Dragões do Norte escrita por Snowfall


Capítulo 13
Espada na escuridão.




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A vista de cima do Punho dos Primeiros Homens era privilegiada. Jon podia entender porque, no passado, as pessoas escolheram aquele local para se refugiar. É o lugar perfeito para ver o inimigo se aproximando em qualquer direção. Não que isso fosse de muita ajuda quando os inimigos são os Outros.
Jon olhava fixamente para a direção em que Tormund apareceria. Havia decidido que ali seria o ponto de encontro. O grupo vindo das montanhas se uniria ao resto do Povo Livre e juntos seguiriam para a Muralha. E quanto mais esse dia se aproximava mais aumentava o nervoso que sentia no estômago.
Ouviu-se o toque de um berrante e soube que estavam chegando. Em instantes começou a ver pontos escuros saindo de trás de um morro.
—Nunca vi o Povo Livre marchar em formação- comentou Mance se aproximando. Ele também observava as milhares de pessoas chegando.
—Achei melhor organizá-los dessa maneira por precaução.
—Então... agora para a Muralha.
—Sim. Quando Kena chegar mandarei a mensagem.
—Sabe que há a possibilidade de nos ignorarem ou de reunirem um exército para nos receber.
—Pode acreditar, não seremos ignorados. Venha comigo, tenho algo que quero que veja.
Mance o seguiu em direção a sua tenda. No caminho Jon se deparou com muito olhos arregalados. Vinha sendo assim desde do ataque.
Ele havia conseguido assustar mesmo aquela gente. A ponto de se ajoelharem. Ainda era difícil de acreditar, de uma hora para outra era Rei. Olhou atravessado para Mance caminhando a seu lado.
O homem havia explicado para ele naquele dia, que se ajoelhara porque achava que essa era a melhor chance de sobreviverem. Que Jon teria os melhores meios de garantir a sobrevivência do Povo Livre no Sul. Mas isso não fazia ir embora a sensação de que Rayder lhe empurrara suas responsabilidades. Mas pelo menos agora como Rei, ele estava livre para tomar as decisões que achava mais sensatas.
Quando entrou na sua tenda, Mance não escondeu mais seu sorriso.
—Era de se esperar que depois de alguns dias já conseguissem pelo menos fechar a boca quando passa por eles.
Jon não disse nada. Preferia não deixar transparecer o quanto o tratamento que recebia recentemente o incomodava. Ter visto em primeira mão que ele não podia ser queimado fez algo mudar no Povo Livre.
Se dirigiu a mesinha em um canto de sua tenda e puxou a carta. A refizera várias e várias vezes nos últimos dias e enfim achou que tinha ficado satisfatória.
—Leia, e me diga o que acha.
Rayder apenas ergueu uma sobrancelha.
Jon começou a ler a mensagem em voz alta.
“Para o Lorde Comandante da Guarda da Noite, Jeor Mormont.
Escrevo essa carta em nome do Povo Livre, para solicitar um encontro no qual discutiremos a guerra que virá e nosso papel nela. Se aceitar esteja presente ao pé da Muralha na tarde do primeiro dia de lua cheia.
O verdadeiro inimigo está vindo. Nem a patrulha ou o Povo Livre sobreviverá ao próximo Inverno se não o detivermos.
Jon Snow”
—Rei do Povo Livre- completou Mance.
—O que disse?
—É nosso Rei agora. Aceite isso de uma vez. Tem que colocar o seu título na carta. Levarão suas palavras muito mais a sério.
Jon pensou por um momento e acrescentou o que o homem disse.
—O que fará se não aceitarem o convite?
—Encontrarei um jeito de me ouvirem, nem que tenha que descer de dragão no meio de Castelo Negro.
—Mesmo que aceitem nos encontrar, não há garantia de que nos deixarão passar.
—Vamos fazer tudo isso funcionar de algum modo. Com o apoio da Guarda da Noite, nosso caminho no Sul será muito mais fácil.
—Ainda acho impossível. Mas pelo que entendi você faz coisas impossíveis acontecerem o tempo todo.
Deixou Mance com suas divagações e foi encontrar Tormund. Estava feliz que ele estivesse finalmente chegando. As coisas pareciam mais simples com o homem por perto.
O sorriso de Tormund não mudara em nada. Jon sabia que as provocações começariam em qualquer instante.
—Não posso tirar os olhos por um instante que você faz o Povo Livre virá um bando de ajoelhadores- falou em falso tom de censura- E agora o que farei com um filho rei?
Tormund fazia isso as vezes. O chamava de filho.
—É tudo culpa de Mance Rayder- informou.
—Imaginei que fosse. Espero que não espere que me ajoelhe.
—É claro que não. Sei que suas juntas não funcionam mais como antes. É capaz de ficar entravado.
Tormund riu e se afastou para montar sua tenda. Jon saiu a procura de Kena para mandar logo a tal mensagem mas teve seu caminho bloqueado por uma figura pequena. Varla o avaliava de cima a baixo com as mãos na cintura.
—Vem, tá na hora de comer-falou ela simplesmente.
—Mas eu tenho...
