Dragões do Norte escrita por Snowfall


Capítulo 16
Um espetáculo de pantomina.


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é dedicado a todos que tiveram paciência para esperar e acompanham a história. E especialmente a Jessica e Cira que escreveram recomendações tão carinhosas.



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Quando criança Robb sonhara com várias coisas que com o tempo se tornaram impossíveis. Se tornar um cavaleiro da Guarda Real, se juntar as companhias nas Cidades Livres. Seus sonhos foram postos de lado quando ele alcançou idade suficiente para entender o que ser o Herdeiro de Winterfell significava.
Mas nunca em seus maiores devaneios sonhou que um dia estaria montado nas costas de um dragão. Dividido entre o êxtase e medo, agarrava os espinhos com tanta força que seus dedos sangravam. As beiradas afiadas em que segurava há muito haviam transpassado o couro de suas luvas.
Mas mesmo com a possibilidade real de despencar para a morte, não conseguiam tirar o sorriso do rosto. Mas isso talvez fosse por causa do vento que não lhe permitia fechar a boca.
A noite era de lua cheia, graças aos deuses. Isso permitia que conseguisse ver seus arredores muito melhor. A paisagem passava por eles numa velocidade que nunca imaginou possível.
Era óbvio que voavam para o Sul, mas como Jon conseguia se orientar estava além de sua compreensão. Era difícil manter os olhos abertos e a tudo não passava de um borrão indistinto.
Mas ao que parecia, o irmão sabia exatamente qual caminho tomar ou ao menos o dragão sabia.
Se perguntava se as pessoas lá embaixo percebiam o dragão voando bem sobre suas cabeças. Há séculos dragões não eram vistos em Westeros e ele só agora tivera tempo para pensar no terror que eles causariam nos Sete Reinos.
Foi tirado de seus pensamentos quando viu que Jon tentava lhe falar alguma coisa. As palavras eram tiradas pelo vento antes que pudesse ouvi-las. O irmão apontava para baixo e repetia algo várias vezes.
Olhando ao redor notou que haviam alcançado a praia. A sua frente, o Mar Estreito se jogava de encontro a uma costa rochosa. Ao longe observou a silhueta de um navio que ficava maior a medida que o dragão avançava. Suas asas causavam ondulações na superfície da água.
Jon voltara a falar. Queria gritar para ele que não entendia, mas isso seria igualmente inútil.
Enfim alcançaram a galé. Era bem grande e com certeza não era westerosi. As pessoas olhavam para cima com a boca aberta enquanto o dragão planava sobre o navio. Sua silhueta cobrindo toda parte a Bom Bordo.
Para sua surpresa viu Jon começar a se erguer e ficar em pé com dificuldade. Logo depois ele jogou o corpo para a frente com habilidade e pulou para o navio. Um pulo de mais de quatro metros.
Agora no convés, o irmão fazia gestos para que ele o imitasse. Enquanto tentava assumir uma posição melhor para pular, Robb pensava na estupidez dessa ideia. Claro que não era uma queda mortal, mas ele não era ignorante a possibilidade de uma perna quebrada ou de um banho indesejado no Mar Estreito.
Sua cabeça girava com esses pensamentos enquanto pulava. Suas pernas dormentes falharam por um instante e pensou que cairia de cara no convés quando Jon o firmou com uma mão no ombro.
— Isso era realmente necessário? – perguntou enquanto recuperava o fôlego.
O irmão abriu um dos seus raros sorrisos.
— Sim, se nossa intenção era passar incógnitos nas terras da coroa. Posar com um dragão em terra seria muito arriscado, mesmo à noite.
Jon se virou e começou a dar ordem para os homens em outra língua e logo as velas foram hasteadas e o navio se pôs a caminho.
— De quem é esse navio?
— Enquanto pagarmos bem ao capitão, é nosso.
— São confiáveis?
— Não. Mas não sabem de nada que possa comprometer nosso plano. Enquanto receberem o pagamento se absterão de fazer perguntas.
— Como conheceu essa gente?
— Através do queijo.
— Desculpe?
— Queijo de mamute. Pretendo abrir uma linha de comércio com as Cidades Livres. Fiz alguns negócios com o capitão em Atalaia Leste e arrendei o navio para essa viagem.
— Vai vender queijo em Essos? – perguntou incrédulo.
— Vou. Dez navios deixarão a Muralha em breve. Voltarão carregados de comida e mantimentos para o meu povo.
— Acha que comércio de queijo de mamute dará certo?
— Estou cobrando 20 dragões de ouro por quilo então...
— 20 dragões? – surpreendeu-se Robb – Quem pagaria uma quantia tão absurda por queijo?
— Aparentemente muita gente. Tenho dezenas de compradores esperando o carregamento do outro lado do Mar Estreito. Isso apenas em Volantes.
— Deve ser um queijo muito bom – comentou, balançando a cabeça ainda incrédulo.
— Tenho o único rebanho de mamutes do mundo. Esse é um produto único e ele poderia ter gosto de merda que as pessoas comprariam mesmo assim. Poderia cobrar 50 dragões por quilo que os esnobes comprariam só para mostrar a outros esnobes que podem.
