Dragões do Norte escrita por Snowfall


Capítulo 23
O trono na árvore.


Notas iniciais do capítulo

Para Cira Hime, Ás de Copas, Nastia Winchester e Kiori que representam todos que esperaram tanto tempo pela continuação dessa história.



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A Dádiva ganhara vida.

Campos eram cultivados. Trilhas eram abertas. Pessoas iam e viam praguejando quando suas carroças atolavam.

Benjen acompanhava o pequeno grupo de patrulheiros que viera encontrar Ned e sua comitiva na Estrada do Rei. Muitos daqueles lordes não reconhecia. Supôs que eram os senhores do Tridente.

Ned aparentava ter envelhecido uma década desde que o vira pela última vez em Winterfell, naquela fatídica visita do Rei.

Não trocaram palavra alguma enquanto se abraçavam. Teriam tempo para conversa depois. Agora, um abraço dizia tudo o que precisavam: que ainda estavam aqui.

— Ele não está aqui – contrariou uma voz.

— Como disse, meu lorde?        

— O garoto não está aqui – esclareceu Grande Jon.

Olhou para Ned, que sorria. O peso dos anos deixando seus ombros por um instante.

— Onde está Jon? – indagou olhando para o céu – precisamos lhe entregar algo.

— O quê? - indagou Tormund.

— Um reino – riu-se lorde Umber.

Então, haviam chegado a isso. Não podia dizer que estava surpreso.

— Ele não vai gostar.

Ned suspirou.

— Eu sei. Mas não há muito o que se fazer. Não podemos escolher outra pessoa. É impossível que haja dois reis no Norte.

— E o garoto já é rei – Grande Jon falava com convicção.

O sobrinho por certo era Rei. Chegou como Rei-pra-lá-da-Muralha, mas suas ações na guerra o tornaram mais que isso. Jon conseguira tomar o Norte com fogo de dragão. Era esperado que governasse o que conquistou.

— Ele subiu as Terras de Sempre Inverno – informou – Pegou uma dezena de navios e partiu. Disse que não demoraria mais que uma lua para voltar.

— O quê, pelo inferno, ele foi fazer num lugar daqueles?! – Umber esbravejou.

— Foi buscar o que precisamos para nossa sobrevivência – se dirigiu então ao irmão – Venham conosco até Castelo Negro. Tem algo que precisam ver.

Ficou decidido que os senhores seriam hóspedes da Patrulha até que seu rei retornasse. Mas não subiram á Muralha imediatamente. Primeiro pararam para vivenciar a Dádiva e tudo que a movimentava.

Tormund respondia as questões de boa vontade. Gostava de falar.

— Os mamutes não ficam aqui – explicou – Jon achou pasto bom do outro lado.

— Em minhas terras, meu lorde – esclareceu Lorde Karstark – Sua graça pediu para realocar os mamutes próximo a Karhold. Onde são mais fáceis de vigiar.

Ned apenas assentiu.

Os mamutes desempenhavam papel fundamental na sustentação dos selvagens na Dádiva e da Muralha. Era prudente mantê-los separados, vigiados e seguros. Karhold era suficientemente perto de Atalaia Leste e bem protegido.

O acampamento próximo de Castelo Negro se estendia a perder de vista, mas já fora muito maior. A maioria das pessoas fora espalhada para evitar superlotação e falta de recursos.

Jon escolhera quais tribos eram mais confiáveis para se manter a distância e quais deviam ser seguradas a rédea curta.

Nos primeiros meses houve conflitos com os clãs da floresta, mas muito menos do que imaginara. Aconteceram mortes, brigas e casamentos às pressas, e por fim as coisas se assentaram. Limites foram desenhados e o povo na Dádiva começou uma nova vida.

A situação melhorou muito depois que homens que desceram ao Sul retornaram. Inimigos lutaram lado a lado e venceram. Uma frágil camaradagem nasceu e Jon a explorava das mais diversas maneiras.

De maneira geral, ele pôs todos para trabalhar. Nortenhos, homens da guarda da Noite e selvagens. E os esforços mostraram-se frutíferos. Nesse meio ano, seis castelos na Muralha foram reformados e ocupados. Três deles serviam apenas de depósitos para a grande quantidade de suprimento que chegava de Essos.

O sobrinho tinha planos grandes e achava maneiras inusitadas de realiza-los. Naquela semana, por exemplo, chegarão vidros para estufas gigantes que Jon mesmo projetara. 

As primeiras estufas foram presenteadas aos Blackwood e Flint, não entendera o motivo de tal atitude. Só quando viu os homens dos clãs ensinando os selvagens a cultivar a terra foi que compreendeu.

“- Esses homens nunca fariam favores ao meu povo. Mas agora, eles podem dizer que estão apenas retribuindo o presente. Eles têm estufas e meus homens aprenderam técnicas mais produtivas de cultivar. Todos ganhamos.”

Em Castelo Negro, um banquete esperava por eles. Tormund e alguns outros selvagens os seguiram e a noite se tornou um espetáculo de risadas, gritos e brindes.