—Não importa. Tá magro demais. Vem logo.
Jon aprendeu que nunca era bom discutir com Varla. Ela começou a assar um pedaço de alce em uma fogueira enquanto ele ajudava Dryn a erguer as peles da tenda.
Dryn era um garoto forte como o pai. Jon sempre ria quando se lembrava que por mais que Varla e Tormund se estranhassem a maioria do tempo, isso não os impediu de gerarem um outro filho.
—Como foi a viagem até aqui?-perguntou ao garoto- Tiveram problemas com os Outros?
Dryn apenas virou a cabeça. Pelo jeito ainda estava com raiva de Jon por não tê-lo levado até o acampamento de Mance Rayder.
—Pare com isso Dryn. Sabe que não podia ter trago você.
—Mas trouxe Toregg- falou com a lógica de um menino de dez anos.
Jon podia ter argumentado que Toregg era homem feito e ele era só um menino mas não era isso que Dryn queria ouvir.
—Se trouxesse os dois quem ficaria para proteger sua mãe.
—A mãe não precisa de proteção. Ela é uma Esposa de Lanças.
Atrás deles, Varla soltou uma gargalhada.
—Então é isso. Vai ficar com raiva de mim para sempre?
Dryn respondeu com um bico.
—E eu pensando em fazê-lo meu escudeiro-Jon não era nenhum cavaleiro para ter um escudeiro mas Dryn não sabia disso.
A transformação no rosto do garoto foi imediata.
—Se eu for seu escudeiro, vou aonde você for?
—Sim, mas isso será impossível com você com raiva de mim.
—Eu te perdoo- falou Dryn solenemente.
Quando se sentou para comer, Varla declarou que ele precisava de um corte de cabelo. Então pouco tempo depois estava sentado dentro da tenda recém construída com Varla segurando uma navalha muito perto de seu pescoço.
—Fica quieto se não quiser acabar sem uma orelha- avisou ela.
Jon se sentou o mais imóvel possível. Varla não era conhecida por seus talentos com a navalha. Toregg tinha uma cicatriz na cabeça para comprovar.
—Que tinha na cabeça quando decidiu virar rei. Não sabe que eles tem vida curta.
—Não foi ideia minha.
— Vai ser um bom rei. Melhor do que muitos que tivemos deste lado.
Jon se virou para olhá-la, espantado. Varla não era muito de elogiar. O movimento brusco quase gerou um corte na sua cara.
—Cadê Toregg?
—Mandei ele em uma missão. Já está voltando. Nos encontraremos com ele daqui a três dias.
—Como sabe?
—Mandei Fantasma com ele.
Ela apenas assentiu. Quando o corte terminou, Varla se virou para remexer na sua pilha de peles. Quando retornou estava segurando uma trouxa negra.
—Fiz isso pra você.
Jon recebeu a trouxa e percebeu que era uma capa. A pele negra era muito rica e era adornada de fios de ouro assim como as bordas do tecido.
—Tormund me deu essa pele muito tempo atrás pra guardar, disse que era do urso que matou pra salvar a vida dele. Pensei que ficaria bem em uma capa.
—É muito bonita.
—É a capa de um rei.
......
Quando Jory chegou em Castelo Negro nunca imaginou que fosse encontrá-lo em tal situação. Os irmãos negros estavam todos alvoroçados. Pelo jeito um grande exército se aproximava da Muralha e Lorde Mormont reuniu todos os seus homens no comando para discutir a mensagem que receberam dos selvagens.
—Que audácia a deles. Agora nos mandam mensagens- reclamou Ser Aliser.
Lorde Comandante Mormont escutava calado enquanto os outros bradavam suas opiniões. Assim que a carta do Rei-Pra-Lá-da-Muralha chegou, gerou todo tipo de reação. De incredulidade à raiva passando por apreensão.
Jory, que viera com intuito de organizar o resgate de Jon, ficara muito surpreso quando descobriu que o garoto assinara a carta como Rei. Pensou em enviar um corvo para Lorde Stark mas preferiu esperar até que as coisas se decidissem.
—Devemos reunir nossos homens. Responder a essa ameaça- sugeriu Ser Denys Mallister, o comandante de Torre Sombria.
—Meu sobrinho não fez nenhuma ameaça- rebateu Benjen, que estava sentado ao seu lado.
—Não abertamente mas claramente está fazendo exigências- Thorne tem sido a voz que mais se opunha a qualquer tipo de negociação com os selvagens.
—Isso seria muito imprudente. Não sabemos quantos eles são-declarou Cotter Pyke.
—Podemos contar com ajuda de Lorde Stark se marcharmos contra os selvagens?-perguntou o Lorde Comandante para ele.
—Está realmente me perguntando se Lorde Eddard marcharia contra um filho?
—Como temos certeza se esse é o mesmo Jon Snow-indagou Ser Denys.
—Acha que não reconheço meu próprio sobrinho?-perguntou Benjen se exaltando.
—Tinha passado por uma experiência difícil. Pode ter se confundido. Não sei como esse pode ser o mesmo menino que se perdeu há dez anos.
