Dragões do Norte escrita por Snowfall


Capítulo 17
A honra torna os homens previsíveis.


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é com dois dos meus personagens preferidos de Game of Thrones. E é dedicado a todos os leitores e especialmente a Lucas que escreveu uma recomendação muito legal.



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Você percebe a realidade das dificuldades que passou quando realiza que não se lembra a última vez que tomou banho. Um pensamento sombrio que lhe veio à cabeça enquanto afundava na água morna da banheira.
Os músculos fadigados relaxaram todos de uma vez só. A dor nos membros deu lugar a um cansaço que fez Danny desejar dormir ali mesmo na sala de banho.
Houve momentos no deserto que pensou que nunca mais estaria cercada por quatro paredes em sua vida. O risco diário de insolação, a fez dar valor a um teto sobre a cabeça.
Durante muitas noites, quando o deserto esfriava e antes da madrugada em que o frio era quase insuportável, ela pensava em que rumo tomaria.
Daenerys invejava aqueles que tinham para onde voltar. Ela não tinha um lar em que alguém esperasse a sua volta. Nenhuma família que sentisse a sua falta.
Com a morte de Viserys, ela ficara sozinha.
O único lar do qual se lembrava, a casa de porta vermelha, nunca fora sua de verdade. Era a casa de outras pessoas que aceitaram receber ela e o irmão em um falso gesto de hospitalidade, enquanto pensavam no quanto ganhariam com isso.
Mas ela, criança como era, não percebia essas coisas e não podia deixar de se sentir segura e acolhida naquele lugar. Danny ansiava por aquela sensação novamente. Queria se sentir protegida e em casa de novo.
Porém se ela quisesse um lar que fosse realmente dela. Que fosse seu direito. Teria que conquista-lo. Sua casa estava do outro do Mar Estreito e no momento se encontra na mão de traidores e usurpadores.
Ela precisava tomar o que lhe pertencia. E ela o faria. Com fogo e sangue.
Depois do banho, enquanto se aprontava para dormir, parcialmente ouvindo Irri e Jhiqui conversando, ela calculava em sua cabeça a extensão do caminho que ainda tinha que percorrer até que pudesse se sentar na cadeira de seus antepassados.
Á medida que listava as coisas que tinha. Um nome, uma pretensão, três dragões. Se tornavam claras as coisas que não tinha. Um exército, aliados, dragões adultos.
Um longo caminho, certamente.
Nem o prazer de se deitar de novo em uma cama a fizera ter um sono tranquilo naquela noite. O alívio de deixar o deserto e entrar em Qarth deram a ela a falsa sensação de que o pior ficara para trás, mas na verdade o pior ainda estava à frente.
Os dias seguintes foram gastos em esforços infrutíferos de conseguir aliados que a ajudassem a conquistar o Trono de Ferro. Isso, somado a tarefa árdua de impedir seus Doltrakis de pilharem os bens dos seus anfitriões, a deixaram desgastada e com raiva.
Daenerys fez questão de gravar os nomes de todos aqueles que negaram ajuda. Um dia, quando tivesse o que lhe era de direito se lembraria daqueles que lhe deram as costas.
Mas um bem esses homens fizeram. Mostraram a ela tudo que precisava superar para chegar ao trono.
A recusa deles tinha os mais diversos motivos. Seus dragões eram muito pequenos e ela muito pobre ou muito mulher.
O que os bons homens de Qarth não sabiam ou se negavam a perceber é que seus dragões cresceriam e eram a maior riqueza do mundo. E quando ela mostrasse a todos que o Sangue do Dragão corria em suas veias, não se importariam mais que ela fosse mulher.
Danny se sentia fatigada e frustrada quando deixaram a casa de um almirante que lhe ofereceu um navio se ela se deitasse com ele. Xaro Xhoan Daxos insistia que visitassem uma outra pessoa antes que voltassem.
Ela não sentia disposição para implorar a mais ninguém naquele dia, mas não queria fazer desfeita a única pessoa naquela cidade que estava do seu lado.
— Karir Kin não tem muita influência na cidade Qarth...
— Então por que estamos indo vê-lo – interrompeu ela sem conseguir se conter.
— Porque o mundo não se resume a Qarth – respondeu Xaro calmamente, mas Danny pode ver algo em seu olhar, a impaciência dela não lhe agradara – Karir Kin faz comércio com Westeros há anos. Seus navios chegam e partem todos os dias. Não há ninguém melhor para lhe dar notícias do que está acontecendo do outro lado do mar.
Danny apenas assentiu. Sentiu-se culpada por ter perdido a paciência tão facilmente. Era insensato esperar que essas pessoas, que só se preocupam com lucro e vantagens, fizessem fila para apoiá-la.
— Acha que ele vai nos ajudar?
— Não sei, mas vale a pena tentar.
Quando entraram na casa foram conduzidos até um terraço. Um lugar bem mais arejado e que propiciava uma vista quase completa de toda a cidade.
Para sua surpresa, quem lhe esperava não era um homem.
Uma mulher morena estava sentada em um sofá sendo abanada por um par de servos.
Ela era velha. Seu corpo tinha encolhido com o passar dos anos, mas os olhos eram vivos. Ela estava vestida em sedas finas e tinha anéis de ouro em cada dedo das mãos. Seu rosto enrugado não escondia a tatuagem.