— Então está se aproveitando da vaidade dessas pessoas – concluiu um pouco admirado.
O irmão apenas deu de ombros.
— Temos que pagar essa guerra de alguma forma – Jon começou a andar em direção as cabines – Além do mais, o gosto é muito bom.
Entraram em um aposento amplo em que comida fora posta numa mesa para eles. Só nesse momento, Robb se lembrou que fazia tempo que não comia.
Ficaram em silêncio por um tempo enquanto se serviam de vinho e cozido de peixe com pão. Quando ficaram satisfeitos passaram a discutir os próximos passos.
— O navio não vai ancorar no porto – informou Jon – não quero que a tripulação tenha nenhum contato com as pessoas em terra. Não acho que saibam das nossas verdadeiras intenções aqui, mas prefiro não arriscar.
— E como entraremos na capital?
— Remando.
Era a hora do lobo quando avistaram as luzes de Porto Real. A cidade fedia. O vento trazia um cheiro horrível a suas narinas.
Logo conseguiu ver a Fortaleza vermelha, uma atrocidade incrustada em um paredão rochoso. Em algum ali, o pai estava preso sentindo a angústia de um homem a véspera de seu julgamento.
Estavam tão perto agora que seu coração batia desenfreado. Faltava tão pouco.
Alcançaram a praia em um lugar deserto. Longe das casas. Nunca pensou que fosse tão fácil entrar na capital do reino.
Esse pensamento se mostrou prematuro quando um vulto surgiu de entre os arbustos. Caminhando rápido pela trilha de pedra. Mais de perto conseguiu ver o manto dourado. Um guarda da cidade.
Robb levou a mão a espada, mas foi parado por Jon.
— Já estava começando a pensar que não conseguiriam - falou uma voz conhecida.
— Jory?
O guarda levantou o visor do elmo para mostrar a cara familiar do chefe da guarda do pai.
— Rápido. Não demorará muito para que a ronda noturna passe por aqui.
Jory os levou até um lugar no rochedo. As paredes eram sustentadas por colunas de tijolos.
— Onde estamos?
— Debaixo da Fortaleza Vermelha. Se troquem, não temos muito tempo.
Jory mostrou a eles uns sacos que ele havia escondido. Dentro havia armaduras.
Em pouco tempo deixaram a caverna como três membros da Guarda da Cidade.
A capital era abarrotada de gente. Mesmo naquela hora da noite, o centro fervia com mais variada gama de pessoas que já vira na vida.
Continuaram andando até que chegaram em uma rua particularmente imunda.
— A Baixada das Pulgas – explicou Jory quando notou sua expressão de repulsa.
Entraram então em uma casa minúscula. Lá dentro Robb se deparou com seis mulheres em vestes cinzas que pareciam pouco amigáveis.
— Irmãs Silenciosas? – questionou. Não podia pensar em um motivo sequer para aquelas mulheres estarem ali.
— O que o garoto faz aqui? – perguntou uma delas para o espanto de Robb. Aquelas mulheres eram chamadas de silenciosas por um motivo.
Se virou para o irmão que apenas trocou um olhar bem-humorado com Jory.
— Não são irmãs silenciosas, meu lorde – esclareceu Jory – esse é apenas um disfarce como o nosso.
— São Esposas de Lanças, que acompanharam Jory a meu comando. Achei que meia dúzia de Irmãs Silenciosas chamariam menos atenção do que meia dúzia de homens nortenhos – terminou Jon.
Era uma ideia inteligente. Pelo que sabia, ninguém olhava duas vezes para uma Irmã Silenciosa. Muito menos para questionar sua identidade.
— Essa é Varla, mãe de Toregg – apresentou Jon, apontando para a mulher que falara agora a pouco.
— É um prazer conhece-la, senhora – cumprimentou. Jon falara desta mulher algumas vezes. Ela era importante para o irmão pelo que percebeu.
Ela não respondeu nada. Apenas o avaliou de cima a baixo e torceu o nariz um pouco.
— Ele não se parece com você – disse Varla a Jon.
— Na verdade... – começou Robb.
— Não esperava que trouxesse um garoto verde com você – cortou ela, ignorando Robb completamente.
— Ele será de muita ajuda amanhã.
— Hoje – esclareceu ela – Já está quase amanhecendo.
— E não sou um garoto verde, sou mais velho que Jon – só depois que disse isso foi que Robb percebeu que esse era um argumento infantil.
A mulher riu um pouco e se aproximou dele com as mãos na cintura.
— Tem cheiro de verão, sabia? – comentou ela.
Robb não soube o que responder, mas felizmente não precisou pois Jon tomou a palavra.
— É melhor começarmos a discutir nosso plano. Não temos muito tempo. O julgamento será ao meio dia.
Robb olhou para o sol que começava a nascer. A ansiedade mais uma vez revirando o seu estômago.
— Todos os detalhes já foram arranjados. Só precisamos de uma boa distração – informou Jory.
