Dragões do Norte escrita por Snowfall


Capítulo 15
Brincar de Guerra.




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“Jon havia se acostumado com sonhos incoerentes. A maioria fazia sentido depois de algum tempo. Mas aquele estava se mostrando excepcionalmente confuso.
A julgar pelos tuneis cheios de raízes, estava no subterrâneo. O caminho intricado se desdobrava em várias direções e ele andava a esmo, sem saber onde ficava a saída.
Uma pelagem branca chamou sua atenção a esquerda. Os olhos de Fantasma reluziram um pouco. Decidiu segui-lo e depois de alguns metros se deparou com uma câmara. O intricado de raízes se concentrava ali. Mas não foi isso que lhe chamou a atenção.
No meio das raízes havia um homem. Era velho e o seu corpo parecia fazer parte do local em que estava. Só depois que seus olhos se acostumaram com a estranheza daquilo foi que reparou nas pessoas acocoradas aos pés dele.
Crianças. Foi a primeira coisa que lhe veio à mente. Mas quando chegou mais perto viu que não eram como nada que tivesse visto antes. Desde da cor estranha da pele ao tom dos olhos.
Elas não passavam de meia dúzia e cochichavam baixinho na Língua Antiga. Quando seu cérebro juntou algumas peças. Fez uma realização espantosa.
—As Crianças da Floresta.
Só percebeu que havia falado em voz alta quando foi respondido.
—Isso mesmo.
Se virou rapidamente e se encontrou sob o olhar excruciante do homem na árvore.
—Quem é você? – perguntou recuando um passo.
—Uma relíquia do passado. Mas isso não é importante. O importante é quem você é, Filho de Gelo e Fogo.
—Sou Jon Snow – respondeu simplesmente.
O velho riu um pouco.
—É, essencialmente acho que está certo.
— Por que estou aqui? – ele queria saber onde era aqui, mas essa pergunta podia esperar.
—Porque está na hora de conhecer seu destino.
— Porque haveria eu de querer conhecer meu destino? Pode ser que eu morra semana que vem de uma queda de cavalo. Que bem me faria saber disso, só serviria para que passasse minha última semana na terra perturbado.
—É sensato para sua pouca idade. Mas há algumas coisas que precisa saber. Toque uma das raízes.
Jon estava pronto para dizer não quando Fantasma tocou sua mão com o focinho. Ele aparentemente queria que fizesse o que o homem sugeriu.
Não havia ninguém no mundo que confiasse mais do que seu lobo. Aprendera a muito tempo que Fantasma sabia muito mais que ele. Via e sentia mais do mundo do que Jon jamais seria capaz.
Então tocou uma raiz e foi acometido pela conhecida sensação de deixar seu corpo. E foi tomado pela escuridão. O frio era tanto que deixou de sentir as extremidades no mesmo instante.
Jon não via nada, mas teve a sensação de estar em campo aberto. Tudo que ouvia era o zumbido do vento da tempestade. A neve sob seus pés era fofa e dificultava seus passos.
Foi então que viu uma luz. Fogo, de uma tocha ou fogueira talvez. Quando se aproximou o bastante viu que a chama estava a alguns metros do chão. Provavelmente uma pessoa a segurava.
A menos de dois metros pode havia um homem. Ele estava sozinho e segurava a espada com força. Viu então que a espada era que estava em chamas. O peito do homem subia e descia rapidamente enquanto ele girava sob o próprio eixo. A procura de um inimigo nas sombras.
Quando abriu a boca para falar, Jon foi puxado para outro lugar. E estava então em uma cidade de um tipo que nunca tinha visto antes. Mas a arquitetura lhe era familiar. Miestre Lothan lhe mostrara desenhos de coisas assim. Valíria.
Algo começou a cair do céu e Jon pensou por um instante que fosse neve, mas os flocos eram escuros. Fuligem. Alguma coisa queimava.
Todas as pessoas pararam para olhar para o céu. E logo estavam caídas no chão quando a terra começou a tremer. Várias sombras saíram voando como um bando de pássaros fugindo da tempestade. Os dragões fugiam da ruína. Um menininho gritou quando o chão sob seus pés começou a rachar.
Então tudo mudou. E estava de volta ao Norte. Um dragão voava seguindo uma fileira de gigantes que puxavam pedras enormes. Viu que os alicerces da Muralha estavam sendo firmados.
Quando o dragão pousou um homem desceu. Jon não o reconheceu, mas as feições eram estranhamente familiares.
Uma Criança da Floresta se aproximou do homem segurando uma flauta. Ele acariciava as escamas brancas. Jon então se lembrou do esqueleto na caverno. Seria possível que estivesse vendo a mãe de seus dragões?
—Quando a Muralha estiver pronta, deve deixa-la ir.
O homem não se virou quando respondeu.
—O que será dela?
—Cumprirá seu destino assim como nós, vossa graça.”
—Vossa Graça- chamou alguém- Acorde.
Jon despertou com um movimento tão brusco que o garoto que o acordara caiu para trás.
—Desculpe, Vossa Majestade. Não era minha intenção assustá-lo – a voz do garoto tremia.