Uma escrava ou melhor ex-escrava. Imaginou que o passado de escravidão fosse o que impedia de ter influência na cidade como dissera Xaro Xhoan Daxos. A mulher era rica o suficiente para ter a maior casa que Danny visitara, mas não o suficiente para apagar sua história.
Não, coisas assim custam muito mais caro.
— Quando informaram que um príncipe batia a minha porta quase não acreditei – comentou ela sem nenhuma introdução ou formalidade – E sem nenhum anuncio prévio.
— Sinto muito se nossa chegada foi inoportuna – começou Xaro, mas foi logo cortado.
— Nós dois sabemos que você não tem consciência alguma para se sentir culpado por qualquer coisa. Por que não diz logo a razão de estar aqui.
Xaro se recuperou rapidamente.
— Gostaria de apresentar Daenerys da Casa Targaryen, a Mãe dos Dragões e rainha dos Sete Reinos.
A mulher olhou Danny de cima a baixo e pareceu ter percebido sua presença só agora.
— Rainha você diz. Mas até onde sei o Trono de Ferro pertence a outra pessoa.
— Um usurpador – rebateu Danny – O trono sempre pertenceu aos Targaryen.
— Oh minha criança – disse ela com simpatia – o trono pertence a quem sentar nele. E no momento não é você.
— Não. Mas o dia chegará em que recuperarei tudo que foi tirado de mim e da minha família.
Karir Kin segurou seu olhar por um tempo antes de levantar seu copo de vinho doce.
— Por que não se sentam para que possamos brindar a esse dia.
Pouco depois Danny estava sentada com uma taça na mão. A bebida fria era muito bem-vinda naquele calor.
— Viemos aqui por que precisamos de ajuda – informou...
— É claro que precisam. Por qual outro motivo o grande Xaro Xhoan Daxos se disporia a bater a minha porta se se negou a vir antes, apesar dos convites que mandei.
O homem decidiu ignorar o comentário, mas aparentemente Karir Kin se divertia observando ele se contorcer.
Danny começava a gostar da mulher. Apesar de não ser muito receptiva, apenas dirigia seus comentários cortantes a Xaro e não a ela. O que era uma mudança bem-vinda, Daenerys ouvira insultos demais para um dia só.
— Por que está aqui criança? – perguntou Karir Kin com uma voz até afetuosa.
— Preciso de ajuda para chegar em Westeros.
— Eu não recomendaria. Os Sete Reinos não são o melhor lugar do mundo no momento. O caos se espalhou depois da morte Robert Baratheon.
Danny fez tudo o que pode para manter uma expressão de neutralidade, mas a mão que segurava a taça começou a tremer levemente, o que não passou despercebido por Karir.
— Você não sabia? Ele foi dilacerado por um javali durante uma caçada. O rei conseguiu matar o animal no fim, mas não sobreviveu ao ferimento. Alguns dizem que a besta era do tamanho de um cavalo. É incrível o que as pessoas inventam para engrandecer os mortos, principalmente os reis.
Daenerys não a escutava. A voz de Karir Kin parecia vir do outro lado de um túnel.
O Usurpador. Morto.
Ela não sabia o que isso significava realmente para ela nesse momento, mas sentiu-se um passo mais perto do trono. Mais perto de casa.
— O que mais? – perguntou ávida – o que mais sabe de lá?
Karir Kin se surpreendeu um pouco com sua descompostura, mas começou a falar.
— Joffrey Baratheon é rei agora. Um menino. Obviamente os abutres da corte brigam entre si para ver quem se banqueteará com o poder daquela cadeira de ferro.
— O povo está dividido – intuiu Danny.
— Isso não tem nada a ver com o povo, menina. Isso tem a ver com os nobres e seu jogo interminável. Mas podemos dizer que os Sete Reinos estão sim divididos. Stannis Baratheon está agora em Pedra do Dragão juntando as forças das Terras da Tempestade para tomar o trono.
— Ele pretende destronar o sobrinho?
— Sim. Mas, pelo que ouvi, Joffrey não é seu sobrinho realmente, mas sim um filho nascido do incesto entre a rainha e o irmão, o regicida.
— Então Stannis inventou uma mentira para tentar legitimar sua posição – Xaro inquiriu- Não acho que uma coisa dessas convencerá muita gente. A palavra de um segundo filho amargurado.
— Mas não foi Stannis que levantou essa questão, mas sim Lorde Stark. E a palavra de um Stark ainda tem muito valor nos Sete Reinos. A honra deles, pelo que entendi, está acima de qualquer questionamento.
O cachorro do usurpador.
— Quem segue Stannis?
— Não muitos. O homem não tem muito carisma. Não se pode dizer o mesmo do irmão mais novo. Renly tem a Campina ao lado dele. Se ele chegar ao Trono de Ferro, você terá mais problemas do que já tem para conquistar Westeros. Ele é o tipo de homem que pode conquistar as massas. Mas para conseguir isso, ele terá que passar pelos Lannisters.
— Os Sete Reinos está se dividindo novamente. O legado da minha família será destruído.
— Não há muito que possa fazer a esse respeito.
— O que acha que acontecerá agora?
— Alianças serão feitas e desfeitas. A terra sangrará e o último de pé ficará com os espólios. O que pretende fazer para que esse seja você?
A pergunta não recebeu respostas embora claramente não fosse retórica.
