Dragões do Norte escrita por Snowfall


Capítulo 14
Família e Sangue.


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de dedicar esse capítulo para Igor Jesus, Nastia Winchester e Wesley que escreveram lindas recomendações e também a todos que acompanham a história.



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A sensação de sentir-se encurralado nunca foi muito familiar para Benjen. Agora enquanto estava preso em Castelo Negro e todo o Norte ia para a guerra, sentia-se em uma gaiola.
Todos passavam por isso, era o que lhe diziam. Miestre Aemon e o Lorde Comandante vieram até ele e lhe contaram sobre todas as vezes que foram provados. Não conseguiram lhe oferecer muito conforto.
Saber que muitos já se encontraram na sua posição não a tornava mais tolerável.
Enquanto observava Jory se aprontar para partir, o sentimento de que falhava com sua família fazia sua garganta se contrair. Pensava em Ned aprisionado e também em Robb que era apenas um garoto e tinha a tarefa de liderar um exército para a guerra.
—Quando fica todo carrancudo assim, posso ver que são mesmo parentes- falou um selvagem se aproximando.
—O que disse? - Perguntou. O homem tinha ficado no comando da passagem dos selvagens. Jon havia saído em um dragão para coordenar a travessia dos mamutes em Torre Sombria. Os animais eram grandes demais para passarem em Castelo Negro.
—Ele faz a mesma cara quando pensa em algo que não gosta. Deve ser de família-entendeu que o homem falava de Jon.
—Devia conhecer o pai dele. Ned aperfeiçoou a técnica da expressão pensativa.
—Qual o problema?
—Minha família está indo para a guerra e estou preso aqui.
—É tão bom lutador assim, que eles vão perder só porque não está lá.
—É claro que não, mas...- não sabia porque estava discutindo isso com aquele homem. Os selvagens, ao que percebeu, pensavam de um jeito muito particular.
—Mas queria fazer alguma coisa pelo seu irmão- observou o outro.
—E por meus sobrinhos também. Mas estou de mãos atadas.
—É aí que são diferentes. Você e Jon. Ele já teria encontrado uma maneira. Já teria encontrado meia dúzia de maneiras.
—Jon não está preso a um voto como eu.
—Verdade, não tá - o homem lhe lançou um olhar que dizia que ele estava deixando passar algo importante.
Se preparava para perguntar o que o selvagem queria dizer quando, ouviu um alvoroço do lado de fora.
O dragão pousou na amurada do Castelo e conseguiu ver Jon desmontar. Alguns dias não foram o suficiente para que ninguém em Castelo Negro se acostumasse com os dragões. Toda vez que algum deles passava, seus irmãos se agitavam.
Quando Jon desceu até o pátio, o lobo veio a seu encontro. O animal nunca ficava longe, parecia uma extensão do sobrinho.
Enquanto observava Jon falando com alguns selvagens, a conversa de agora a pouco lhe veio à mente. Percebeu que havia um jeito de ajudar nessa guerra. Só precisaria de um pouco de persuasão e talvez garantisse a vitória.
Encontrou Jon, algumas horas depois, nos aposentos de Miestre Aemon. O garoto Tarly escrevia algo em um livro.
—Quando o Vagante foi morto, a força que movia as criaturas se foi e elas voltaram a ser apenas cadáveres.
—O que é uma vantagem- comentou o Miestre.
—Aparentemente sim-confirmou Jon.
Benjen sentou-se à mesa.
—Estamos escrevendo tudo o que sabemos sobre nosso inimigo- informou o Miestre.
—Soube a pouco tempo que há Vidro de Dragão nas terras de Sempre Inverno. Mas chegar até lá será um problema.
A conversa se estendeu. Quando terminaram Ben pediu para conversar com o sobrinho em particular. O Lorde Comandante colocou Jon na Torre do Rei. O que achou apropriado já que ele era um.
—Como foi a travessia dos mamutes? - Perguntou assim que se sentaram.
—Tranquila. Pensei que teria mais trabalho em fazer Bahuk atravessar o túnel escuro, mas ele não ofereceu muita resistência. Os outros o seguiram como sempre.
O sobrinho o analisou por um instante e percebeu sua apreensão.
—Sobre o que deseja falar?
—Sobre a guerra.
—Temos pouco tempo para nos preparar. Mas nossas chances são maiores hoje do que eram há alguns dias atrás.
—Não me referia a essa guerra.
Jon se recostou na cadeira, seus olhos não transpareciam nada.
—Essa é a única que importa.
—Está enganado-discordou Benjen. Isso seria mais difícil do que pensara.
—Diga logo o que quer- o tom cortante mostrava que Jon não gostava de ser contrariado. Não era nenhuma surpresa, viu o jeito que os selvagens se desdobravam para fazer todas as vontades dele sem discutir. Pelo que soube, o sobrinho se tornara líder de um grande povo ainda criança, e deve ter se acostumado a não ser contrariado.
—Você poderia garantir nossa vitória no Sul.
—Essa não é minha guerra.
—É uma guerra do Norte e agora faz parte dele.
—Não posso pedir ao meu povo que lute e morra pelos sulistas. Por uma questão que não tem nada a ver com eles.
—Essa guerra pode destruir o Norte. Como espera que lutemos no Inverno se formos destruídos antes que ele chegue.
Jon não respondeu e Benjen enxergou uma brecha.
—Ele é seu pai, Jon.