Ele tem medo de mim, concluiu Jon. E não era o único. Muitos ali o temiam. O garoto devia ter se valido de toda coragem que tinha para atravessar o acampamento do Povo Livre e invadir sua tenda.
—Como entrou aqui?
—Pedi aos selvagens. Disse que era importante.
—E eles te deixaram entrar assim simplesmente? – teria que conversar com seus guardas.
—Não, mandaram que eu pedisse ao lobo. Se ele não arrancasse meu rosto fora, eu podia entrar.
Por isso ele tremia tanto. Olhou para Fantasma deitado a entrada da tenda e sorriu. Seus homens sabiam que o lobo mataria qualquer um que pudesse sequer pensar em fazer mal a Jon.
—O que quer?
—Lorde Stark convocou os lordes para uma reunião. Chegaram novas notícias.
Quando Jon se aproximou da tenda onde eram feitos os conselhos de guerra, ouviu vozes exaltadas. As notícias, seja lá quais fossem, não eram boas.
Quando ele entrou fez-se silêncio. Muitos lordes estavam em pé e suas feições estavam inflamadas por causa da discussão.
—O que aconteceu? – perguntou.
—A senhora minha mãe, mandou uma carta.
Robb lhe entregou um rolo de papel. Quando terminou de lê, não pode deixar de sentir uma certa irritação no fundo da garganta.
—Como pode ver, majestade- começou Lorde Karstark- perdemos a mínima vantagem que tínhamos.
—Lady Catelyn deixou o anão escapar por entre os dedos – queixou-se Lorde Cerwyn.
— Minha mãe fez o que foi necessário.
E começou uma guerra. Essa era a verdade. A mulher agira por impulso e desencadeara uma série de eventos que culminara nesse conflito.
—Temos que atravessar. A cada dia que ficamos aqui a situação de Lorde Eddard fica pior.
— Não podemos atravessar se os Frey não abrirem a maldita ponte- comentou Lady Mormont.
— Temos que achar uma solução.
Os Frey permaneciam calados. Ninguém fez alguma oferta de negociação. O velho Walder esperava que eles dessem o primeiro passo. Jon não gostava de começar nenhuma barganha nessas circunstâncias.
—E que solução seria essa? - perguntou ela- até onde sei ainda não aprendemos a andar sobre a água.
As palavras de Lady Mormont fizeram Jon pensar em algo que tinha lhe vindo à mente, assim que chegaram rio. Não esperava ter que se valer desse recurso tão cedo, mas estavam ficando sem tempo.
— Podemos esperar até que Lady Stark chegue-sugeriu Lorde Karstark- ela saberá como lidar com os Frey. Afinal, são vassalos da casa dela.
— Mas quando isso seria? - indagou Lorde Cerwyn.
— Atravessamos amanhã- disse Jon por fim.
Todos se voltaram para ele. Várias sobrancelhas levantadas esperaram que ele continuasse.
— Vamos levantar acampamento imediatamente. Atravessaremos o maldito rio ao amanhecer.
— Tem um plano? – indagou Robb.
—Sim.
A resposta foi curta, mas o irmão o avaliou por algum tempo depois se voltou para seus lordes.
— Acorde, todo mundo- ordenou Robb- Partiremos a primeira luz.
— Posicionem as tropas ao lado das Gêmeas- disse Jon- As vistas do castelo.
—Sim- concordou Robb com um sorriso.
—E quanto aos Frey?
— Que sejam levados ao mais profundo dos sete infernos – falou Robb, arrancando uma risada de muitos ali. Inclusive de Jon.
—Era isso que eu queria ouvir- esbravejou Lorde Umber- Vou acordar meus homens.
Robb o seguiu enquanto se dirigiu a entrada. Estava na hora de reunir seu povo.
— Mesmo depois que estivermos do outro lado do rio, ainda teremos um caminho muito grande até o pai- comentou Robb.
—Ainda se batêssemos no portão da Fortaleza Vermelha amanhã, ainda não seria garantia de que nos entregariam lorde Stark. Ele ainda é o melhor trunfo que eles têm e os Lannister sabem disso.
— Tem que haver uma maneira.
— Pode haver uma. Estou esperando notícias da capital a qualquer instante.
— Como assim? Quem mandará notícias?
— Mandei Jory com um grupo para Porto Real. Meus Wargs têm olhos em toda a capital e também em Rochedo Castely. Os Lennister não darão um passo sem que saibamos.
O outro nada comentou.
— Tenho que ir agora. Nos encontraremos na ponte ao amanhecer.
........
Os raios do sol batiam sobre as Gêmeas de uma forma esquisita. A fortaleza projetava uma sombra grotesca sobre o rio. Robb encarava o castelo sabendo que o velho Frey observava tudo de algum lugar ali.
O exército se encontrava todo à margem do rio. Podia sentir uma certa agitação nos homens. Muitos já deduziram o que aconteceria. Alguns pensavam que veriam as Gêmeas irem ao chão, derretidas pôr fogo de dragão. Mas Robb sabia que não era isso que aconteceria.
Não podia dizer que conhecia bem Jon Snow. Mas percebeu nesses poucos dias, que ele tinha honra.