— O jogo é difícil e perigoso, menina. Tem certeza que esse é o caminho que quer para sua vida?
Daenerys pensou na questão. A vida que ela buscava era cheia de inimigos, traição e falsidade. Mas o que havia mais para ela? Era a última Targaryen. Sua chance de ter uma outra vida morrera com Drogo e Rhaego.
Só havia um destino para ela agora. E não se desviaria dele.
Então acenou firmemente para Karir Kin.
— Então recomendo que espere – aconselhou a mulher – quando a guerra acabar haverá menos inimigos para eliminar. Muito poucos a seguirão no momento. Não precisam de você no momento. Não necessitam de uma conquistadora, mas talvez no futuro vejam serventia em uma salvadora.
— Seu conselho é que eu não faça nada.
— Não há muito que possa fazer. Tudo que tem é um nome famoso.
— Tenho dragões.
— Tem filhotes de dragões. Até que eles estejam grandes o suficiente para destruir exércitos, não são de muita ajuda. Mas você pode ter muito a ganhar com essa guerra.
— Por que diz isso?
— Você ganhará tempo. Tempo para reunir um exército e para seus dragões crescerem. Se Westeros estivesse estável, você teria sido morta assim que pôs os pés nessa cidade. Mas todos estão preocupados demais com o Norte para lhe dar atenção.
—O Norte? Por que?
— Por que há dragões no Norte, minha criança.
............
Naquela noite em seu quarto, Danny tentaria se lembrar do caminho de voltar, mas tudo era ficara confuso. As palavras de Karir Kin rodavam em sua cabeça.
Enquanto alimentava os dragões tentava suprimir o terror que sentia. Todo o alívio que sentira ao saber da morte do usurpador se fora em um instante.
Kare lhe contara do ataque a Porto Real.
“Tudo uma distração. Um truque para resgatar Lorde Stark.
— Como sabe se é verdade – perguntou Xaro, meio pálido – Pode ser apenas invenção como o javali do tamanho de um cavalo.
Danny se perguntou que ele realizava que podia ter escolhido o lado errado.
— O dragão queimou dois navios meus. Os homens que conseguiram voltar falaram de uma besta voadora que cobriu tudo com Fogo-Vivo.”
Quando Doreah entrou, Danny ainda não havia se mexido. Continuava no mesmo lugar que sentara assim que chegou.
— Algo errado, khaleesi? – perguntou foi feita com a entonação de alguém que pretendia ouvir uma resposta negativa.
— O caminho para casa acabou de ficar mais longo Doreah, e com mais obstáculos.
Se perguntou se deveria contar a serva tudo que descobrira naquele dia. Por fim concluiu que não tinha nada a perder. Logo as notícias trazidas pelo mar seriam do conhecimento de todos. Sigilo não era uma opção.
Quando terminou de contar tudo que se passara, Doreah já havia acabado de pentear seu cabelo para a noite.
— Então esse senhor de dragões westerosi é um inimigo? Ele não está lutando contra a família do usurpador?
— Todos eles são inimigos. Todos disputam o meu trono.
Doreah não disse nada por algum tempo, enquanto a ajudava a se vestir para deitar. Danny percebia que algo era debatido dentro de sua cabeça.
— Sempre pensei que sua família fosse a única que controlasse dragões. Nas histórias só Targaryen montavam dragões.
— E como eu gostaria que continuasse assim. Mas infelizmente as coisas não continuam iguais para sempre.
— Não pode ir para Westeros.
— Não posso. Não tenho força suficiente.
— O que vai fazer enquanto estiver aqui?
— Vou conseguir poder suficiente para tomar o que é meu.
...........
Se Danny alguma vez sentiu pânico, nunca se comparou ao que sentiu quando seus dragões foram roubados. Imediatamente se sentiu incompleta e viu tudo que a mantilha seguindo em frente escorrendo por entre os dedos.
Sentia tanta coisa ao mesmo tempo que por um instante perdeu o fôlego. Mas uma a uma as emoções foram sumindo deixando apenas a raiva.
Eles pagariam. Todos eles. Pagariam pelo roubo, pelas mortes e pela traição. Logo aprenderiam o que acontece quando se acorda o dragão.
Essa certeza a fez entrar na Casa dos Imortais. Seus dragões estavam em algum lugar ali dentro e quando os encontrassem levaria justiça aos traidores.
Ser Jorah a acompanhou até a entrada, mas ela sabia que isso era algo que devia fazer sozinha.
O corredor era escuro e ela teve que pôr a mão na parede para se orientar. Quando encontrou uma porta, esta se abria para um grande salão.
Seu coração acelerou assim que notou o trono. Nunca o tinha visto, mas ele era inconfundível.
Se aproximou devagar. Sua mente tentava lhe convencer de que aquilo não era real, mas tudo parecia tão verdadeiro. Conseguia até sentir o frio do lugar.
Frio.
Estivera tão concentrada no trono que não parara para avaliar o estado da sala.
As janelas estavam quebradas e parte do teto se fora junto com metade da parede do fundo. Pelo buraco caiam flocos de neve. Nesse instante sua expiração se tornou visível, um sinal que temperatura caíra ainda mais.
Caminhou rapidamente para a porta esperando encontrar o corredor escuro novamente, mas estava dessa vez em outro cômodo. Um quarto simples em uma casa pequena.
