Wherever I go escrita por Luna Lovegood


Capítulo 3
Capítulo 3 - Volta pra mim


Notas iniciais do capítulo

Cheguei com capítulo! Obrigadinha a todos os comentarios cheirosos e fofos, surtados e em sua maioria cheios de lágrimas!

Bem, estão lembrados que essa fic tem quatro capítulos? Porque esse é o terceiro...

Enfim, espero muito que gostem e se emocionem porque escrevi de coração!



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Longe daqui

Longe de tudo

Meus sonhos vão te buscar

Volta pra mim

Vem pro meu mundo

Eu sempre vou te esperar

 

Felicity Smoak

Eu nunca sonhei com Oliver nesses últimos cinco anos.

Nem mesmo sonhar era mais como costumava ser. Eu conseguia sentir o vazio dentro de mim até mesmo em meus sonhos, como se houvesse uma nevoa constante ao meu redor me impedindo de enxergá-lo, de alcançá-lo. E por fim, eu apenas aceitei que nem mesmo o consolo de sonhar com o homem que eu amava e que tinha sido tão injustamente tirado da minha vida, eu teria.

Mas hoje foi diferente.

Eu podia sentir a névoa se dissipando, eu podia ver a sombra dele como se ele fosse feito de névoa também. Intangível. Indistinto. Apenas meu coração reconhecia a sua presença.

— Volte para mim, Oliver! - eu gritei para a névoa, mas nem assim ele apareceu. Eu me sentei ao chão no meio do nada abraçando minhas pernas e repousando meu rosto sobre meus joelhos. Eu estava cansada demais para perseguir algo que não estava ali de verdade, triste demais porque eu sabia que ver Oliver, ainda em meus sonhos, sabendo que eu não o teria de verdade, não seria realmente um consolo e sim uma tortura.

Sonhar com ele não mudaria a realidade.

Mas ainda assim, eu queria tanto! Eu já estava a tanto tempo acostumada com a dor de não tê-lo, o que seria uma ferida a mais? O que seria tê-lo em uma terra de fantasias e depois perdê-lo de novo e de novo?

— Eu voltaria para você, amor, num piscar de olhos. - escutei a voz, clara e por mim tão conhecida. Ergui meu rosto de meus joelhos olhando ao meu redor, buscando por ele, mas não havia ninguém ali, apenas a voz de Oliver preenchendo o vazio, trazendo uma estranha paz para o meu coração, me acalmando e amortecendo um pouco da dor. A voz de Oliver era para mim, como o cobertor especial de Liv.

— Então volte. - pedi, meus olhos ainda buscando por ele em meio a névoa.

— Eu daria tudo para estar com você e com Liv. - senti algo macio e forte tocar meu ombro e calor líquido percorreu meu corpo, eu reconheci o toque, mesmo que não o sentisse há cinco anos. Num ato instintivo, ergui a minha própria mão, desejando tocar o calor da dele ali, senti-lo mais uma vez, mas não havia nada exceto vazio. Se ele não estava ali, como eu sentia a sua presença? Pode algo que não é visto realmente estar ali? - Não há um dia que eu não queira compartilhar com vocês, que eu não queira estar com vocês. Eu gostaria de participar do crescimento da nossa filha, de ensiná-la a pintar, de brincar com ela e andar com ela sobre meus ombros enquanto eu mostro para ela todas as coisas belas do mundo. - sorri imaginando como teria sido se as nossas vidas não tivessem sido modificadas por aquele acidente - Eu gostaria de acordar ao seu lado todos os dias, ser o seu rosto a primeira coisa que eu vejo e apenas isso me dar a certeza de que eu teria um dia bom pela frente. Eu queria viver e envelhecer ao seu lado. Pintar aquela parede com você. - senti meu coração apertar enquanto as lágrimas caíam, tudo o que Oliver queria, eu queria também. - Eu gostaria de fazer muitas coisas, de ser tantas coisas que não pude. Seu marido, o pai de Liv... Eu daria tudo para voltar, mas eu não sei qual é o caminho, e eu sequer sei se existe um, amor. - a voz dele estava desolada.

— Apenas abra os olhos. - funguei, eu não entendia como não podia ser simples assim.

— Não é assim que funciona.

