Dragões do Norte escrita por Snowfall


Capítulo 22
O Fazedor de Reis


Notas iniciais do capítulo

Para todos vocês que sentiram falta dessa história.



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Ned nunca pensou que alguma vez agradeceria pela sensatez de um Lannister. Há de se pensar, pelas atitudes de alguns membros dessa Casa, que a família é incapaz dessa qualidade. Mas Kevan Lannister provara que era de um feitio diferente.

Esperara que Winterfell fosse transformado em um novo Castamere, mas o Castelo ao longe ainda estava em pé e os invasores ainda não haviam tomado àquelas medidas desesperadas daqueles que sabem que estão prestes a serem derrotados.

Fora assombrado durante todo o caminho pelo temor do que encontraria quando chegasse. A imagem das cabeças dos filhos espetadas em estacas nas amuradas não deixou lhe vir à mente. Porém, as crianças ainda estavam vivas, a julgar pelas ameaças a vida deles que os inimigos mandaram caso invadissem o castelo.

Aquelas não eram reações esperadas de alguém que tinha um dragão sobrevoando sua cabeça. Os Lannister se mostravam mais frios diante da provável aniquilação do que pensou possível.

Isso ou esperavam por alguma mudança no cenário.

— Meu lorde- chamou uma voz conhecida as suas costas.

— Encontrou?- perguntou sem se virar.

Lorde Bolton emparelhou com ele e fitou o castelo, de onde saía uma fumaça espessa.  O que indicava que a forja estava em seu potencial máximo. Os invasores ampliavam seu armamento.

— Sim. Está lá, tal como disse o Rei-pra-lá-da-Muralha.

— É estável?

— Pelo que se pode esperar de um túnel de oito mil anos de idade, é. Brandon, O Construtor, sabia o que fazia.

— Parece que sim.

— Ramsey já está separando os melhores homens. Um grupo pequeno é mais apto a tomar o castelo com o mínimo de dano possível.

Realmente. Quando o plano de subir ao Norte e recuperar Winterfell começou a ser esboçado, ainda em Correrrio, um grande problema se tornou evidente. Como evitar que os Lannisters e Greyjoys matassem as crianças e passassem o castelo a fogo assim que ameaçassem transpor os portões?

Mais uma vez a solução veio de Jon. 

O filho informou de uma passagem que ligava as criptas à floresta. Pelo que entendeu Jon a descobrira, na infância, escondida atrás da esfinge de um Stark particularmente mal- encarado. Nem o próprio Ned sabia de tal saída, ou entrada nesse caso, e duvidava que os invasores também soubessem.

O plano era relativamente simples.

Um grupo pequeno entraria em Winterfell e, se aproveitando do elemento surpresa, tirariam os filhos de lá. Depois que as crianças estivessem seguras, eles invadiriam o castelo.

Um plano simples e se os deuses fossem bons, eficiente.

— Os selvagens estão se tornando inquietos – alertou Roose.

Mance Raider chegou há pouco tempo, acompanhado de dez mil guerreiros que preenchiam todo o espaço em torno de Winterfell. E ao contrário do exército invasor que mantinha certa frieza diante do sítio, seus homens se incomodavam com a falta de ação.

Desceram da Dádiva por causa da promessa de uma batalha e até agora tudo que tiveram foram noites frias em tendas apertadas. Não que o frio incomodasse essa gente. Todavia a falta de alguém para lutar, definitivaente, o fazia.

— Raider vai mantê-los na linha, suponho.

— Se engana, meu lorde, ao pensar que o Vira-Casacas tem algum controle sobre essas pessoas. Jon Snow é Rei-pra-lá-da-Muralha.

Certamente, era. Apenas quando teve contato direto com os selvagens, longe da presença de Jon, foi que percebeu como o filho tinha autoridade sobre seu povo.

 - Não demorará muito agora. – a tensão da véspera da batalha pesava sobre ambos.

O próprio Mance veio ao encontro deles, com suas vestes de ossos chocalhando intimidadoramente. Os anos além da Muralha realmente modificaram o patrulheiro. O homem a sua frente usava uma máscara de crânio humano e suas roupas faziam um barulho estranho enquanto andava.

— O rei quer falar com você- sua voz era destorcida pela máscara.

Bolton lançou um olhar de desprezo ao selvagem.

— Lorde Stark é senhor dessas terras. – lembrou o Lorde de Forte do Pavor.

Se essa sentença significou alguma coisa, o antigo homem da Guarda da Noite não deixou transparecer.

Ele apenas se virou e, obviamente, esperava que Ned o seguisse.

— Esses selvagens não têm respeito – queixou-se Roose.

O acampamento se estendia por uma superfície branca. Não havia parado de nevar desde que chegaram. As tendas se camuflavam no cenário graças à camada de neve que se acumulara.

O Inverno está para chegar. E não poderia ser em pior hora.

— Você não foi chamado – cortou Mance fitando Lorde Bolton.

Roose fez sinal de que objetaria, mas se calou com um gesto de Ned.

Mance o guiou até a floresta onde o garoto das aves o esperava.

— Jon quer explicar o plano de tomada da sua casa de pedras.