Na cama estava uma mulher. Os cabelos negros desgrenhados e a testa suada indicavam que passara por grande esforço. Um parto, ao julgar pelo bebê que segurava e pela outra mulher recolhendo lençóis sangrentos em um canto.
A mulher na cama ainda não havia tirado os olhos do bebê. Apesar do cansaço, ela sorria.
— Um menino – disse com a voz rouca – eu tenho um filho.
— Um príncipe, minha senhora – disse a serva.
O bebê se remexeu um pouco e a mulher o acariciou com um dedo que o menino agarrou com a pequena mão.
Danny deixou a sala com um aperto no peito. Ela nunca sentirá o que aquela mulher sentiu. Nunca seguraria um filho seu contra o peito.
Do outro lado da porta estava um túnel. Uma luz acinzentada mostrava seu final.
Quando alcançou a saída estava ao pé de uma grande muralha de gelo. Antes de poder fazer registro dos arredores foi jogada no chão por uma grande rajada de vento.
Olhou para cima e viu um grande dragão branco. As escamas reluziam mesmo na pouca luz.
Ele soltava rajadas de gelo na muralha, engrossando suas paredes. Ele mudou de ângulo e Danny conseguiu ver uma figura incrustrada em suas costas.
Ela retornou pelo túnel. E encontrou seus filhos. Acorrentados em sala fria.
Seus dragões se remexeram e lutaram contra as amarras quando a avistaram. Quando tentou ajuda-los se viu presa também. Correntes prenderam-se aos seus punhos e a imobilizaram.
Em um canto um sacerdote apareceu.
— Eles sentem falta da mãe. Recusaram qualquer alimento desde que foram trazidos para cá.
O comando escapou da boca dela com facilidade. Ela que durante tantos anos se sentira tão impotente enquanto outros decidiam seu destino, se sentira poderosa enquanto o fogo consumia o sacerdote.
Aquela noite passou depressa. Encontrou Doreah na cama com Xaro Xhoan Daxos, o que não a surpreendeu tanto como deveria. Não era a primeira vez que alguém que ela depositara confiança a traía e por certo não seria a última.
Surpresa maior tivera ao perceber em quão facilmente fora enganada. Não aconteceria de novo. Não confiaria sem reservas novamente.
Trancar Doreah e Xaro no cofre vazio não fora difícil. Talvez devesse parar para pensar em por quê não sentia nada enquanto condenava uma amiga, mesmo uma traidora, a morte. Mas não o fez, não podia se questionar nesse momento.
Permitir que os Doltrakis saqueassem o lugar foi incrivelmente satisfatório.
— É suficiente para comprar um navio? – perguntou a Ser Jorah, mostrando uma espécie de tigela de ouro.
— Sim, Khaleesi. Um bem pequeno.
E ela sabia exatamente quem lhe venderia um.
Karir Kin a recebeu com um pequeno banquete apesar da hora. A mulher não ficou nem um pouco surpresa com os eventos que se sucederam. Longe disso, o que a surpreendeu mais foi o fato de Danny ter escapado e conseguido os dragões de volta.
— Devo dizer que fico mais que feliz em saber que os grandes homens dessa cidade podre não têm dragões – disse ela enquanto comia uma tigela de figos.
— Você sabia que tramavam me roubar? – acusou.
— Sabia? Não. Suspeitava? Com certeza. Me admira que você não suspeitasse.
Daenerys calou-se. Ela devia ter suspeitado. Tomado providências para evitar o que havia acontecido. Ela caíra em uma armadilha e só por sorte e fogo de dragão que conseguira escapar.
— Aprendi uma lição valiosa, acredite. Não esquecerei dela. Foi a única coisa que ganhei disso tudo.
— Não. Ganhou uma aliada também.
Danny olhou a mulher.
— Infelizmente sou uma aliada que pode lhe oferecer muito pouco.
— Não esquecerei de sua ajuda.
— Conto com isso porque quando estiver sentada naquela sua cadeira cobrarei o meu preço.
Tal comentário fez Danny questionar se viera buscar ajuda no lugar certo, mas ao menos a mulher estava sendo sincera.
— Não tema criança – Karir pareceu entender a naturezas das preocupações de Danny – não pedirei nada que você não possa dar. Sou comerciante, vivo de negócios. Entendo o quão interessante seria para mim receber as boas graças de uma rainha.
— Acho que estamos nos precipitando um pouco – comentou – ainda não tenho a coroa e até lá devemos nos concentrar no que você pode me oferecer. Acabou de dizer que é muito pouco.
— Sou uma mulher que não tinha nada, nem a liberdade sobre o próprio destino, mas que conseguiu conquistar tudo que queria. Isso lhe parece familiar? Acho que tem uma coisa ou duas que posso lhe ensinar.
— E qual acha que deve ser meu próximo passo?
— Precisa de um exército. Um que seja leal. Essa pequena lição deve ter lhe ensinado que nunca mais estará segura. Mas não é isso que garantirá sua coroa.
— E o que seria?
— Aliados. Aliados westerosi.
— Poucos estarão dispostos a ajudar a pôr no trono alguém da família que lutaram para destronar.
— Certamente. A filha do Rei Louco não é a primeira opção na cabeça de ninguém.
— Meu pai... – começou Daenerys, raiva se formando no fundo da garganta.
— Era completamente louco. A credite criança, eu sei. Você não era viva naquela época, eu era. Ninguém nunca precisou exagerar uma história sequer sobre as crueldades de Aerys Targeryen, ele se certificava de superar-se a cada ato de insanidade.