— Lorde Umber parece estar num humor excepcional – comentou para Ned que bebericava sua cerveja, pensativo.

— Ele é nosso Fazedor de Reis. Acabou com nossa discussão sobre quem coroar com quatro ou cinco frases.

— Um Rei no Norte, depois de trezentos anos. Quem imaginaria?

Ned abriu um sorriso, engoliu o resto da bebida e se serviu de mais.

— Jon será o maior de todos. Nasceu para isso.       

— Disso não duvido – comentou Lorde Mormont enquanto se aproximava com a irmã – O garoto só precisou de meio ano para mudar tudo.

Ambos sentaram.

— Dragões sempre mudam tudo.

— Sua majestade não precisou nem dos três dragões para reconquistar Winterfell – ressaltou Lady Mormont – Na verdade, ele não precisou nem está lá. Nos garantiu a vitória aqui enquanto queimava um caminho até Porto Real para tomar nossa independência.

— A história que chegou à Muralha foi que tomaram o Castelo na calada da Noite com uns poucos homens.

— Essa manobra foi mais uma isca para fisgar aquele maldito traidor Bolton do que qualquer outra coisa – a senhora se parecia com o irmão ainda mais em sua ira.

— Nunca pensei que Roose fosse tão estúpido.

— Ele apostou tudo. Viu uma oportunidade e não resistiu – o tom de Ned era pesaroso – Agora toda sua Casa se foi.

— Não sinta por aquele infeliz, meu lorde – aconselhou Lady Mormont – O Norte está melhor sem Boltons. Não há mais lugar para traidores aqui. Principalmente agora, que temos um Rei novamente.

Os Mormont se retiraram para uma mesa próxima, deixando-o mais uma vez a sós com o irmão.

— Você está feliz em não usar uma coroa, não é?

— Nem imagina o quanto. Jon foi talhado para isso. Eu aprendi minha lição. As nuances desse jogo me escapam.

— Não vai ouvir discordância de mim. O garoto conseguiu tomar o controle de tudo em menos de um ano.

O irmão parecia tranquilo. Ned pensava que o pior havia passado. Sentia certa angústia em ter que mostrá-lo o que ainda estava por vir.

— Ned, tem uma coisa que precisa ver.

Guiou os lordes até as celas de gelo com o coração pesado, enquanto explicava:

— A patrulha defendeu a Muralha por milhares de anos. Desde a Batalha pela Alvorada e definhamos desde então. Agora, a Longa Noite se aproxima novamente e o Norte precisa se preparar. Vocês precisam saber que o verdadeiro inimigo está chegando.

— Abri os portões para os selvagens porque não havia alternativa – continuou o Lorde Comandante – O que está além da Muralha é muito maior que nossa disputa.

Deu uma ordem e os guardas se afastaram e deixaram que se aproximassem da cela. Já era noite, então, os mortos avançavam sobre as grades em uma tentativa vã de alcançar alguém.

— Deuses – clamou Lorde Umber, o mais baixo que já o ouvira falar.

Os outros lordes observavam silenciosos os dois mortos de olhos azuis que brilhavam fantasmagoricamente. As criaturas renovaram seus esforços para se libertar quando perceberam sua presença.

— Este é... era Frildd Sand – apresentou o Lorde Comandante – Perdeu-se além da Muralha cinco anos atrás. Assim me informou Cotter Pyke de Atalaia Leste, onde ele servia. A mulher pertencia ao Povo Livre como podem notar.

— Eles estão vindo, Ned – o irmão estava tão espantado como qualquer um – Se não agirmos rápido, o próximo Inverno será nosso último.

O silêncio se estendeu enquanto deixavam a Celas de Gelo. No pátio foram interceptados por um patrulheiro que corria em sua direção.

— O Rei retornou. – informou ofegante.

— Conseguiu o Vidro de Dragão? – Indagou Lorde Mormont imediatamente.

— Não, meu senhor – o rapaz tinha os olhos arregalados – Mas o rei trouxe... algo com ele.

..................                                           

Quando Jon acordou , demorou para que seus olhos reconhecessem a pessoa sentada ao lado da sua cama.

— Pai – chamou automaticamente. O frio que congelara seus sentidos ainda não havia passado totalmente. Fazendo esquece-se do tratamento correto.

— Jon – o homem correu os olhos por seu rosto à procura de alguma coisa – Como se sente?

— Congelado – o que era incomum, uma vez que estava coberto pelo que parecia ser uma montanha de peles.

Mas talvez o frio que sentia não fosse mais externo para que pudesse ser curado com cobertores.

— Onde estão...? – não sabia como terminar a pergunta. Sentia que tudo poderia ter sido um sonho. Uma alucinação.

Contudo, Lorde Stark lhe respondeu:

— Na Dádiva. Tormund as levou até uma Árvore Coração. Não se sentiam a vontade em Castelo Negro.

Assentiu. Quanto menos fossem vistas, melhor.