O tom displicente dele o incomodou. Seja qual fosse esse vínculo com os animais, deixava os homens opacos. Parecia que não eram totalmente firmados com a realidade.

— Já conheço o plano - lembrou – Você estava lá quando o discuti com meus homens.

— Você contou pra eles o que Jon queria que contasse.

— Ele mentiu para mim- Ned soube de imediato que a estratégia do filho tinha camadas e mais camadas. E não gostou nada de ser deixado no escuro. Porém, essa conversa ele teria com Jon pessoalmente. Agora tinha questões mais imediatas.

— O que tem para me falar?

Foi respondido por um chamado às suas costas.

— Papa?      

Seu coração parou por um instante. Conhecia aquela voz. Virou-se e viu três mulheres selvagens. Uma delas segurava um menino pelo braço.

— Papa!

O garotinho se desprendeu da mão da mulher e correu até ele. Mesmo com roupas de pele selvagem, ele reconheceu o filho.

— Rickon?! – Ned o tomou nos braços.

O menino crescera nos meses que se passaram. Foi com pesar que lembrou-se que Rickon havia passado o Dia de Seu Nome em cativeiro. Seu caçula havia completado quatro anos.

— Papa, a guerra já acabou? – perguntou o menino abraçando o pescoço de Ned com força.

— Não, mas não vai demorar muito – olhou ao redor – Onde está Bran?

— Com Meistre Luwin – cochichou – Tão escondidos. Osha disse que tem que ficar na tenda. Onde está Mama?

Explicou a situação o melhor que pode ao seu filho, antes de se dirigir a Kena.

— O que está acontecendo? Pensei que o resgate das crianças aconteceria apenas na noite de hoje.

— Jon mandou Mance tirar as crianças ontem.

— Mance? – Ned olhou para o homem mascarado ao seu lado.

— Esse é o Senhor dos Ossos. Mance Raider já tá no castelo há meses.

— Um cantor – se lembrou da conversa que tiveram na Água Cinzenta. Poucas portas se fechavam para um cantor. E no tédio de um cerco, qualquer distração era bem-vinda.

— Então, para quê me fazer acreditar no plano errado?

— Pra fisgar um traidor. Foram as palavras de Jon.

Ned suspirou e resolveu não questionar. Os filhos estavam a salvo. Se concentraria nisso por enquanto.

— O que acontece agora?

Segurava Rickon enquanto ouvia sobre o papel que desempenharia no jogo de Jon.

Ao meio-dia, reuniu-se com seus comandantes.

— Nessa noite entrarei no castelo e tomarei as crianças – começou com que esperava ser uma voz convincente - Uma vez que estejam fora do Castelo, atacaremos o inimigo.

— Meu Lorde, não devia fazer parte do grupo de invasão. Mande homens de confiança. É muito perigoso – aconselhou Lady Mormont.

Houve vozes em concordância.

— Eu conheço o castelo melhor do qualquer um aqui. E não se preocupem, Lorde Bolton já cedeu seus melhores homens para me acompanhar.

— Também conheço o castelo, meu senhor – interveio Jory – me deixe...

— Não! Você liderará a infantaria. 

Jory se surpreendeu com o tom, mas não disse mais nada.

— Meu próprio filho fará parte do grupo – interveio Roose - Ramsey vai protegê-lo com a própria vida, meu lorde.

Ficou incomodado que a mentira saísse tão facilmente da boca do homem. Será que havia contado seus planos ao filho?

— Sigam o plano. Esperem que a luz seja acesa na Torre Leste. Esse é o sinal para atacar.

Virou-se para não encarar Roose. Em seu âmago, desejava que o homem fosse inteligente o suficiente para não causar a queda de sua Casa. Mas tinha um sentimento dentro de si de que não haveria Boltons no Norte ao final daquela contenda.

Ao crepúsculo, tudo estava preparado.        

A movimentação do exército selvagem despertou o inimigo logo ao cair da noite. Prontamente, milhares de homens se puseram em formação no terreno em frente ao castelo. As capas vermelhas reluziam mesmo na escuridão.

Um exército bem treinado. O último que o inimigo podia dispor. Teve notícias que os nortenhos fizeram as forças mandadas às Terras do Rio em frangalhos. Winterfell era o único ponto de resistência restante.

Quanto ao seu exército, não existia formação. Apenas homens, mulheres e gigantes com sede de batalha. Sem armaduras, sem boas armas, mas com um dragão. Gaothrax planava sobre suas cabeças como uma mãe zelosa.

Jon estava ali, com o seu povo.                    

Foi tomado de confiança à medida que se dirigia aos homens que Bolton cedera para entrar em Winterfell para dizer que acontecera uma mudança no plano.

...........

Encontrou com seus lordes enquanto se preparavam para a batalha. Ao longe, o Leão no estandarte era jogado em todas as direções pelo vento.

— Meu senhor? – Lady Maege foi a primeira que reparou em sua presença – Não devia estar com o grupo de infiltração?!

Ned deitou o olhar sobre Roose Bolton que segurava as rédeas do cavalo com força. O homem não deixava transparecer nada. Uma frieza assim só poderia vir de alguém inocente ou alguém sem consciência.

