Old Habits escrita por kelly pimentel


Capítulo 1
Uma notícia inesperada




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Encaro o relógio batendo os pés na privada, enquanto Tina, em pé na minha frente, segura um teste de gravidez. Ela parece tranquila, fora o olhar de reprovação que me deu quando contei que poderia estar grávida ela em momento algum mostrou nenhuma outra emoção. Penso no quanto ela mudou nos últimos anos, a Tina que eu conheci dentro daquele vagão de metrô estava apavorada com aquela situação, a que está na minha frente é uma mulher extremamente racional, ela me mataria se eu dissesse isso, mas essa Tina é também muito parecida com a mãe no modo como encara os problemas.

—E então? – Pergunto checando novamente o relógio no meu pulso. –Me conta. Não! Não me conta, eu não sei se quero saber. – Levanto e começo a dar voltas dentro do banheiro do meu apartamento.

—Lica, você precisa saber para decidir o que fazer. – Ela afirma me encarando. Aceno com a cabeça positivamente dando a ela permissão para me contar. –Ok, então... vamos lá... – Ela diz com uma expressão sem jeito. – Você está grávida, sinto muito.

Eu não podia estar grávida, não naquele momento. Não quando tudo na minha vida começava a se organizar, eu tinha acabado de me formar e conseguir um emprego incrível, eu estou organizando meu novo apartamento e pensando em começar uma pós-graduação. Sinto uma vontade enorme de me jogar da janela. Estamos no segundo andar, talvez isso resolva todos os meus problemas de uma só vez, talvez eu caia de cabeça e perca a memória junto com o bebê.

—O que eu vou fazer? – Pergunto.

—Eu comprei o teste, eu segurei a sua mão enquanto você fazia xixi, eu li o resultado e eu até mesmo posso ir com você fazer um aborto, em seja lá eu buraco ilegal eles fazem isso, mas eu não posso tomar essa decisão por você Lica, sinto muito.

Eu sabia o que esperar de Tina, é esse tipo de comportamento que faz com que amizades funcionem: saber o que esperar do outro, mas eu não pude deixar de pensar em como, nesse momento, qualquer uma das minhas outras amigas seria de maior ajuda, Ellen me diria exatamente o que fazer, ela é o tipo de pessoa que oferece um plano. Benê pesaria todas as opções, mas teria algum debate moral sobre a questão, e Keyla, bem... essa eu não queria aqui de forma alguma, amo minha amiga de todo o coração, mas a garota decidiu ter um filho na adolescência, imagina se ela ia considerar a opção de um aborto? Claro que não!

—Você vai contar ao pai? – Tina questiona abrindo a porta do banheiro. Caminhamos para sala e eu encaro o porta-retratos com uma foto minha e de MB. Contar ao pai? Claro, assim que eu tiver certeza de que ele é o pai. – É do MB, não é? – Minha amiga questiona como se pudesse ler meus pensamentos.

—Eu acho que sim.

—Como assim você acha? Não me digam que vocês ainda estão com essa idiotice de relacionamento aberto? Meu Deus Lica! Por que você faz isso consigo mesma? Você claramente... sinto muito, não posso te dizer como viver a sua vida.

Sinto uma vontade enorme de chorar, seguida por uma vontade ainda maior de fumar. Então abro a bolsa e tiro um cigarro.

—Não! – Tina diz tomando-o da minha mão. – Não até você decidir o destino desse feto. E é bom que faça isso logo, porque você já está com sete semanas.

—Como você sabe disso?

—Lica, hoje em dia esses testes só não dizem o sexo do bebê, ainda. Você nunca fez um teste de gravidez antes?

—Claro que não. Eu sou sempre cuidadosa. Nunca faço sexo sem camisinha, nunca esqueço anticoncepcional, principalmente porque eu não faço sexo sempre com a mesma pessoa muitas vezes, exceto pelo MB.

—Então você deve ser a pessoa mais azarada da face da terra. – Ela afirma pegando a bolsa e colocando no ombro.

—Aonde você vai? – pergunto. Estou com medo de ficar sozinha com os meus pensamentos.

—Eu tenho que ir. Eu tenho que trabalhar. Eu e o Anderson temos um show hoje à noite. Você vai ficar bem sozinha? Eu posso ligar para uma das meninas te fazerem companhia, ou talvez você possa ligar para sua... para Clara.