Essa foi a coisa errada a se dizer. O rosto do sobrinho se fechou no mesmo instante.
—Tem poder suficiente para pôr um fim nessa questão -tentou outra aproximação- pode decidir essa contenda rapidamente. Imagine quantas vidas salvaria.
Mas uma vez foi respondido com silêncio.
—O senhor meu pai costumava dizer que nada mais une mais as pessoas do que lutar lado a lado no campo de batalha. É lá que conhecemos nossos aliados.
Jon ainda não comentou, mas parecia um pouco intrigado.
—Sua posição aqui seria melhor firmada se lutassem conosco. Mostraria que realmente pertencem ao Norte.
O sobrinho se voltou para o lobo e começou a afaga-lo atrás das orelhas. Benjen percebeu que não teria uma resposta. Se levantou para sair, mas quando estava a porta foi parado por uma pergunta.
—Se ele não fosse meu pai, o senhor estaria aqui me pedindo a mesma coisa?
—Sim, estaria. E se ele não fosse seu pai, acho que não estaria resistindo tanto.
Os olhos de Jon deixaram o lobo e o encararam, enquanto deixava o aposento. Soube então que ele tomaria a decisão certa.
........
Jon andava devagar, seguindo o ritmo de Miestre Aemon, o qual guiava pelo braço. O caminho até a amurada era difícil para o ancião.
— Só um pouco mais, Miestre.
Foram atingidos pela respiração quente de Morghon e o Miestre estremeceu.
—Estenda a mão agora.
O senhor fez como foi dito e tocou as escamas da cabeça do dragão. Ele fechou os olhos e Jon viu uma lágrima escorrer.
—Já teve a sensação de que durou todo esse tempo para viver um único momento.
Desejou que o Miestre enxergasse, ele merecia ver os dragões.
—Ele se chama Morghon.
—Um nome intimidador.
—Ele cospe Fogo-Vivo, achei apropriado-confidenciou baixinho.
—Fico me perguntando quando a vida deixará de me surpreender.
Permaneceram ali calados, até Jon falar sobre o que realmente o incomodava.
—Tio Benjen quer que eu vá para o Sul, para a guerra.
—Entendo-suspirou o Miestre- Imaginei que chegaríamos nisso. O que você quer?
Jon não pode deixar de soltar uma risada.
—O que quero, Miestre, é um mundo livre dos Outros e um verão que nunca acabe. O importante aqui não é o que eu quero.
—E o que seria?
—O que devo fazer que seja melhor para todos.
—Isso não existe, criança. Nada é melhor para todos.
—Tio Benjen acredita que assim seria mais fácil sermos aceitos pelos lordes nortenhos.
—É um pensamento lógico.
—Mas teria que arriscar meu povo em uma guerra que não é nossa.
—Não é sua? - perguntou o Miestre- Não é seu pai que está aprisionado? Não é seu irmão que está partindo para a guerra?
—O senhor tem razão. É a minha família que está envolvida nessa guerra. Mas também tenho outra que me confiou sua vida e depende de mim. Me diga Miestre, como decido qual devo sacrificar em prol da outra.
Miestre Aemon começou a sorrir.
—Que tempos são estes, em que os selvagens escolhem seu rei melhor que nós.
—O senhor não me respondeu.
—Porque não há resposta. Não há como decidir. Mas encontrará uma saída.
Quando Jon ficou sozinho, começou a fazer ponderações. Milhares de cenários se formavam em sua mente. A conversa que teve com o tio expos todas as incertezas que vinha tendo nos últimos dias.
Quando a noite caiu, tinha pensado em uma solução que lhe agradava. Chamou Tormund e contou seu plano.
—Vou para guerra no Sul. Não vou obrigar o Povo Livre a lutar em uma guerra alheia. Diga que aqueles que quiserem me seguir são bem-vindos, mas que a decisão cabe a eles.
Tormund partiu para espalhar a novidade e no dia seguinte dezenas de milhares de voluntários estavam a porta de Castelo Negro. Pelo jeito ele havia subestimado a ânsia do seu povo de matar sulista.
Camisa de Chocalho e Chorão o surpreenderam quando se prontificaram. Os dois foram uns dos poucos que resistiram em chamá-lo de rei.
Jon teve que fazer uma seleção. Escolheu dez mil homens entre aqueles treinara na montanhas e mais dez mil entre o resto do Povo Livre. Também escolheu oitocentos gigantes, aqueles com melhor temperamento e habilidade.
Mil mamutes foram selecionados, todos usando armadura completas. Os Thenns fizeram um ótimo trabalho nesse quesito.
Jon olhava seu estandarte tremulando enquanto seu exército partia. O rosto negro de Bahuk sobre um campo branco. A expressão feroz do animal refletia bem a natureza daquela gente.
Havia pensado muito no que usar como estandarte. Seu primeiro pensamento foi em Fantasma, mas seria muito Stark. Os dragões? Muito Targaryen. Por fim decidiu por Bahuk, não havia um símbolo que melhor representasse seu vínculo com o Povo Livre.
Enquanto eles partiam, Jon voltou para o Castelo. Ainda tinha algumas coisas que precisava resolver antes de se juntar ao seu exército.
Se reuniu com Mance e o Lorde Comandante para decidir o que seria feito enquanto ele estivesse fora. Os preparativos para o Inverno não podiam esperar.