— Por que não? - dessa vez senti como se Oliver estivesse ao meu lado, seus braços ao redor do meu corpo me confortando num abraço que há muito tempo eu não sentia. Quando ele falou novamente eu senti sua voz próxima, as palavras sendo sopradas como uma brisa quente em meu ouvido.

— Eu não sei. - ele parecia frustrado com isso, embora houvesse uma certa aceitação ali que eu não gostava - E eu não tenho tempo para descobrir. - me lembrei que logo Moira desligaria os aparelhos, e balancei a cabeça tentando me livrar daquele pensamento ruim, me concentrando no que a voz de Oliver dizia para mim. - É por isso que  eu preciso que faça algo por mim, antes que seja tarde demais.

— O quê? Eu faço qualquer coisa por você. - eu mais que depressa assegurei.

— Eu preciso que você viva, Felicity. - meu corpo todo se tencionou com aquelas palavras, e eu demorei um pouco para rebatê-lo.

— É você quem precisa se esforçar para continuar vivo. - respondi urgente, sem compreender. - Eu já estou vivendo.

— Não está, amor. - seu tom veio condescendente e triste - Você acorda todas as manhãs e se esforça para ser uma boa mãe para Liv, você faz tudo pela nossa garotinha, tudo para ela ser uma criança feliz. Mas não faz o mesmo por você. - senti um nó se formando em minha garganta a medida que as palavras de Oliver continuavam - Você passa mais tempo num quarto de hospital conversando comigo do que fazendo o seu trabalho ou conversando com as pessoas. Você se fechou, afastou seus amigos. Os últimos cinco anos da sua vida foram uma eterna espera por mim.

— O que há de errado em esperar por você? Eu amo você, eu esperaria minha vida inteira por você. - justifiquei cansada, eu já havia discutido isso com Moira no dia anterior. Por que nem mesmo Oliver compreendia que eu não podia simplesmente deixá-lo ir?

— Eu amo você também. - mesmo sem vê-lo eu podia sentir o sorriso em sua voz - E é por te amar tanto que eu preciso de mais, eu desejo mais a você! Me machuca saber que é por minha culpa que você está perdendo tanto. Eu preciso que sinta a alegria de estar viva, que agradeça por tudo o que tem de bom. Você tem Liv, minha família a ama como se fosse parte dela, você tem todo um futuro pela frente e só precisa pintá-lo. Mas para isso precisa deixar o passado para trás, onde é seu lugar. Precisa me deixar ir e se lembrar de mim pelo o amor que vivemos e não pelo que deixamos de viver. - eu balançava a minha cabeça desejando acordar daquele sonho estranho, eu não poderia fazer isso, eu me negava a fazer isso. - Porque no fim, quando se coloca na balança você tem mais coisas boas na vida do que ruins. Você está viva, você tem Liv com você. Você percebe a preciosidade tem? Não desperdice isso, Felicity. Lembre-se nós a fizemos com todo o nosso amor e ela merece que a mãe dela seja feliz também. Apenas lembre-se de dizer todos os dias a nossa pequena o quanto o pai dela a ama, não a deixe nunca se esquecer de mim. Conte-a sobre mim, não apenas as histórias felizes, conte-a como eu era para que ela possa sentir que eu estive sempre por perto.

Aquilo era um adeus, meu coração se apertou em puro desespero.

— Eu não posso te deixar ir.

— Eu nunca irei embora realmente. - respondeu me deixando confusa.

— Eu não posso ser feliz sem você.

— Você pode e você vai. - a voz de Oliver me assegurou, com uma certeza pesarosa e feliz -  Apenas viva, Felicity. Viva por nós dois.

***

Viver.

Parece simples, mas não é.

E Oliver estava certo, eu não estava vivendo realmente. Eu coloquei toda a minha vida no piloto automático enquanto esperava por ele. Mas como viver se parte de você se esqueceu de como fazer isso? Parte de mim ainda estava naquela cama de hospital ao lado de Oliver, se recusando a fazer qualquer coisa sem ele, se recusando a sorrir ou a se divertir se não tivesse ele ao seu lado. A mera ideia de ser feliz, de ter uma vida plena e normal quando o amor da minha vida estava em coma há cinco anos, não parecia apenas impossível, parecia injusto. Por que eu deveria aproveitar de tudo o que Oliver não podia ter? Eu vivia me dizendo que estava guardando essas coisas para quando Oliver acordasse, para que compartilhássemos isso juntos, como deveria ter sido.

