso se repete por duas semanas até que eu estou no meu banheiro com Tina enquanto ela lê um teste de gravidez com resultado positivo. “Eu tomei a droga da pílula do dia seguinte, tenho certeza disso” penso enquanto ela fala sobre o fato que eu estou grávida de sete semanas. Sete semanas, posso quase apostar que essa criança é filha do Felipe e não do MB, o que acresce o meu nervosismo. Isso significaria que qualquer possibilidade de voltarmos estaria finalmente acabada.

Tina me encara parada na porta do meu apartamento “Promete que não vai fazer nenhuma besteira?” Ela questiona. Prometo, mas não tenho certeza do que estou dizendo. “Ok, então lembre que temos a despedida da Ellen amanhã a noite”, ela avisa indo embora.

Ellen havia finalmente decidido aceitar o emprego, pelo menos para não ficar o resto da vida arrependida. Talvez eu devesse ter feito o mesmo. Pego as chaves no carro e resolvo tomar uma atitude, dirijo até o centro da cidade e sigo até a frente do prédio no qual Felipe trabalha. Ele agora tem seu próprio estúdio de arte, algo que fez parte dos planos que tivemos juntos uns dias, antes que eu ingressasse nas artes gráficas. De certa forma, Felipe parece comigo, temos os mesmos gostos, profissões semelhantes, as coisas eram simples quando estávamos juntos, de alguma forma, com ele, éramos só nós dois, com MB tudo é sempre complicado.

Entro na galeria e uma mulher me atende. Desejo uma boa tarde e pergunto por Felipe, avisando que sou uma amiga. Ela entra no escritório e, em pouco tempo, Felipe aparece com uma expressão estranha.

—Você não veio me bater, veio? - Ele pergunta me olhando. Seu tom de voz é tranquilo.

—Por que eu te bateria? - Questiono. Talvez eu pudesse mesmo bater nele por estar grávida, mas ele não sabia disso, pelo menos não ainda. Encaro o rosto barbudo de Felipe e me aproximo, nos abraçamos rapidamente ele me convida para entrar.

—Bom, aparentemente por razão alguma. O MB esteve aqui um tempo atrás, me deu um soco, me mandou ficar longe de você e foi embora. Foi por isso que eu não te liguei depois que…

—O MB fez isso? - Pergunto surpresa. - Eu sinto muito.

—Não sinta. Não é culpa sua.

—Meio que é. O MB nunca teria vindo até que bater se não eu não tivesse dito que dormimos juntos.

—E porque você disse isso? - Ele pergunta confuso.

—Eu não queria mentir para ele.

—Lica, o que você se lembra daquela noite?

—Eu te encontrei no bar na São João, tomamos algumas cervejas, seguimos para Augusta e, dançamos, bebemos mais e… bom, eu acordei ao seu lado.

—Nós só dormimos juntos. Você estava bêbada, eu estava bêbado, nós até nos beijamos, mas eu te coloquei na cama, e dormimos, foi só isso.

—Eu acordei quase nua.

—Você começou a se despedir, eu impedi, mas foi só isso, eu juro.

Sinto uma forte ânsia de vômito e olho ao redor, encontro o lixeiro do escritório de Felipe e vômito.

Felipe se apressa em minha direção e me ampara.

—Você tá bem? -Pergunta me olhando.

—Sim. -Digo tentando me recompor. - Você pode me dar um pouco de água?

Sento e bebo enquanto Felipe me olha, acho incrível o modo como ele continua a mesma pessoa, amigo, atencioso, seus olhos são sempre um mar castanho e calmo.

—Tem certeza de que está bem? Eu posso te levar no hospital.

—Eu estou melhor, foi só um enjoo, nada demais. -Olho para Felipe novamente, mal posso acreditar no que ele acabou de me dizer. - Você tem certeza de que não dormimos juntos?

—Lica, você acha mesmo que eu sou esse tipo de cara? Acha que eu abusaria de você?

—Não estou dizendo isso, é que… bem, eu não lembro.

—Exatamente. Eu nunca transaria com uma mulher que não tivesse condições de lembrar de ter consentido na manhã seguinte, não importa o quanto eu quisesse estar com ela.

Me sinto um pouco envergonhada pela suposição, é um pouco irônico que eu nunca tenha considerado que, caso tivéssemos feito sexo, aquilo seria enquadrado como um estupro, afinal de contas, eu realmente não tinha consentido, mas deve ser verdade a história de que não entendemos bem a situação quando de fato estamos nela.

—Sinto muito.

—Não. Eu que sinto muito pelo fato de que você pensou isso todo esse tempo, eu teria te procurado se não fosse por MB, eu realmente queria saber se você estava bem depois de todo o papo que tivemos, mas eu assumi que vocês se acertaram.

—Não. Na verdade, nós acabamos de uma vez. - Digo. É a primeira vez que falo isso em voz alta

Meu telefone toca, retiro-o do bolso e vejo que Tina está me ligando. Peço licença a Felipe e atendo-a. Minha amiga só está me checando, querendo que eu vá encontrar com Ellen no show para não ficar sozinha. Digo que vou pensar e me despeço.

—Eu tenho que ir. Desculpa por ter aparecido do nada, e por ter achado que… enfim, e desculpas pelo soco que o MB te deu.