Quando entrou sentiu a tensão na sala. Os homens da Guarda da Noite não se sentiam à vontade na presença de um desertor.
Por esse motivo, Jon decidiu falar logo o que tinha para falar.
—Enquanto eu estiver fora Mance comandará o meu povo. Ele me representará em qualquer assunto que surgir. E se ocupará de terminar a instalação do Povo Livre na Dádiva.
Mais e mais pessoas passavam pelos portões todos os dias. Quando a apreensão inicial passou, as pessoas dos lugares mais longínquos começaram a se dirigir a Muralha. Gente que nunca tinha se unido a Mance. Seu povo chegaria a cento e cinquenta mil em alguns dias se o ritmo continuasse o mesmo.
—Assim que estiverem todos acomodados, começará a abertura dos outros castelos da Muralha. A previsão é que oito deles sejam postos para funcionar num espaço de seis meses.
As pessoas o escutaram sem comentar enquanto ele falava sobre logística. Tinha planos que precisavam ser postos em ação imediatamente, principalmente com relação a comida e armamento para o Inverno.
Quando a reunião acabou, Lorde Mormont pediu um momento a sós com ele.
—Quando parte? – perguntou o comandante.
— Pretendo acompanhar Jory até Atalaia Leste. Depois que colocá-lo em um navio vou me juntar ao exército.
—Não vai me contar mesmo qual é esse seu plano com Jory?
—Não. É melhor que não saiba, afinal a Guarda da Noite não toma partido.
—Muito bem. Acho que pode ter razão.
O Lorde Comandante se virou e procurou por algo no fundo do aposento. Quando voltou trazia uma espada e a estendeu para Jon.
—Podemos não tomar partido, mas nada nos impede de presentear um amigo e aliado.
Jon recebeu a espada e a examinou. O punho era de pedra branca e tinha a forma de um lobo, duas granadas representavam o brilho vermelho dos olhos de fantasma.
—Mandei fazer um novo pomo. O antigo tinha forma de um urso, mas achei que um lobo caberia melhor a você.
Quando Jon puxou a espada da bainha teve outra surpresa.
—Mas isso é aço valiriano.
—Sim, essa era a espada do meu pai e do pai dele. Ela vem passando de Mormont a Mormont há milhares de anos.
O homem estava lhe dando a espada da família, notou espantado.
—O senhor me honra, mas...
—Sem mas, garoto. Salvou minha vida quando meus próprios irmãos tentaram me matar. Se não fosse por você e aquela sua fera estaria morto agora. Por isso aceite de uma vez e nada de agradecimentos. Ela já serviu a vários homens, mas nunca a um rei.
Jon pensou um pouco e depois assentiu com a cabeça.
—Ela tem um nome?
—Se chamava Garralonga, mas pode renomeá-la se quiser.
—Será Garralonga. Os lobos têm garras assim como os ursos.
O Velho Urso pareceu feliz ao ouvir isso.
Na manhã seguinte Miestre Aemon foi encontrá-lo antes de partir, tio Benjen o acompanhava.
—Gostaria de falar com Vossa Majestade em particular- pediu o Miestre.
O tio se afastou um pouco deixando os dois a sós.
—Gostaria de uma promessa, Vossa Graça.
—O que eu poderia lhe prometer, Miestre- estranhou.
—Prometa que tomará cuidado. Faz muito tempo que não me reúno com alguém da minha família, tão poucos que somos agora. O último familiar que perdi foi sua mãe. Pensei que tivesse perdido você também, e não gostaria que morresse agora que o recuperei.
—Mas como... – não compreendeu até que fez uma associação.
Miestre Aemon. Seria possível?
—O senhor é Aemon... Targaryen? - perguntou devagar.
—Há muito tempo sim, abandonamos os nomes de família quando forjamos a corrente.
—O senhor a conheceu? – perguntou de imediato.
— Não pessoalmente, mas ela escrevia de vez em quando. Era a única que ainda se lembrava que eu estava aqui.
Era estranho ouvir falar sobre a mãe. Saber que ela existiu de verdade, que não era um fruto da sua imaginação.
—Tome - disse entregando uma carta – é a última que ela escreveu.
Jon guardou a carta no bolso e se despediu do Miestre. Era esquisito pensar que eram parentes. Na verdade, nunca pensou muito na família da mãe. Agora que se atentava para isso, se lembrou que ainda existiam alguns Targaryen em Essos.
Se dirigiu ao dragão acompanhado de tio Benjen.
—Quando chegar a Winterfell demonstre a eles todo o seu poder. Não dê nenhuma brecha para questionamentos. Ficará mais seguro se os Lordes acharem que tem tudo a ganhar em tê-lo como aliado e tudo a perder em tê-lo como inimigo.
Jon apenas assentiu.
—Mas uma coisa. Quando reencontrar o seu pai, não seja duro demais. Qualquer falta que ele tenha tido com você, passou a última década pagando.
Jon pensou nessas palavras enquanto subia em Morghon. Se tudo desse certo, em breve reencontraria Lorde Stark e essa era uma perspectiva assustadora, agora que o momento se aproximava.
Mas guardou esse pensamento no fundo da mente, aonde guardava as coisas que preferia não lidar imediatamente. Assim como a carta da mãe que pesava mais que o normal no seu bolso.
........
A qualquer momento ocorreria uma luta, Robb tinha certeza. Os lordes no grande salão pareciam estar em uma disputa de quem tinha a garganta mais poderosa. Lorde Umber estava ganhando. A voz dele ressoava pelas paredes suprimindo as outras.