— Percebi que têm razão, meus lordes. Meu lugar é aqui, guiando nossas forças. Tenho certeza que os homens conseguirão realizar a missão sem mim. Descrevi o castelo o melhor que pude. Confio plenamente que o elemento surpresa dará a vantagem que precisam. Os inimigos focarão em nós e baixarão a guarda dentro das paredes de Winterfell.

Novamente, nenhuma reação.

Montou em seu cavalo e tomou a dianteira.

Enquanto esperava pelo sinal, pensava em quantas vezes batalhas aconteceram nas amuradas de Winterfell. Quanto sangue se derramou sobre a terra em que pisavam.

Quase meia noite, e a torre continuava escura.

— Talvez, meu senhor, eles foram descobertos? – sugeriu Roose, calmamente.

— Tem tão pouca fé em seu filho? – Ned deixou algo transparecer em sua voz, pois algo mudou no semblante do homem.

Os olhos dele se fecharam em estranheza. Mas antes que pudesse chegar a uma conclusão, um corno de guerra soou.

Na Torre Leste, uma luz brilhava.

— Jory – pediu ao seu homem de confiança – prenda o traidor.

Jory tinha uma expressão confusa, mas obedeceu.

Roose Bolton foi jogado de seu cavalo no mesmo instante em que a batalha começava.

Quem avançou primeiro foi dragão. Voou alto sobre o inimigo até chegar ao portão. Ned esperou que o derrubasse, porém a fera apenas pairou paralelo ao muro, despejando gelo e erguendo uma barreira entre o inimigo e o castelo. Não haveria para onde fugir.

Camisa-de-Chocalho avançou com seus selvagens. Os gigantes junto com ele.

Agora era sua vez. Ergueu a espada que não parecia certa em sua mão.

— Winterfell! – avançou.

Seus homens o seguiram como fizeram em tantas outras batalhas.

Com gelo as suas costas, não havia como os invasores escaparem da força que se abatia sobre eles. A batalha não durou muito. A debandada acorreu quase no momento que ambos os exércitos cruzaram espadas. Não havia equilíbrio de forças.

O dragão desmantelava o inimigo e a desordem era o campo de batalha perfeito para os selvagens. Homens eram cortados ao meio pelos gigantes, enquanto o dragão transformava um batalhão inteiro de arqueiros em estátuas de gelo.

Enquanto avançava com seus homens, torceu que Kevan Lannister tivesse sensatez suficiente para se render e que Theon tivesse agilidade suficiente para fugir.

Não cruzou espada nem com Theon nem com Kevan. A batalha acabou sem que os visse. 

No amanhecer daquele dia, estava em casa. Entrou com seus lordes no Grande Salão com sangue nas vestes e a euforia da batalha ainda pulsando nos ouvidos.

Mance Raider, o verdadeiro, lhe guiou até uma passagem nas criptas, onde o grupo de invasão se encontrava massacrado e Kevan Lannister, preso.

A passagem foi fechada por ambos os lados no momento que a luz fora acesa na torre. O sinal que todos pensavam ser do grupo de invasão fora acionado por Raider no instante que os leões entraram na passagem. Quando terminaram o massacre já estavam presos no túnel.

Suspirou forte para clarear a mente. Dirigiu-se a Camisa-de-Chocalho primeiro.

— Diga a Meistre Luwin que fique no acampamento com os meninos por mais uns dias. Tenho que limpar minha casa antes que eles voltem.

Voltou-se para Roose Bolton que era trazido por Jory, então. O homem estava coberto de sangue assim como Ned.

— Joguem ele no túnel, também. Seu lugar é com o seu comparsa e o cadáver do filho.

Uma semana foi tudo que teve antes de sentar-se em seu cadeirão para fazer justiça.

Os inimigos declarados foram fáceis de lidar.

Kevan Lannister foi jogado diante de Ned acorrentado. Tinha os olhos frios de alguém que sabia de seu destino.

O invasor fora mandado para a Dádiva, onde permaneceria como refém. A situação ao Sul ditaria seu destino.

— O que fará com meus homens? – perguntou o prisioneiro antes de ser levado.

Ned não respondeu.

Os soldados que restaram correram para o mar, mas não chegaram muito longe. Nortenhos defendiam suas casas e adoravam caçar. Uma característica que compartilhavam com os Selvagens. Todos os dias homens e corpos eram trazidos para ele.

Os vivos eram executados, libertos ou mandados para a Muralha de acordo com o papel que desempenharam na invasão.

Os corpos foram queimados por insistência de Jon. Ninguém foi enterrado.

O filho tinha um jeito de comandar tudo, embora estivesse ainda no Sul queimando castelos quando retomaram Winterfell.

Roose Bolton tinha sido mais difícil de julgar. Lutara o tempo todo contra a raiva, a fim de manter a imparcialidade diante de seus comandados.

 “- Tragam o traidor – ordenou.                  

O salão estava cheio. Uma mistura de nortenhos e selvagens que imaginaria dentro daquelas paredes.

Lorde Bolton apanhara nos dias que passara prisioneiro. Estava cego de um olho e seu lábio fora destruído por um soco em algum ponto. Pouco restara do lorde orgulhoso que era.

— Lorde Bolton, você está aqui para responder as acusações de traição.

O prisioneiro nada respondeu. Parecia entender que não havia uma maneira de sair dali vivo.