Ouvir aquilo trouxe um gosto ruim a boca de Danny. É claro que ouvira falar do Rei Louco, mas Viserys lhe dizia que era tudo mentira espalhada pelo usurpador.
— De qualquer forma os Sete Reinos estão em guerra. Um momento como esse faria com que alguns a vissem como uma alternativa viável.
— Quem você acha que estaria mais disposto?
— Conheço a pessoa certa para responder sua pergunta.
Na manhã seguinte Karir a levou a um estabelecimento imundo. O lugar parecia ser frequentado pelo que de pior Qarth podia oferecer.
— Gostaria que conhecesse Martyn Cole, Khaleesi. Um antigo conhecido – apresentou Karir se referindo a um homem de barba e cabelos brancos que sentava em uma mesa com uma garrafa de rum e aparentemente mascava fumo.
— É ela? – perguntou o homem depois de correr um rápido olhar a Danny.
— Daenerys Targaryen – confirmou Karir Kin.
— Se parece com a rainha Rhaella.
— Conheceu minha mãe.
Martyn Cole soltou uma risada que espalhou o fedor do fumo.
— Sou apenas um capitão de um pequeno navio, querida. Nunca conheci nenhuma rainha.
— Acabou de conhecer uma – lembrou.
O homem trocou um olhar com Karir depois riu novamente.
— Tem toda razão, vossa graça. Deve perdoar o mal-entendido, mas a falta de coroa ou reino me confundiram.
Daenerys se virou para Karir e lhe lançou um olhar gélido que mostra o quanto estava satisfeita ao ser trazida aquela espelunca para ser caçoada por bêbados.
A mulher não pareceu se importar.
— Não convida mais os amigos para uma bebida? – perguntou Karir a Martyn ignorando Danny completamente.
— Só aqueles que podem pagar suas próprias bebidas – disse ele apontando as cadeiras a sua frente – Os tempos estão difíceis. Perdi metade da carga em Porto Real quando os dragões atacaram.
— Estava lá quando aconteceu? – perguntou Daenerys se conseguir se conter.
— Infelizmente. Se tivesse saído mais cedo teria uma carga inteira. Zarpei assim que os sinos tocaram e as bestas foram avistadas deixando metade da carga para ser consumida pelas chamas verdes do dragão branco.
— Que tamanho tinham?
— O que vi era maior que meu navio – disse servindo a elas uma boa dose de rum – nunca pensei que veria fogo-vivo de novo depois que o Rei Louco morreu. Os Lannisters estão mais do que fudidos no momento.
— Acha que os Sete Reinos apoiaram uma nova rebelião?
— Quase todo mundo odeia os Lannisters desde de Dorne até o Norte.
— Quem você acha que decidirá no fim?
— O Norte obviamente.
Kare lançou o olhar a Danny.
— Os cães do Usurpador.
— Sei que os irmãos Baratheon procuram uma aliança com os nortenhos e quem os culpa depois do que o bastardo de Ned Stark fez em Porto Real.
No caminho de volta Daenerys percebeu uma inquietação em Ser Jorah.
— Nasceu no Norte, Ser Jorah. Acha que posso confiar nesses nortenhos.
— Acho que de todos nos Sete Reinos, eles são os que tem menos interesses no Trono de Ferro. Nortenhos não buscam a glória, meu pai gostava de me lembrar.
— Mesmo assim lutaram pelo Usurpador.
— E tiveram motivo para isso. Enquanto muitos entraram na guerra em busca de vingança, como Robert Baratheon, ou por vantagens, como os Lannisters, Eddard Stark entrou na guerra pela família.
— Fala do homem como se o admirasse mesmo que o tenha exilado.
— Você pode admirar alguém que odeia, Khaleesi.
— Concorda que Stark seriam os melhores aliados então?
— Será difícil para eles aceitarem uma Targaryen, o Norte Se Lembra. Mas se o fizerem, pode ter certeza que não voltarão atrás em sua palavra.
— A não ser que me torne igual ao meu pai – disse pensativa – Tenho uma escolha difícil diante de mim.
— Escolha sabiamente, Khaleesi. Ou teremos outra Dança dos Dragões.
............
Asas negra, palavras negras. O jeito com que o pai segurava o rolo de pergaminho deu a Tyrion certo refreado prazer.
Tywin Lannister nunca demonstrava qualquer emoção que fosse em sua presença, a não ser seu descontentamento e desprezo. Portanto a mão levemente trêmula o deixava incomumente feliz mesmo em meio à guerra.
Tio Kevan, se sentava tão imóvel ao seu lado, que parecia que tinham lhe enfiado algo singularmente doloroso em seu traseiro.
Ambos esperavam que o pai dissesse algo.
Mas aparentemente era esperar demais que Lorde Tywin lhes concedesse a benevolência de explicar por quê os mandara chamar no meio da noite.
O silêncio era tão pesado que Tyrion se admirava que ninguém tivesse sufocado ainda.
Obviamente a notícia, seja qual fosse, tinha deixado o pai em tal estado que ele precisava de tempo para ponderar todas as implicações. O fato de estar demorando tanto o fez concluir que a situação deles piorou bastante desde que fora dormir naquela noite.
Por fim cansou-se daquilo e resolveu que devia falar algo só para confirmar que ainda tinha esse sentido.