—Só há uma maneira de descobrir-falou Miestre Aemon- Encontrar com esse Rei e descobrir se ele é mesmo o filho perdido de Lorde Stark. Ser Jory teve mais contato com o garoto e poderá nos oferecer algum esclarecimento.
Depois dessas palavras a maioria passou a concordar que o melhor seria encontrar com o Rei-Pra-Lá-da-Muralha. A única exceção era Ser Alliser que ainda achava que tudo isso tudo não passava de uma armadilha.
Ficou decidido, depois de muita discussão, que Lorde Mormont e uma pequena comissão encontrariam os selvagens na divisa da floresta e ouviriam seja lá o que tivessem para dizer.
Jory não sabia o que queria. Seria muito mais fácil se o rei dos selvagens não fosse filho de Lorde Stark, mas também não queria ter que levar a notícia de outro engano para ele.
Seu Lorde quase pegara o primeiro navio para Atalaia Leste e viera ele próprio a procura do filho, não se importando com suas obrigações como Mão-do-Rei . Precisou de toda a persuasão do mundo para fazê-lo desistir da ideia. Nem a possibilidade de ofender o Rei Robert conseguiu dissuadi-lo.
Jory se ofereceu para vir no seu lugar como uma precaução. Argumentou que talvez fosse outro impostor. Quando disse isso notou que Lorde Eddard começou se lembrar de todas as experiências passadas nesses últimos dez anos, todas as decepções. Por fim a Mão concordou em mandá-lo na frente para se certificar que Benjen estava realmente correto.
No dia seguinte, enquanto esperava , ainda não sabia se queria que Jon realmente saísse da borda daquela floresta.
O grupo principal era formado por Benjen , o Lorde Comandante, Ser Alliser, Korin Meia-Mão e ele. Ser Denys e Cotter Pyke tinham ficado no castelo para caso de Thorne está certo e fosse mesmo uma armadilha.
Um rapaz tremia ao lado de Meia-Mão. Samwell Tarly tinha vindo para ser os olhos de Miestre Aemon. Ele empalidecia mais a cada instante. A perspectiva de encontrar os selvagens abalara seus nervos.
Atrás deles quinhentos homens foram distribuídos em cima da Muralha, por segurança. Apesar disso, nenhum deles se sentia seguro. Os selvagens, ao que parecia, eram dezenas de milhares. Esperavam que uma multidão saísse da floresta a qualquer momento.
Toda essa preocupação se mostrou desnecessária. Apenas um pequeno grupo saiu por entre as árvores. A primeira coisa que notou foram os dois gigantes, eles se destacavam por motivos óbvios. Logo depois o rei se fez conhecer, ele caminhava com um grande lobo albino ao seu lado, assim como Benjen descrevera.
Jory apertava os olhos para tentar enxergar seu rosto. Imagens daquele menino que deixara abordo do Bem-Aventurado vinha a sua mente. A distância ainda era muito grande para poder distinguir suas feições. Mais logo reconhecimento se espalhou por todo o grupo.
Em poucos instantes uma versão mais jovem de Lorde Stark estava parada a menos de cinco metros de distância, percorrendo cada um deles com um par de olhos cinzas inconfundíveis.
Se ainda houvesse alguma dúvida de que esse era o Jon Snow certo, essa se desfez quando o garoto o reconheceu.
—Jory?O que faz aqui?
—Jon!- foi tomado por um impulso maluco, deu um passo a frente e tentou se aproximar. Mas seu caminho foi obstruído por um selvagem ruivo barbudo que segurava um machado. Um dos gigantes falou alguma coisa numa língua esquisita. Reparou que ele segurava um escudo enorme com a imagem de um mamute, o rosto negro do animal era assustador.Jon respondeu qualquer coisa para o gigante e este retrocedeu.
Depois Jon se dirigiu ao selvagem do machado.
—Está tudo bem Tormund. Jory é um amigo.
Depois ele veio em sua direção. Jory o encontrou no meio do caminho.
—Ainda tenho o arco que me deu. Não sabe como me foi útil- o garoto esboçava um sorriso.
—É mesmo você- disse pondo as mãos nos ombros dele só pra conferir que era real- Não sabe como seu pai ficará feliz quando souber que é você de verdade.
Algo passou por seus olhos a menção do pai. Jon recuou um passo e fechou a cara, enquanto se voltava para Lorde Mormont.
—É o Lorde Comandante?
—Sim. E não há mais a menor dúvida de quem você é- o Velho Urso olhou ao redor esperando que alguém o contrariasse mas ninguém o fez.
—Obrigado por aceitar se encontrar conosco- Jon não mudara nada. Todas as cortesias que Miestre Lwin martelara em sua cabeça continuavam lá.
—Disse que temos assuntos a discutir-falou o Comandante meio desconsertado. Jon não é de maneira alguma, o que se espera de um selvagem.
—Vim para propor uma aliança-falou sem rodeios.
—Por quê precisaríamos de uma aliança?
—Porque nem Guarda da Noite e nem o Povo Livre sobreviverá ao próximo Inverno. O inimigo está vindo.
—O único inimigo que vejo aqui é você, bastardo- retrucou Ser Alliser.