— Felizmente pra nós – começou Varla – conheço alguém com três enormes distrações voadoras.
.......

O dia amanheceu radiante. O que combinava com o humor de Cersei.
Finalmente o tolo Stark cedera e concordara em se declarar culpado das acusações. Ela não podia deixar de admirar o poder que passar uns dias nas Celas Negras tinham sobre um homem. Até mesmo sobre o sempre tão honrado Ned Stark.
Se tudo corresse como o combinado, logo Lorde Stark estaria a caminho da Muralha coberto de vergonha enquanto seu filho tolo voltaria para sua terra gelada com o rabo entre as pernas.
E ninguém mais teria dúvida sobre a posição de Joffrey no Trono de Ferro. Hoje seria o começo de uma nova era.
Para essa ocasião ela escolhera um vestido dourado. Estava um pouco apertado na cintura, fazia anos que não o vestia, mas nada que atrapalhasse sua satisfação naquele dia.
Foi decido por um julgamento público. Ela fizera questão. Ninguém se opusera já que fora ela que tivera a reputação maculada pelas mentiras da antiga Mão. Era muito natural que todos vissem o que acontece com quem ousa espalhar difamação sobre a rainha do Sete Reinos.
Cersei ainda se espantava com a estupidez dos Stark. O patriarca, preso a um deturpado senso de honra, revelara qualquer vantagem que poderia ter tido sobre ela. A filha, com a cabeça entupida de canções, fora fácil de manipular tal como as cordas de uma harpa. A pombinha só cantaria, a partir de agora, o que Cersei mandasse.
Por último o garoto Stark resolvera declarar guerra. Ela sentiu um sorriso se formar nos cantos do lábio ao pensar em como o senhor seu pai o esmagaria. O Norte pagaria caro pela ousadia imprudente do menino.
Quando a carruagem se aproximou do grande Septo de Baelor, Cersei forçou o sorriso a desaparecer. Era hora de ser a rainha ofendida que todos esperavam.
A multidão que se aglomerava no septo só aumentava a pungência da cidade. A plebe se empurrava e acotovelava para alcançar uma posição melhor para assistir o espetáculo de pantomina que logo se presenciaria.
Pode ver muitos sorrisos de dentes amarelos. Nada divertia mais a gente comum do que a desgraça dos bem-nascidos.
Quando todos tomaram seus lugares, o réu foi trazido. Toda a imagem de lorde honrado de Eddard Stark fora levada pelas Celas Negras. A sua frente apareceu um homem quebrado.
Se virou para o lado para observar a reação de Sansa. Não houve nenhuma, o rosto da menina não mudou perante a visão do pai naquelas condições.
Lorde Stark foi jogado de joelhos na frente de todos e então a voz do Alto Septão se fez ouvir.
— Lorde Eddard da casa Stark, você foi trazido hoje na presença dos deuses e dos homens para ser julgado. Você foi acusado de alta traição, difamação e conspiração contra a família real. Como se declara?
Cersei sentiu a respiração se prender por um momento. Tudo se resumiria a aquele momento. A partir desse instante uma Era Lannister começaria.
— Culpado – responde Ned Stark em uma voz surpreendentemente firme. Talvez o homem não estivesse tão quebrado assim, mas isso não a preocupava. Uma vez que ele estivesse congelando na Muralha preso por um voto, não seria mais uma ameaça ao reinado de Joff.
Levantou-se uma onda de vaias e murmúrios até que o rei se pôs de pé para dar a sentença.
— Foi me aconselhado que a benevolência é característica de um bom rei – começou Joffrey com um sorriso que trouxe um mau pressentimento a Cersei – Meus conselheiros sugeriram que eu fosse benevolente e mandasse esse traidor para a Muralha.
Joffrey se pôs de pé e andou até Ned Stark.
— Mas um bom rei também deve saber pensar por si próprio. Deve fazer o que ele acha certo. E sabe o que eu acho, traidor?
Um frio repentino atingiu Cersei.
— Eu acho que o castigo para alta traição é a morte – continuou em voz cada vez mais alta – Que todos saibam que o rei não terá piedade de mentirosos e traidores.
A mente de Cersei girava tentando encontrar uma maneira de parar tudo aquilo, de impedir que o filho cometesse tal erro, mas nada lhe vinha à mente. Ninguém podia ir contra o rei, nem mesmo a mãe.
— Carrasco! – chamou Joffrey.
Ser Ilyn Paine se aproximou com uma satisfação indisfarçada. Parecia está se divertindo tanto quanto Joffrey.
A espada foi desembainhada enquanto Cersei ponderava as repercussões que esse ato teria.
Ao seu lado a garota Stark começou a gritar e teve de ser contida pelos guardas. Os gritos ensurdecedores tornavam difícil se concentrar no homem erguendo a espada.
Então os sinos na Fortaleza Vermelha começaram a tocar. Gritos distantes de pânico fizeram Ser Ilyn baixar a espada.
Uma sombra gigante cobriu tudo. Pareceu noite por um instante.