— Que satisfatório é para mim ser acordado no meio da noite para ficar sentado em silêncio em tão boa companhia. Só me incomoda a falta de vinho.
Os olhos perdidos em pensamentos do pai focaram nele com rapidez extraordinária.
— Se está tão cansado pode se retirar.
— Ora meu pai. Como poderei dormir agora, sem que me conte o que está escrito nesse papel. Gostaria de saber se estou certo quanto ao seu conteúdo.
— O que diz a carta? – perguntou tio Kevan.
Tyrion ainda sustentava o olhar do pai e esperava que este perguntasse qual era seu palpite.
— Não é obvio, tio – disse quebrando contato visual com o pai e se virando para Kevan – ela conta como estamos perdendo a guerra.
Tio Kevan olhou o irmão esperando que ele desmentisse as palavras de Tyrion. Tywin não o fez.
— Ned Stark não está mais na capital – disse ao pai finalmente.
Esperou que a informação fosse elaborada e se aborreceu quando isso não aconteceu.
— Que notícia esplêndida. Foi tão generoso da parte de minha irmã soltar nosso inimigo. Espero que os nortenhos apreciem nossa boa vontade.
— O que aconteceu? – inquiriu o tio ignorando seu comentário.
— Aparentemente Ned Stark foi contrabandeado para fora da cidade no dia do seu julgamento.
— Como? – Tio Kevan empalidecera consideravelmente.
O que era compreensível. Lorde Stark era uma peça chave na estratégia para ganhar essa guerra.
— Ele desapareceu na multidão enquanto todos corriam dos dragões.
Uma parte da mente de Tyrion lhe deixou. Dragões, dissera o pai. Dragões atacaram a capital.
— Cersei e as crianças? – perguntou com a voz fraca, devia está tão pálido como Tio Kevan nesse momento.
— Bem. As perdas foram mínimas. Ao que parece os dragões serviram apenas de distração para que inimigos vestidos como Capas Douradas levassem o prisioneiro. As meninas Stark também se foram.
— E a cidade? – Tio Kevan tinha recuperado o pensamento prático.
— O porto foi destruído assim como parte da Fortaleza Vermelha. Um dragão congelou o Septo e a estrutura cedeu um dia depois do ataque.
— Um dragão de gelo? – perguntou. Em todo esse tempo nunca viu registro de tal coisa.
— É o que diz a mensagem. Um dragão de gelo destruiu o Septo enquanto outro queimou as torres da fortaleza. Um terceiro derramou Fogo-Vivo sobre o porto. Toda a frota da capital se perdeu.
Fogo-Vivo. Não era possível.
— Deuses – exclamou o tio – Como lutaremos contra uma coisa como essa.
Três dragões. Como os Targeryen no tempo da conquista. Mais de trezentos anos depois e ainda não havia nada que se pudesse fazer contra um inimigo com dragões.
— Devemos escrever uma carta aos nortenhos agradecendo por não terem queimado tudo. Por certo, benevolência assim não deve passar despercebida – sugeriu com um riso nervoso.
— Não é o momento para gracejos – ralhou o tio.
— Ele tem razão, Kevan – concordou o pai para sua surpresa - Não restaria nada da capital se essa fosse a intenção do inimigo.
— E não precisariam nem dos três. Fogo-Vivo reduziria tudo a cinzas em um piscar de olhos.
Não é à toa que o senhor seu pai parecia tão abalado. Isso bem que podia ser o fim de tudo para os Lannisters.
— O plano continua o mesmo. Temos que chegar a Harrenhal. Não podemos abrir mão de um ponto tão estratégico.
— Deve saber que a premissa de enfrentar dragões enfraquecerá consideravelmente a moral de nossos soldados.
— Eles não saberão. Essa notícia não sairá daqui até garantirmos Harrenhal.
— Deixará que lutem no escuro? Não pode mandar homens para a morte sem ao menos avisar o que enfrentarão.
— Não podemos vencer os dragões – tio Kevan anunciou o óbvio – mesmo que deixássemos todos de sobreaviso.
— Os dragões não podem lutar em todas as frentes – comentou o pai.
Ele tem um plano. No curto tempo que estão sentados aqui, Lorde Tywin já pensara em um modo de contornar o problema dos dragões.
— Espera que se concentrem em tomar Correrrio – intuiu Tyrion.
— Seria o passo mais sensato – confirmou o pai.
— Jaime? – inquiriu cautelosamente, tentando refrear a pontada de medo. Será que o pai esquecia que o irmão liderava o cerco a Correrrio.
— Espero que seja sensato o suficiente para fugir.
— Esperar sensatez de Jaime pode ser uma aposta perigosa.
— De qualquer forma ele está longe do alcance de nossa ajuda – o comentário do tio teve um tom taxativo.
— Se os nortenhos concentrarem suas atenções nas terras do rio chegaremos Harrenhal sem complicações. De lá podemos pensar melhor na nossa situação. Vocês já podem se retirar. Kevan chame o Montanha para mim.
O pai pegou pena e papel e os ignorou enquanto saíam.
......
Na manhã seguinte Tyrion notou que Clegane não estava mais com eles. Para onde fora, só o pai sabia.
O ritmo que foi imposto era rápido. Rápido demais. Parecia que estavam fugindo de alguém. Talvez estivessem. Tyrion passou o dia todo com dores insuportáveis.