— Jon – começou Lorde Stark baixinho. Estava temeroso - O que aconteceu ? O que houve nas Terras de Sempre Inverno?

Soltou uma respiração pesada e sentou-se com esforço.

— Eu perdi – respondeu simplesmente.

“ Valkius se divertia derretendo gelo. Poucas vezes na vida tivera licença para soltar fogo ao seu bel-prazer. E o caminho dos navios fumegava com a excitação de seu dragão.

— Sua fera vai acabar nos queimando – alertou Styr, se juntando a ele na amurada – Seus dragões não gostam de ver as coisas inteiras.

— Não se preocupe – riu-se Jon.

— Tá feliz demais para alguém que corre o risco de ter as bolas congeladas e nunca ter filhos. – a respiração saia em baforadas da boca dos Magnar do Thenns.

Embora fosse realmente mais frio do que qualquer coisa que imaginasse, Jon não podia deixar de sentir-se contente por finalmente conseguir o que por tanto tempo buscara.

Vidro de Dragão significava que as chances de sobreviverem a Grande Noite deixavam de ser insignificantes. Enfim, teriam com o quê se armar. O campo de batalha estava longe de estar equilibrado, porém a vitória não seria mais uma ilusão tão distante depois que retornassem com os navios carregados de obsidiana.

Trouxera dez navios. Grandes embarcações capazes de transportar uma quantidade significativa de carga. Esperava que fosse suficiente para armar a todos porque não haveria uma segunda viagem.

Styr tinha razão. Estava frio demais. E todos sabiam o que isso significava. A presença dos Outros era forte ali. Lembrou-se que Mãe Toupeira dissera que essas terras há muito viraram território do Rei da Noite.

Por isso, antecipou tudo para uma viagem rápida.                                         

Dez navios com uma tripulação de trinta homens em cada. Em media, cada navio trazia uma dúzia de marinheiros e os outros tripulantes eram formados por Thenns, que enfim cumpririam a promessa feita a mais de uma década e, também, alguns mineradores cedidos por Lady Mormont e Lorde Glover. Sem falar de alguns patrulheiros experientes.

Calculou que era possível encontrar o inimigo em grande número aqui, contudo todos do Povo Livre que chegam aos portões da Muralha relatam um grande exército de vagantes brancos do outro lado, próximo ao mar estreito. Concluiu que era lá que o Rei da Noite concentrava suas forças.

Se tudo corresse como o esperado, deixaria as Terras de Sempre Inverno, antes que o inimigo se desse conta.

Em todo caso, Valkius estava ali. Morghon ficara na Dádiva, mas poderia chegar até eles em pouco tempo. Gaothrax ainda acompanhava seu exército que retornava do Sul, mas acreditava que dois dragões fossem suficientes.

Atracaram em terra no fim daquela noite, então Jon ordenou que permanecessem a bordo até que o dia raiasse. O cume da montanha vulcânica que teriam de atingir se fazia ver mesmo a luz fraca da lua minguante. O Pico se perdera em erupções passadas, e ainda assim, a montanha era a maior que vira em sua vida.

Styr jantou em sua cabine naquela noite.                                                       

— Só um idiota pra vir tão ao norte. – falou o Magnar com a boca cheia.

— E mesmo assim você veio comigo – retrucou Jon.

O velho homem bufou :

— Meu filho prometeu e agora eu é que congelo aqui com os Outros fungando no cangote.

— Eu poderia ter trazido Sigorn.

Na verdade, Jon tinha preferido que fosse assim. Mas Styr insistiu em fazer a viagem, liderando os Thenn, embora a maioria da tribo que estava ali fosse daqueles que seguiram o filho até as montanhas.

— Quando Sigorn deixou Thenn, eu disse que não voltasse. Se ele queria seguir um moleque e seu exército de gigantes, que fosse. Ele tentou me fazer acreditar que você era nossa melhor esperança. Eu ri. Nunca imaginei que, no fim, fosse o moleque dos gigantes que salvaria a gente.

— Ainda não salvei. Só pus uma distância maior entre o Povo Livre e o inimigo. Ainda somos os primeiros que morrerão. Por isso é que estamos aqui.

— Quando você fala assim, dá pra ver que não pertence ao Povo Livre.

As palavras fizeram Jon levantar sua atenção do seu jantar.

— Como pode dizer isso depois... – se interrompeu. Depois de tudo que fizera foi o que pensou em dizer. Contudo, percebeu que isso sairia mais como uma cobrança. Como se estivesse fazendo favores ao Povo Livre.

Styr escutou as palavras não proferidas mesmo assim.

— Tudo o que fez teve um preço. Estamoa pagando mesmo sem perceber.

Sim. O Povo Livre lhe pagava com devoção. O que era uma moeda cara. Obediência e fidelidade não tinham preço. Mesmo assim Jon as exigia todos os dias.

— Nunca pedi que se ajoelhassem. – ressaltou, tentando se apegar ao fato de que não tirara a liberdade de escolha daquela gente.