Alguém gritou: Dragão! Ao mesmo tempo que Cersei gritou: Joffrey!
Não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que tinha que tirar o filho dali imediatamente.
As pessoas corriam desordenadas por toda a praça. O desespero tomou conta dela quando não conseguiu achar o filho. Ele havia sido engolido pela multidão.
Olhou ao redor e Sansa Stark havia sumido também.
Alguns Capas Vermelhas tentavam puxá-la para longe.
— Joffrey! Encontrem ele! Procurem seu rei!
Não sabia se conseguiam ouvi-la tamanho era o barulho.
Então um brado aterrador abafou tudo.
Um grande dragão azul pousou na abóboda do septo. O peso da criatura estremeceu a estrutura do prédio e as janelas de vidro estouraram.
As pessoas tentavam de todas as maneiras deixar a praça. Enquanto corria, Cersei vislumbrou Ned Stark sendo escoltado por soldados da Guarda de Cidade. Assim como Sansa, que devia ter desmaiado, já que era carregada nos ombros por um Capa Dourada.
A praça havia sido tomada por gelo. Tudo congelou instantaneamente. Grandes estacas de gelo dividiram a praça em duas partes. As pontas afiadas reluziam.
Cersei nem percebeu quando entrou na carruagem, seus sentidos só voltaram quando o Cão jogou Joffrey lá dentro com ela.
— Mate eles, Cão! – gritava o filho – ordeno que mate eles!
Cersei levou alguns instantes contatando que o filho estava bem.
Na rua duas carroças conduzidas por Irmãs Silenciosas corriam a toda velocidade. Os caixões sacudiam de um lado para o outro. Uma delas praguejou quando a roda passou por um buraco. A pressa para fugir dos dragões fizera a mulher esquecer de seu voto.
— Vamos embora! – gritou para o cocheiro.
— Para onde, minha rainha? – perguntou o homem atordoado – A Fortaleza Vermelha está em chamas.
Cersei olhou pela janela e viu a fumaça escura que subia do castelo. Mesmo ao longe podia ver o grande monstro dourado sobrevoando a fortaleza. O sino parou de tocar quando o dragão destruiu sua torre com labaredas avermelhadas.
— Chamem os homens! – disse o filho a Clegane – Diga que ordeno que defendam o castelo!
— Quer calar a porra da boca! – ralhou o Cão.
Joffrey abriu a boca, mas a fechou novamente. Por fim se resignou a se recostar no acento e cruzar os braços.
— Para os túneis! – ordenou Clegane ao condutor.
Era um pensamento sensato. No subterrâneo estariam a salvo do fogo.
O cocheiro a olhou, ainda sem se mover.
— O que está esperando?! – gritou Cersei – Ouviu o lorde!
O caminho até a entrada dos túneis mais próxima foi curto. Uma vez que estavam protegidos pelas paredes estreitas, o som do pandemônio do lado de fora ficou abafado, mas ainda conseguiam ouvir os gritos de vez em quando.
Quando percebeu que estavam seguros. Cersei começou a processar a situação. O medo se apoderou dela quando se lembrou de Myrcela e Tommem, que haviam ficado na Fortaleza Vermelha.
Pensar que eles podiam ter perecido perante o fogo de dragão, fez um tremor se espalhar por todo seu corpo.
— Dois dragões – falou baixinho, sem ter certeza se fora ouvida, mas precisava dizer em voz alta para se convencer – Dois dragões na capital. Um de gelo e outro de fogo.
— Três, minha rainha – corrigiu o cocheiro, encolhido em um canto – Três dragões.
— O que disse? – a voz saiu como um guincho da garganta de Cersei.
— Uma terceira fera destruiu o porto – informou o homem – Vi um dragão branco e chamas verdes subirem.
Chamas verdes. Cersei ficara tempo suficiente na corte do Rei Louco para saber o que isso significava.
Clegane então começou a soltar uma risada histérica. Na pouca luz, o homem parecia meio transloucado.
— Estamos todos fudidos – disse ainda rindo.
Joffrey, que havia sentado ao lado do Cão, o olhava espantado. Naquele momento o filho parecia a criança que ainda era. E Cersei temeu por seu futuro. Tudo seria mesmo diferente depois daquele dia, mas não como ela havia pensado.
Só deixaram os túneis no dia seguinte. As ruas estavam desertas. A fuligem ainda caia e a fumaça continuava a subir do porto e do castelo.
O peito de Cersei se contraia mais, à medida que se aproximavam da Fortaleza Vermelha.
Vieram recebe-la no portão, mas Cersei não tinham tempo para ouvir suas palavras de preocupação.
— Meus filhos! Onde estão meus filhos!?
Tudo ficou confuso até ela está com Tommen e Myrcella nos braços. Mal escutou enquanto suas crianças falavam uma por cima da outra, relatando os acontecimentos do dia anterior.
Desejou se trancar com os filhos e nunca mais perdê-los de vista, mas ela era a rainha e nessa hora que precisava mostrar sua força. Não deixaria que os inimigos a vissem como uma mãe chorosa e fraca.