Mas agora era tarde demais.

E toda pequena esperança que eu cultivei, todos os sonhos acordados que eu tive, vivendo com a cabeça num futuro idealístico e que nunca chegaria, todos os dias deitada naquela cama conversando com Oliver, contando sobre o meu dia ou relembrando nossos momentos juntos, na esperança de que ouvir a minha voz fosse o suficiente para trazê-lo de volta, tudo isso teria sido para nada. Moira iria desligar os aparelhos e seria o fim.

Fim da esperança.

Eu teria que aceitar que meu Oliver não iria mais voltar.

Eu tive cinco anos para aprender a viver com a ausência dele e aceitar que em algum momento eu teria que dizer adeus, mas tudo o que fiz foi me agarrar com todas as forças a Oliver, me negando a deixá-lo ir, me convencendo que de alguma forma um amor como o nosso não poderia acabar desse jeito. Chame de fé, excesso de esperança ou ingenuidade, mas uma parte grande de mim sentia que Oliver um dia voltaria para mim, para nós.

Eu fiz tudo errado.

Me agarrando a migalhas de esperanças apenas porque eu não era forte o suficiente para aceitar que eu nunca teria de volta aquele amor, que Liv nunca conheceria o próprio pai a não ser pelas histórias do homem que um dia ele foi.

O que eu deveria fazer? Meu lado racional me dizia que já era hora de aceitar a realidade e lidar com ela, mas meu coração? Esse se negava a todo custo a perder Oliver.

— Mamãe, você bem? Sonhou com o papai? - pisquei meus olhos afastando com os dedos a umidade que havia ali e forcei um sorriso ao ver minha pequena ali, sentada a minha frente, com a cabeça inclinada, seus cabelos despenteados pendendo para um dos lados do seu rostinho redondo, seus olhos ainda sonolentos, porém espertos me analisando como se pudessem ver tudo o que eu tentava esconder.

Nós a fizemos com nosso amor.

Me lembrei das palavras de Oliver e um sorriso genuíno surgiu em meus lábios enquanto olhava para a nossa garotinha. Liv era a parte mais pura de nós dois, feita do nosso amor.

— Sim, minha querida. - Respondi a segunda pergunta, ainda não sabia como eu me sentia sobre a primeira.

— Então por que estava chorando? Papai te fez chorar? - Sorri um pouco mais, Liv podia ter muitas coisas de Oliver, mas aquela curiosidade era toda minha. Me sentei, me encostando a cabeceira da cama e Liv engatinhou arrastando seu cobertor em uma das mãos e deitando-se em meu colo, a abracei forte, meu nariz sentindo o cheiro do cabelo dela. Assim como o abraço de Oliver me acalmava e me fazia sentir muito melhor, abraçar Liv tinha o mesmo efeito.

— Todas as vezes que seu papai me fez chorar foram de alegria. - eu disse distraidamente penteando os cabelos dela - Eu estava chorando porque eu o amo muito e sinto muita falta dele, falta de estar com ele. Eu queria que ele estivesse aqui agora e não dormindo no hospital, que ele pudesse se divertir conosco, ele te ensinaria muitas coisas... - falei sonhadoramente.

— Ele me ensina muitas coisas, mamãe. - sorri ao pensar no Oliver que Liv via.

— Seria apenas diferente, meu anjo. - alisei seus cabelos.

— Como? - suspirei, Liv sequer tinha um referencial de como ter um pai poderia ser. Ela sequer tivera avôs ou tios para compreender um pouco a relação.

— Primeiro todo mundo conseguiria ver e falar com seu papai, e nós poderíamos fazer muitas coisas juntos, como acampar, brincar de esconde-esconde, ir a um parque de diversões, shows onde o seu papai te carregaria sobre os ombros para que você visse tudo do alto. Ele estaria aqui todas as noites e junto comigo nós te contaríamos historinhas para dormir... - divaguei, segurando a dor que aquele “E se...?” trazia.

— E quando será que ele vai acordar pra gente poder fazer tudo isso? - levantou seu olhar para mim me indagando com a ingenuidade sonhadora que apenas uma criança possuía. - Ele já dormiu muito, já na hora de acordar.

Abri minha boca, mas não saiu nenhum som.