Desde que informara a eles sobre o conteúdo da carta que recebera de Castelo Negro, instalou-se um pandemônio. A notícia de que os selvagens cruzaram a Muralha pegou todos de surpresa.
Nos últimos dias uma enxurrada de cartas chegara em Winterfell, cada uma trazia uma novidade mais perturbadora que a anterior. Falavam sobre dezenas de milhares de selvagens, gigantes e dragões, por mais absurdo que isso fosse.
—Temos que reagir imediatamente-sugeriu Lorde Karstark-antes que comecem a violar todo o Norte.
—Não podemos marchar contra os selvagens agora-contrariou Lorde Glover- nossa prioridade é libertar Lorde Eddard.
—Marchamos para o Sul e deixamos nossas casas a mercê dos invasores- comentou Lorde Bolton.
—Segundo o meu tio, não houve invasão-informou Robb- A Patrulha deixou os selvagens passarem.
—Devem ter perdido o juízo- Lorde Karstark estava furioso agora- Se deixaram intimidar de alguma forma. É a única explicação para tamanho absurdo.
—Isso mesmo- concordou Lorde Cerwyn- Todas essas bobagens sobre dragões e gigantes me parece um truque para nos amedrontar.
—Meu irmão viu um- informou Lorde Umber- ele escreveu dizendo que avistou uma das bestas sobrevoando a Dádiva.
Houve silêncio então. Se os dragões fossem reais, a sua situação era muito mais complicada.
Todos se viraram para ele e Robb nunca desejou tanto que o pai estivesse ali. Ele saberia o que fazer. Mas o pai estava preso em Porto Real e a mãe, no Vale. Agora caberia a ele decidir que caminho seguiriam.
Iriam para o Sul afim de salvar o pai e deixariam o Norte desprotegido. Ou partiriam para a Dádiva e deixariam o pai morrer em Porto Real. Como ele tomaria uma decisão como essa?
Nesse momento Miestre Lwin entrou no salão e lhe entregou outra carta. Quando Robb terminou de ler seu coração estava acelerado. Pelo jeito não haveria tempo para decidir.
—Estão vindo-informou.
—Meu Lorde? – Lorde Glover percebeu sua palidez.
—O Rei dos selvagens está vindo para Winterfell com um exército.
—Quem deu essa informação, meu senhor?
—Ele próprio. Ele escreveu a carta.
Uma onda de murmúrios percorreu o aposento. Ninguém esperava receber uma carta do Rei-pra-Lá-da-Muralha.
—Ele oferece ajuda na guerra no Sul.
Ninguém respondeu a esse comentário.
—Não diz o que ele quer em troca-continuou.
—Desculpe, meu Lorde-começou Miestre Lwin em voz baixa- mas porque não ouvimos o que Jon tem a dizer. Talvez a ajuda dele seja o que precisamos para vencer esta guerra.
—Não pode acreditar que este é mesmo o garoto que se perdeu, não é? – perguntou Lorde Bolton com escárnio.
—Benjen Stark foi muito certo em suas palavras, assim como Ser Jory.
—Devemos ouvir o garoto-concordou Lorde Umber. Grande Jon sempre foi um dos mais empenhados na procura de Jon Snow.
Várias vozes se elevaram em discordância. Robb olhou para Miestre Lwin em um canto. Havia esperança nos olhos dele. Pensou que talvez um dia veria a mesma coisa nos olhos do pai. Como ele ficaria feliz em reencontrar o filho perdido depois de mais de uma década de procura. Pensar no pai o fez tomar uma decisão.
Não custou muito para que o exército fosse visto se aproximando de Winterfell. Nos dias que se seguiram, dezenas de mensageiros chegaram relatando a armada selvagem que vinha na sua direção.
O que eles diziam era perturbador, para dizer o mínimo. No começo pensou que falavam exageros, que sua percepção estava corrompida pelo medo. Mas não pôde ignorar os pontos em comum em cada depoimento.
Ao que parecia os selvagens contavam mais de vinte mil, o que era um pouco mais do que ele próprio comandava. Foram avistados centenas de gigantes montados em grandes animais identificados como mamutes. Muitos dos seus homens escolheram não acreditar nessas histórias, mas Robb estava apreensivo. Se dois terços do que ouviram fosse verdade estavam em uma situação difícil.
Agora enquanto esperavam pelos selvagens em um morro perto de Winterfell, tentava não aparentar essa preocupação. Isso não seria bom para a moral dos homens.
O exército se fez vê no horizonte e a primeira coisa que pôde perceber foi que marchavam de forma organizada. Não era o que esperava.
Quando avistaram seu grupo em cima do morro, os selvagens pararam. Apenas uma pequena porção se aproximou.
Por incrível que pareça, o grupo era liderado por um lobo. O animal albino era maior do que o pónei que Bran montava.
Percorreu os olhos pelos homens que se aproximavam, esperando reconhecer Jon Snow. Tentava se lembrar do rosto dele, mas não conseguia. Quando garoto, a mãe não permitia que Robb chegasse perto do bastardo do pai. Os criados faziam de tudo para sempre mantê-los em partes opostas do castelo.
É claro que na época Robb não pensava nessas coisas. Não pensava muito no meio-irmão que causava tanta raiva à mãe.