Em pouco tempo ele conquistou o respeito dos lordes nortenhos. A presença dele entre eles, não era mais questionada.
É claro que o resto dos selvagens eram um caso totalmente diferente. Não houve como evitar alguns conflitos. Algumas trocas de insultos que evoluíram rapidamente para derramamento de sangue.
Mas a troca de punhos voltou novamente a troca de insultos quando Jon e Robb decidiram que aqueles que brigassem passariam o resto da campanha cavando latrinas.
Os olhares atravessados ainda existiam de ambos os lados, mas os oficiais tentavam manter o foco de todos no inimigo que tinham pela frente.
— Acha que vai dar certo? – perguntou Theon ao se lado – O velho Walder Frey não vai se deixar intimidar facilmente.
— Jon tem um plano. Ele sabe o que está fazendo.
— É claro. Devemos por nossa confiança no rei dos selvagens.
O tom ácido do amigo fez Robb se virar para encará-lo. Desde de que o irmão chegara em Winterfell, Theon vinha agindo estranho. Nunca ficava por perto quando Jon estava presente.
Robb atribuiu isso ao fato do lobo ter pegado um desgosto por Theon. O animal assume uma postura de ataque toda vez que está na presença do amigo.
— Ele é meu irmão, Theon. Filho do meu pai. Isso é motivo suficiente para confiar.
— E que outra escolha temos, não é mesmo. O que seria de nós se Jon Snow não tivesse se tornado um aliado. Não temos força para derrotá-lo e ele sabe disso.
Essa conversa novamente. Perdera a conta de quantas vez discutira esse tópico nos últimos dias. E com várias pessoas diferentes. Enquanto a maioria dos lordes achavam que Jon Snow fora uma espécie de ajuda divina numa hora de necessidade, tinha aqueles que achavam que tudo não passava de algum tipo de estratagema.
— Exatamente por isso é que confio. Ele não precisava estar aqui. Podia esperar que nos desgastássemos no Sul para depois tomar o Norte. Mas não, ele veio até nós com uma oferta de paz.
Antes que Theon pudesse dizer qualquer coisa. Um homem chegou informando que alguns Frey vinham ao seu encontro.
Não demorou muito para que fossem avistados. Uma comitiva de vinte homens. Uma bandeira de trégua era carregada por um cavaleiro. O que significava que os Frey não os consideravam amigos.
Os lordes nortenhos chegaram mais perto para recepcioná-los. Pelo canto do olho viu que Fantasma se aproximava seguido por um dos homens de confiança do irmão, aquele a quem chamavam de Terror dos Gigantes, um homem que Robb aprendera a gostar rapidamente.
Quando os rostos dos homens se tornaram distinguíveis, Lorde Bolton lhe informou que Walder Frey em pessoa estava entre eles. O que era estranho, ao que sabia o velho nunca deixava a segurança das paredes de pedra da sua fortaleza.
— É mais jovem do que pensei - disse o velho cortando as apresentações.
Robb pensou em retrucar que ele era mais velho do que ele havia pensado. Mas preferiu não reagir aos insultos imediatamente.
— Lorde Frey, ao que devo a honra de sua presença? – queria deixar bem claro que não o chamara ali.
Uma sombra passou pelo rosto do velho Walder.
—Traz um exército à minha porta e espera que eu não exija explicações.
— Quanto a isso, não se preocupe. Não nos demoraremos, estamos apenas de passagem.
— E pensa em passar sem pagar. Esquece que sou o Senhor da Travessia, garoto. Não há como passar se eu não der consentimento.
— E o senhor esquece que deve lealdade a Correrrio? - perguntou Lorde Umber – Creio que já recebeu a ordem de nos deixar passar.
— Deve entender meu lorde, a situação em que me encontro. Ao deixá-los passar estarei abertamente me rebelando contra a coroa. Pode ver que não é uma decisão fácil de se tomar.
— Se sua lealdade à coroa é assim tão forte, o que faz aqui? – perguntou Lorde Glover.
— Como já deve saber. A travessia tem um preço. Estou disposto a abrir os portões se se dispuser a pagar.
Robb sabia muito bem qual o pagamento que o homem exigiria. Seus conselheiros lhe avisaram sobre isso.
— Como ousa se aproveitar da situação para exigir tal coisa- acusou Lorde Umber.
— Deve entender que sou um pai zeloso.
—É um oportunista sem lealdade, isso sim – Lorde Umber se exaltava mais a cada instante.
— Posso ser muitas coisas, mas isso não muda o fato que precisa de mim.
— Na verdade meu lorde, não preciso.
— O que quer dizer, moleque. Sem mim, seu exército nunca atravessará o rio.
— Isso não é bem verdade.
Robb trocou um olhar com o lobo do irmão para que ele soubesse que estava na hora.
— Seria bom que escolhesse seu lado sabiamente, Lorde Frey. Estamos em guerra e o senhor não vai querer está do lado perdedor. Essa é a última chance que estou lhe dando. Abra os portões.
O velho Walder soltou uma risada cheia de dentes amarelos.
— Palavras confiantes, mas sem muito efeito. Não passa de um menino brincando de guerra. Se pensa em derrotar os Lannisters com discursos de efeitos é melhor voltar para o seu castelo agora mesmo...