O pai o chamou para jantar naquela noite. Percebeu, surpreso, que era o único convidado.
— Um mensageiro chegou nessa tarde – começou o pai depois de comerem o primeiro prato em silêncio – O exército do Norte se dirigiu a Correrrio, os dragões foram vistos indo na mesma direção.
— Presumo que Jaime foi avisado.
— Escrevi a mensagem ordenando que ele se retire.
— Bom – disse aliviado - Sabe que praticamente perdemos essa guerra, não é?
— Diz isso por causa dos dragões.
— Obviamente.
— Um dragão não é nada sem seu cavaleiro. Temos sorte que estes são controlados apenas por um homem.
Aí estava a resposta.
— Mandou Clegane atrás de Jon Snow.
— O bastardo é nosso maior obstáculo.
— O que o faz pensar que seu homem chegará ao menos perto de seu alvo.
— Garanti a ele os meios necessários.
..........
Chegaram em Harrenhal em poucos dias graças ao ritmo acelerado, mas ficaram por pouco tempo. A notícia de que o exército inimigo se aproximava os fizeram continuar avançando.
— Pensei que os nortenhos tinham ido para Correrrio.
— A maioria foi - disse o mensageiro – mas uma pequena parte desceu e está vindo a nosso encontro.
— Quantos? – perguntou o pai. Uma veia batia frenética em sua têmpora.
— Doze mil, meu lorde.
O exército do Norte contava com mais de quarenta mil homens, sem a forças de Correrrio. Não sabia o que doze mil esperava fazer contra os cinquenta milhares que o pai liderava.
— Como estão armados?
— Vestem armaduras estranhas senhor. Também não reconheci a bandeira que carregam. Não vi nenhum homem a cavalo.
O mensageiro foi dispensado.
— Parece que a presença dos selvagens era verdade também – disse Lorde Tywin em um resmungo.
— Alegre-se meu pai. Pelo menos não foi visto nenhum gigante.
— Esperava mais do que piadas de sua parte. Sabe o que os selvagens significam.
— Jon Snow está vindo.
— Ao menos o caminho de Clegane é curto. Pode ser que ele já tenha se encontrado com o bastardo.
— Amanhã seu cão louco pode lhe presentear com uma cabeça.
Pensando logicamente um exército como deles, que superava os selvagens tanto em número como em capacidade técnica não teria problemas em garantir uma vitória, mas Tyrion mantinha os olhos no céu.
Foi para a batalha na manhã seguinte com sensação de que tudo mudaria a partir daquele dia.
A armadura que usava era pesada e desconfortável, mas se esforçava para manter a compostura. Não podia nem queria demonstrar fraqueza naquele momento.
Os clãs da floresta que comandava estavam animados. Ao que percebeu nada os deixava mais feliz que um banho de sangue pela manhã.
O inimigo logo foi avistado. A bandeira branca tremeluzia mostrando a face mal-encarada de um mamute.
O exército do pai contava com uma cavalaria de quinze mil homens. Ela por si só garantiria a batalha para eles. A não ser....
Olhou o céu novamente.
Nos flancos as catapultas começaram a se armar à medida que avançavam.
— Mande seus bárbaros primeiro. Eles talvez fiquem contentes em lutar com seus semelhantes – sugeriu o pai enquanto se dirigia a cavalaria.
Eles eram o sacrifício. Seriam mandados na frente para serem mortos porque eram descartáveis.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ouviu-se o som de um berrante como nunca ouvira antes. Imediatamente outros cornos de guerra seguiram o primeiro e Tyrion procurou a sua frente para ver quem tocava, mas não viu nada.
Até que percebeu que o pai virava a cavalaria. Olhou para trás, mas tudo que viu foi a floresta da qual acabaram de sair.
Era cedo e uma bruma rala ainda encobria as árvores. Por esse motivo foi incapaz de ver qualquer coisa, mas quando a terra começou a tremer soube que algo se aproximava.
Os soldados começaram a se remexer nervosos e os oficiais lutavam para manter formação.
Tyrion teve que desmontar já que sua manteria se agitava com o tremor. De sua posição não conseguiu ver mais nada. Mas ouviu os gritos.
Olhou para o céu e viu o dragão. Enorme e dourado. Voou tão rápido que o vento o fez cair.
Foi erguido do chão por Tio Kevan que gritava como um louco para os arqueiros.
Tyrion se recuperou a tempo de ver o dragão destruir as catapultas. Varrendo tudo como se fossem de papel. Notou um homem em suas costas.
Um cavaleiro de dragão. Como nos livros que havia lido.
Tio Kevan o jogou de volta em sua égua.
— Arqueiros!
Meia centena de homens apontaram suas flechas para o dragão, mas estas não afligiram nenhum dano. O dragão se virou e soltou uma rajada de fogo que varreu os arqueiros da existência.
— Deuses! – exclamou o tio.
Deuses, por certo. Deuses voadores.
O tremor continuava, agora mais forte. Até que grandes figuras começaram a sair da floresta em alta velocidade. Mamutes. Centenas deles.
Entres eles gigantes que tocavam os berrantes.
Podia ver o manto vermelho do pai vindo em sua direção tentando tirar a cavalaria do caminho, mas era tarde demais. Os animais os atingiram com toda força. Usavam armaduras de couro e aço, mas isso não parecia retarda-los de nenhuma maneira.