Ned depositou meia dúzia de cartas sobre a mesa. A maioria, Jon havia lhe entregado ainda em Atalaia da Água Cinzenta. Essas não falavam de nada concreto. Muito diferente das que confiscara nos aposentos que Kevan Lannister habitara.

— Sabe que cartas são essas, meu lorde? – indagou encarando o homem que conhecera a vida toda.

Outra vez foi respondido com silêncio.

— Essas são as mensagens que trocou com os Lannisters. Nelas, você oferece minha cabeça ao inimigo em troca de Winterfell e o Norte.

Os nortenhos na sala bradaram sua indignação. Várias espadas foram sacadas e vários tiveram que ser contidos para que não derramassem o sangue do traidor.

— Você conspirou com o inimigo. Contou a eles todo nosso plano de retomada de Winterfell. Contou sobre a passagem secreta que usaríamos para entrar e como resgataríamos os meus filhos.

Enfim, o homem resolveu falar.

— Como você soube? – Ao mesmo tempo em que fazia a pergunta a resposta chegou a Lorde Bolton – Ah é claro, o seu bastardo.

— Sim, Jon descobriu sua traição. Receptou os corvos que levavam as propostas dos Lannisters. Eu, de fato, esperei que fosse inteligente o suficiente para recusar. Porém, ambição superou o bom senso, mais uma vez.

— Acha que foi ambição? – debochou - Foi apenas instinto de sobrevivência.

— Tolice! – bradou lorde Tallhart– Sabe muito bem que nosso lado está ganhando. A vitória não demorará muito agora.

— Não sabe o que os leões planejam.

— Sei os que planejavam aqui. Me matar e deixar o norte sem um líder nesse tempo de guerra. Um exército sem um comandante não é um exército – Ned segurava o braço da cadeira com força – Mas o que não percebeu é que não sou o líder nessa guerra.

— Acha que Tywin Lannister não sabe disso? Ele se livrará de seu bastardo mais cedo ou mais tarde.

O ar no salão esfriou e os homens se remexeram desconfortáveis. Logo os lordes resolveram reagir da única maneira que sabiam. Com a ofensiva.

Lorde Flint se adiantou com a espada na mão.

— Você não sabe o que diz, traidor! - bradou ele – O rei não cairá em nenhuma artimanha que o inimigo possa pensar. Já foi provado, várias vezes, que Sua Graça está sempre um passo a frente.

Era verdade. Dragões a parte, era agudeza de Jon em assuntos de guerra que os fizera chegar até ali.

— Me diga, Roose – apressou-se Ned em voltar ao assunto em mãos – Alguma vez pensou em seu filho quando o mandou entrar naquela passagem junto comigo?

O rapaz, ao que percebeu, sabia da traição do pai. Mas não que Roose pretendia que ele também morresse naquele túnel.

— Ramsay era um cão louco – respondeu o homem com pouco interesse – Se não o matasse agora, ele me mataria mais adiante. Ambiciosos e loucos, assim são os bastardos.

Roose lhe lançou um olhar expressivo. Ned compreendeu sua intenção.

— Não compare meu filho com o seu – advertiu – Jon é muito diferente de Ramsay.

— Verdade. Ramsay queria o meu título, nunca conseguiu. Jon Snow está muito mais perto de conseguir.

— Meu filho tem ambições diferentes, que alguém como você nunca entenderia. Porém, isso será de pouca importância agora– disse enquanto se levantava – Lorde Bolton, você foi acusado e condenado por traição. Cuja punição é a morte.

Houve ruídos de aprovação.

— Levem-no daqui. Será executado ao amanhecer."

Roose Bolton foi executado a primeira luz. E uma casa antiga foi apagada com ele.

Depois disso, Ned pediu que Meistre Luwin voltasse com as crianças.

O velho senhor aparentava todos os anos que tinha. A estadia sob o regime dos Lannisters não havia lhe feito bem.

Ned perdeu muitos dos seus servos mais leais durante essa invasão. Aqueles a quem confiara os filhos e que fizeram o máximo para protegê-los, às vezes com a própria vida.

Havia perdido Mikken, Hullen, Vayon Poole, Rodrik e muitos outros.Felizmente, o Miestre havia resistido.

Quando os meninos estavam devidamente instalados e dormindo sob os cuidados da Velha Ama, que sobrevivera graças ao fato de ser esquecida em seus aposentos, decidiu que era o momento de ouvir sobre o que se passara debaixo de seu teto.

— Me conte tudo, Meistre.”

Ned ouviu sobre os Lannisters e Greyjoys. Sobre Theon e uma selvagem chamada Osha e como as crianças foram escondidas nas criptas até que Raider e suas Esposas de Lanças tivessem permissão de Jon para tirá-las do castelo.

Ned não sabia se estava irritado ou aliviado por Theon ter conseguido fugir. Era garoto que criara, mas que na primeira oportunidade o traíra. E sabia que não conseguiria ser justo quando passasse a sentença.

Mais tarde naquele dia, Jon chegou do Sul e trouxe para Ned uma espada e um pedaço de papel.

.............

 

Mhysa significa mãe.