Jory esperou uma reação de Jon quando o homem disse isso. Reis, por regra geral, não aceitam insultos muito bem. Mas o garoto não se perturbou. Apenas se virou para Benjen.
—Não contou a eles?-perguntou inexpressivo.
—Contei. Mas há de convir que é uma história difícil de acreditar.
Jon deu dois passos em direção ao Lorde Comandante, ficando bem a sua frente.
—O senhor não acredita?
O Velho Urso se remexeu desconfortável.
—Gostaria de não acreditar mas...
—Prefere não arriscar-completou Jon.
—Digamos que acredite. Qual seriam os termos dessa sua aliança?
—Ofereço ajuda para manter a Muralha no próximo Inverno. Meu povo lutará ao seu lado na Longa Noite. Compartilharemos todo o conhecimento que temos de como lutar contra os Vagantes.
—Em troca...
—Nos deixará passar para o outro lado...
—Acha mesmo que abriremos os portões para você- cortou Thorne-baseado apenas em superstições. Acha que somos tolos, bastardo.
—Quero a Dádiva também-continuou ignorando a interrupção.
—Qual delas?-perguntou Lorde Mormont.
—As duas.
—Sabe que tipo de escolha está me impondo. Nunca em milhares de anos, a Guarda da Noite deixou os selvagens passarem. O que acontecerá se eu disser não?
—Exatamente-concordou Thorne- Não pode nos obrigar a abrir os portões. Não passam de um bando de violadores e ladrões. Nunca conseguiram passar e nunca conseguirão.
Jon olhou para Ser Alliser com uma expressão impassível. Uma impaciência que já tinha visto muita vezes no rosto de Lorde Stark, quando o homem era obrigado a interagir com alguém que não gostava. Nada de fúria ou descontrole.
Se estivesse certo, agora o garoto diria ou faria alguma coisa que acabaria com a disposição de Ser Alliser de se intrometer.
—Está enganado. Os dois estão- falou com expressão cansada.
Nesse momento um ruído cortante se fez ouvir. Três sombras gigantes voavam na direção deles. Os espanto foi tamanho que o grito congelou na garganta dos homens. A medida que desciam suas silhuetas ficaram mais claras.
—Deuses- disse Samwell Tarly, baixinho. Por incrível que pareça, ele foi o único que conseguiu encontrar sua voz.
Os dragões começaram a preparar o pouso.Quando as bestas pousaram atrás dos selvagens, Jory se permitiu admirá-los. Eram magníficos. O maior era azul com olhos tão negros como a capa do Lorde Comandante. O segundo era dourado, parecia mais agitado que os outros. O menor era branco, na luz do sol lhe dava um fulgor prateado.
O dragão branco se aproximou de Jon. Ele nem se moveu enquanto o monstro se aproximava. O dragão abaixou a cabeça e Jon fez um carinho. Dava para ver a diferença de tamanho melhor dessa forma. Esse animal engoliria uma pessoa montada com facilidade. Provavelmente até uma carroça.
—Mas como...não é possível- Lorde Mormont parecia menos intimidante, tinha encolhido meio metro.
—Como pode vê, sua escolha não é nos deixar passar ou não. Nós passaremos-disse dirigindo o olhar a Thorne- A única escolha que tem é se passaremos como seus aliados ou como inimigos.
Enquanto o Lorde Comandante digeria essas palavras, um garoto magrelo se aproximou de Jon, e sussurrou algumas palavras na língua desconhecida.
—Parece que seus arqueiros em cima da Muralha ficaram um pouco desconcertados com a presença dos dragões-informou ao Velho Urso- Estão pensando em disparar. Não é uma boa ideia.
Lorde Mormont conseguiu se recuperar e mandou Ser Alliser conter os arqueiros. Jory ficou surpreso com a agudeza de pensamento do comandante. Tirar Thorne dali era uma decisão sensata.Ele era o mais propenso a dizer uma tolice que culminaria em todos sendo transformados em cinzas.
—Se tem um poder como esse, por quê está nos dando opções?-perguntou Meia-Mão.
—Quero evitar um massacre. Não considero vocês o inimigo. Estou tentando fazer o que é melhor.
—Melhor pra quem?-Meia-Mão era difícil de convencer.
—Melhor para todos os vivos.
Um silêncio pensativo caiu sobre todos. Os irmãos negros pareciam tomar consciência de sua situação.
—Serei conhecido para sempre como o Comandante que deixou o inimigo passar-informou Lorde Mormont- Meus homens nunca entenderão.
—Vão aceitar quando reconhecerem que não somos o verdadeiro inimigo.
—Só palavras convencerão bem poucos.
Jon olhou para a Muralha um pouco, depois voltou a encarar o Comandante.
—Reúna seus homens hoje ao crepúsculo. Abra o portão e me deixe passar com um pequeno grupo. Mostrarei a todos a prova de que precisam.
—O que nos garante que quando os portões forem abertos nos deixarão fechá-los novamente- Meia-Mão fazia de tudo para parecer menos intimidado do que estava.
—Vocês só tem portões pra fechar porque ele quer, Corvo- rebateu o selvagem ruivo- Tem sorte que nosso rei não gosta de ver as coisas desabarem como eu.