A fala do homem foi interrompida por um grito estridente. Por um piscar de olhos todos foram cobertos pela sombra do dragão. A surpresa foi tanta que alguns dos Frey não conseguiram se jogaram no chão.
— É verdade então - a voz de Walder Frey virou um sussurro. Toda a arrogância de agora pouco se fora.
—Espero que se lembre que dei ao senhor a oportunidade de fazer a escolha certa.
Os três dragões sobrevoavam o rio e as Gêmeas e por um instante Robb pensou que soltariam fogo sobre a fortaleza, mas sabia que o plano de Jon não era derreter castelos como os Targeryen fizeram no passado.
Os dragões branco e dourado faziam voos rasantes sobre o castelo enquanto o azul se dirigia ao rio. Robb conseguiu ver a pequena figura montada nas costas dele.
O dragão soltou uma rajada de fogo sobre a água, mas para a surpresa de todos não era fogo coisa nenhuma. O dragão cuspia gelo. Tão excruciante que o rio congelou em poucos instantes.
Todos observaram com uma mistura de maravilha e medo enquanto uma faixa de um quilômetro mais ou menos foi congelada.
Quando o dragão parou, um sopro ensurdecedor soou. E os gigantes deixaram a margem da floresta.
— Sete salvem-nos - exclamou um dos homens Frey.
Robb encarou Walder Frey. O velho abria e fechava a boca, mas nenhum som saia. Os olhos miúdos espantados acompanhavam os gigantes montados nos mamutes atravessando o rio. Andando sobre o gelo como se fizessem isso todos os dias.
Nesse momento o dragão pousou ao lado deles. As rajadas de vento das asas fizeram com que todos lutassem para continuar montados.
Jon desceu e se juntou a eles enquanto o dragão levantava voo novamente.
— O filho perdido – comentou Lorde Walder baixinho.
Não era surpresa alguma que o homem conhece a história de Jon. A busca por ele tinha sido assunto nos Sete Reinos na última década. E a semelhança de Jon com o pai era inegável.
— Lorde Frey – cumprimentou o irmão- Sou Jon Snow.
O velho engoliu em seco. Toda a cor havia deixado seu rosto.
— O senhor pode ver que não será com discursos de efeito que derrotaremos os Lannisters – disse Jon – será com gelo e fogo.
— Como... – As palavras de Lorde Frey morreram em sua boca.
Robb sabia que tudo que Fantasma ouvia Jon ouvia também. Warg foi uma das primeiras coisas que o irmão lhe explicara. Era difícil de acreditar, mas não podia negar quando via assim em primeira mão.
— Acho que já discutimos o que tínhamos que discutir, Lorde Frey – disse Robb – se não se importa tenho que organizar a passagem dos meus homens.
Robb desceu para a beira do rio e acompanhou a travessia dos mamutes seguidas pelas carroças de mantimentos. Encontrou com Jon à margem acariciando a cabeça do dragão azul.
— Um dragão de gelo. Não esperava por isso – falou enquanto se aproximava devagar. Os dragões ainda lhe causavam certo desconforto.
— Ele se chama Gaothrax. Também me surpreendeu quando soltou gelo pala primeira vez. Nunca tinha ouvido falar de um dragão com tal característica.
— Os outros dois cospem fogo então.
— Sim, embora... – Jon olhou para o céu pensativo.
— Embora? – pressionou Robb.
— Morghon, o branco, solta Fogo-Vivo.
Robb não soube o que fazer com essa informação. Um dragão que cospe Fogo-Vivo é algo tão extraordinário quanto é aterrorizante. Uma fera como essa poderia destruir o Sete Reinos.
— Houve um tempo em que tinha certeza de tudo ao meu redor – comentou admirando o dragão.
— Também tive a mesma certeza uma vez.
— E o que fazemos então? – perguntou Robb.
— Partimos do princípio de que não sabemos de nada e tentamos aprender o máximo que podermos.
......
A chegada de Lady Stark causou certo alvoroço no acampamento. Ela chegou quando estavam a caminho de Correrrio. A mulher continuava do mesmo jeito que Jon se lembrava. Carregava em si toda a dignidade de uma mulher bem-nascida e toda a frieza também.
Ficou feliz em constatar que o olhar dela, que fora motivo de pesadelos na sua infância, não lhe afetou em nada agora. Talvez ter olhado nos olhos dos Vagantes Brancos tenha posto todo o resto em perspectiva. Afinal o que é o olhar de desprezo de alguém comparado a encarar a própria morte.
Lady Stark não era a única que demonstrava seu desgosto em vê-lo ali. Theon Greyjoy não fazia questão de esconder preferiria ver Jon bem longe. Fantasma não suportava ficar na presença dele e isso por si só era motivo de desconfiança.
As pessoas nunca foram muito difíceis de ler para Jon. Mas estava começando a pensar que isso era pelo fato de conviver com o Povo Livre. Sua gente não costuma ocultar suas intenções, sejam elas boas ou ruins.
Theon era muito mais complicado. Dava para ver que a amizade dele com Robb era verdadeira. Percebia-se também que ele era descontente com sua posição, mas até que ponto não sabia dizer.