—Não! A última coisa que eu preciso agora é ouvir o tom de julgamento da minha meia irmã querida. Nossa recém construída amizade ainda é frágil demais. – E eu nem mesmo sei algum dia será forte novamente. Passar por cima do meu orgulho para tentar entender o lado de Clara, entender eu ela também estava lidando com mudanças (a separação, descobrir ser filha do meu pai, perder a melhor amiga, ganhar uma meia irmã) entender que as pessoas reagem às coisas de formas diferentes, tudo isso exigiu, e ainda exige, muito de mim. Principalmente porque ela tinha algo que eu queria para mim: Felipe.

—Lica?

—Não, não. Eu vou ficar bem.

—Promete que não vai fazer nenhuma besteira? – Ela questiona, suas sobrancelhas levantadas e um ar de preocupação evidente.

—Prometo.

 

Semanas antes...

A campainha tocou e eu corri do quarto para abrir a porta do apartamento e receber MB. Ele estava usando uma jaqueta preta, camisa creme e calça jeans, tudo combina perfeitamente com o seu cabelo loiro e olhos verdes, talvez seja por isso que eu ainda esteja com MB até hoje, sua beleza ainda enfraquece meus joelhos, mesmo nos momentos nos quais eu estou furiosa com ele.

—Vamos pular a festa? – Ele pergunta pegando em minha cintura, pressionando seu corpo sobre o meu e me olhando cheio de insinuação. Conheço bem aquela expressão e sei que ele está se referindo ao fato de que estou sem blusa, exibindo um sutiã de renda preta.

—Não se anime. – Digo beijando-o. – Só estou sem blusa porque ainda não instalaram meu ar condicionado, mas só vou pegar a minha bolsa, terminar de me vestir e já podemos descer. Você nem precisava ter subido.

—E perder a chance de conferir o seu novo apartamento? Não mesmo. Além disso, que tipo de namorado eu seria se não viesse te buscar depois de semanas sem nos vermos? - Me solto de seus braços e volto para o quarto. MB me segue conferindo o local.

—Ainda tá uma bagunça. – Digo. E está mesmo. Várias caixas empilhadas, móveis que precisam ser montados, mas estava ficando tudo do jeito que eu queria, meu primeiro apartamento sozinha.

—Você deveria ter vindo morar comigo. – Ele diz. Não era a primeira vez que MB fazia aquela oferta, aconteceu quando a minha mãe se casou novamente e decidi sair de casa para dar ao casal mais privacidade, mas eu não pude aceitar a proposta de MB, não estava pronta para dar aquele passo, então acabei dividindo com Tina e Ellen que também estudavam na USP, assim como Keyla, mas ela não podia deixar o Tônico e o Tato para se juntar a nossa república. Foi melhor assim, MB ainda estava numa fase difícil de sua recuperação e eu temia que ele transferisse tudo aquilo para mim.

—Já falamos sobre isso. Nós acabaríamos nos odiando.

—Lica, não tem nada que você possa fazer para que eu te odeie. Acredite em mim. E olhe que você já tentou bastante. – Sei exatamente ao que ele está se referindo e em alguns momentos eu odeio a honestidade sem filtro de MB, o modo como a boca dele parece ser diretamente conectada com os pensamentos, sempre sem ponderação, mas, estranhamente, esse também é um dos aspectos que eu adoro sobre ele.

—Você diz isso agora, mas eu tenho certeza de que daríamos um jeito. – Visto a blusa e passo um pouco de batom, então descemos e seguimos para a festa.

É o primeiro grande evento de Anderson na cidade desde o lançamento do seu novo álbum, o primeiro fez tanto sucesso que ele passou parte do ano passado viajando pelo mundo. Tina, que estava terminando a faculdade, quase enlouqueceu por não poder acompanhar o namorado por toda a turnê, mas ela foi para o último show, no Japão, e Anderson a pediu em casamento no palco, eles estão noivos e morando juntos desde então.

Entramos na boate e MB nos guia até os camarotes, depois de nos identificarmos, entramos para encontrar Anderson, Ellen e Tina.

—Grande Maurício! – Anderson fala abraçando MB. –Ainda bem que tu veio monstro, achei que o escritório tinha sugado a tua alma.

—Ainda não. Além do mais, você acha mesmo que eu perderia esse momento? Depois de tudo que você fez por mim? – Ele pergunta.

—E vocês por mim.