Daenerys conhecia a importância de uma mãe mesmo tendo crescido sem uma. E como mãe de milhares, ela não descansaria até que seus filhos estivessem livres de suas correntes.

A caminho de Meereen sentia uma ponta de apreensão. A pirâmide já era visível, a harpia vigiava todos, imponente.

O caminho fora longo até ali. A cada parada o fardo se tornava maior. Mas não seria detida agora. Devia isso àquelas pessoas. Não pararia enquanto todas correntes não fossem quebradas.

A noite era clara, pelo que via através das brechas em sua tenda. Era tarde e não conseguira dormir nem um instante. O sono se tornava mais escorregadio a cada dia.

— Minha rainha – Missandei entrou em sua tenda – Chegaram mensageiros.

Mensageiros na calada da noite não deviam trazer boas notícias.

— De quem?

— Disseram apenas que vieram em nome de “uma amiga de Qarth”.

— Deixe que entrem.

Os dois homens que foram escoltados por Sor Barristan, tinham aparência westerose. Um idoso e um rapaz de cabelos vermelhos. Algumas pessoas na região pintavam os cabelos, mas percebia-se que a cor era natural.

O idoso se curvou minimamente e foi imitado pelo rapaz.

— Como se chamam?

— Oleff e Tom, milady, de Porto Branco – o sotaque dele era pesado.

— Sua graça não é uma simples lady – corrigiu Missandei – Ela é a legítima rainha dos Sete Reinos.

O homem não se abalou.

— Não sei nada sobre rainhas, legítimas ou não. Vim pra pagar uma dívida com aquela gata velha. Quero fazer isso antes do sol sair. Tenho clientes em Meereen, que não precisam me ver confraternizando com a Rainha Dragão.

Trocou um olhar com Sor Barristan, que riu levemente.

— Todos os nortenhos são como você?

— Não. A maioria tem juízo suficiente pra ficar no Norte. Se soubesse o tipo de merda que teria de mexer, nunca teria virado marinheiro – lamentou-se.

Foi vez de Dany rir um pouco.

— Por que Karir Kin lhe mandou?

O homem se virou para o rapaz.

— Vai pegar a encomenda – ordenou.

Tom voltou com um grande embrulho vermelho que segurava com os dois braços. Depositou a trouxa aos seus pés e abriu.

Dany se curvou um pouco para ver melhor e logo se decepcionou.

— Queijo? – uma grande roda de queijo de uns 10 quilos em um tom cinzento que nunca tinha visto antes.

— Karir comprou e mandou entregar. – explicou Oleff – Disse que era pra explicar de onde veio.

— Do Norte? – palpitou.                                          

— É. De mais ao norte que se pode chegar.

— O que quer dizer?

— Meu navio é um dos muitos arrendados pelo Rei para transportar seu queijo de mamute.

— De mamute? – indagou Missandei sem conseguir se conter – Minhas desculpas, vossa graça – emendou envergonhada de sua reação.

— O rei você disse – Dany se prendeu a parte que realmente importava.

— O Rei- pra- lá- da- Muralha. Jon Snow trouxe um rebanho de mamutes para a Dádiva e desde então vem vendendo seus produtos nesse lado do Mar Estreito. Tá fazendo uma fortuna.

— Vendendo queijo? – sua incredulidade fez o velho rir.

— Vendendo exclusividade. Não sabe o quanto os ricos pagam por ela.

Dany sabia. Não comprara milhares só com um dragão? Apenas porque só existiam três em todo o mundo.

Seis. Corrigiu-se imediatamente. Existiam seis dragões no mundo. E os seus não eram nem os maiores nem os mais poderosos.

— Traga um pouco de vinho para nossos visitantes – ordenou a Missandei – Por favor, sentem-se.

Com uma taça na mão, Ollef começou a falar e lhe informou sobre muito mais do que o comércio intermarítimo.

Foi embora antes do amanhecer deixando-a com mais preocupações para adicionar a sua longa lista.

— Não é surpresa nenhuma que os Nortenhos tenham se desprendido da coroa – comentou Ser Barristan na manhã seguinte quando ela reuniu seus homens de confiança para compartilhar as notícias que recebera de além-mar – Fico surpreso que Jon Snow tenha se contentado apenas com o Tridente e o Norte.

— Devo dá graças então, Sor, pelo fato de apenas metade do meu reino ter sido tomada?

— Só estou ressaltando, Vossa Graça, que se o bastado de Ned Stark quisesse sentar no Trono de Ferro, não haveria ninguém com força para impedi-lo.

Daenerys tinha consciência de que ela não tinha. Não agora.

—Esse Jon Snow está enchendo seus cofres por algum motivo – opinou Daario.

— Não está enchendo cofres. Está enchendo seus depósitos de comida – esclareceu ela. Oleff lhe informara que todo o dinheiro arrecadado era revestido em comida e mandado direto para Atalaia Leste do Mar.

“De lá os selvagens do rei tomam de conta de tudo. Acho que a Patrulha fica com uma parte também. Um conhecido da Guarda da Noite me contou que Jon Snow fez um acordo de manter a Muralha durante o inverno todo.”

— Ganhamos tempo ao menos – ressaltou seu guarda real - Tempo para que possamos representar uma verdadeira oposição ao Bastardo.