Mas conseguia se lembrar que mesmo separados, os dois eram comparados. Miestre Lwin e Ser Rodrik não se abstinham de fazer isso toda vez que queriam que ele se aplicasse mais em alguma lição.
Sempre que pensava em Jon Snow, a primeira coisa que vinha em mente era a vez que ouvira os pais brigando por causa dele.
“Robb se escondia dentro do baú nos aposentos do pai. Sabia que a Velha Ama nunca procuraria por ele ali. Ele estava decidido que não tomaria banho naquele dia.
Seu coração quase saiu pela boca quando ouviu vozes exaltadas se aproximando pelo corredor. Pensou que tivesse sido descoberto.
—Mandou vir outro Miestre da Cidadela sem me consultar- acusou a mãe.
—Não vejo porque deveria consultá-la em um assunto de tão pouca importância- a voz do pai era cansada.
—E eu não vejo porque precisamos de outro Miestre.
—É por pouco tempo Cat. Só até o menino aprender Alto Valiriano. A ideia foi de Miestre Lwin. Aparentemente Jon mostrou interesse em aprender a língua.
—Manda vir um Miestre da Cidadela só para atender aos caprichos do seu bastardo. Não percebe como isso pode parecer para mim.
—Não sei como isso pode afetar você, minha senhora.
—Não fica bem se souberem que se desdobra para fazer as vontades de Jon Snow.
—Catelyn- o tom do pai era cortante- quase não vejo o garoto apesar de morarmos sobre o mesmo teto e faço isso para não a desgostar ainda mais. Mas não vou negar nada que se refira a educação dele.
—Mas Ned...
—Minha decisão é final.”
Robb ficou muito quieto dentro do baú até que todos se retirassem e ele pudesse enfim sair.
Pouco tempo depois o Miestre chegou. Robb se lembrava muito bem dele porque a cor negra do homem o surpreendeu. Nunca pensou que as pessoas podiam ter aquele tom de pele. Miestre Lwin lhe explicou que ele era das cidades livres e que lá isso era comum.
Uma vez o homem foi convidado para jantar na mesa principal. Nesse dia Robb ouviu muitas histórias sobre Essos de onde o Miestre vinha.
Também ouviu falar mais de Jon Snow naquela noite do que ouvira a vida toda. Miestre Lothan não parava de falar dele.
“-Tem um talento inato para a língua-comentou- Parece natural com a pronuncia, não será nenhum espanto que a domine antes que o ano acabe.”
A mãe não falou nada naquele jantar. Agora, gostaria que ela não tivesse se esforçado tanto para separar o dois. Talvez essa situação fosse mais fácil se eles tivessem sido mais próximos quando crianças.
Dez homens se aproximaram seguindo o lobo. Seus homens se remexeram, possivelmente se lembrando das histórias que diziam que Jon Snow virava lobo. Talvez esperassem que o animal se transformasse em homem a qualquer momento.
—Jon não está entre eles – informou Miestre Lwin ao seu lado, ele havia insistido em está presente nesse encontro.
Os homens pararam, mas o lobo continuou até está a menos de dois metros de Robb. O animal o observava com olhos extremamente vermelhos, que demonstravam uma inteligência enervante.
O lobo enfim desviou os olhos e encarou o céu. Um gesto aparentemente inocente até que Robb viu o que o lobo observava.
Ninguém teve tempo de reagir. Todos estavam ocupados demais tentando controlar os cavalos. Lorde Umber quase caiu. Por fim decidiram desmontar.
Quando se recuperaram o suficiente para encarar os dragões, todas as palavras se perderam.
Não havia nada que pudesse descrever o que via. Não conseguia decidir se eram assustares ou magníficos. Talvez assustadoramente magníficos, fosse a expressão correta.
Os nobres ao seu lado tentavam manter a compostura digna de sua posição, mas pôde perceber que estavam mais do que abalados. Grande Jon empalideceu enquanto arqueava a cabeça para cima para encarar as bestas, nunca devia ter se sentido tão pequeno.
Um homem desmontou do dragão branco. Não dava para reconhecê-lo devido à distância, mas logicamente esse devia ser o Rei.
Quando ele atingiu o solo, o lobo já estava ao seu lado. Juntos, caminharam até eles.
Enquanto se aproximavam, suas feições se tornavam mais reconhecíveis. Feições tão conhecidas por todos ali que várias exclamações foram soltas ao mesmo tempo.
—Não é possível-Lorde Manderly deu um passo atrás.
O Rei se dirigia direto para Robb. Até que seu olhar se recaiu sobre a pessoa a seu lado. O homem acelerou seus passos, e envolveu um estupefato Miestre Lwin em um abraço.
—Meu menino! - exclamou o Miestre, a voz embargada.
—Não é mais tão menino assim, não é rapaz? - as palavras de Grande Jon eram brincalhonas.
O Rei soltou de Miestre Lwin para estender sua mão para o senhor.
—Lorde Umber- falou formalmente. Depois se voltou para Robb.
Por um instante se viu avaliado pelos olhos julgadores do pai.
—Temos muito o que discutir.
.........
Se Jon alguma vez pensou que voltaria à Winterfell, nunca pensou que fosse em tais circunstâncias. Como Rei. Ao que parecia nenhum dos presentes pensou nessa possibilidade também.
Não houve nenhum comentário enquanto se dirigiam ao castelo. Viu alguns olhares de desconfiança, espanto e até admiração. Mas nenhum de respeito, isso Jon teria que conquistar.