O Lorde Comandante encarou os dragões um pouco, ninguém podia negar que o que Jon fazia era simplesmente uma cortesia. Nada restaria da Muralha se aqueles dragões atacassem. Imagens de Harrenhal veio a sua mente. O Lorde Comandante podia negar passagem aos selvagens mas nunca impediria os dragões de voarem sobre a Muralha e espalharem terror sobre o Norte.
O Lorde Comandante pelo jeito chegou a mesma conclusão pois ele aceitou a reunião. Ficou certo que Jon entraria em Castelo Negro para conversar com os oficiais no fim do dia.
Os homens começaram a retornar, até que só restaram Benjen e Jory e surpreendentemente o garoto Tarly, que não conseguia tirar os olhos dos dragões.
—Por quê sugeriu uma coisa dessas?-repreendeu Benjen- Entrar lá praticamente desprotegido é arriscado demais.
—É um risco que preciso tomar para evitar um banho de sangue. Estou dando a vocês a chance de fazerem a escolha certa.
—Por quê?-perguntou Samwell com a voz trémula-podia ter nos atacado de surpresa. Não teríamos a menor chance.
—Porque essa é o certo a se fazer. Não há honra em atacar um inimigo incapaz de se defender.
Jory percebeu a sombra de um sorriso no rosto de Benjen. Sabia que pensava o mesmo que ele. O sangue era uma coisa poderosa. Por um instante ouviu Lorde Stark falar pela boca do filho.
.....
Lord Comandante Mormont esperava por Jon no portão. Achou que o homem estava um pouco nervoso enquanto lhe estendia os direitos de hóspede.
Jon escolheu a dedo os homens que o acompanhavam. Vinte pessoas que eram menos propensas a fazer uma confusão lá dentro.
Enquanto caminhavam pelo túnel o silêncio fazia cada passo ressonar pelas paredes de gelo. Jon tentava escolher suas palavras. Milhares de discursos passavam por sua cabeça. Pedia aos deuses que lhe dessem eloquência suficiente para fazê-lo entender.
Sua tarefa era difícil mas achava que o fato de terem aceitado recebê-lo já era um começo promissor. Achava que nunca aceitariam mas o Lorde Comandante não parecia imune a ameaça dos Outros ou a presença dos dragões.
—Não estou deixando o Rei-pra-Lá-da-Muralha passar-disse Lorde Mormont.
Jon o olhou para ele sem entender.
—Estou abrindo os portões para o filho de Eddard Stark. Só estou dando um voto de confiança por causa do sangue que corre em suas veias.
Preferiu não responder a essas palavras. Quando os últimos homens passaram arrastando a gaiola coberta de lã escura. Eles se dirigiram à um grande cómodo. Enquanto se aproximavam as vozes exaltados se tornavam claras. Ouviu gritos de dragões, selvagens e traição.
Quando a porta se abriu todos ficaram em silêncio. Jon deixou a maioria dos seus homens do lado de fora junto a gaiola. Olhou para o céu e calculou que teria luz do dia por no máximo meia-hora. Se tudo desse certo a tempo seria perfeito.
O Lorde Comandante avançou por entre as mesas e Jon o seguiu. Fantasma, ao seu lado, caminhava tenso. Resistiu a tentação te tocá-lo para se acalmar.
Lorde Mormont sentou no centro de uma mesa a frente de todos e apontou para que Jon se sentasse ao seu lado. Quando todos estavam acomodados um corvo entrou voando pela porta e pousou no ombro do Velho Urso.
—Milho-pediu a ave.
Jon procurou por rostos conhecidos.O tio estava sentado do outro lado do Lorde Comandante. Jory estava de pé junto a parede ao seu lado. O homem carregava a espada. Ao que parecia não esperava que aquilo acabasse bem.
Para surpresa de Jon, quem falou primeiro foi Benjen.
—Meu sobrinho foi convidado aqui para discutir a guerra que está por vir-Ele deu ênfase a palavra convidado. Os homens se remexeram.
—Que guerra seria essa mesmo?-perguntou um idoso. Tinha jeito de um oficial.
Benjen se virou para Jon, indicando que ele tinha a palavra. Pediu a todos os deuses para que o guiassem.
—No próximo Inverno, um inimigo chegará e começará uma guerra que decidirá o destino de todos nós.
—E que inimigo seria esse?-Era Thorne. O homem queria que ele dissesse em voz alta o que todos naquela sala já sabiam.
—Os Outros- achou melhor seguir com o jogo daquelas pessoas por mais que soubesse que não as convenceria com palavras.
Olhou para a porta, já estava quase escuro. Não faltava muito agora.
—Vocês selvagens, nunca conseguiram passar pela força. Agora se valem de lendas para tentar nos enganar-debochou- Me admira que você tenha acreditado em tamanho disparate-disse ao Lorde Comandante- Esses selvagens estão tentando nos manipular e está permitindo.
—Eu os vi, Thorne- falou Benjen- não são lendas.
—Você não passa de um traidor- Thorne ficou em pé- não me surpreenderia se tivesse se aliado à eles. Afinal ele é seu sobrinho, um traidor que se tornou Rei dos selvagens. Qualquer um no seu lugar o renegaria mas você o apoia.