— Jon Snow ainda não é Rei do Norte – ressaltou Dany.

— Mas será, majestade – Sor Barristan falava de forma convicta – O Norte só conseguirá manter sua independência com um rei forte o suficiente e não há um homem com mais poder em toda Westeros. Ele pode não ter o nome certo, mas os nortenhos nunca ligaram muito para isso. E os dragões eliminam qualquer desvantagem que a condição de bastardo possa trazer.

Dois dias depois daquela conversa, Dany se viu no alto da grande pirâmide de Meereen. Acima dela, no topo, o dragão de três cabeças de sua Casa tremulava ao vento.

O povo havia lhe entregado a cidade. Ávidos por libertação e justiça.

Esperou sentir algum sentimento de realização. Afinal, agora as Cidades Livres eram dignas dessa alcunha.

Mas não sentia nada.

Seus pensamentos sempre se voltavam para o outro lado do mar. Para casa.

Sor Barristan lhe contara de sua família. O lado bom e o ruim. O cavalheiro não era alguém que omitia verdades que podiam lhe desagradar.

Por isso resolveu chamá-lo para falar abertamente sobre o que a incomodava.

— Quero que me dê sua opinião honesta, Sor Barristan – começou – Quais são minhas reais chances no Norte? 

— Nortenhos são simples de definir, Majestade. Embora, difíceis de entender. Seguem o jeito antigo mais do que qualquer um em Westeros.

— O que isso representa de fato?

— Que o Trono de Ferro não significa nada para eles. O Norte seguirá os Stark como sempre fizeram. Seu ancestral foi sábio o suficiente para perceber isso. Recomendo que siga o exemplo.

— Então, os Stark serão meu maior obstáculo.

— É uma maneira de ver a situação.

— Qual seria a outra maneira?

— Os Stark seriam seu caminho para o Norte.

— Jon Snow não é Stark.

— Não. Ele é uma carta em branco. Não saberemos como lidar com ele antes de conhecê-lo. E nesse momento, não há nada que possa oferecê-lo e nada que possa usar para intimidá-lo. Os dragões de Jon Snow são maiores, seu exército é maior. E enquanto para os nortenhos, ele é o filho do honrado Ned Stark que surgiu para libertá-los da tirania Lannister, sua majestade não passa de uma conquistadora filha do Rei Louco.

— Não vou permitir que metade do meu reino seja tirado de mim.

— Meu conselho, minha rainha, é que se concentre no Trono de Ferro. É um objetivo muito mais atingível e por certo, uma maneira de recuperar o Norte se apresentará com o tempo.

Dany encarou o homem.

— Fala assim, mas não acredita de verdade que conseguirei.

— Vi vossa graça fazer coisas extraordinárias.

— Mas...

— Mas não conhece os Sete Reinos. Não há escravos para libertar. O povo comum se importar apenas com pão de cada dia. Governa todas essas cidades porque ofereceu salvação. O que tem a oferecer a Westeros? O que a faz digna?

Danny percebeu o que precisava.Uma reputação. Melhor do que as que já tinha. Ela teria que criar uma imagem que chegasse até os Sete Reinos antes de cruzar o Mar Estreito.

— Obrigada por suas palavras, Sor – levantou e se dirigiu a sacada – Percebo agora, que terei que governar primeiro o que já conquistei. Quando os Sete Reinos ouvirem sobre mim quero que seja das mudanças que fiz. E enfim, quando eu chegar, quero que me olhem como algo além da filha Aerys Targaryen.

O homem sorriu.

— Então, é melhor começar a trabalhar, Vossa Majestade.

..............

Liberdade.

Era isso que representava o papel que Lorde Stark segurava.

Grande Jon não tinha ânimo para falar nem ouvir enquanto o Miestre relia o Tratado de Independência firmado com o Sul. Estava lá quando fora escrito. Seu nome estava assinado no pé da página como testemunha.

O menino fizera questão de sua presença enquanto se encontrava com o Velho Leão naquela tenda em frente ao Portão Vermelho, e exigia o Norte e o Tridente em troca de nada mais do que promessas de sua parte.

Promessas de cessar fogo.

Fogo fora o que mais vira naqueles dias. Castelos derreteram e os Lannisters perderam a guerra. E aquele menininho caçador que encontrara uma vez, conseguiu o que ninguém mais conseguira desde a conquista.

O Norte, enfim, conquistara o que tantos tentaram durante os anos de dominação dos Targaryen. Para o bem ou para o mal, estavam desligados do Trono de Ferro.

O garoto parecia que não via a grandeza do que fizera. Naquele dia, veio até ele com um pedido apenas:

“ – Pode subir com o exército ao Norte? – enquanto seu dragão dourado descia perto deles – Morghon vai ficar com vocês até que cheguem. Preciso ir até a Dádiva. Tenho muito o que fazer.”

E o rapaz montou em seu dragão para entregar a Lorde Stark, sua espada e a liberdade que perderam trezentos anos antes. 

Tinham conquistado a liberdade, contudo, paz ainda era um objetivo a ser atingido. O inimigo fora subjugado, mas não aniquilado. O Leão estava à espreita. Stannis Baratheon exigia que se ajoelhassem assim como seu irmão. Ambos se declaravam legítimos reis e exigiam fidelidade.