— Muitas vezes o Povo Livre escolheu morrer em pé. Mas que bem isso trouxe? Foi preciso um Rei -pra -lá -Muralha que veio de Sul pra gente aprender que é melhor ceder do que quebrar.

— Mas acha que estou desvirtuando os princípios de seu povo – Jon achava entendia a extensão do que cobrava, mas de alguma forma ainda podia ser cego para o que fazia inconscientemente.

— Como disse, pagamos o preço. A gente tem sorte que você ser assim. Outro homem com poder assim podia ser uma calamidade. Isso não quer dizer que não seja perigoso do jeito que é. Os homens que causam adoração são mil vezes mais perigosos que homens que causam medo.

— Tem que acreditar em mim quando digo que o meu maior desejo é a sobrevivência do Povo Livre. Não vou parar até que consigamos a vitória.

— Vocês sulistas nunca param. Sempre querem mais. Nos trouxe para esse lado da Muralha mas é pouco. Acabou de vencer no Sul mas é pouco. Tem dragões mas é pouco, precisa de Vidro de Dragão. A luta nunca acaba pra você.

Jon sentiu seu rosto endurecer.            

— É pouco. Tem razão, sempre penso mais no que falta do que no que temos. Mas essas são as circunstâncias que vivemos. Eu não escolhi isso para mim, mas não vou faltar com meu dever.

— É bom mesmo. Sigorn confia em você. Não vai falhar com ele, ou comerei seus ossos no ensopado.

Foi dormir refletindo nas palavras do Magnar. Desde que chegara desse lado da Muralha, não demorou muito para que tomasse a liderança. Os líderes geralmente eram escolhidos por merecimento.

Jon merecia?

Talvez só chegou até ali por causa do assombro que causara. O Povo Livre era simples e impressionável.

Ele pedia, as pessoas davam. Ele mandava, elas obedeciam. Até que ponto, Jon fizera por merecer?

Não conseguiu dormir naquela noite.

Na manhã seguinte, partiram.

Duzentos homens, prontos para minerar o que precisavam e sair daquele lugar o mais rápido possível. Deixara os marinheiros no navio, prontos para zarparem quando retornassem.

Jon ia à frente, perdido em pensamentos.

Logo atrás Quorin Meia-Mão liderava os patrulheiros. Depois dele, uma fila de trenós era puxada.

Demorou um dia inteiro para que alcançassem o vulcão.

Circundando a montanha havia um grande lago. Congelado, obviamente. A camada de gelo era grossa o suficiente para atravessassem sem perigo.

Uma vez ao sopé do vulcão, montou acampamento.

— A velha bruxa disse que havia uma entrada? – inquiriu Styr, enquanto reforçava o cabo de sua picareta.

— Sim. Pelo que entendi a passagem foi tampada por magia dos Filhos. Não deve está a vista.

— Esse assunto de magia é problema seu. Vá e procure. Quando tiver alguma coisa pra minerar me diz.

A procura não obteve nenhum resultado no primeiro dia. Nem no segundo.

Procurou por toda a circunferência da montanha. Mas nada que chegasse a se parecer com uma entrada foi avistado.

Magia antiga, dissera Mãe Toupeira. Jon observava Valkius empoleirado no pico acima deles e teve uma realização.

Seus dragões também eram mágicos. Então alçou voo e procurou.

 No fim da tarde encontrou algo diferente na paisagem branca. Um represeiro. Uma árvore coração encarapitada no centro de circunferências elípticas que se intercalavam no meio.

Jon desmontou e se aproximou com cuidado. Estava em um lugar sagrado e o que menos queria era causar ofensa.

Se ajoelhou diante do rosto e pediu.

Por uma direção. Por qualquer coisa que indicasse onde encontrar o que viera buscar.

Se Jon estava esperando por um sinal divino. Um raio de luz mágica que indicasse o caminho. Este não veio.

— Por favor – implorou a árvore- Não posso nem imaginar as coisas que viu. Me diga por onde começar.

Mais uma vez não houve resposta.

Com um suspiro cansado, Jon sentou-se nas raízes do Represeiro.

— Você já estava aqui, não é? – indagou não esperando uma resposta – Quando tudo começou. Você sabe o que preciso fazer para vencer. Não é impossível, embora pareça assim nesse momento em que não consigo nem as armas para meus homens.

Recostou-se no tronco da árvore, a casca era surpreendentemente quente.

Agora que começara a falar, as palavras deixavam a sua boca em enxurrada. As preocupações que guardava só para si eram despejadas aos ouvidos dos deuses.

— Na primeira guerra pelo amanhecer, uma aliança entre homens e os Filhos da Floresta foi o que garantiu a vitória. Dessa vez, não há mais crianças da florestas para no ajudar. Até o reino dos homens se encontra dividido. Como vou convencê-los que lendas e mitos estão vindo para condenar a todos a um inverno sem fim?

Jon suspirou, percebendo que não encontraria as respostas que procurava ali.

Quando apoiou a mão em uma raíz leitosa para se erguer, foi tomado pela sensação de cair de seu corpo.

