As 7 Notas da Vida escrita por Mandy


Capítulo 4
Capítulo 4




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Era o fim de uma tarde fria de sábado e lá estava Ana sentada embaixo de uma grande árvore que dá vida ao pátio do instituto. Lugar favorito da pianista para estudar ou simplesmente relaxar ao som de alguma música clássica, o que não é o caso no momento. Não era Gustav Holst, Beethoven ou Bach que preenchia seus ouvidos, The Beatles era o que tocava. Espere! Eu disse Beatles? A banda de rock britânica de 1960? Sim, nem eu ou você está enganado quanto a conservadora musical estar a ouvir uma música popular.

Para entendermos melhor, voltaremos para a noite anterior: ao Festival de Fogos.

— O que está fazendo? – Ana pergunta enquanto observa Danny com o seu celular e o dele lado a lado.

— Imaginei que só teria música clássica aqui. 

Ele devolve o celular a ela com um sorriso de soslaio no rosto. Ana ao pegá-lo de volta franze o cenho no momento em que desliza o dedo pela tela aberta em sua lista de músicas, arregala levemente os olhos ao ver nomes de artistas que nunca ouviu falar entre seus clássicos. Quem diabos era Avenged Sevenfold? Antes que ela pudesse reclamar e brigar com o guitarrista, ele se explica sugestivo.

— Quero mostrar que está errada quanto ao que pensa. Ouça todas estas músicas e preste atenção nas palavras e verá que não se trata apenas de "barulho".

— Não adianta. Em casa ouço esse tipo de música todos os dias e continuo achando algo sem sentido. – Ana bloqueia o celular lembrando-se de todas as vezes que Tom tentou convencê-la a ouvir suas músicas.

— Por quê acha isso? – Danny pergunta curioso.

— Bom... música é para ser sentida de alguma forma, não é? Como posso sentir algo que mal posso entender?

O guitarrista desata a rir com a voz de indignação que Ana usa para contrariá-lo. Ele nada diz quanto aos argumentos da garota. Sabia que tipo de pessoa ela se tratava, conhecia tanto sobre o assunto, mas tão pouco ao mesmo tempo.

— Apenas ouça, tudo  bem? 

Ana o vê levantar-se e colocar o violão nas costas incerta sobre o que acabou de acontecer e confusa por ele ter que ir embora no meio de uma discussão. Espere, não era isto o que ela queria? Que ele fosse embora? O guitarrista então vira-se para Ana.

— Os fogos estão para começar, você vem?

Ana olha para os corredores que levam aos banheiros na esperança de encontrar Bia. Nenhum sinal. Nem mesmo alguma mensagem. Por quê estava demorando tanto para voltar? Danny também olhou em direção aos banheiros, porém, por ele estar de pé, ele conseguia uma breve visão de onde estava Ben e pôde vê-lo parado em frente ao banheiro feminino. Bia estava bem, pensou ele tentando não rir.

— Ben mandou mensagem avisando que havia encontrado Bia, está tudo bem. – Ele mentiu pegando as coisas da ruiva em cima do balcão.

— A encontrou no banheiro? – Ana questionou desconfiada.

— Talvez tenham se encontrado enquanto ela estava saindo. – Ele tentou convencê-la parecendo sério. – Duas opções: Ou você fica aqui e espera sua amiga voltar e perde os fogos ou você me acompanha e não perde nada. O que prefere?

Ana não queria perder os fogos de artifício e nem mesmo ficar sozinha num bar. Relutante, a pianista veste o sobretudo marrom e levanta-se parando ao lado do garoto que sorriu satisfeito. Ana condenou-se por dentro quando se vê saindo do bar lotado ao lado do garoto que ela nem mesmo suporta. E condena Bia por tê-la deixado sozinha.

Danny e Ana caminham em silêncio a procura de algum lugar bom para ficarem quando soltarem os fogos. Ana passa as mãos nos cabelos bagunçados pelo vento e olha de soslaio para o guitarrista ao seu lado, ele caminha com um sorriso no rosto que ela não sabe decifrar mas acha graça ao reparar, ele parece uma criança, ela pensa. 

— Se me olhar mais um pouco vou achar que quer algo de mim e não tenho nada a oferecer. – Ele diz de repente assustando-a.