 Nenhum deles aceitaria um tratado firmado com os Lannisters. Mas não haviam sentado no Trono de Ferro para que pudessem exigir qualquer coisa ligada àquela cadeira maldita.

Quando chegou a Winterfell, Jon não estava mais lá nem a maioria dos selvagens que tomaram o castelo. A paisagem estava incrivelmente igual a como estava alguns meses atrás quando partiram. Tirando os dois gigantes guardando os portões.

Prova de que tudo havia mudado.

“E assim ficou decidido diante dos deuses, antigos e novos.” – terminou o Meistre.

Houve silêncio. Aquelas palavras lidas em voz alta fundamentavam sua nova realidade. Nortenhos e sulistas de Correrrio lidavam com uma simples questão.

Liberdade. O que fazemos agora que a conseguimos? 

Gostaria que o moleque estivesse aqui. Ele saberia exatamente o que deveriam fazer. Provavelmente, já teria planejado seus passos pelos próximos dez anos. Mas Jon não ficara para ver a repercussão do que fizera. Ganhara a guerra e os deixara a própria sorte para decidir seu futuro.

Tinha certa raiva por sentir-se desamparado. Os deuses sabem que o rapaz já havia feito o suficiente. Todavia, uma parte de si queria o rei aqui. Tomando conta das decisões como sempre fazia.

Riu consigo mesmo lembrando-se de como o menino tomava conta de qualquer situação sem muito esforço. Isso tinha menos a ver com dragões e mais com Jon Snow.

Foi retirado de seus pensamentos quando as vozes se exaltaram assim que o Miestre leu as cartas enviadas por Renly e Stannis Baratheon.

Alguns defendiam que Stannis era rei legítimo. Alguns falavam por Renly.

Uma porção de senhores do Tridente alegavam que suas terras deviam ser um reino a parte. Outros que deviam permanecer ligados ao Norte.

Olhou para Peixe Negro que se mantinha em pé atrás do sobrinho, o Lorde de Correrrio depois da passagem do pai, Hoster.

Stark e Tully estavam ligados por sangue e casamento, mas era natural que os sulistas quisessem caminhar com as próprias pernas.

A questão era que não tinham poder para isso. Os dragões estavam no Norte e sem eles, todos estavam vulneráveis as retaliações que podiam vir por parte da Coroa.

Essas questões pareciam que não seriam respondiam tão cedo. E lorde Stark, percebendo isso, resolveu levar a conversa para assuntos que podiam, e deviam, ser resolvidos imediatamente.

— Lorde Glover – chamou – Como estão seus mantimentos para o Inverno?

As vozes se calaram esperando a resposta do homem.

— Os malditos Nascidos de Ferro queimaram tudo, meu lorde. Meu irmão conseguiu pôr o povo em segurança, mas a terra foi arrasada.

A desolação espalhada pelos Lannisters e Greyjoys seria sentida por anos a fio. Florestas foram queimadas, campos foram salgados. Demoraria muito tempo para que se recuperassem, um tempo que não tinham.

— Mas não há o que se preocupar, meu lorde.- completou Glover - Sua majestade já assegurou nossas provisões até recuperarmos os estoques.

— Jon não me informou sobre tal atitude – mesmo ao longe podia ver a testa franzida de Lorde Stark.

— Sua Graça está trabalhando para recuperar o porto em Bosque Profundo. Disse que precisava de navios e porto seguro para trafegar.

— Com que intuito?

Sabia que Jon abrira comércio com as Cidades Livres. Navios iam e viam em Porto Branco todos os dias carregados de mercadorias. Queijo, manteiga e outros derivados de leite de mamute eram levados para o outro lado do Mar Estreito. Mas o que Jon poderia querer com esse lado do Continente?

— O rei está reunindo uma pequena esquadra, meu senhor – foi Lady Mormont quem respondeu – Dez navios estão sendo preparados na Ilha dos Ursos nesse momento. Os maiores navios de carga a minha disposição.

— Para quê? – indagou Lorde Stark já impaciente. Jon não o incluíra em suas decisões.

Maege apenas deu com os ombros.

— Não questionei o pedido. Dez navios é muito pouco comparado ao que Sua Graça fez pelo Norte. Quem sabe quantos de nós não estaríamos aqui se não fosse por ele.

Lorde Eddard, por certo, não estaria.

— Muito bem. Jon já nos mostrou um caminho. Temos muito o que fazer e o que decidir.

Depois de muito discutirem e não resolveram nada, o amigo percebera que não podia adiar a questão mais importante, pois nada seria resolvido antes dela.

O guardião do Norte levantou-se e se dirigiu aos lordes de Correrrio.

— Meus senhores, o Norte nunca esquecerá sua ajuda nessa época de necessidade. Quando foram chamados, os senhores do Tridente atenderam. Agora, eu lhes pergunto. Seguimos nossos caminhos separados, ou continuamos como um?

Seu olhar recaiu sobre Peixe Negro. Embora o rapaz Tully fosse o Senhor Do Tridente, sabia que seria Brynden quem tomaria da decisão. Pois Edmure ainda tinha que conquistar a confiança de seu povo.