E de repente se encontrava em uma paisagem verdejante. Ao pé do Represeiro que se recostara a pouco havia, pelo que recordava de seus sonhos, um grupo de Filhos Da Floresta. Conversavam baixinho na Língua Antiga, ignorantes a presença da Jon ao seu lado.

A reunião terminou quando elas se aproximaram da árvore. Só então Jon percebeu o homem amarrado e amordaçado no mesmo lugar que sentara a pouco. O medo dele era palpável e seus olhos deixavam transparecer seu pânico quando a boca não podia.

A criatura sacou uma adaga de obsidiana e afundou no peito do homem desesperado. Os protestos de Jon não foram ouvidos assim como os da vítima.

O clima se tornou imediatamente mais frio enquanto os olhos do homem assumiam a cor azul já conhecida por ele desde que viera parar daquele lado da Muralha uma eternidade atrás.

Jon chegou mais perto, observando a transformação acontecer. Tentou recuar quando o Rei da Noite focou nele, mas não foi rápido o suficiente. O Primeiro Vagante agarrou sua mão e o frio lhe queimou.

Puxou o braço com força.                                                         

A paisagem mudou novamente e Jon viu tudo de cima. O cheiro de podridão assaltava suas narinas mesmo àquela altura.

À luz do crepúsculo, podia perceber o tapete negro cobrindo a terra antes branca. Os mortos corriam a uma velocidade assustadora como uma nuvem de gafanhotos.

Valkius soltou um rugido de ultraje. Como se algo tão repugnante não devesse nem ousar existir sobre a face da terra.

Jon voltou ao seu corpo enquanto tentava frear seu dragão. Aquela não era uma quantidade que conseguiriam vencer. Talvez se os irmãos estivessem ali tivessem alguma chance de retardá-los, mas Valkius sozinho não tinha a menor chance.

Correu o mais rápido que pode e a pouca distância entre o Represeiro e o acampamento parecia se alargar a medida que avançava.

— Estão vindo! – gritou para Meia-Mão, que fazia vigia.

O patrulheiro não precisou de explicação, apenas praguejou e alcançou seu corno de guerra.

Três sopros para os Vagantes Brancos.

— Quais são as nossas chances?

— Nenhuma. 

— Seu dragão...

— Não é o suficiente.

Alcançaram o acampamento e todos já estavam prontos para a retirada. Ficar e lutar não passou pela cabeça de ninguém.

— Nunca vamos chegar até os navios a tempo – avaliou Qhorin, observando o manto negro avançando rapidamente o barranco de neve a noroeste deles. – Temos que resistir aqui.

Tinha razão, não demoraria muito para que atingissem a margem oposta, mas para sair dali teriam que atravessar o lago e passar pela multidão inimiga.

Valkius pousou no pico acima deles e Jon teve uma ideia inconsequente:

— Voltem! – ordenou já recuando ao pé da montanha novamente.

— O quê? – a voz de Styr atravessava o vento e chegava aos seus ouvidos em frangalhos.

— Voltem agora!

Uma vez no sopé da montanha, tomou o corpo de Valkius.

Desceu do cume e derramou fogo sobre o lago, derretendo a camada espessa de gelo na qual corria ainda a pouco.

Quando os mortos atingiram a beira d’água estancaram. E todo o exército do Rei da Noite parou em silêncio.

— Como sabia que eles não nadavam? – indagou Meia-Mão ofegante.

— Não sabia – respondeu enquanto Valkius circulava a extensão do lago fazendo as águas borbulharem enquanto passava.

— Jon! – gritou um garimpeiro Mormont apontando para o morro do outro lado. Nele , cinco vagantes montados em cavalos cadavéricos observavam tudo.

Reconheceu o homem que uma vez estivera amarrado na Arvore Coração mesmo a distância. Seu olhar frio fixo em Jon. 

O Rei da Noite desmontou e puxou uma lança. O gelo reluziu. Ele caminhou vagarosamente até a borda do morro.

Jon sentiu o sangue correr em suas veias quando reparou em Valkius ainda derramando fogo sobre o lago, exposto demais.

O Rei da Noite fez mira ao mesmo tempo em que Jon se desesperava em busca de uma saída. O dragão não teria tempo de subir alto o suficiente.

O Outro disparou e Jon mergulhou.

A sensação era a de ser transpassado por um milhar de lanças e por um instante teve certeza que o inimigo o atingira até que percebeu que era apenas a água gelada.

Valkius se debatia em sua mente. O frio e falta de ar o fazia lutar contra Jon. Enquanto afundavam, conseguiu controle suficiente para impedir o dragão de emergir.

Nadou o melhor que pode. Asas não foram feitas para água. Valkius inspirou e sentiu uma agonia excruciante quando o gelo o cortou por dentro.

Só quando atingiram a margem oposta ao Rei da Noite foi que emergiu. Não deu tempo ao seu dragão nem para sacudir a água.

Voou o mais rápido que pôde.

Enquanto corria tentava controlar Valkius o melhor que podia. Viu o Rei da Noite alcançar uma segunda lança.