Assim, quando os filhos estavam seguros e descansando, Cersei começou a coordenar a limpeza da capital e ordenar o reforço na Guarda da Cidade. Todos sabiam que não podiam conter um outro ataque de dragão, mas isso manteria o povo ocupado.
A tarde convocou uma reunião do Pequeno Conselho.
— Onde está o rei? – perguntou Pycelle – Ele deveria está aqui. Essa reunião é de extrema importância.
— Rei Joffrey se encontra indisposto devido aos eventos de ontem e está descansando nesse momento – respondeu friamente.
Ninguém mais falou coisa alguma.
Cersei avaliou os homens presente. Mindinho havia perdido seu costumeiro ar de riso e parecia mais pálido do que o normal. Pycelle tremia mais que de costume. E Varys tinha um brilho no olhar que a incomodou.
Por isso decidiu começar por ele.
— Como não soubemos de tal ataque de antemão, Lorde Varys? Pensei que sua função fosse prever eventos como esse.
O homem a encarou com sua calma enervante. Tinha certeza que ele sabia mais sobre o que havia acontecido do que deixava transparecer.
— De fato, minha rainha, eu cumpri minha função. Avisei esse conselho dos rumores sobres os dragões há várias semanas atrás.
— Não nos avisou sobre este ataque – observou Baelish.
— Tenho certeza que meus passarinhos mandaram as mensagens, mas infelizmente elas não foram mais rápidas que os dragões.
Ou talvez ele não tivesse repassado a mensagem quando deveria. A lealdade de Varys era fluida e inconstante. O eunuco jogava o próprio jogo, com qual objetivo ela não sabia dizer.
— Qual a intenção por trás de tal ataque? – perguntou Pycelle – por certo a intenção não fora nos exterminar. Se fosse, estaríamos mortos nesse momento. No entanto as perdas humanas foram...
— Insignificantes – completou Cersei.
As torres e os jardins da Fortaleza Vermelha que foram queimadas eram praticamente inabitadas. Enquanto as áreas de residência foram deixadas incólumes.
O estrago no septo fora grande, mas nada comparado a destruição que o dragão podia ter deixado para trás se quisesse.
— Onde está Ned Stark? – perguntou ela.
— Infelizmente, minha rainha, não há noticia de Lorde Stark e nem de sua filha desde ontem – respondeu Pycelle.
Cersei sentiu-se afundar na cadeira, mas tentou se recuperar rapidamente. Não era o momento para pânico.
— Você disse que o bastado de Ned Stark comanda os dragões – se dirigiu a Aranha.
— Sim, vossa graça. As canções que ouvi, contam a história de Jon Snow, que é senhor de dragões. Entre outras coisas.
Varys falou sobre esse assunto semanas atrás. Eram coisas tão absurdas que ela as descartou imediatamente.
— Que outras coisas? Conte tudo – ordenou.
— Meus passarinhos cantam que um garoto desceu para este lado da Muralha trazendo com ele mais de uma centena de tribos guerreiras, um exército de gigantes, uma manada com milhares de mamutes e, é claro, três dragões crescidos.
— E esse garoto é filho bastardo de Ned Stark? – perguntou Pycelle incrédulo.
— Não é novidade nenhuma que Lorde Stark tinha um bastardo que se perdeu no mar há vários anos – lembrou Varys – A busca do homem pelo garoto foi bem conhecida em Westeros e em parte de Essos também.
Cersei lembrava da carta que o Guardião do Norte escreveu à Robert vários anos atrás, pedindo ajuda para encontrar o filho que supostamente fora levado por Nascidos de Ferro.
— Há alguma possibilidade de ser o mesmo garoto?
— Jon Snow se tornou Rei-pra-lá-da-Muralha, trouxe milhares de selvagens para esse lado e mesmo assim foi aceito pelos nortenhos. Não acho que teriam feito isso se tivessem alguma dúvida de que o menino é quem diz ser – argumentou Varys.
— Se ele armou os acontecimentos de ontem para resgatar o pai – começou Mindinho – explicaria muita coisa. O objetivo não era nos destruir e sim nos distrair.
Foi tudo um espetáculo. Um engodo. E eles caíram. Ned Stark desaparecera e toda a vantagem que tinham se foi com ele.
— Como ninguém viu nada? – indagou Pyrcele – Mesmo em meio a confusão, alguém veria Lorde Stark fugindo com seus cúmplices.
A menos que estivessem usando capas douradas, pensou. Lembrou-se dos homens da Guarda da Cidade que levaram Ned Stark. Um plano engenhoso, todos pensariam que eram guardas cumprindo seu dever enquanto levavam o prisioneiro bem debaixo do nariz de todos.
— Temos que dar perseguição – sugeriu Pycelle – Não podemos deixar que Lorde Stark chegue as terras do rio.
Varys riu da sugestão.
— Mesmo que soubéssemos que direção tomaram. Qualquer força que mandássemos seria dizimada pelos dragões. Nem sabemos se foram por terra ou por mar.