Miestre Lwin caminhava ao seu lado. Uma presença reconfortante. Não conseguia descrever a sensação que foi reencontrá-lo. O velho senhor lhe trazia mais segurança do que qualquer outra coisa. Mais até que os dragões nesse momento.
Entrar em Winterfell, depois de todos esses anos, trouxe um peso ao peito de Jon. Uma correnteza de memórias lhe veio à mente.
Um sorriso surgiu nos cantos da sua boca quando se deparou com um degrau em que caíra uma vez e esfolara o joelho. A Velha Ama fez uma torta de legumes só para ele naquele dia, como prêmio por não ter chorado enquanto Miestre Lwin tratava o ferimento.
Tentava se concentrar em lembranças boas como essa. Não tinha tempo para lidar com as ruins. Elas o distrairiam do seu propósito ali. Pensando nisso se concentrou nas insígnias que aquelas pessoas carregavam. Reconheceu Manderly, Glover, Karstark, Cerwyn e Bolton.
Ficou surpreso quando lhe foi oferecido uma cadeira na mesa principal, ao lado de Robb Stark. Miestre Lwin sentou-se a sua esquerda.
Tudo isso aconteceu em silêncio. O que era incomum. Os nobres do Norte não eram conhecidos por serem silenciosos.
Por causa do silêncio, todos se assustaram quando o grito de um dragão cortou o ar. Alguns lordes pularam em suas cadeiras. Miestre Lwin lhe lançou um olhar espantado.
—Não se preocupe, eles estão apenas brincando- assegurou.
Fez-se silêncio novamente e Jon pensou que teria que tomar a palavra, mas foi superado por Robb Stark.
—Qual é o nome dele? – perguntou com o olhar fixos no lobo que se acomodara aos pés de Jon.
—Fantasma.
—Não sabia que ainda existiam lobos gigantes.
—Ainda há alcateias do outro lado da Muralha. Não muitas, infelizmente.
Ele então se voltou para Jon. A expressão mudou. Agora quem o olhava era o Lorde de Winterfell.
—Disse na sua carta que estava disposto a se aliar a nós no conflito contra os Lannister.
—Exatamente.
—Por que? O que ganha em nos ajudar?
—Tem algo que você e os senhores nesta sala podem me prover.
—Então há um preço.
—Há sempre um preço. E ele é bem simples. Quero sua palavra e de todos os presentes de que a posição do meu povo na Dádiva não será questionada. Quero garantias de que se nos tornarmos aliados hoje, essa condição permanecerá. Meu povo será de agora em diante parte do Norte.
Essas palavras arrancaram algumas reações dos homens. Isso era bom, Jon estava começando a pensar que tinham perdido o dom da fala.
—Espera que não questionemos quando seus selvagens começarem a roubar, matar e violar em nossas terras-indagou Lorde Cerwyn.
—Meu povo está ciente do castigo para tais crimes agora que estão deste lado da Muralha. É claro que isso não é garantia de que não os comentarão.
—Então...
—O que faz com violadores, ladrões e assassinos nas suas terras Lorde Cerwyn?
—Eu faço valer a justiça do reino.
—Agora que Povo Livre faz parte do reino, dou a minha palavra que farei a mesma coisa. Não vai ser uma mudança fácil e nem rápida. Não posso exigir que abandonem sua natureza e seus costumes, mas enquanto são livres para fazerem o que quiserem, também sou livre para punir todo aquele que agir de uma forma que prejudique nossa aliança.
Lorde Cerwyn se calou e trocou um olhar com Lorde Glover.
—Então, isso é tudo o que quer? - perguntou Lorde Manderly.
—Sim.
—Não acredito- contrariou Lorde Bolton- Hoje exige a Dádiva, amanhã todo o Norte. Nunca me ajoelharei para um bastardo selvagem.
Antes que Jon pudesse dizer qualquer coisa, Robb Stark se pôs de pé.
—Peço que meça suas palavras, meu Lorde. Não se esqueça que está falando com um filho do Senhor desta casa. Não permitirei que insulte minha família e meu sangue dentro destas paredes.
A surpresa de Jon não podia ser maior. E foi compartilhada com a maioria dos homens.
—Nunca pedi que se ajoelhasse. Não tenho interesse nenhum em tal coisa.
—No entanto, se apresenta como rei – dessa vez quem falou Lady Mormont. Sua semelhança com o irmão a fazia reconhecível. Isso e o fato de ser a única mulher ali.
—Rei do Povo Livre. Rei-pra-Lá-da-Muralha se preferir.
—E se não aceitarmos seus termos com certeza usará seus dragões para fazer valer a sua vontade- ela falou o que todos deviam estar pensando.
—Me diga, garoto - começou Lorde Umber- se pedíssemos que deixasse a Dádiva e voltasse para seu lugar. O que faria?
—Sinto muito, mas pretendo ficar exatamente onde estou.
—Então por que está aqui? -as palavres de Lady Mormont eram cortantes- É obvio que não precisa de nossa permissão para nada. E que tem poder para destruir todos que se opuserem a você.
—Porque fui lembrado que se quero fazer parte do Norte devo me envolver em seus assuntos. Além disso, embora não tenha percebido no começo, essa questão também é minha.
Trocou um olhar com o meio-irmão. Eram desconhecidos. Não sabia se podia confiar. Mas compartilhavam um laço de sangue. E nesse momento, em que um precisava do outro, isso era o suficiente.