Jon se afastou um pouco do acampamento para pôr os pensamentos em ordem. Encontrar uma árvore coração não foi difícil. O Povo Livre vinha esculpindo rostos nas árvores durante todo o caminho.
Jon sentou-se e puxou a espada para poli-la. A lâmina reluzia de uma forma incrível no sol do fim da tarde. Aproveitou o momento de quietude para checar a situação dos seus animais.
Sentiu Bahuk pastando junto ao rebanho. A armadura não lhe incomodava mais. Isso era bom. Não arriscaria tira-la dele antes que voltassem para a Dádiva.
Os dragões estavam espalhados. Gaothrax encontrara um lugar suficientemente oculto para descansar na floresta. Morghon caçava ali perto. Havia sentido o cheiro de um rebanho de camurças e se preparava para atacar. Valkius era o que estava mais distante, ele havia seguido o rio e já estava chegando ao mar estreito.
Jon sabia que seus dragões não eram mais segredo e não conseguia deixar de se preocupar. Eles eram poderosos, mas não eram imortais.
Ocupado como estava em checar seus animais não se deu conta de que alguém chegando. Olhou para Fantasma que permanecia deitado aos seus pés ignorando o recém-chegado e soube que não se tratava de um inimigo.
Em poucos instantes reconheceu a silhueta de Lady Stark. Ela caminhava até ele com passos firmes. Parou por instante o encarando e depois prosseguiu até ficar a menos de três metros de distância.
— Por um instante vi ele bem aqui na minha frente.
Jon não precisava que ela explicasse quem ele era.
— A senhora deseja alguma coisa?
— Sim – disse ela, o semblante se fechando – gostaria de discutir sua posição aqui.
Jon esperou que ela falasse. Sabia muito bem que Lady Stark não estava nada feliz com seu retorno. A mulher nunca demonstrara nada mais que desprezo em relação a ele e duvidava que alguma coisa tivesse mudado nesses anos.
— Não vou negar que preferia que você tivesse ficado onde estava- começou ela.
— Se serve de consolo, senhora. Também preferia ter ficado lá.
— Não serve. Mas não posso negar que sua presença foi oportuna dadas as circunstâncias.
— As circunstâncias são as que são por sua causa.
A cor deixou o rosto da mulher. Ela não esperava ouvir isso, mas sabia que era verdade.
— Não vou negar que agi por impulso quando abduzi o anão- disse se sentando em uma pedra próxima- Não levei em conta que Ned estava na Capital cercado de leões.
— Isso não importa mais. Estamos aqui agora.
Um silêncio pesado caiu sobre eles. Jon retomou o trabalho em sua espada. A situação não podia ser mais desconfortável. Obviamente, nenhum dos dois queria estar ali.
— Estou aliviada que tenha voltado.
Jon pensou que tivesse imaginado essas palavras. Ergueu a vista da espada e a encarou. O olhar dela demonstrava a mesma frieza que ele se lembrava tão bem.
— Ned nunca foi o mesmo despois que você se foi. Não vou dizer que estou feliz em vê-lo aqui. Mas meu marido ficará e eu o amo o suficiente para ficar feliz por ele.
A mulher voltou o rosto à árvore. O rosto sério parecia julgar a todos.
— Nos primeiros dias ele mal comia. “Como posso comer, Cat?”, ele dizia, “se meu filho pode está faminto em algum lugar nesse momento”.
Se Jon tivesse ouvido isso de qualquer outra pessoa teria duvidado, mas Lady Stark não contaria se não fosse verdade.
— Ele sentava por horas com Miestre Lwin ouvindo histórias sobre você.
Ela parecia perdida em memórias agora. Os olhos não focavam mais em Jon.
— Eu esperava que isso passasse com o tempo. Mas em todos os momentos felizes uma sombra passava pelo olhar do senhor meu esposo. Eu sabia o que isso significava. Ao que parece, a presença de cinco filhos não faz esquecer um filho ausente.
As palavras saiam da boca dela rapidamente como se tivessem esperado muito tempo para serem proferidas. Jon se perguntava se ela alguma vez falara com alguém sobre isso.
— Talvez agora que você voltou- disse ela se levantando- a paz retorne também à minha família.
Ela se virou para ir embora, mas parou depois de alguns passos.
— Mas não pense que permitirei que fique no caminho de qualquer um dos meus filhos. Destruirei você se o fizer, não importa quantos dragões tenha.
— Não duvido, minha senhora.
Lady Stark se foi e Jon se pôs a pensar em tudo que ela dissera. Memórias dos seus primeiros anos lhe vieram à mente. Como as pessoas pareciam mais assustadoras e como algumas coisas ganhavam uma proporção muito maior do que realmente mereciam.
Pouco depois foi interrompido novamente. Dessa vez por Kena. O garoto sempre foi muito quieto, sempre preferindo a companhia dos animais. Talvez isso fosse uma caraterística comum aos Wargs. Ele mesmo tinha que resistir à tentação de permanecer em umas das suas peles. Não havia nada de muito prazeroso em ser humano nesse momento.