Para o alto. Para o alto.       

 Repetia desesperadamente em sua mente. Seu dragão subiu tanto que sumiu de sua linha de visão.

Mas pelos olhos de Valkius, pode enxergar a multidão. Centenas de milhares. Mais gente que em todo o Norte. Gente não, criaturas. Reunidas e acordadas de seu descanso para servir a própria morte.

O deus da morte tem muitas faces. Ouvira isso recentemente. E encarando o Vagante, sabia que aquela era a mais terrível de todas.

— Temos que sair daqui– gritou para os homens.

— Como? – quis saber Styr.

Enfim, percebeu a estupidez que fizera.

O lago que Jon derretera serviu para impedir que os mortos alcançassem seus homens, mas também os encurralara no pé da montanha.

Só havia um caminho então.

— Procurem a entrada! – disse enquanto desenhava as espirais que vira no Represeiro – Procurem por esse símbolo. Tem que está aqui em algum lugar.

Os mortos esperavam pacientemente a margem do lago. Tinham pouco tempo antes que as águas voltassem a congelar. O inimigo sabia disso. Antes do amanhecer estariam mortos.

Mas não precisava de uma noite inteira. Só tempo suficiente para que Morghon chegasse. Fogo-vivo talvez causasse estrago suficiente no inimigo para que fugissem.

Escondera Valkius na cratera no topo de vulcão, longe da mira dos Vagantes e esperou. Torceu para que Morghon fosse mais rápido do que o frio que congelava o lago.

Depois do esforço que tivera para derreter o gelo para abrir caminho até ali e seu banho inesperado nas águas geladas do lago, Valkius não tinha energia para um esforço semelhante. Estavam sem opções.

— As águas estarão congeladas antes da hora do lobo – informou Meia- Mão, apontando para os mortos que já avançavam um pouco além da margem.

— Morghon estará aqui antes disso – ou assim esperava.

— Não devia trazer o outro dragão. Se um deles morrer aqui, já sabe o que acontecerá. Perderemos essa guerra antes dela começar.

— Foi um erro ter vindo aqui – suspirou sentando-se em uma pedra. Jon queria que tivesse pensado melhor. Em sua ânsia por Vidro de Dragão ignorara o perigo. Devia saber que mesmo que tivessem encontrado Obsidiana ali, nunca teriam a oportunidade de minerá-la.

Antes que Quorin respondesse qualquer coisa, alguém gritou:

— Estão avançando!

No outro lado da margem, os cadáveres caminhavam em sua direção ganhando confiança à medida que percebiam que o gelo aguentava.

Jon estava a ponto de chamar Valkius de seu abrigo quando cinco esferas de fogo atingiram o lago, quebrando a camada de gelo com explosões.

Virou-se para ver a fonte dos artefatos. Ouviu Styr praguejar alto quando as criaturas se tornaram visíveis.

Cinco Filhos da Floresta corriam em sua direção, jogando os artefatos de fogo sobre o lago, um após o outro. Podia jurar que eram as mesmas de sua visão.

— Entrem! – gritou uma das criaturas apontando para uma entrada iluminada bem atrás deles. Em um ponto em que antes não havia nada além de neve e uma parede pedregosa – Mantenha o dragão escondido.

Ela puxou Jon pelo braço. Guiando-o até entrada. Os homens que tinham a reação mais rápida já haviam entrado na montanha. Os mais lentos seguiram logo depois. Correram por um emaranhado de raízes e desdobramentos até que o ruído lá fora se perdeu.

Então todos se viram parados, tentando controlar a respiração encarando os seres a sua frente.

— Não devia está aqui, filho de gelo e fogo – ralhou uma delas.

Seu tom fizera com que Jon risse. O absurdo da situação finalmente afetando seus nervos.

— Isso já foi amplamente reconhecido.

Ela fechou os punhos.

— Tem que sair. Ele virá atrás de você e seus dragões. – Ela puxou o braço de Jon e revelou a marca de uma mão – E agora ele vai achá-lo onde quer que esteja. O lago congelará totalmente em breve e a passagem foi revelada. Estarão aqui logo.

As palavras saiam pesadas. Como se ela tivesse aprendido a Língua Comum à força.

— Siga por esse túnel – apontando para a direita – Levará a saída.

— E vocês?

— Vamos segurar os mortos na entrada o máximo possível.

Mas era tarde demais. Atrás deles ouviram-se gritos. No fim da fila que encabeçavam.

O inimigo já entrara.      

— Corre – ela puxou Jon pelo braço novamente.

O túnel parecia não ter fim. E o chão começou a tremer levemente com os passos dos mortos atrás deles.

Quando enfim, conseguiu ver a luz da lua e sair do subsolo percebeu que tinha ido parar na Árvore Coração. Percebeu também que não estavam sozinhos.

Meia centena de Vagantes Brancos os esperava.

Jon chamou por Valkius que desceu do vulcão. Ele cobriu o inimigo com fogo mas as criaturas não eram afetadas. Caminhavam em sua direção como se as chamas não existissem.