— Foram por mar – afirmou mindinho – Por qual outro motivo queimariam o porto. Nos impediram de segui-los na água.
— Mesmos que tivéssemos os meios, nunca passaríamos pelos dragões.
Cersei ficou calada. No fim tudo voltava a esse ponto.
O jogo estava infinitamente mais complicado porque o inimigo tinha dragões.

...........
Jon acariciava as penas da coruja de Kena distraído. O sol do fim da tarde fazia as velas sombrearem quase todo o convés.
Ele era um dos poucos que estavam ali. A maioria das pessoas estavam nas cabines, mas ele não conseguia descer até a lá. Havia coisas que não conseguia enfrentar no momento.
Aproveitou o tempo para checar Fantasma e viu que o exército marchava como o combinado. Se tudo corresse bem, chegariam a Correrrio em menos de dez dias.
Os dragões voavam acima deles. Gaothrax conseguira um atum gigante há alguns instantes atrás, o que assustou e maravilhou os marinheiros.
— Por que ele cospe gelo? – perguntou alguém atrás dele.
Jon se virou e se deparou com uma garotinha magrela. Arya Stark não estava mais tão suja como quando a viu pela primeira vez, mas continuava usando as mesmas roupas surradas do dia anterior.
Quando a viu pensou que ela fosse qualquer coisa menos sua meia-irmã. Muita coisa mudara de ontem para hoje e Jon ainda precisava digerir tudo isso.
As lembranças da cidade queimando não saía de sua cabeça. Tentava se convencer de que as perdas foram mínimas e que sempre soubera que chegariam a isso mais cedo ou mais tarde, mas nada disso o fazia esquecer dos gritos.
“Jon atacou a Fortaleza Vermelha primeiro. Era o lugar certo para começar o pânico com o menor estrago possível.
Valkius derrubou parte da torra da Mão apenas por passar perto demais.
Achar os lugares menos habitados foi mais fácil do que conter o dragão. Ele queria ver tudo no chão e Jon sentia sua excitação como se fosse dele próprio. Seria tão fácil se deixar levar. Parar de resistir.
Teve que ficar repetindo várias vezes na sua cabeça que era ele que controlava os dragões e não ao contrário.
Essa batalha acontecia em sua cabeça enquanto corria com os outros em direção ao septo. A sombra de Gaothrax passou por eles e quando chegaram a praça, a multidão já estava descontrolada por causa do dragão pousado no topo do Septo de Baelor.
Achar Lorde Stark foi fácil. O tinham deixado ajoelhado no meio da praça. Ninguém se importara com o prisioneiro, preocupados como estavam em salvar as próprias vidas.
A única que correu na direção de Lorde Stark foi uma garota de cabelo ruivo. Ela se agarrou com o homem e soltou um grito quando Gaothrax congelou metade da praça formando uma barreira entre eles e o resto da multidão.
— Sansa! – gritou Robb ao seu lado.
Em algum momento Sansa desmaiou, mas Jon, preocupado em controlar três dragões e seu próprio corpo ao mesmo tempo, não percebeu nada. Quando deu por si já estava jogando a garota sobre o ombro.
Parte da sua mente ouvia uma voz que lembrava vagamente. Lorde Stark falava alguma coisa enquanto Robb e Jory o empurravam, mas nesse momento Morghon se aproximava do porto e a consciência de Jon se esticou até se tornar uma linha bem fina.
Entraram em um beco estreito e já se aproximavam das carroças quando um menino sujo entrou em seu caminho.
— Soltem ele! – ordenou empunhando uma faca de pão – Soltem ele ou mato vocês.
Uma menina. As calças lhe enganaram por um momento, mas com certeza era uma menina.
— Robb? – indagou ela.
Jon queria perguntar de onde essa garota conhecia Robb Stark, mas Morghon começara a destruir as docas. Chamas verdes cobriram a água e corriam como se nadassem em óleo.
O nome Arya escapou da boca de um debilitado Lorde Stark.
Não houve tempo para que os irmãos se cumprimentassem. Robb apenas pegou a garota e começou a correr novamente.
As Esposas de Lanças esperavam com as carroças no lugar combinado. Jon jogou Sansa em um dos caixões e esperou que os outros entrassem nos deles.
Por sorte Arya era pequena o suficiente para se espremer junto com Robb. Não haviam trazido um esquife sobressalente.
— Agora está tudo nas mãos de vocês – disse as mulheres vestidas de Irmãs Silenciosas – Sigam o plano e ficaremos bem.
Uma vez dentro do ataúde, Jon se deixou deslizar do seu corpo.
Se concentrou em Morghon. Tentava fazer o máximo de barulho possível e deixava suas intenções bem claras para dar as pessoas tempo de correr.
Muitos marinheiros pulavam dos navios, mas havia aqueles de reação lenta que acabavam consumidos pelas labaredas. Jon tentava não pensar neles.
Conduziu os dragões para longe da cidade enquanto os caixões eram levados para o navio.
Quando estavam a uma distância segura Jon retornou ao próprio corpo e foi tomado imediatamente por uma dor de cabeça excruciante.