Benjen Stark ficou calado mas depois se pôs de pé também.
—Fiz um juramento- disse olhando ao redor- e espero guardá-lo até a morte. Mas espero que nunca me peçam para escolher entre vocês e o meu sangue. Porque a decisão já foi tomada.
—Então escolhe os selvagens? Perguntou Thorne, o rosto contorcido de escárnio.
A sala se encheu de murmúrios. Jon conseguiu ouvir a palavra traidor mais de uma vez.
—Já chega- a voz do Lorde Comandante era potente o suficiente para silenciar a todos- Temos que esclarecer algumas coisas-disse para Jon- espero que responda com a verdade.
Jon apenas concordou com a cabeça.
—Até aonde sabíamos o Vira-Casacas Mance Rayder era Rei-pra-Lá-da-Muralha. Por quê agora é você?
—Me tornei Rei recentemente. Mance Rayder se ajoelhou.
Houve nova onda de murmúrios.
—Por quê?- perguntou um velho usando uma corrente de Miestre.
—Ele deu várias justificativas. Mas acho que no fundo ele fez isso pelo Povo Livre e por vocês.
—O que quer dizer com por nós?- o Miestre aparentemente era cego.
—Mance acredita que tenho mais chance de impedir que o Povo Livre mate todos vocês.
Antes que alguém tivesse chance de reagir a essas palavras, Jon continuou.
—Ele, assim como eu, acredita que nossas chances serão melhores se trabalhássemos juntos.
—Você fala em aliança mas qual o valor de uma aliança feita por meio de intimidação-ressaltou o Miestre- Não foi por isso que nos mostrou seus dragões? Para nos intimidar.
—Achei que se vissem meus dragões ficariam mais dispostos a me ouvir. O senhor já viveu o suficiente para saber dos milagres que um pouco de intimidação pode fazer. A maior prova disso é estarmos reunidos nesta sala agora mesmo.
O Miestre nada respondeu mas Jon percebeu um leve sorriso em seus lábios finos.
—Por oito mil anos a Guarda da Noite manteve seu juramento de defender o reino dos homens, meus irmãos- disse Thorne mais uma vez de pé- Agora esses selvagens vem até nós e pedem que esqueçamos de nossos votos baseados em fantasias, como se fôssemos crianças que acreditam em monstros debaixo da cama.
—Não peço que se esqueçam seu juramento, peço que se lembrem. Porque durante oito mil anos falharam em cumpri-lo.
—Como ousa- rosnou Thorne puxando a espada.
Antes que Jon pudesse reagir a sua visão foi obstruída. Fantasma e Jory tomaram a sua frente. O homem tinha a espada apontada para Thorne.
—Não vai ameaçar o filho do meu senhor na minha frente.
Houve uma batida forte na mesa e todos se viraram para o Lorde comandante.
—Guardem as espadas. Não aceitarei derramamento de sangue nesse salão. Thorne se ameaçar nosso hóspede novamente passará a noite em uma cela de gelo.
Todos voltaram aos seus lugares. Mas um homem, que não tinha um braço, se levantou.
—Thorne tem razão em uma coisa, senhor. Como vamos saber que essa coisa de Outros não é invenção dos selvagens para conseguirem passar.
—Sim-concordou outro- um absurdo como esse não pode ser verdade.
Jon sabia que esse momento chegaria então olhou para Dryn que estava postado a sua esquerda e acenou. O menino correu para a porta.
—Me corrija se estiver errado mas no seu voto fazem o juramento de ser o escudo que defende o reino dos homens, não é isso?- perguntou à Meia-Mão.
—Agora a pouco falei que vem falhando nesse juramento mas não tive tempo de explicar porquê. Por milhares de anos acreditaram que defendiam o reino dos homens de nós mas as palavras se referem aos homens, todos eles.
—Onde quer chegar?
—Somos todos homens, não importa em qual lado da Muralha nascemos.
—São um bando de ladrões e estupradores-falou Thorne- Não tem lugar para vocês entre gente civilizada.
—Não nego que alguns de nós são tudo isso. Mas este lado também tem sua dose de ladrões e estupradores. Aliás, pelo que sei, muitos deles são mandados para cá para se tornarem seus irmãos.
—O bastardo nos ofende e você não faz nada?-perguntou Thorne ao Comandante.
—Não posso condenar ninguém por dizer a verdade.
—Por mais que sejamos tudo isso que Thorne disse, não somos o que há de pior ao norte da Muralha. Quanto mais cedo aceitarem isso melhor, porque nosso tempo está acabando.
Nesse momento Toregg entrou, com mais cinco homens, puxando a armação de ferro por entre os irmãos da guarda da noite.
—Me ocorreu que só palavras não seriam suficientes para convencê-los, então achei que deviam ver com seus próprios olhos.
Toregg parou a gaiola no espaço entre as mesas e o lugar onde estavam sentados. Lá fora a noite já havia caído mas a gaiola estava silenciosa e por um instante Jon temeu que não funcionasse. Mas Fantasma rosnou, se colocando a sua frente e soube que daria certo.