MB estava se referindo a ajuda de Anderson que o levou para as primeiras reuniões do AA quando as coisas estavam feias, eu nem mesmo estava com MB nessa época, estava com Felipe, dando vazão ao meu desejo de auto sabotagem e me mantendo afastada de MB depois do acidente. Já Anderson, está falando sobre o modo como MB o ajudou, incentivando-o a lutar pelo amor de Tina e conectando-o com gente importante no mundo da música.

Cumprimento o pessoal e me sento ao lado de Ellen enquanto os outros três conversam animadamente sobre a lista de músicas do show e a carreira de Tina.

—Você não parece animada. – Digo encarando-a.

—Eu estou animada por ele, mas também estou cansada. E...

—E? – Questiono. Ellen e eu nunca fomos confidentes, na verdade, sempre tivemos mais conflitos do que qualquer outra coisa. Algo que consigo entender, nós viemos de mundos extremamente diferentes, entre as Fives, eu sou a que representa tudo que significa opressão e preconceito para ela: branca, rica, com acesso a tudo. A única coisa que compartilhavamos quando nos conhecemos era o gênero. Apesar disso, apesar de não termos estabelecido uma amizade de confidência, eu tenho orgulho de chamá-la de amiga, de ter aprendido tanto com ela, crescido ao seu lado.

—Promete que não conta pra ninguém? Nem mesmo para nenhuma das meninas, especialmente não para Tina? – Ela pergunta me encarando, fico surpresa, mas concordo positivamente. – Eu recebi uma proposta para trabalhar no exterior, no Vale do Silício.

—Parabéns!!! – Digo tentando conter a minha animação.

—Não comemore ainda. Eu não sei se vou.

—Por que não? Isso é tudo que você sempre quis, não é?

—É tudo que eu costumava querer, mas eu não sei se posso simplesmente ir embora. Além disso, o Jota está lá e eu não quero encontrar com ele.

—É uma cidade enorme, tenho certeza de que vocês podem se evitar sem constrangimento. – Afirmo.

—Não. Ele trabalha nessa empresa. E eu estou sendo chamada para chefiar a equipe dele e várias outras.

—Você não pode perder essa...

—De que vocês estão falando? – Tina pergunta se aproximando.

—Do meu apartamento que está uma bagunça.

—Você precisa de ajuda? Podemos chamar as meninas, vamos todas ajudar amanhã de tarde. E uma ótima desculpa para nos reunirmos. Vamos saber se elas têm planos e quão rápido podem desmarcá-los. – Tina afirma sorrindo.

—Eu vou adorar! – Respondo. – E falando nelas? Benê e Keyla não vão vir?

—A Benê não vem, ela está com o Guto que viaja amanhã cedo e a Keyla e o Tato devem estar chegando por aí. – Tina responde.

—Tá na hora. – Um homem avisa entrando sem bater. Anderson dá um beijo em Tina e parte assim que desejamos boa sorte.

—Eu odeio esse cara. – Tina afirma. Não era a primeira vez que ela se queixava do empresário de Anderson.

—Vamos, vamos curtir esse show. – MB diz abrindo a porta para que passemos.

Casa lotada, um grande sucesso, todos se divertem. Keyla e Tato chegam animados enquanto estou dançando com Ellen, e se juntam a nós. MB e Tina estão num canto conversando, provavelmente sobre algum aspecto do show. É quase duas da manhã quando estou conversando com um homem chamado André, um potencial paquera e MB se aproxima fazendo sinal para mim.

—Você me dá licença um minuto? – Peço e então caminho até MB.

—Esse cara? – Ele questiona. Nem mesmo respondo, apenas reviro meus olhos. – Tudo bem, sem problemas. Contanto que você vá dormir comigo hoje. – Ele fala aproximando a boca lentamente da minha.

—Claro que vou seu idiota. –Digo sorrindo. MB sabia ser extremamente charmoso.

—Algum problema aqui?  - André pergunta se aproximando.  – Esse cara está te incomodando?

—Estou? – MB fala olhando para mim, respondo que não e então MB sorri e faz algo que ela adorava fazer, ele se apresenta como meu namorado: – Prazer, eu sou o namorado da Lica. Ela falou de mim?

O cara me olha com uma certa raiva, depois passa o mesmo olhar para MB, e então vai embora.

—Qualquer dia desses, alguém vai quebrar a sua cara por isso. – Digo – E eu vou achar graça.

—Não vai nada. Você ama a minha cara. – Ele afirma passando os braços ao redor do meu corpo e me puxando para perto. – Que tal dançarmos agora? Você veio comigo afinal de contas, deveria pelo menos me dar um pouco de atenção. Principalmente considerando que eu passei duas semanas longe de você.

