As 7 Notas da Vida escrita por Mandy


Capítulo 5
Capítulo 5




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— Não vai atender? – Danny pergunta sem desviar os olhos dos pontos coloridos que continuam a cair do céu.

Ana o olhou brevemente e como se algo a tivesse despertado dentro dela, condenou-se mais uma vez por ter esquecido do namorado enquanto dividia um momento inesquecível com quem ela na verdade não queria. Mas ela se divertiu, admitia a si mesma. O pequeno celular em suas mãos continuava a vibrar com o nome de Matt na tela. 

Danny desvia seu olhar para a garota no momento em que ela se afasta com o celular em seus ouvidos, ele sabia quem era, ele vira o nome do "tal jogador de Rugby" no visor. Por algum motivo que ele não compreendia, sentiu ira... talvez por ter sido deixado sozinho? Mas logo um sorriso é o que aparece em seu rosto ao lembrar-se do desafio que teria de enfrentar e iria cumprir.

— Liguei várias vezes. Está ocupada? – Matthew pergunta.

O garoto está deitado em sua cama jogando uma bola de rugby, parecida com uma de Futebol Americano, porém branca, enquanto falava ao telefone no viva voz. Seu quarto é de um típico adolescente, apesar de ter a idade que tem, cheio de trofeus de jogos passados, uma camisa do time antigo de rugby de quando ainda estava no colégio é pendurada sobre a porta do quarto e um quadro com uma foto dele abraçando Ana pelos ombros é posto sobre o criado-mudo ao lado da cama. Quando a voz da pianista sai pelo aparelho em cima do travesseiro brando em que Matthew está deitado, ele hesita ao jogar a bola para cima novamente e em seguida pegá-la.

— Desculpe, eu não ouvi meu celular tocar – Ana recosta sobre a árvore a alguns passos longe de Danny. – Bia trouxe-me a um festival de fogos e está bem cheio aqui.

Ana sente-se animada novamente quando vê mais fogos explodirem. Ela queria que Matt estivesse junto dela no momento, então ela suspira ansiosa e levemente com o pensamento.

— Queria que estivesse aqui – Ela precisa falar alto para que ele a ouça, mas Matt percebeu o tom saudoso que a namorada usara. Ele para de jogar a bola e sorri virando a cabeça para o celular ao seu lado.

Danny ouviu o que Ana dissera apesar do barulho em volta e da distância entre os dois, ele a olhou oscilante e bufou revirando os olhos em seguida.

— Ana, me desculpe pelas brigas. – Matthew senta-se pegando o celular e colocando-o em seu ouvido após tirar do viva voz – Eu só não suporto a ideia de você ter ido para o outro lado do mundo logo depois de começarmos a namorar, entende?

Ana demora-se alguns segundos para respondê-lo – Não é do outro lado do mundo, são só algumas horas. – A garota sorriu e olhou para os pés cobertos pelo coturno preto.

— Longe de qualquer forma. – Ele sorri.

— Eu também sinto saudades – Ana diz – Só mais alguns meses e logo estaremos juntos de novo.

Danny cansado de apreciar aos fogos sozinho, sem importar-se com o que Ana pensaria, vai ao lado dela que ao perceber sua presença, o olha relutante e desconfortável. Ele não liga.

— Precisamos encontrar aqueles dois. – O guitarrista refere-se a Bia e Ben, a voz alta o bastante para Matt perceber e ouvir, mesmo que pouco, do outro lado da linha. O suficiente para sentir-se incomodado.

Matthew franze o cenho e põe-se a ficar de pé, começando a andar pelo quarto – Tem mais alguém com você ou Bia desenvolveu uma voz grossa?

Ana olha incerta para o garoto a sua frente. – É um amigo, nada demais... – Danny ao ouvi-la sorri cruzando os braços, enquanto do outro lado Matt é tomado pelo ciúme. – Matt? – Ana o chama após um tempo sem ouvir nada do outro lado da linha. 

— Não disse que estava com Bia? – Matt questiona visivelmente irritado e com fogo nos olhos.

— E estou! – Ana olha novamente para Danny, que agora estava com as mãos nos bolsos da calça apenas assistindo-a, e então abaixa o olhar para seus pés – ... Estava. Mas não é o que está pensando!

Matthew com seu fraco temperamento e sentindo seu sangue arder, desliga a chamada antes mesmo da garota terminar sua frase. Em quê ele estava pensando? Ele joga o celular com força sobre a cama, por pouco não foi parar no chão. Matthew deixa o quarto tomado pelo ciúme e ira fazendo com que a porta dê um estrondo ao ser fechada.