—Ser Alliser-disse sem olhar para o homem, tentando acalmar Fantasma- poderia fazer o favor de descobrir a gaiola.
—Que espécie de tolice é essa?-perguntou o homem, sua voz deixou transparecer certa apreensão.
—Faça logo-ordenou o Lorde Comandante.
Thorne se aproximou e levantou um pouco a beirada do tecido e tentou espiar lá dentro.Pela brecha uma mão cadavérica surgiu e agarrou seu pescoço, o homem recuou imediatamente. Com a força, o braço se desprendeu mas continuou agarrado, apertando a sua garganta.
Todos se puseram de pé, só Jon continuou sentado. Foi preciso três pessoas para tirar a mão do pescoço de Thorne. O braço foi jogado no chão e começou rastejar a procura da próxima vítima.
— O quê pelos sete infernos...- Thorne não conseguiu terminar a pergunta porque o braço se arrastava em sua direção novamente.
Meia-Mão tomou a frente e partiu o braço em dois. Mesmo aos pedaços, os dedos continuavam a se mover.
Jon deu um sinal para Toregg e ele arrancou a cortina de cima da gaiola. A vista do que tinha lá dentro fez com que vários homens se afastassem. Houve muitos pedidos pelos Sete, pelos deuses antigos e por misericórdia.
Dentro da jaula havia duas criaturas. Uma era mulher,lhe faltava parte da barriga e uma das suas pernas era apenas ossos. O outro era um antigo Patrulheiro, suas vestes negras eram inconfundíveis, o único braço que lhe restara se estendia por entre as grades tentando alcançar alguém.
Quando o choque inicial passou, todos voltaram a sentar em um silêncio aterrorizado. Então foi a vez de Jon se levantar.
—Como podem ver.Os Outros não fazem diferença entre o Povo Livre e a Guarda da Noite. Todos somos o mesmo para eles. Carne para o seu exército. Quando o Inverno chegar, eles nos pegarão primeiro.
—Quantos?-perguntou Meia-Mão. Ele parecia um homem objetivo. Jon começava a gostar dele.
—Não sei. Mas Mance conseguiu recrutar cem mil em uma década, me pergunto quantos os Vagantes conseguiriam em oito mil anos.
O homem olhou para Jon, e entraram em um entendimento silencioso.
—Nossa melhor chance ainda é a Muralha. Juntos podemos defendê-la como se deve. Sabemos qual é a fraqueza deles, podemos repassar esse conhecimento.
—Em troca nós abriríamos os portões e deixaríamos vocês se instalarem na Dádiva-completou Lorde Mormont.
—Me parece um acordo razoável.
—Que garantia termos que não vai tomar o controle da Muralha quando estivermos com guarda baixa.
—Senhores, me pediram sinceridade, então falarei francamente. Conheço seus números. Sei que não passam de um milhar. Comando nesse momento mais de cem mil pessoas, dois mil e trezentos gigantes e três dragões. Me desculpe, mas não preciso que baixem a guarda para derrotá-los.
—Se é assim então, para quê precisa de nós?-perguntou o Miestre.
—Quero evitar um conflito desnecessário, mas meu interesse também é político. Preciso do apoio da Guarda da Noite, para que o Povo Livre tenha alguma chance de ser aceito no sul. Preciso de vocês para reforçarem nossa posição.
Dito isso Jon saiu do salão para que tomassem uma decisão. Levou praticamente a noite toda mas quando o Lorde Comandante saiu, o chamou para colocarem no papel os termos do acordo.
Pela manhã já havia um documento pronto. Nele ficou decidido que a Guarda da Noite abriria os portões para o Povo Livre e também lhes presentearia com Dádiva em sinal de boa fé. E Jon, como Rei, se comprometeria em manter a Muralha e a Guarda da Noite por toda a extensão do Inverno. Ambos se comprometiam em lutarem juntos contra seu inimigo em comum.
O tratado foi assinado na frente de várias testemunhas. Um aliança frágil mas mesmo assim uma aliança.
.....
Obviamente belas palavras em um papel não apagariam oito mil anos de ódio e rancor. Muitos homens da Guarda da Noite sustentavam carrancas enquanto os homens do Povo Livre circulavam por Castelo negro. Seus homens não eram melhores. Jon tinha que manter um olhar constantes sobre eles, para que não arruinassem tudo. De modo geral ninguém estava feliz em Castelo Negro.
Jon mandou Toregg à Mance para começar a organizar as pessoas. Decidiram que começariam a travessia nessa tarde. Jon pusera Morghon para dá uma volta na Dádiva e conseguira achar um local adequado para o acampamento.
—Está pronto para arcar com as consequências do que está fazendo, Jon?-perguntou Tio Benjen, ao seu lado. Ele e Jory não deixaram o seu lado desde que chegou.
—Essa é a coisa certa a se fazer. Então sim, estou pronto. Tenho que estar, cem mil pessoas me confiaram suas vidas.
—Seu pai vai apoiá-lo quando souber o que está acontecendo aqui.
Jon esperava mesmo que sim. Todo o Norte tinha que se preparar.