Atrás deles, os mortos irrompiam do túnel. Ficaram cercados.

— Pela Patrulha! – Meia- Mão avançou contra um Vagante, erguendo a espada.

Esta se espatifou em milhares de pedaços. Um segundo golpe atravessou o peito do patrulheiro.

— Não!- Jon atacou tardiamente.

Os olhos do Outro se abriram em surpresa quando Garra Longa aparou o ataque. Sua hesitação foi o que bastou para que Jon lhe desferisse um golpe fluido. O inimigo se desfez.

Não teve tempo de ponderar sobre o que acabara de acontecer. A luta, ou massacre, ainda continuava.

As Crianças da Florestas disparavam flechas e não erravam. A cada disparo um Vagante caia. Mas eram apenas cinco. Logo estariam sem flechas.

Seus homens lutavam apenas com coragem e vontade de viver, nada mais.

Pereciam diante do inimigo que avançava pacientemente. Jon lutava em desvantagem, mas sua espada aguentava.

Ouviu o chamado de Morghon que chegara. Mas era tarde demais.

Não sobreviveriam, percebeu. Seus dragões eram inúteis naquela situação. Os números não estavam a seu favor e as forças eram desiguais demais.

Styr o puxou quando tentou ir ao encontro das Crianças da Florestas que rapidamente foram encurraladas quando suas flechas acabaram. Seus artefatos de fogo também eram inúteis contra o inimigo.

— Toque fogo em tudo – ordenou o Magnar.

O velho homem tinha o semblante meio insano.

— O quê?! Não viu que fogo é inútil contra eles!?

— Cubra tudo com fogo. Aproveita a distração e foge.

— Ficou louco?! Vai queimar todos vocês também!

Por incrível que pareça o homem riu.

— Você não pode morrer aqui. Senão tudo estará perdido.

Algo no peito de Jon caiu e se perdeu para sempre.

— Eu não posso... – baixou a espada já derrotado – Como eu poderia...

— Tem que poder, Jon Snow. Não vai fazer Sigorn acreditar em uma mentira. Você vai viver pra guiar o Povo Livre na Grande Noite, assim como disse meu filho naquele dia quando deixou Thenn.

A convicção do homem fez Jon agir.

Fechou os olhos e alcançou Morghon. Acima das nuvens, ele não podia ver a batalha acontecendo.

Banhou o céu de chamas esverdeadas antes de descer. Esperava que estivesse seguro, encoberto pelo manto verde.

O fogo alcançou a Árvore Coração e todos ao redor.

Jon sentiu o calor invadir o seu corpo e nada mais. Queria ter sentido dor. Era muito melhor do que ver aquelas pessoas que trouxera até ali virarem cinzas.

Morghon e Valkius pousaram em meio às chamas a sua frente e Jon correu. Em seu desespero ainda pode notar as Crianças da Floresta encolhidas em um canto.

As chamas não as atingiam. Simplesmente não alcançavam o pequeno circulo de terra em que se encolhiam. Uma delas tocava uma flauta. Cada nota da melodia lutava contra o Fogo-Vivo.

— Subam! – ordenou, indicando Valkius que estava mais perto delas.

Houve um pequeno momento de hesitação. Só o suficiente para decidirem se ainda queriam viver. Subiram no dragão com uma agilidade impressionante.

Juntos alçaram voo. Do alto, Jon pode ver as chamas consumirem os poucos homens que ainda restavam. ”

— Quando chegamos aos navios, não havia mais ninguém. Só as embarcações presas no mar congelado.

Não conseguiu encarar o pai à medida que contava o que se passava. Suas mãos tremiam levemente.

— Não deve se culpar.

— Quem mais há para culpar? Achei que sabia o que estava fazendo. Eu estava errado.

.................

Jon não aceitou a coroa.

“- O senhor não ouviu o que acabei de dizer?! Eu matei dezenas noite passada. Sacrifiquei meus homens para fugir. Como pode me querer como Rei. Eu não quero a mim como rei. Leve sua coroa e escolha outro. Alguém que saiba o que está fazendo.”

Ned pensou que nunca o filho aparentara tanto a idade que tinha. Dezoito anos. A mesma que idade que tinha quando fora para guerra pela primeira vez.

Também foi naquela época que sentiu o peso de carregar o destino e a vida de outros em sua mão. Sabia o quanto a responsabilidade podia ser sufocante.

Logo que se recuperou, Jon deixou Castelo Negro.

“ Preciso encontrar Sigorn e contar como falhei e acabei matando o pai dele.”

Não saiu mais da Dádiva depois disso. Passou-se um mês sem que seu rei aceitasse ser coroado. Os homens já estavam impacientes. Como Jon poderia negar tal honra, alguns indagavam acusatoriamente.

Ned se viu de mãos atadas. Até que a conversa que tivera com Tormund em Correrrio veio a sua mente.

Não planejou muito. Apenas mandou uma carta dizendo para o filho que sairiam para caçar a primeira luz. Não pediu. Apenas informou.