Ana tira o celular do ouvido lentamente com o olhar perdido e coração acelerado. Brigaram mais uma vez? Ela sabia da índole de Matt e o conhecia o suficiente para saber que iria demorar um bom tempo até ele decida a falar com ela, sendo que agora ele tinha encontrado uma forma de acusá-la e desconfiar dela. Não tinha certeza se isso a irritava ou a entristecia... talvez fosse os dois. Era cansativo. 

Danny tira as mãos do bolso ao perceber o olhar perdido da garota, sente-se deslocado e preocupado.

— Ei, tudo bem?

Ele pousa uma de suas mãos no ombro da garota. Ana assusta-se ao sentir o toque do garoto, ela pigarreia e dá um passo para atrás a fim de se afastar do guitarrista que torna a colocar sua mão no bolso, mas logo em seguida a tirou para fora novamente sem saber como reagir. Ana dá meia volta e segue o mesmo caminho pelo qual ela e Danny passaram depois que saíram do Bar.

— Vamos encontrar a Bia, quero ir embora. – Danny a segue com uns passos atrás.

— Se quiser posso levá-la ao instituto. – Ele oferece. Ana para de andar e então vira-se para ele com os olhos sem nenhum brilho. – Tem muita gente aqui e acredito que vai demorar muito até encontrá-los.

Ele diz apontado para as pessoas ao redor. Os fogos continuam a explodir. Danny estava realmente preocupado com a garota, mas a sensação que sentia misturava-se com repulsa. Ele não conhecia o tal "Matthew Stanford, jogador de Rugby e namorado de Ana", mas seja lá o que aconteceu durante a conversa no telefone... o guitarrista sabia que Ana estava abalada e prestes a chorar, pelo menos era o que ela aparentava e condizia com o que Bia havia contado a ele sobre o cara toda vez que os dois se falavam por ligação. Danny queria ajudar. 

Ana faz uma pausa pensando se devia aceitar a companhia ou não do garoto. Ele foi o motivo para mais uma das discussões dela com Matt e ter feito ele desligar na cara dela, mesmo Danny não tendo culpa nenhuma sob a crise de ciúmes do namorado... mas deixar com que a leve embora seria alimentar o sentimento de culpa que ela sentia e dar razão para a atitude sem nexo de Matthew. 

— Vamos, juro que não farei e nem falarei nada. – Ele torna a insistir. 

A pianista só queria deitar em sua cama e ficar sozinha e esperar Bia aparecer não seria a melhor opção. Ela revira os olhos e deu-se por vencida passando por Danny.

— Vamos logo. – Ela diz fazendo com que o guitarrista sorrisse e parasse ao seu lado para mais uma caminhada.

Bia e Ben estavam logo atrás de Ana e Danny quando os fogos começaram a explodir sob o céu. A ruiva ao perceber que a amiga sorria e aproveitava do momento mesmo ao lado do guitarrista, sorriu e deu meia volta para puxar Ben e ir para outro lado.

— Não quer ficar? – Ele pergunta confuso. 

Quando saíram do Bar atrás dos amigos, Bia queria a qualquer custo seguí-los para ter a certeza de que Danny não faria nada a Ana, mas a pianista estava rindo ao lado dele e fazia tempo que ela não a via sorrir, a não ser quando ela estava praticando ao piano. Bia ainda estava irritada com os dois rapazes por desejarem algo de Ana que eles não poderiam ter, ou melhor, não deviam tentar conquistar. Bia a preservava tanto pelo motivo de um dia, mais especificamente no começo das aulas no instituto, ter sido "vítima" deles, no caso dela... quem a tentou conquistar foi Ben e não Danny. Eles desafiam um ao outro a conseguir conquistar qualquer garota que para eles aparentasse ser difícil, ou seja, um desafio.

Ben não conseguiu ficar com Bia, passou aproximadamente um mês tentando conseguir pelo menos um beijo da ruiva... mas quando tentou roubar um selinho, Bia deu um chute tão forte no garoto que ele passou uma semana mancando e desviando-se dela sempre que podia. "Ela é o terror", ele dizia. Ha pouco mais de dois meses, os dois passaram a conversar apenas quando necessário, ou seja, quando um queria algo que o outro podia oferecer.

— Eles estão bem e Ana parece feliz. – Bia diz sendo seguida por Ben – Mas se ele fizer alguma coisa com ela, o faço mancar por uma semana como você.

Ben engole a seco e sente o arrepio subir pela espinha quando lembra da semana dolorosa que passou. 

Danny está a alguns passos atrás de Ana. Os dois caminham em silêncio sentindo o vento gélido da noite os atingirem, mesmo com um quente sobretudo, Ana sente seus pelos eriçarem com o frio. Quando o enorme instituto entra no campo de visão dos dois músicos, Danny se põe a caminha ao lado da garota que continua a andar sem encará-lo.