Vários lordes gritaram por um Rei do Tridente, outros por Tully e Stark.

Até que Peixe Negro suspirou:                                             

— É impossível que nos separemos agora. Ganhamos independência, mas perdemos o Sul e todos seus recursos. Estamos sozinhos com fronteiras pra defender que não tínhamos antes. O alvo está sobre nossas cabeças. O inimigo está esperando uma oportunidade. Se nos desligarmos agora já oferecemos uma brecha.

O comentário era de alguém entendido em guerras. Que sabia o quanto ainda teriam que lutar pela liberdade que conquistaram.

— Um Rei Do Norte e do Tridente? – indagou um menino, verde demais para aquela situação. Devia ter menos que quinze anos, mas falara o que ninguém tivera coragem até então.

— Parece ser a única coisa sensata diante das circunstâncias. – aquiesceu Peixe Negro.

— Um reino ao Norte com fronteiras abaixo do Tridente.  Defendidas por um único rei – resumiu Lorde Stark.

— Só há uma família, um sangue, que governa o Norte – começou Lorde Manderly – Foi assim antes, durante e depois dos Targaryen.

Um frio lhe subiu a espinha. Sabia o rumo que a conversa tomava.

— Desde que o meu ancestral subiu ao Norte e jurou fidelidade, que os Manderly tiveram um único senhor. Os Starks são senhores dessas terras e continuarão por todos os invernos ainda por vir.

Houve batidas nas mesas. Gritos de aprovação e, é claro, de contrariedade.

— O Norte não está mais sozinho, Lorde Manderly – objetou Lorde Piper, um senhor contemporâneo do pai de Lady Catelyn. – Os Tully também devem ser considerados.

As vozes se alteraram. Nortenhos não aceitariam um rei Tully e a reciproca era verdadeira. Todos começaram a falar ao mesmo tempo.

— Por que não alguém de sangue Stark e Tully – sugeriu Lorde Mallister olhando para Robb.

O rapaz se ajustou na cadeira, surpreso.

— Mas o sobrenome dele ainda é Stark – contrapôs Lorde Piper.

— Devemos instituir um grande conselho, como fez Jaehaerys Targaryen. Assim todas as opções serão ponderadas devidamente – Lorde Mallister tentava ser a voz da razão. 

Todos reagiram a essa ideia e gritavam o nome de seus candidatos como se tentassem ganhar no grito. Percebeu que não chegariam a lugar algum naquela noite. Os ânimos estavam alterados demais.

Até que Lorde Stark percebeu seu silêncio. O homem o conhecia bem demais para não notar que não falara nada desde que a reunião começara.

— Lorde Umber? – chamou o amigo e senhor.

— Meu lorde - respondeu, enfim erguendo as vistas da taça de vinho que segurava.

— Por favor, nos diga o que acha sobre a escolha que temos diante de nós.

Tentou escolher as palavras certas, mas nunca fora bom nisso. Sempre acabava dizendo o que não devia. Ali, tratando daquele assunto, não sentia vontade de falar.

Porque para ele, não havia escolha.

— Não posso opinar Ned.

Olhou para Lady Stark, lembrando-se que a mulher nutria certo desgosto por ele. Justificado, diga-se de passagem. Ela teria menos motivos para simpatia depois dessa noite.

— Não posso opinar, meus senhores – continuou olhando os companheiros de tantas batalhas – porque não existe escolha alguma. No meu coração, tenho a certeza que já existe um Rei no Norte. Eu já tenho um rei.

Houve silêncio.

— Jon Snow é meu rei e, eu o servirei por todos os dias que me restam. Porque não haveria reino sem ele. Foi para Jon Snow que os leões se renderam. Foi ele quem nos libertou. Foi ele quem venceu. – percebia que sua voz retomava ao volume costumeiro.

Com isso depositou a taça sobre a mesa.

— Não devíamos nem está decidindo nada sem a presença dele. O garoto é nosso Rei. E desafio qualquer um aqui a provar o contrário.

Ninguém o fez. E o silêncio continuou a medida que se retirava. Sentiu-se ele mesmo pela primeira vez na noite.

Não se interessou mais pelas discussões que se seguiram. Porém, três dias depois, Lorde Stark o chamou em seu Solar e lhe entregou uma coroa.

Um aro de prata adornado com espadas de aço. Um lobo fora esculpido na frente.

— Foi o melhor que conseguimos fazer em tão pouco tempo – salientou Lorde Eddard.

— Meu Lorde? –Indagou enquanto olhava a cabeça do lobo.

— Subiremos a Dádiva e você coroará nosso Rei.

— Eu, meu senhor?

O homem sorriu e apertou o seu ombro.

— Meu amigo, você é nosso Fazedor de Reis. Não acho que tenha alguém melhor.

 


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Notas finais do capítulo

Sinto muito pela espera de anos. Vou explicar meus motivos no proximo capítulo que sai no final do mês. Obrigada por tudo.

P.S: Resolvi editar esse cap, porque deixei passar alguns erros de digitação que me incomodaram. E aproveito para convidar aos fãs de Harry Potter a ler minha outra fic Hatstall, que terá capítulo novo no domingo.
O próximo capítulo de Dragões do Norte sairá no dia 28 desse mês. Bjs.



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