— Vossa Graça – complementou o garoto.
Jon soltou uma risada.
— Vossa Graça? – perguntou ainda rindo. O Povo Livre não o chamava assim.
— Os sulistas disseram que é assim que se deve dirigir a um rei – explicou Kena baixando a cabeça.
— Não sou um rei sulista, Kena. E nos conhecemos a tempo suficiente para que me chame pelo meu nome.
— Jon, o julgamento será amanhã.
— Ótimo – estava esperando por isso a dias - E o navio?
— Está ancorado no local que mandou.
— Obrigado, Kena. Você fez muito bem.
O rosto do rapaz se iluminou um pouco. Ele merecia. Kena e suas aves podiam muito bem decidi essa guerra.
— Diga a Toregg e Sigorn que quero falar com eles.
Kena se apressou em obedecer enquanto Jon foi até a tenda principal onde encontrou Robb Stark e vários outros lordes analisando um mapa estendido na mesa.
— Magnar – chamou alguém do lado de fora. Viu Varamyr Seis-Peles sendo barrado pelos guardas.
— Deixem ele passar – ordenou.
— O que significa isso que ele chamou você? – perguntou Robb.
— Magnar significa senhor na língua antiga – explicou.
Varamyr se aproximou. Era um homenzinho miúdo e com uma personalidade perturbadora para dizer o mínimo.
— Conseguiu?
— Sim, Magnar - respondeu o outro lhe entregando três rolos de papel. Dava para perceber que ele estava desconfortável por estar na presença daquelas pessoas.
— Ótimo, obrigado – antes que Varamyr saísse acrescentou – Boa caçada. Caçar nos céus não é para qualquer um.
Varamyr não respondeu, mas Jon percebeu que ele ergueu a cabeça e aprumou um pouco as costas.
— Que cartas são essas? – perguntou Lady Stark. Jon não tinha visto ela sentada em um canto.
— Cartas que Lorde Frey mandou. Provavelmente para os Lannisters.
— Você as interceptou! – a voz de Lorde Umber podia ser ouvida até nas Gêmeas tinha certeza.
— A águia de Varamyr as interceptou. Tome – disse entregando as cartas à Robb – leia uma e mande as outras para não levantar suspeitas.
— Ele informa os Lannisters sobre os dragões e o que fizemos no rio.
— Aquele traidor! É uma vergonha que sua casa tenha um vassalo com tão pouco caráter, minha senhora – Lady Stark não respondeu as palavras de Lorde Umber.
— O que faremos? – perguntou Lorde Karstark – Deixamos que os Lannisters obtenham essa confirmação sobre os dragões?
Ninguém respondeu imediatamente. É claro que toda Westeros saberá sobre os dragões mais cedo ou mais tarde, mas até agora as pessoas ainda acham que se tratam de uma invenção nortista para afligir medo aos adversários.
— Deteremos as cartas até depois de amanhã - disse Jon - Elas não importarão mais depois desse dia.
— O que quer dizer com isso? – perguntou Lady Mormont.
Jon trocou um olhar com Robb.
— Depois de amanhã saberão, meus lordes, até lá peço que sejam pacientes - pediu o irmão. Ele deu a entender que sabia das intenções de Jon embora este ainda não tivesse lhe explicado seu plano.
Os lordes não ficaram muito contentes, mas ninguém falou nada.
Jon chamou Robb, Toregg e Sigorn para o bosque para discutirem o que ele tinha em mente. Infelizmente Robb achou oportuno chamar Theon também.
—Kena me informou que o julgamento de Lorde Stark ocorrerá amanhã. E o momento para agir chegou.
— O que pretende fazer? – perguntou Theon com certo escárnio – Estamos há milhares de quilômetros de Porto Real.
— Uma viagem de poucas horas nas costas de um dragão – informou Robb. Era bom ver que ele já estava compreendendo parte do que Jon queria fazer.
— Isso mesmo. Se você aceitar, voará comigo até a capital e encontraremos com os homens que mandei até lá. Eles já têm tudo preparado.
Robb concordou com a cabeça, enquanto admirava Morghon que voava ali perto. Devia estar contemplando a ideia de voar em um dragão.
Jon se virou para Toregg e Sigorn.
— Até que eu volte, Tormund e vocês guiarão o Povo Livre. Se tudo der certo voltaremos em breve. Kena manterá vocês informados de nosso progresso.
Jon caminhou com Robb de volta ao acampamento.
— Por que só me falou desse seu plano agora?
— Achei melhor esperar até que tudo estivesse arranjado.
— Então voamos de dragão até porto real e depois?
— Lorde Stark terá de ser levado da Fortaleza Vermelha até o Septo de Baelor para ser julgado. Essa é a nossa chance.
— Quando exatamente mandou esses homens até Porto Real?
— Antes de deixar a Muralha.
— Pense sempre um passo à frente, era o que Miestre Lwin sempre dizia quando estudávamos estratégia. Parece que ele também lhe ensinou essa lição.
— É preciso. Não tenho tempo para, como disse Lorde Frey, brincar de guerra.
......
Catelyn olhava os selvagens passeando por entre as tendas do acampamento com o coração apertado. Os gigantes se mantinham a distância, mas eram facilmente avistados de longe. A sua presença a inquietava.