—Você não tinha algo para me dizer? - Ele pergunta.

—Não. Na verdade, eu só estava passando por aqui e resolvi dizer um oi. - Minto.

—Lica… - Felipe segura meu braço carinhosamente. - Você sabe que se precisar de mim eu estou aqui certo? Para qualquer coisa. Eu sei que as coisas não saíram como deveriam entre a gente, mas eu realmente falei a verdade quando disse que quero ser seu amigo, eu nem mesmo estaria aqui se não fosse por você me incentivando a investir na minha arte.

—Sei sim. - Falo abraçando-o. - E eu também quero manter nossa amizade.

 

Três anos atrás...

—Você tem falado com o MB? - Felipe perguntou a Anderson. Estávamos num pequeno bar que fica atrás do MASP Senti um aperto no meu peito com menção do nome de MB, ele tinha estado por seis meses num centro de reabilitação. Tomei um grande gole da taça de vinho, senti o olhar de Tina sobre mim, mas fiz questão de manter meus olhos longe dos dela, minha amiga podia ler a minha alma com muita facilidade.

MB tinha sofrido um acidente de carro por dirigir embriagado, ele atropelou uma pessoa que, por pouco não morreu, assim como ele mesmo. Ele tinha quebrado a perna, luxado uma vértebra da coluna e ficado sem andar por algumas semanas. Eu não tinha ido vê-lo nenhuma vez depois do dia no hospital, eu pensei que fosse morrer quando soube da notícia, mas eu simplesmente não podia ficar lá. Eu simplesmente sumi. Foi Felipe quem me encontrou, eu estava alterada e ele me arrastou de uma boate. Ele me amparou, ficou ao meu lado, e depois disso, simplesmente voltamos a ficar juntos, como estamos até então.

—Meu parceiro tá bem agora, trabalhando. Se tratando. Está até me ajudando com a minha carreira. - Anderson responde. Ele parece defensivo, sei muito bem que ele acha que Felipe é um “fura olho de primeira”, como ele mesmo já disse no passado.

—Fico feliz de que ele esteja bem. - Felipe pontua sendo genuinamente sincero.

Quando saímos do bar e caminhávamos em direção ao carro, encontramos com Clara, acompanhada de um homem alto muito bonito. Nos cumprimentamos com um rápido abraço desajustado.

—Que surpresa! - Ela fala. - É bom te ver. O papai estava me perguntando por você ontem. - Minha meia irmã afirma.

—É bom te ver também. -Respondo ignorando de forma proposital a menção à Edgar.

—Lucas, essa é a minha irmã. Lica. Lica, esse é o meu namorado.

Clara nota que estou acompanhada por Felipe, Anderson e Tina. Seu olhar se demora sob Felipe, ela está claramente desconfortável por encontrar com o ex-namorado. Um ano e meio atrás, eles ainda estavam juntos, ela tinha perdoado o fato de que eu e Felipe estivemos juntos pelas costas dela durante nosso último ano de escola, mas depois que acabaram de vez, ela simplesmente se negava a ter qualquer contato com Felipe.

Parte de mim sabia que ela o evitava porque continuava apaixonada por ele. Clara quis  Felipe desde o primeiro minuto que pôs os olhos nele. Eu conhecia ela o suficiente para saber disso, fomos melhores amigas por dezessete anos, eu sabia tanto que, quando quis machucá-la, fiz isso através de Felipe. De alguma forma, Clara havia conseguido tentar deixar para trás tudo que fiz contra ela, assim como fiz o memso, ou pelo menos tento. 

Era a primeira que eu a encontra depois que comecei a namorar Felipe, conversamos sobre o assunto brevemente por telefone, não queria abalar nossa relação outra vez, embora nossa relação seja quase inexistente, a única coisa que de fato fizemos foi concordar em nos esforçar para evitar qualquer ódio entre nós duas.

—Prazer. - Digo cumprimentando o homem. Observo suas roupas finas, ele parece um claro burguês. A Malu deve estar feliz, ela nunca foi grande fã de Felipe. Apresento meus amigos e noto que Felipe também está desconfortável.

—O prazer é todo meu. E, na verdade, somos noivos, não é querida?

—Sim. - Ela diz sem graça. - É tão recente que eu continuo esquecendo.

Nós despedimos e Tina comenta sobre como eu e Clara fomos civilizadas. Em seguida, voltamos todos para o apartamento que Tina e Ellen dividem com uma terceira colega. Ellen está viajando, então estou dormindo no quarto dela esta noite.

—Você está bem? - Pergunto a Felipe quando ficamos a sós.

—Estou.

—Não falou quase nada desde que encontramos com a Clara.

—Eu só fiquei surpreso. Não acredito que ela está noiva daquele cara.

—E por que não? Ele parece um cara legal. - Afirmo beijando-o.

—Como isso se fosse suficiente para um casamento. - Ele resmunga se esquivando.

—Você vai embora?

—Vou. Estou cansado.

—Não estava cansado antes de encontrar com a Clara.

—Lica, você sabe que eu te adoro, mas não vamos ter essa discussão. Não sobre a Clara. -Ele afirma abrindo a porta para partir. 


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