E no dia seguinte, para o seu alívio, Jon o esperava no lugar marcado. 

— Onde estão os outros? – o filho trazia um arco e o lobo. E procurava ao redor pelo resto da comitiva de caça.

— Não é preciso mais que dois para caçar algumas perdizes.

— Perdizes?

— Faz tempo que não como.

Jon levantou as sobrancelhas, mas não questionou.

— Tem uns arbustos de mirtilos perto do rio. Deve atrair algumas aves.

Levou apenas alguns instantes para que a transformação em Jon acontecesse. Seu semblante adquiriu um vigor desconhecido para Ned.

— O senhor espanta elas na minha direção – disse baixinho puxando uma flecha, assim que encontraram um bando de aproximadamente uma dúzia de aves.

Uma presa fácil. Ao meio-dia tinham três espetos assando na fogueira. A gordura pingando no fogo.

— Podemos procurar algumas lebres também no fim do dia. Quando retornarem às tocas. – o filho falava mais animado do que o vira na vida.

Jon improvisava uma boleadeira com tiras de couro. O lobo sentado aos seus pés lhe dava uma imagem quase etérea na paisagem da floresta.

Ned sentia por ter que quebrar a tranquilidade daquele dia.

— Eu vi as criaturas nas celas de gelo – começou devagar.

Jon continuou seu trabalho, ignorando-o.

— Quando a Grande Noite chegar, precisaremos de um rei forte.

O filho agora amarrava as correias com força.

— Jon...                                                           

— O senhor me trouxe aqui só pra isso? Para me empurrar sua coroa?

— Não há mais ninguém...

— O senhor poderia usá-la. Starks sempre foram os reis do norte.

— Agora não mais.

— Não precisam de um rei que os guie para morte certa. Que os queime quando as coisas pioram.

Ned sabia o que o filho sentia. A sensação de ter falhado era sua companheira antiga.

— Enquanto lutava contra Arthur Dayne na Torre da Alegria, pensei que morreria. Teria morrido se Reed não tivesse atravessado a Espada da Manhã por trás enquanto lutávamos.

— Mas eu pensei...

— Que eu o tivesse derrotado em combate singular. Não, apenas deixei que acreditassem que foi assim.

— O senhor mentiu.

— Sim. Omissão também é uma forma de mentira.

— Por que está me contando isso?

— Para que perceba que não é o único a sentir vergonha. Todos nós falhamos uma vez ou outra.

— Quando eu falho, as pessoas morrem. O que eu faço então? Escondo minha culpa e vergonha?

— Você aprende, levanta para errar de novo. Por que não fazer nada é o pior erro de todos.

Jon fixou o olhar na boleadeira. Ned foi tomado pela certeza de que faria a escolha certa.

Passaram-se alguns instantes em que só ouviam os sons da floresta ao seu redor.

— O senhor me ajuda a não errar tão terrivelmente? – pediu por fim.

O coração de Ned saltava em seu peito. Seus olhos enevoaram. Enfim, o filho lhe dava uma oportunidade. Jurou a si mesmo e a todos os deuses que estivessem ouvindo que não desperdiçaria essa chance. Não falharia com Jon novamente.

— Não fui feliz em meu período como Mão do Rei.

— E não será feliz de agora em diante. Nós dois não seremos.

Ned sorriu e viu o seu sorriso espelhado no rosto do rapaz. Companheirismo se firmando em meio à realidade de um futuro de pesar.

— Não sei no quê poderei contribuir. É muito melhor nesse jogo do que jamais serei. Mas – contrapôs se ajoelhando - Meu apoio e conselhos são seus, Vossa Majestade.

Ned retornou a Castelo Negro com cinco perdizes, duas lebres e um Rei No Norte.

Sete dias depois, uma grande multidão se reuniu na Dádiva. Lordes do Norte, do Tridente, selvagens, gigantes e a Guarda da Noite se dirigiam a um grande Represeiro.

Uma árvore que vira de passagem quando chegou. Só que havia mudado consideravelmente. As criaturas identificadas com Filhos da Floresta se alocaram naquele lugar.

Desenharam linhas curvas de pedra partindo da Árvore Coração em uma forma perfeita.

Um cadeirão que Tormund havia trazido foi encrustado em um espaço entre o tronco e as raízes retorcidas, logo abaixo do rosto.

 Foi lá que Jon se ajoelhou para receber a coroa que Lorde Umber pôs em sua cabeça. Quando ele se ergueu, Ned puxou Gelo de sua bainha:

 - O REI NO NORTE!

Todas as espadas seguiram seu exemplo:

— O REI NO NORTE! O REI NO NORTE!

 Jon sentou-se em seu trono enquanto as Crianças da Floresta começaram a tocar suas flautas.

Os homens se calaram para escutar.

Porque elas tocavam uma música antiga que não conheciam. Mas por algum motivo reconheciam seu propósito. Era esperança.

Um sonho de primavera.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: 21 de março.



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