Então foi a vez de Jon se levantar.
—Me comprometo com o Norte porque sou nortenho. E essa guerra é de todos. A vitória é de interesse de todos nós. Temos um objetivo em comum e nossas chances são melhores se lutarmos juntos.
Essas palavras ressoaram pelas paredes até que Lorde Umber começou a bater na mesa, e logo foi seguido por outros.
Jon notou que Miestre Lwin sorria e Robb Stark parecia aliviado.
Depois disso passaram a discutir os planos de guerra.
—Quantos homens trouxe, Vossa Graça- perguntou Lady Mormont. Uma pergunta capciosa. Tinha certeza que já sabiam quantos Jon trouxera.
—Vinte mil guerreiros, oitocentos gigantes e dois mil mamutes.
— E três dragões- completou ela demonstrando ainda um pouco de incredulidade.
— Então contamos com mais ou menos quarenta mil homens e esse número aumentará quando nos juntarmos com as forças das terras do rio- comentou Robb Stark.
—Um exército de dezenas de milhares com gigantes, mamutes e dragões- listou Grande Jon- Os Lannister não sabem o que cairá sobre eles.
.......
A dor na perna acrescentada a fome e a sede, criavam um tipo de aflição que nunca pensou possível. Tudo isso somado ao fato de estar em escuridão completa fez Ned questionar várias vezes se não tinha morrido e ido parar em um inferno particularmente agonizante.
Parecia um daqueles infernos feitos especialmente para as pessoas refletirem sobre suas faltas. Porque era isso o que mais fizera nesses dias que passara nesse lugar esquecido pelos deuses.
Pensava nas tolices que fizera e todas as suas consequências terríveis. Pensava nos filhos, na esposa e no seu povo.
Os pensamentos vinham a sua mente à ponto de acreditar que estava ficando louco. Naquela cela não podia distinguir o dia da noite e aos poucos estava começando a ter dificuldade de distinguir a realidade da alucinação.
Estava tão confuso que não soube dizer se a figura encapuzada que entrara era real ou fruto da sua imaginação.
O homem, ou o que imaginou que fosse um homem, lhe estendeu um cantil.
—Beba, meu lorde. Sua aparência é de quem está precisando.
Reconheceu a voz fina imediatamente.
—O que faz aqui Lorde Varys?
Ned olhou para o cantil com uma ponta de desconfiança. Não confiar em um gesto aparentemente amigável foi uma das coisas que aprendera naquele lugar.
—Pode beber, meu lorde. Não vim aqui para envenená-lo.
—Por que veio então?
—Para ajudá-lo.
Não pôde evitar que uma risada desprovida de humor escapasse.
—Pode me tirar daqui.
—Posso? Imagino que sim. Mas vou? Não, isso levantaria muitas perguntas e as respostas levariam a mim.
—Por que se deu ao trabalho, então?
—Como disse, para ajudá-lo da maneira que puder. E confesso que estava um pouco curioso.
Encarou o eunuco e teve a ligeira impressão que ele se divertia.
—Que tolice o tomou para que contasse o que descobriu a rainha?
—A tolice da honra.
—Sua honra pode custar sua vida. A rainha está agora mesmo montando um caso contra o senhor. Será acusado de tentar negar o trono à Príncipe Joffrey e outras tantas acusações em que a rainha poder pensar. Sinto em dizer que ela pode ser bem criativa nesse quesito.
—Minhas filhas - perguntou o que realmente o preocupava-o que será feito delas?
—Lady Sansa continua prometida ao príncipe, e essa posição lhe oferece algum tipo de proteção, por enquanto. Infelizmente ou felizmente, sua filha Arya não foi vista desde do dia que foi preso.
Pensar nas filhas fez algo estranho subir à garganta de Ned. Alguma coisa muito parecida com choro. Mas ficou entalado. As lágrimas não vêm fácil para os nortenhos. A dureza da sua terra faz com que haja pouco tempo para lamentos.
—O que acontecerá agora?
—Temo que uma guerra seja inevitável. E com o Senhor do Norte como refém, os seus nortenhos já estão em desvantagem.
—Cat tem o irmão da rainha.
— O irmão errado.
O tom do homem dizia muitas coisas.
—Todos já sabiam?
—Pode imaginar que quando a rainha trouxe ao mundo três crianças douradas, levantou muitas sobrancelhas. E eles não são nem um pouco tão inconspícuos quanto gostam de pensar.
—Robert...
—Só continuava vivo porque não desconfiava de nada. Assim que percebeu que seria desmascarada, a rainha se desfez dele.
Deuses, Robert. Começara a pensar no quanto de culpa um homem era capaz de suportar. Pensara que essa última década tinha servido para que ele pagasse por todas as suas faltas. Mas aparentemente ele ainda tinha muito o que suportar.
—O que sabe do resto da minha família?
Varys ponderou alguma coisa antes de começar a falar.
—Sua senhora continua no Vale. Seu filho Robb convocou os estandartes e marcha para o Sul. As canções que ouço vindas do Norte são as mais estranhas possíveis.
—Robb é apenas um garoto.
—Um garoto com um grande exército e ao que parece aliados poderosos.