A dor foi tamanha que ele ficou nauseado. Algo quente escorreu do seu nariz. Só teve tempo de notar que era sangue antes de perder os sentidos.”
— Não sei - respondeu à garota – mas acho que ele puxou a mãe.
Arya se aproximou e o encarou. Havia uma ferocidade nela. Algo lupino.
— Me disseram que é meu irmão – falou quase como uma acusação.
— Penso que sim.
— Se parece comigo.
Era verdade. Jon podia ver a semelhança.
— É bom não ser mais a única que se parece com o pai – disse ela.
Jon não achou palavras para responder, mas Arya lhe poupou o trabalho mudando de assunto.
— Posso ver? – pedia ela apontando para Garra Longa.
Quando recebeu a espada Arya abriu um sorriso enorme. Ela seria uma ótima Esposa de Lanças se tivesse nascido no norte da muralha.
Então Varla se aproximou de Jon com um copo de chá. Ela o fazia beber a droga do chá a cada hora desde que ele acordara do desmaio.
“- Já vi isso antes. Muitas peles ao mesmo tempo tonteia o Warg – comentou ela enquanto empurrava a caneca na sua mão – precisa de algo quente para se recuperar.”
Jon tomou o chá enquanto observava Arya tentar erguer a espada sem sucesso.
— É muito pequena para uma arma desse peso. Precisa de algo menor e mais leve.
— Não posso usar uma arma – disse ela, o sorriso desaparecendo.
— Isso não te impediu de nos ameaçar com aquela faca de pão.
A menina baixou os olhos para a espada, de repente uma tristeza passou por seu rosto.
— O que foi? – perguntou Jon enquanto ela lhe devolvia Garra Longa.
— Matei um menino com aquela faca – falou ela baixinho, a voz um pouco trêmula.
— Foi preciso?
Aparentemente essa não era a pergunta que ela esperava ouvir porque logo levantou a cabeça para encara-lo.
— O quê? – os olhos dela estavam do tamanho de moedas enquanto chegava mais perto dele.
— Foi preciso matar o menino?
Ela pensou um pouco antes de concordar com a cabeça.
— Ás vezes a morte é necessária. Não deve se arrepender de fazer o que foi preciso para sobreviver.
— Mas só tenho nove anos e já sou uma assassina.
— Todos nós somos por um motivo ou outro. E quanto a sua idade, eu tinha seis quando matei o primeiro homem. Fiz o que era necessário assim como você.
— Acha que o pai também vai pensar assim? – perguntou esperançosa.
Aí estava o verdadeiro medo dela. Temia que a família não a aceitasse por causa do que ela havia feito.
— Seu pai vai ficar feliz que você teve força suficiente para se manter viva.
Arya então sorrio e o abraçou. Os braços finos agarraram a cintura dele com força.
— É verdade que tem um lobo gigante? Robb me contou, mas Sansa acha que ele está exagerando.
A noite chegou e Jon ainda respondia as perguntas dela. Falou sobre gigantes, mamutes e Fantasma até que Jory veio lhe chamar.
— Lorde Stark chamou por você, Jon.
— Mas ele está me contando sobre os dragões – objetou Arya.
— Terá tempo para histórias depois, lobinha – disse Jory sorrindo.
— Mais tarde? – indagou ela.
— Mais tarde – confirmou Jon.
— Por que não vai procurar seu irmão e jante alguma coisa – sugeriu Jory.
Depois que ela saiu correndo, os dois se dirigiram as cabines.
— Como ele está? – perguntou Jon.
Lorde Stark tinha febre, por causa de um ferimento mal curado na perna, que infeccionara na sua estadia nas Celas Negras. Sua lucidez ia e voltava desde que embarcaram.
— Se recuperando. Varla sabe o que faz. O ferimento está bem melhor. A febre se foi. Ele pergunta por você desde que acordou.
Jon foi tomado pela vontade de dar meia volta. Não queria ver Lorde Stark. Mas se forçou a continuar.
Quando chegaram na porta da cabine, Jory o parou com um gesto.
— Não seja duro demais.
Jon não respondeu. Bateu na porta e a voz de Varla o mandou entrar.
Sentadas junto a cama do moribundo estavam Varla e Sansa Stark.
O homem fez força para se sentar quando o viu, ignorando o protesto das mulheres.
Jon não conseguiu fazer nada além de ficar parado ali, encarando Lorde Stark.
— Me deixem a sós com meu filho – mesmo debilitado, ele não havia perdido em nada sua autoridade de Senhor do Norte.
Quando Varla e Sansa saíram o silêncio caiu novamente. Jon abria e fechava o punho, desejando ter algo em que agarrar.
— Venha para mais perto, Jon – pediu o Lorde – me deixe ver você.
Jon deu duas passadas e sentou-se na cadeira antes ocupada por Varla.
Mais de perto reparou nas mudanças em Lorde Stark. A barba e o cabelo estavam ficando grisalhos. Haviam linhas ao redor dos olhos e na testa. Podia ser a dificuldades dos últimos dias, mas ele parecia mais velho do que seus anos.