Criaturas de contos e fábulas caminhavam junto deles. Sentia um arrepio em pensar no que podiam fazer com aquelas ceifadeiras que carregavam.
O estandarte com a cara do mamute de Jon Snow tremeluzia nos raios fracos do pôr do sol. Sempre a lembrando de que aquela gente estava ali.
O retorno de Jon Snow, principalmente nessas circunstâncias, deixou Catelyn com uma sensação ruim lhe revirando o estômago. O rapaz tinha agora o poder de tirar tudo dela.
Ele voltou como rei. Senhor de dragões, de gigantes e sabe-se lá mais o quê. O bastardo conseguira mais poder do que ela algum dia poderia imaginar. E isso a enchia de terror.
Aos poucos ela foi tomando da consciência da reputação de Jon Snow. Os selvagens o veneravam, ele não tinha falta alguma aos olhos daquela gente. Soube que ele se tornou senhor dos gigantes ainda criança e que foi o primeiro não-gigante a alcançar tal posição.
Enquanto atravessava o acampamento a procura do filho reparou que, embora ainda houvesse uma linha imaginária separando os nortenhos dos selvagens, esta era aos poucos transpassada.
Viu Lady Mormont examinando as armas dos gigantes alguns metros dali. E alguns soldados com armaduras dos Karstark treinavam com um bando de garotos selvagens um pouco mais a frente.
É claro que ainda havia algumas rixas. No dia anterior mesmo uma mulher selvagem havia cortado a orelha de um soldado Umber que tentou entrar em sua tenda. Catelyn esperou que Lorde Umber esbravejasse como é de seu costume, mas o homem apenas soltou uma gargalhada.
“-Sorte não ser seus cunhões – disse Grande Jon enquanto puxava o já pálido rapaz para ser tratado.”
O sangue dos primeiros homens, deduziu ela. Essas pessoas, apesar de diferentes, tinham a mesma descendência. Cat não pensou que isso fosse significar muita coisa, mas percebia que estava enganada.
Notava como as filhas de Lady Mormont se sentiam à vontade discutindo sobre armas e lutas com as mulheres selvagens, as tais Esposas de Lanças. Também percebeu que diferente do que teria acontecido em qualquer exército sulista, os homens ali não pareciam se importar tanto com a visão de uma mulher segurando uma espada ou lança.
Depois de todos esses anos, o Norte ainda a surpreendia com suas excentricidades. Olhando ao redor, percebeu que todos ali eram nortenhos. De lados diferentes da Muralha, mas ainda assim nortenhos.
É claro que sempre achariam motivos para brigarem entre si e matarem uns aos outros, mas mesmo assim compartilhavam uma história de mais de oito mil anos.
De repente Catelyn se sentiu sozinha e muito longe de casa. Ela era uma Stark por casamento. Em alguns momentos ela ainda se sentia muito Tully. Muito sulista.
Foi retirada de seus pensamentos quando Lorde Umber a chamou.
— Venha dividir um cantil de vinho conosco, minha senhora – convidou o Lorde.
Se preparava para dar uma recusa educada quando reparou em quem mais estava na mesa improvisada com Lorde Umber.
Uma mulher selvagem jovem de cabelos ruivos, Lordes Karstark, Glover e Cerwyn e também um selvagem ruivo que, segundo ela ouvira falar, criara Jon Snow.
— Seria uma honra meu lorde – disse enquanto se sentava.
— Estávamos falando de mamutes, minha senhora. Em como podem desmantelar qualquer exército inimigo.
— Criaturas realmente magnificas – comentou ela – me pergunto como o Rei-pra-lá-da- Muralha conseguiu uma manada tão formidável.
Catelyn esperou que o selvagem começasse a falar. Todos pareciam não perder a oportunidade de relatar as façanhas do seu rei.
Mas o homem apenas deu um sorriso enorme. Um sorriso de orgulho. De pai.
— Diga Tormund, como o rei conseguiu domar esses animais? – pressionou Lorde Karstark.
— Os mamutes sempre pertenceram aos gigantes – disse o homem como se explicasse o obvio – quando Jon se tornou Magnar Mag há muitos anos atrás, passaram a ser dele.
— O que significa isso? Magnar Mag.
— Significa rei.
— Jon Snow nos informou que se tornou rei recentemente – objetou Lorde Cerwyn.
— Ele virou rei do Povo Livre há pouco tempo – explicou a garota – Mas Jon já era Magnar Mag muito antes disso. Desde que chegou do nosso lado.
— Mas isso seria quando ele tinha sete anos – se surpreendeu Lorde Umber.
— Ele já tinha os dragões na época? – perguntou Catelyn. De todas as coisas sobre Jon Snow, os dragões eram o que mais lhe preocupava.
— Não. Os dragões nasceram depois.
— E como foi isso?
— Teve um incêndio. A gente achou que Jon tivesse morrido. Mas ele não só tava vivo, como também tinha arranjado três dragões.
Ainda havia muita coisa sem explicação, mas antes que ela pudesse perguntar mais alguma coisa. Lady Mormont se aproximou.