Ned pensou o que ele queria dizer com isso. É claro que podiam contar com a ajuda de Correrrio e talvez com o Vale, se Cat conseguisse convencer aquela irmã espinhosa dela. Mas a julgar pelo brilho zombeteiro nos olhos do eunuco, ele falava de algo totalmente diferente.
Toda a sua família está envolvida nessa guerra. Talvez isso traga algum tipo de consolo.
Não trazia. O que, pelos deuses, o fazia pensar que teria algum tipo de consolo em saber que toda a sua família estava em perigo e por um erro dele ainda por cima.
—Talvez seus deuses tenham sido mais benevolentes do que acredita.
O homem tinha alguma informação importante e esperava que ele perguntasse.
—Lorde Varys seja direto. Diga logo o que veio aqui para dizer.
—Jon Snow marcha para o Sul também.
A cabeça de Ned ficou leve e ele teve certeza que perderia os sentidos. Um zumbido nos ouvidos o deixou nauseado. Aquelas palavras custaram a fazer sentido, mas assim que fizeram deixaram-no atordoado.
—Meu filho...
—O próprio. Meus passarinhos cantam a mesma coisa desde da Muralha até Porto Branco. Se bem que as informações são deturpadas com absurdos. Parece que o repentino reaparecimento de Jon Snow causou certa comoção em todo Norte.
—Você mente.
Era muito difícil acreditar no que ouvia. Como pode ser que depois de todos esses anos o filho simplesmente tenha achado seu caminho de volta. Sentia a esperança, que começou a queimar em seu peito desde que recebera a carta de Benjen, voltar com toda a força.
Suprimira esse sentimento dentro de si, temendo outra decepção, mas agora falhava completamente em se controlar. Suas mãos tremiam levemente e a dor na perna foi totalmente esquecida. De repente se sentia bem o suficiente para ficar de pé.
—Tem certeza? – sua voz agora era muito diferente.
—Sim, meu lorde – o homem também demonstrava certa emoção na voz. Qual, ele não sabia dizer.
—Teve notícia do homem que mandei a Muralha?
Mandar Jory a procura de Jon foi a decisão mais acertada que tomou desde que cruzara o Gargalo. Se Jory estivesse em Porto Real teria morrido junto com o resto de sua guarda.
—Não. Mas não há dúvida que o Jon Snow que cruzou a Muralha é o príncipe perdido.
Jon estava mesmo do outro lado da Muralha. E todos esses anos procurou por ele nos comércios de escravos nas Cidades Livres.
Foi acometido por um ataque de risos.
—Meu Lorde? – Varys parecia preocupado agora.
—Não estava procurando nem no continente certo-disse com certo esforço.
Então atentou para algo. Príncipe. Ele havia chamado Jon de príncipe.
—Você sabe.
—Ora, meu lorde, a minha função é saber.
—Desde quando?
—Desde sempre. Quem acha que evitou que Rei Aerys encontrasse a princesa. Muitos dizem que ela conseguiu evitar meus passarinhos, mas não conseguiu. Sempre soube onde estava e com quem.
Uma coisa lhe veio à mente.
—Disse a Robert onde ela estava – acusou - Por isso ela foi encontrada e morta.
—Tinha que provar minha lealdade ao recém coroado Rei Robert de alguma forma. Minha intenção nunca foi causar a morte dela.
A fúria que Ned sentiu fez com que derrubasse o cantil.
—Não foi sua intenção! Como pode dizer isso?! Viu o que aconteceu com as crianças de Raeghar. O que esperava que acontecesse com ela?
—Foi um erro. Um erro terrível. A princesa Shaena já deveria ter partido quando os homens do rei chegassem. Mas ela se demorou, não imagino por quê.
A raiva se tornou algo muito pior quando ouviu isso.
—Esperava por mim.
Sua mente girava com todos os “Se” dessa história. Se ele tivesse sido mais rápido. Se Varys não tivesse dito nada. Se Shaena não tivesse esperado. Como tudo podia ter sido diferente se algum desses “Se” tivesse acontecido.
—Me arrependo da escolha infeliz que levou a morte da princesa. Esse é um dos muitos na lista dos meus arrependimentos.
Não disse nada. Quem era ele para falar de arrependimentos, se sua lista podia ser maior que a de Varys.
—Pretendia mandar o bebê para junto dos tios em Essos, mas o senhor me superou. Acreditei que ele estaria melhor protegido naquela sua terra desolada e fria do que correndo de lugar a lugar nas Cidades Livres, mas...
—Mas eu o perdi- completou.
—Embora as circunstâncias não tenham sido favoráveis, parece que o jovem príncipe tomou proveito delas da melhor maneira possível.
—O que quer dizer com isso?
—Ele se foi um príncipe e voltou um rei.
Com essas palavras Varys partiu. E Ned se pôs a encarar a escuridão na sua cela.
Sentia várias coisas. Alegria pelo filho que voltou. Medo pelos filhos que podia perder. E principalmente impotência, por não poder fazer nada por nenhum deles.







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Notas finais do capítulo

Sinto muito q esse capítulo tenha demorado tanto.
Me perguntaram nos comentários com que frequência pretendo postar. A verdade é q não sei.
Quando comecei essa fic já tinha 7 capítulos prontos. Agora eles ficaram mais longos e mais complicados. Esse capítulo por ex foi refeito do zero 3 vezes.
Mas enfim, agora estou de férias(Thank you, God) e espero postar o próximo logo.
Mais uma vez, obrigada pelo carinho de vcs.



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