— Então... – Danny chuta uma pedrinha em sua frente hesitante ao falar – Namorado ciumento? 

Ana revira os olhos – Jurou não falar nada, lembra? 

— Certo, claro! Só fiquei curioso – Ele diz e acena com a cabeça para o segurança em frente ao instituto. – Também fiquei preocupado. Você mudou de repente, sabe? Estava toda feliz e sorrindo e depois mudou para abalada e prestes a desabar.

Ana para de andar quando chegam ao prédio com o dormitório feminino e vira-se de frente para Danny que mantinha as mãos no bolso e um olhar sério sobre ela.

— Sei que não gosta de mim – Danny diz fazendo com que Ana desviasse o olhar – Mas pode conversar comigo quando cansar da Bia.

Ana desata a rir do garoto e este põe o seu sorriso verdadeiro em seu rosto, o sorriso que Ana viu enquanto ele assistia aos fogos. A garota ainda estava desconcertada com a situação constrangedora e desconfortável que passou com Matt na frente do guitarrista, era algo bobo e infantil, ela achava, mas cada vez que havia uma briga entre ela e o namorado, a vontade de chorar era maior. Era algo que estava tornando-se constante desde que ela foi para Cleveland, o que a distraia e a salvava da angústia e fraqueza era a música. Todo sentimento que ela agonizava em si, seja problemas com relacionamentos, seja familiar ou o que quer que fosse... Ana liberava tudo enquanto tocava ao piano, sentia-se aliviada e disposta sempre que colocava o peso sobre uma tecla. 

Ana não é acostumada a compartilhar seus problemas ou desabafar, uma das raras vezes que precisou contar tudo sobre ela foi quando Bia soube sobre Matthew. Mas ali... naquele momento parada em frente ao dormitório feminino com um guitarrista oferecendo sua atenção, ela sentiu-se, por um pequeno momento, a vontade.

— Obrigada, Danny. – Ana agradece sorrindo para ele que a olhou confuso.

— Por quê? 

— Por ter assistido aos fogos comigo, me acompanhado até aqui e... por agora. – Ela explica. – Você não é tão idiota quanto pensei. 

Os dois desatam a rir. Ana suspira e caminha até a porta de entrada do dormitório, mas antes que pudesse entrar Danny a interrompe.

— Seja lá o motivo da discussão com seu namorado... não deixe que te abale. – Ele diz e ela sente o rosto ruborizar. – Boa noite, Ana Bolena.

Ele sorri e quando ela se dá conta de como a chamou e do que aconteceu, antes que pudesse dizer algo em resposta ele já havia sumido do seu campo de visão. "Ana Bolena" é o nome que ele usou na música que cantou mais cedo, mas o que ele queria dizer com aquilo. Ana agora estava intrigada tentando lembrar-se das palavras que estavam na letra da música dele, mas não lembrava e fora embora antes que ele pudesse terminar de cantar. Droga! 

Chegando em seu quarto, trancou a porta e viu que a cama da amiga ainda estava vazia, sinal de que ela poderia estar no festival. Ana não entendia o por quê de ela não ter mandado nenhuma mensagem avisando que não voltaria ou informando-a, pelo menos, onde estava. Ana negou com a cabeça e foi até o guarda-roupa, deixando lá seu sobretudo e aproveitando para pegar seu pijama. Antes de fechar a porta, observou a foto revelada presa sobre a madeira, era uma foto de Ana e Bia juntas, Bia adorava tirar fotos, era seu hobby. Logo que as duas se conheceram, Bia, com sua câmera, insistiu para que tirassem uma foto juntas "para lembrarem do dia que tornaram-se colegas de quarto", foi o que ela disse antes de fotografar. Estava evidente na foto a expressão de Ana que não sabia como reagir, mas agora ao vê-la... sentia-se feliz.

Deitada em sua cama, Ana pegou seu celular. Nenhuma chamada perdida, nem se quer uma mensagem... Olhou então para o pequeno quadro de fotos no criado-mudo ao lado, uma foto dela e Matt um pouco antes de começarem a namorar. A pianista bufou e decidiu que escutar uma boa composição de Chopin a tiraria dos devaneios e faria com que ela dormisse logo. Passando por sua playlist de músicas, Ana lembrou-se das músicas que Danny havia recomendado. Eram tantas músicas, alguns artistas ela reconhecia pelo nome... mas havia outros que ela nem imaginava existir. Hesitante, Ana colocou seus fones de ouvidos e deu chance para que Sum 41 – Pieces finalizasse sua noite.


Eu tentei ser perfeito
Isso não valeu a pena
Nada poderia sair tão errado
É difícil de acreditar em mim
Isso nunca é fácil
Eu acho que sabia disso o tempo inteiro [...]


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