Em instantes não havia mais cavalaria. Esta se partira em pedaços.
— Reagrupar! Reagrupar! – gritava o tio.
— Gigantes! – gritou um homem da infantaria.
Sim. Todos tinham visto meia dúzia de gigantes deixarem a floresta junto com os mamutes.
— Do outro lado! – apontou alguém.
Tyrion se virou e quase chamou pelos Sete como muitos faziam ao seu redor. Lá, a quase uma milha de distância a retaguarda estava sendo atacada. Milhares de gigantes bradando foices e lanças avançavam por entres os soldados pegos de surpresa.
Acima deles outro dragão. Um azul. Congelava tudo.
Dragões, mamutes e gigantes.
Lendas. Eles lutavam contra lendas.
Tyrion se sentiu irracionalmente emocionado.
Um grito estridente de batalha o fez voltar a realidade. Os selvagens se puseram em movimento.
Com escudo alinhados e formação precisa, ganhavam terreno através do pandemônio. O exército, surpreso e desorganizado, era aniquilado com facilidade.
Uma risada histérica saiu do fundo de sua garganta.
— Recuar! – ouviu a voz do pai.
O resto passou sem que Tyrion se desse conta. Tudo que pensou enquanto fugia era se Shae tivera presença de espírito para fugir também.
...........
O caminho de volta dos derrotados era uma coisa triste de se ver. Lorde Tywin matinha toda a compostura de sua nobre linhagem, mas apressava o passo esperando chegar em Rochedo Castely o mais rápido possível.
A cada dia mais soldados se juntavam a seu grupo. Homens cabisbaixos que acabaram de perder uma batalha que acreditaram garantida.
Se perguntava se o pai estava satisfeito com a decisão de esconder o que havia se passado na capital.
A meio caminho de Rochedo Castely, foram surpreendidos pela visita de primo Cleos Frey, que trazia uma mensagem das Gêmeas.
— Como deve ter sido difícil e perigoso seu caminho até aqui, primo. Me impressiona sua disposição para fazer tal viagem quando um corvo seria mais rápido e eficiente.
Primo se remexia desconfortável em sua cadeira sob o olhar excruciante do pai, que ainda não dissera coisa alguma.
— Nossos corvos estão sendo interceptados. Por isso o senhor meu avô achou melhor me mandar pessoalmente para oferecer nossa lealdade.
— Ah, a lealdade de um Frey. Não eram vocês juramentados a Correrrio?
— Nesses tempos tempestuosos a família deve permanecer unida.
— É claro.
Isso e o fato de Lorde Frey ter negado passagem aos nortenhos. O que não deve ter caído bem aos seus senhores nas terras do rio.
— Qualquer ajuda é bem-vinda. Mas espero que esteja ciente que nosso lado se encontra tristemente desprovido de dragões.
O medo estampado no rosto de Cleos quando ouviu a palavra dragão era evidente.
— Levará uma mensagem minha ao seu avô – falou o pai por fim.
— Será uma honra, meu lorde.
A maioria dos homens que conseguiram sobreviver retornaram. Muitos haviam sido mantidos prisioneiros pelos selvagens, mas apenas por tempo suficiente para serem despidos de suas armas e armaduras.
Muitos haviam avistado Jon Snow e o correram todo tipo de boatos sobre ele no acampamento.
Um dos homens foi entrevistado pelo pai pessoalmente. E o que ouviram era perturbador.
— Os selvagens não nos fizeram mal por ordem dele, milorde – disse o saldado – apenas tomou os cavalos e as armas. Ele veio até nós e disse pra gente ir para casa.
— Como ele é? – perguntou Tyrion sem conseguir se conter.
— Jovem. Se parece com Lorde Stark. Caminha com um Lobo Gigante ao seu lado. Me pareceu um homem honrado.
— Um homem honrado – repetiu o pai friamente.
— Sim, milorde. Só um homem honrado mostraria tal clemência com um inimigo.
— Você já pode ir.
Quando ficou sozinho com o pai, Tyrion o analisou.
— Seu problema é maior que imaginava, meu pai. Um selvagem bruto seria fácil de combater, mas um homem honrado...
— Pessoas honradas são fáceis de interpretar. A honra torna os homens previsíveis.
— Então, por favor, diga. Qual será o próximo passo de Jon Snow?
— Ele nos devolveu o exército. E nos dará tempo suficiente para nos rearmar no Rochedo. Não é honrado atacar um inimigo incapaz de se defender.
Quando estavam a menos de um dia de casa, foram surpreendidos por uma nuvem de fumaça e um escudeiro apavorado.
— Dragões, meu lorde. Vieram durante a noite e destruíram os portões. Gigantes invadiram o castelo.
— O que disse!? – podia jurar que a voz de Lorde Tywin Lannister tremia.
— Rochedo Castely caiu, meu senhor.
Tyrion soltou uma gargalhada.
— Não tão previsível assim, não é meu pai?


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Notas finais do capítulo

Então, sei que demorei demais para postar esse capítulo. E como eu sei como é ficar esperando por um capítulo de uma fic, resolvi que vou postar a data de cada atualização a partir de agora, como algumas pessoas me sugeriram.
É uma forma que achei de agradecer aqueles que acompanham Dragões do Norte.
O próximo capítulo sai no dia 15 desse mês.
Obrigada pela paciência.



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