—Assim que nos estabelecermos, vou procurar o Vidro de Dragão. Até onde sei é o único meio de matar os Vagantes.
Naquela tarde os portões foram abertos. Tormund foi o primeiro a passar, atrás dele seguia uma fila que parecia não ter fim. Ao que parecia a travessia duraria mais alguns dias.
Enquanto o Povo Livre passava,Jon observava as expressões do Irmão da Guarda da Noite. Viu muita apreensão mas havia algumas faces indignadas que o preocupavam. Ser Alliser conversava com um outro homem com cara de poucos amigos.
A noite chegou e decidiram esperar até o dia seguinte para continuar. Percebeu que ficaram impressionados que o Povo Livre fossem tantos. Todas as vezes que um gigante passava pelo túnel havia uma agitação no Castelo.
Naquela noite jantou com o Lorde Comandante. O homem cobriu Jon com todo tipo de pergunta. Quis saber sobre os dragões, como fora parar com o Povo Livre. Jory e o tio os acompanharam, e tinham suas próprias perguntas.
—Como os controla?-perguntou Jory enquanto descascava um ovo.
—Sou um Warg-admitiu.
Todos levantaram a cabeças dos pratos e o encararam.
—Isso quer dizer o que exatamente?
—Que minha consciência pode tomar o corpo dos dragões-tentou explicar.
—Pode fazer isso com qualquer animal?-O Lorde Comandante parecia sético.
—Não. Só os dragões, Fantasma e Bahuk.
—Bahuk?
—Meu mamute-esclareceu.
Seu tio começou a rir, logo os outros o acompanharam.
—Fala isso como se fosse algo corriqueiro-comentou Jory.
Jon preferiu não responder. De onde ele vinha, mamutes e Wargs não eram raridades.
—Ora, garoto ria um pouco-disse Lorde Mormont-percebe o que acabou de fazer aqui. Devia comemorar.
—Devia aprender a festejar como um Rei, Jon-continuou Jory- já que se tornou um.
—Ainda tenho que aprender como se dorme uma noite inteira. Ser Rei não me deu muito o que festejar-de repente ele se sentiu muito cansado.
—Deixem meu sobrinho em paz-advertiu Benjen- Ele é muito como o pai para gostar de liderar.
Esses comentários o incomodavam. Fazia mais de dez anos que ninguém o comparava com Lorde Stark, estava desacostumado.
Naquela noite o sono também não veio. Jon encarava o teto enquanto sua mente rodava com tudo que tinha feito e tudo que ainda precisava que fazer. Tinha a sensação agourenta que agora que as dificuldades começariam. Ele teria uma guerra para vencer antes da verdadeira guerra começar.
Sua atenção voltou para o presente quando ouviu passos no corredor. As pessoas, sejam lá quem fossem, pararam bem a sua porta. Jon só teve tempo de se erguer quando as dobradiças rangeram. Quatro homens entraram. A luz era pouca para reconhecê-los mas as espadas reluziam um pouco, deixando claro qual era a intenção deles ali.
Procurou por suas armas mas lembrou-se que as entregara quando entrou no castelo. Teve tempo apenas de erguer o braço quando o primeiro homem atacou. Teve sorte que o golpe foi mal executado ou teria ficado sem a mão.
Seu atacante se virou quando um vulto branco entrou pela porta. Fantasma derrubou um dos homens e Jon se aproveitou da distração para tomar a espada do seu adversário.
Transpassou ele com a própria espada enquanto os dois restantes lutavam para decidir se atacariam Jon ou Fantasma. Sua hesitação foi tudo que precisou.
Não demorou muito para que fossem desarmados também.
—Por quê estão aqui?
Ninguém respondeu até Fantasma mostrar os dentes e rosnar.
—Thorne mandou cuidarmos de você, enquanto os outros cuidavam dos traidores.
Jon correu. Tinha um palpite de quem eram esses traidores e esperava não chegar tarde demais.
A porta dos aposentos do Lorde Comandante já estava aberta quando chegou. Havia pelo menos seis homens a caminho do quarto.
—Ei!-gritou.
Os homens se voltaram para ele. O único que reconheceu foi Thorne. Jon gostaria de dizer que teria dado conta de todos seis sozinho mas se não fosse por Fantasma ele teria morrido.
—Snow!-a voz do Comandante veio da porta. Ele segurava uma lanterna na mão. Demorou um pouco para ele entender o que estava acontecendo.
—Traidor!-gritou Thorne avançando contra Lorde Mormont.
Graças aos deuses Fantasma era rápido. Ele derrubou Thorne antes que ele atacasse. Jon se desfez de dois homens no mesmo momento que o tio entrou pela porta seguido de Jory.
Os dois homens tinham sinais de que também foram atacados. Jory tinha um corte profundo no rosto. Os amotinados deixaram cair as espadas quando eles entraram.
No dia seguinte Lorde Mormont executou quatorze de seus irmãos juramentados. Um começo negro para a aliança que firmaram.
Naquele mesmo dia uma carta chegou com a notícia do aprisionamento de Lorde Eddard e que Robb Stark convocara os estandartes. O Norte iria para guerra.


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