— Aquelas armas dos gigantes podem cortar um homem ao meio com a mesma facilidade com que um Lannister mente – disse ela se sentando.
— Jon achou que lanças e foices eram melhores para os gigantes que espadas – falou de novo a menina. O cabelo ruivo dela a fazia lembrar de Sansa.
— E você quem é? – perguntou lady Mormont bruscamente.
— É minha filha Munda – explicou o selvagem.
Lady Mormont apenas fungou enquanto se servia de vinho.
— Como Jon Snow conseguiu tais armas? Não sabia que havia coisas assim do outro lado da Muralha – perguntou à Munda. A garota parecia que gostava de falar.
— Jon desenhou elas e mandou que os Thenns fizessem – disse ela simplesmente.
— No começo não aprovei que Jon fizesse negócio com os Thenns – falou Tormund – mas não demorou muito pra que o garoto tivesse todos aqueles malditos fazendo as vontades dele.
— Todos sempre fazem as vontades de Jon – disse a garota. Não parecia haver rancor na voz dela. Foi apenas uma constatação.
— E o lobo? – perguntou Lorde Karstark – é comum as pessoas terem Lobos Gigantes do outro lado da Muralha?
— Não, não é comum. Jon é o único que conheço que tem um – respondeu Munda.
— Ele encontrou o lobo assim que chegou do nosso lado da Muralha – informou o selvagem - Você é a mulher do pai dele? - perguntou se virando para encará-la.
— Sim.
— Hum – o homem a avaliou de cima abaixo - ele nunca falou muito de ninguém que deixou desse lado. Mas ele não gosta muito de falar.
— Isso ele puxou ao pai – comentou Lorde Cerwyn – Ele se parece muito com Lorde Eddard.
“O lobo uivou mais alto no ventre da outra.”
Catelyn sentia raiva toda vez que ouvia um comentário como esse. E ela ouvia muitos. Sempre fora assim. Desde que o garoto era criança de colo.
Ela entendia como os nortenhos viam Jon Snow. Uma versão mais nova do seu amado lorde que veio montado em seu dragão para socorrer o Norte nessa época atribulada.
Os deuses a puniram da forma mais impiedosa possível. Como ela desejou que Jon Snow sumisse da sua vida. Não conseguia olhar para ele quando era criança. Tão Stark que ele era. Lembra-se que uma vez procurou qualquer coisa da mãe desconhecida na sua fisionomia, mas tudo que enxergou foi Ned.
Orou tanto que o garoto se foi. Mas os deuses riram dela no fim. Ela viu a felicidade sumir dos olhos do marido pouco a pouco a cada ano que se passava. Quando Ned se perdia em pensamentos ela se perguntava se ele estava pensando no filho desaparecido ou na mãe dele.
Ned nunca falou nela, mas Catelyn sabia que ele não havia esquecido a mãe do seu bastardo. Ela sempre seria um fantasma no casamento dos dois. E Cat não conseguia deixar de odiar a mulher. Foi esse ódio que a fez afastar Jon Snow do resto da família e desejar que desaparecesse. Talvez se o filho sumisse, Ned esqueceria a mãe.
Dizem que quando os deuses querem nos castigar, atendem aos nossos pedidos. Com ela fora assim. O garoto se foi de Winterfell, mas Cat fora castigada. Ned se afastou dela ainda mais depois disso.
Uma vez Catelyn pegou Sansa rezando por Jon Snow no bosque sagrado. A filha quase não ia lá, preferindo fazer suas preces no septo. Mas não nesse dia.
“- Sansa o que está fazendo aqui? Já é tarde.
— Miestre Lwin disse que chegou outro garoto em Porto branco que dizem que é Jon Snow.
— Isso ainda não explica por que está aqui a essa hora.
— Vim pedir aos deuses que esse seja o Jon Snow certo.
— E por que isso? - ela não entendia. Sansa era muito pequena quando Jon Snow desapareceu para sentir falta dele.
— O pai sempre fica triste quando é o garoto errado.”
Não era garoto certo. E o marido sofreu outra decepção.
Agora Jon Snow voltou. E se tornou uma ameaça muito maior do que se tivesse ficado em Winterfell todo esse tempo. Os deuses devem achar ela uma piada.
— Com sua licença meus lordes – disse um rapaz – trago uma mensagem de Lorde Stark e de Sua Graça, o rei.
O estômago de Catelyn se revirou. A cada dia mais e mais nortenhos começavam a chamar Jon Snow de rei.
— O que foi? – perguntou Lady Mormont em seu tom costumeiro.
— Eles partiram, minha senhora.
— Como assim partiram? – as mãos de Cat gelaram.
— Se foram em um dragão e disseram que mandariam notícias em breve. A ordem é para continuarmos nosso caminho.
— Que direção tomaram? – perguntou Lorde Cerwyn.
— O dragão voou para o Sul.
Fez-se silêncio, mas Catelyn soube que todos estavam pensando a mesma coisa que ela.
Ned.


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Notas finais do capítulo

Então, relendo o último capítulo percebi que esqueci completamente de Theon mas espero ter encaixado ele o melhor possível neste. Bjs e até o próximo.