— Desculpe, só estava reparando que você lembra a uma criança. – Ela se explica sentido o rosto ruborizar.

— Vou considerar como um elogio. – Danny para de andar, ficando ele e Ana debaixo de uma árvore quase sem folhas e ao lado de alguns artistas de rua – Aqui está bom.

— Não é um elogio – Ana o contradiz – Diria que é apenas uma informação.

Danny parece visivelmente chateado por mais uma vez não esperar a resposta que queria – Informação boa, então?

— Indiferente. – Quando Ana o vê bufar, ela ri.

Danny repara que desde o momento em que estão juntos nesta noite, é a primeira vez que ela sorri, não, que ela ri perto dele. Ele sorri e finalmente se dá por satisfeito e por um milésimo de segundo, esquece do real motivo por estar com ela... não que tenha um exato motivo, mas em normais circunstâncias, Danny não conversaria com ela e nem se quer se aproximaria por ela não fazer o seu tipo. Oras, ele afirma isto com toda a certeza depois da discussão que os dois tiveram e de ouvir as contradições da garota... mas algo nela o chama a atenção: a mesma paixão pela música que ele sentia ao tocar seu instrumento. Seja piano, seja guitarra... a paixão era de mesma intensidade. E Danny não percebeu tal semelhança só depois que a própria Ana disse. Quando ela está na sala de prática, o guitarrista percebe o quão atenciosa e apaixonadamente Ana se envolve a cada nota tocada; Sim, Danny já a vira tocar milhares de vezes em uma sala que contêm um piano de calda, sempre que passa por essa sala para ir a aula, ele a vê pela vidraça tocando e tocando sem parar. Ele admite admirar tal dedicação. 

BUM! Fogos explodem no céu nebuloso tirando Danny dos devaneios, este olha para cima a tempo de ver pequenas faíscas e toques coloridos caindo lentamente até que desapareçam e novos surjam com outra explosão. Assim como todos naquele lugar, Ana fica empolgada ao ver as diversas cores aparecerem acima dela, ela não demonstra mas é nítida a emoção que sente. A pianista está emocionalmente igual a uma criança perto dela e do guitarrista, a menininha solta risadas animadas e pula com as mãos erguidas na tentativa vã de capturar algum ponto colorido que cai do céu. Os dois riem ao presenciarem a cena. 

Por um momento Ana esquece a repulsa que sente pelo garoto ao seu lado, ela nunca o reparou fisicamente. Ele não é o dos mais bonitos que ela já vira, mas era atraente o suficiente para soltar risinhos de outras garotas. Danny era alto e magro, não tinha muitos músculos a serem exibidos como Matthew, namorado de Ana, geralmente gostava de fazer, ato ignorante na opinião dela. Os olhos do guitarrista eram tão azuis que ela se pergunta como nunca tinha reparado neles antes, pareciam águas cristalinas vistas de perto, sem contar o maldito sorriso do rapaz. Geralmente ele usa o sorriso falso para conquistar quem ele quisesse, ato nele que ela achava repugnante... mas aquele que ele estava mostrando ao assistir as explosões no céu era diferente, verdadeiro, um sorriso aberto e contagiante. Ele realmente parecia uma criança, mas aquele violão em suas costas o deixava com um ar mais sério e descolado... ela gostava. O quê? Em que estou pensando?

Ana não sabe quanto tempo o encarou, mas foi tempo o suficiente para ele perceber e olhar diretamente para ela. 

— Vamos fazer um trato – Danny ignora o fato de ter sido examinado descaradamente. Ana suspira incomodada.

— Que trato?

— Você ouve minhas músicas, as que estão no seu celular agora, e eu ouço as suas – Ele sugere. Ana não responde. – Assim teremos o que discutir, certo? Também não entendo música clássica de qualquer forma.

— Certo! Eu ouço suas músicas. – Ela diz por fim e ele sorri antes de voltar a olhar para o céu.

Ele não vê, mas Ana sorri furtivamente e então o imita olhando para cima. Mais fogos caindo. Pontos rosas e azuis se misturam no céu nublado como estrelas. Algum celular vibra.

Ana pega seu celular do bolso e logo deixa de sorrir. Três chamadas perdidas de Matthew Stanford.


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