—Não me culpe. Foi você quem me abandonou para conversar com a Tina. Eu tinha que me divertir de alguma forma.

—Me vendo em agonia? Essa é a sua diversão. – Ele pergunta passando a mão na minha nuca. – Lica, quando é que você vai entender que eu sou louco por você? – Sinto seus dedos firmes no meu pescoço, enfatizando as palavras. Os olhos verdes encarando os meus, a expressão séria. Eu quero dizer que também me sinto assim, mas uma pequena parte de mim não tem certeza e todo resto tem medo. Sem saber o que dizer, eu simplesmente calo sua boca com a minha, em um beijo cheio de paixão. MB aperta o nosso abraço e morde meu lábio no fim do beijo, aquilo me deixa querendo mais.

—Você quer dar o fora daqui? – Pergunto.

—Não quer se despedir das suas amigas?

—Eu vou vê-las amanhã. Agora eu preciso de algo que nenhuma delas pode me oferecer.

—Nenhuma? Eu posso imaginar você e a Ellen, ou talvez com a Tina – Ele fala sorrindo.

—Você não presta! – Retruco batendo em seu ombro.

(...)

Entramos no apartamento de MB dando continuidade aos beijos que começaram no elevador. MB tira a jaqueta e a joga despreocupado no chão, em seguida, ele dirige suas mãos pela minha blusa, subindo-a com destreza. O toque da sua pele na minha, seu cheiro, tudo isso é familiar e ainda assim me deixa em êxtase. MB passa sua boca pelo meu pescoço, descendo pelos meus seios, me fazendo gemer.

—Quarto MB! – Protesto quando ele me joga no sofá, mas ele me olha dizendo não, mordendo o lábio inferior, ficando ainda mais sexy. O primeiro round acontece ali mesmo. O modo como funcionamos, nossa interação, o efeito que ele tem sobre mim. Mesmo depois de anos, mesmo depois de tantas outras pessoas, MB continua sendo o melhor sexo que eu já tive.

—Eu senti sua falta, sabia? – Ele conta enquanto estamos deitados na cama, minhas pernas jogadas por cima das suas. Levanto a cabeça o suficiente para olhar MB, ele está encarando o teto, fixo meu olhar no charmoso sinal em seu rosto. – Você sentiu minha falta? – Ele pergunta, dessa vez me olha.

—Claro que eu senti sua falta MB. – Respondo tentando ser fria.

—Claro? Nada nunca é claro com você Lica. Eu te conheço por anos e ainda assim sinto como se não te conhecesse.

Não tenho nada para dizer sobre isso. Primeiro porque MB está sendo um pouco dramático. Excesso de educação e uma veia artística pode fazer isso com uma pessoa. Se vivêssemos uns cem anos no passado, MB seria um daqueles poetas que morreram jovem demais, por amar demais, beber demais, por fazer tudo em demasia.

—Você está vendo alguém? – Ele pergunta.

—Tenho quase certeza que isso viola uma das nossas regras. – Afirmo.

—Qual é Lica? Você não pode contar? É algo com o que eu deva me preocupar?

—Não, você não precisa se preocupar.

—E ainda assim eu me preocupo. – Ele fala inclinando seu corpo na minha direção e me beijando. – Sabe Lica, às vezes eu acho que essa ideia toda é muito idiota. Porque alguém em sã consciência iria querer me dividir com o resto do mundo?

—Meu Deus, como você é cheio de si MB. – Digo tentando conter o riso.

—Não. Não sou. – Ele beija o meu pescoço e me puxa para si. Sua boca passeia pelo meu corpo, beijando meus seios, minha barriga, a parte interna das minhas coxas. E então ele abre as minhas pernas, erguendo uma delas e me estimula com a sua língua. Quando não aguento mais suplico para que ele me penetre, o que faz de uma só vez, me fazendo gritar pelo seu nome, nos movemos juntos, barulhentos e sincronizados.

Quando acordo estou sozinha na cama. Levanto e procuro por MB, mas tudo que encontro é um bilhete “tive que passar no escritório, sinto muito, mas deixei café para você. Te amo”. Pego a caneta e escrevo “Menos três pontos para Sonserina” junto com um coração, e então pego minhas roupas que estão espalhadas pela sala, tomo um pouco do café e volto para casa.


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Notas finais do capítulo

Estou experimentando essa história, isso é tudo que escrevi até agora. O que acharam? Devo continuar?



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