— É difícil olhar para o futuro? – perguntou o outro – Sei que é difícil para mim olhar para o passado.
Jon duvidava que chegaria a idade de Lorde Stark, mas preferiu não dizer isso ao homem.
— Quando tinha sua idade cometi erros que me assombram até hoje.
Jon se recostou na cadeira se afastando dele. Tudo que não precisava lembrar era que ele fora um erro.
Lorde Stark deve ter visto algo mudar em seu rosto porque se apressou em continuar.
— Não falo de você. Se tem alguma coisa boa que veio daquela época da minha vida é você.
— O quê, então? – falou Jon por fim.
— Meu erro foi não ter sido mais forte. Por não ter sido mais forte por você, como sua mãe fez.
— Minha mãe... – não conseguiu terminar. A palavras ficaram estranguladas na sua garganta.
— Cuspiria em mim se soubesse como fracassei com nosso filho.
— Lorde Stark, eu... – dessa vez o homem lhe interrompeu.
— Pai. Deve me chamar de pai.
— Não é certo que um bastardo se refira ao seu senhor dessa maneira – falou, lembrando das palavras de Lady Stark naquele dia em frente ao represeiro há muitos anos atrás.
Lorde Stark se contraiu como se tivesse levado um soco.
— Você se lembra...
— Eu me lembro de tudo, meu lorde.
— Um pai deve lutar por seus filhos quando eles são pequenos e indefesos, e eu não fui capaz de ser o pai que você merecia.
— Houve um tempo que precisei de um pai. Esse tempo passou.
Não seja duro demais, havia pedido Jory. Jon estava falhando nisso porque o homem se contraiu novamente.
— Pedi muito aos deuses que me dessem a chance de me desculpar com você. Por ter mandado você para longe de casa. É minha culpa que você tenha se perdido e passado por tudo que passou.
— Não devia se desculpar. O que passei me tornou o que sou hoje e Winterfell nunca foi minha casa.
— Também é minha culpa que pense assim. Sei que tem todo o direito de nunca me perdoar...
— Perdão – interrompeu Jon – não muda nada. Não nos faz menos estranhos um para o outro.
Essas palavras fizeram Eddard Stark baixar a cabeça e encarar as mãos.
Jon sentiu um puxão no peito. Queria que tudo tivesse sido diferente, mas entendia que seu destino tinha de ser como foi. E que ele tivera que passar por tudo que passou para chegar onde estava.
— O passado não pode ser mudado – a voz de Lorde Stark o arrancou de suas reflexões – mas estamos os dois vivos então ainda tenho tempo. Ainda podemos ser uma família.
— Minha família é o Povo Livre. É as pessoas que confiaram suas vidas a mim.
— Não pode negar que é meu sangue que corre em suas veias.
— Não, não posso. Por isso estou aqui.
— Eu perdi no momento que o mandei para longe de Winterfell – disse o outro com um suspiro pesaroso.
Queria dizer ao homem que ele o havia perdido muito antes disso, mas achou desnecessário.
— Não quero deixar nenhum assunto mal resolvido entre nós, Lorde Stark. Somos aliados nessa guerra e precisamos confiar um no outro – disse se levantando.
Assim que chegou a porta, o lorde falou novamente:
— Ainda não desisti, Jon. Ainda tenho tempo de agir certo com você.
Deixou Lorde Stark com seus pensamentos enquanto lidava com os dele próprio.
Os dias passaram e Jon conversou mais com Lorde Stark nesse tempo, do que naqueles anos quando era criança.
O assunto, é claro, se restringia a política e a guerra. Jon percebia que Ned Stark queria discutir algo pessoal, mas ele nunca permitia que a conversa voltasse ao mesmo tópico daquela noite.
Tinha muito no que pensar. E não queria e nem precisava falar do passado com Lorde Stark.
Na manhã do quinto dia acordou com o barulho dos dragões.
Assim que chegou ao convés, viu que todos os marinheiros haviam parado para observar o céu.
Os três dragões soltavam rajadas no ar. Linhas laranjas, brancas e verdes cortavam o horizonte.
— Estão mais agitados essa manhã – falou Lorde Stark, que caminhava com ajuda de uma bengala na direção de Jon.
— O senhor devia está fora da cama?
— Não, mas se ficasse lá mais um momento enlouqueceria.
— Não deixe Varla vê o senhor. Acredite, ela é capaz de puxá-lo de volta a cabine pela orelha.
— Ela é muito assustadora para uma mulher tão pequena.
— O senhor ainda não viu nada.
— O que acha que eles têm? – perguntou se referindo aos dragões.
— Difícil dizer.
Jon olhou para o céu novamente e viu o cometa vermelho. A cauda brilhante inconfundível.
— O cometa de sangue – afirmou Lorde Stark.
— Os gigantes chamam de Augúrio dos Deuses.
— E o que ele anuncia?
— Dragões. Anuncia o nascimento de dragões.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo daremos uma volta por Essos com a Mãe dos Dragões. Mais uma vez abrigada por acompanharem. Bjs.