Eu queria dizer que era logo, que em breve Oliver estaria conosco vivendo a vida que era sua por direito, recuperando o que ele perdeu durante esses cinco anos. Mas não era certo com minha filha. Uma coisa era eu me encher de esperanças e ilusões, mas fazer isso com uma criança para depois destruir todos os seus sonhos? Eu não podia fazer isso. Moira estava decidida sobre desligar os aparelhos de Oliver, eu deveria preparar Liv para aquele adeus. Eu ainda não havia aceitado que teria que dizer adeus ao Oliver, como eu faria Liv aceitar isso? Como contar a ela sem magoá-la que o papai que ela conhecia e esperava um dia sair daquela cama jamais fosse acordar?

Como se tivesse algum sexto sentido, meu telefone começou a tocar naquele exato momento. Suspirei ao ver o nome na tela: Moira Queen, eu não estava pronta para aquele embate, mas fugir tão pouco faria o problema magicamente desaparecer.

— Bom dia, Moira. - forcei o cumprimento ao atender a ligação.

Bom dia, Felicity. - o cumprimento dela veio cauteloso, eu não poderia esperar menos depois da nossa desavença no dia anterior. Por mais que a parte racional de mim entendesse as razões dela, ainda doía o que ela estava decidida a fazer. — Querida, eu estou preocupada. Já são dez da manhã e você e Liv ainda não apareceram no hospital. Eu... eu sei que... - ela respirou fundo, gaguejando e parecendo nervosa — eu sei que eu não fui justa com você ontem, eu deveria ter conversado com você antes de decidir. Mas eu te conheço, Felicity, você seria inflexível com relação ao Oliver e eu fiz o que precisava ser feito, seguir em frente e viver é o melhor para todos nós. - Novamente aquela palavra me atingia: viver. — Eu espero que um dia você possa compreender e aceitar. - Nunca, eu poderia até entender as motivações de Moira, mas aceitá-las? Jamais. Ela estava tirando não apenas Oliver de mim, mas todas as esperanças que construí. - Eu marquei com o Dr. Palmer principalmente para que ele pudesse explicar a você que não há esperanças...

Não há esperanças.

Fechei meus olhos com força.

— Eu não poderei ir hoje. - a cortei. Não queria ficar num quarto de hospital olhando para Oliver enquanto escutava o médico dizer o porquê ele não acordaria, e que aquele seria o melhor a fazer. Era tortura demais.

 Felicity... - ela chamou meu nome com condescendência.

Não vai ser hoje, vai? - Perguntei, o pânico tomando conta de mim por um momento. A ideia de entrar naquele quarto e encontrar a cama vazia, ou pior, colocar minhas mãos sobre seu peito e não sentir a pulsação ainda que mecânica de seu coração.

 Não, claro que não. - a certeza na voz dela me acalmou — Todos teremos tempo para nos despedirmos. - suspirei assentindo, ainda que tudo dentro de mim negasse aquela eminente despedida, era bom saber que não seria feita sem mim.

— Preciso passar o dia com Liv, conversar com ela sobre... - olhei para minha filha que parecia confusa, mas prestava atenção em tudo o que eu dizia. Minha pequena era curiosa, eu não conseguiria esconder isso dela por muito tempo. Mas como dizer à ela que teria que dar adeus ao pai? - ... conversar com ela sobre isso, prepará-la.

Eu entendo, querida. - Moira parecia triste agora — Se precisar de ajuda com ela, nós estamos aqui, para vocês duas. Você e Oliver podem não ter trocado os votos, mas eu sempre a terei como uma filha para mim.

— Certo. - respondi, sentindo algo preso na minha garganta.

Eu ligo para avisar o que Dr. Palmer decidiu, e quando será o adeus. Eu sinto muito, Felicity, eu apenas acredito que seja o melhor a fazer.

— Tudo bem, tchau Moira. - Desliguei o celular o jogando para longe de mim como se segurá-lo me causasse dor física. Olhei para minha pequena menina, ela não tinha nem completado cinco anos, como eu iria conversar com ela de um jeito que ela entendesse? Como dizer que não poderíamos mais visitar o papai dela?

— Olívia, tem algo que eu preciso falar com você. - eu disse mais séria e segurando as duas mãos da minha menina, eu precisava de força para contar isso a ela. Ao ouvir minhas palavras  imediatamente Liv se sentou mais ereta, me fitando com seus olhos arregalados e o rosto tenso e culpado. Era a mesma carinha que ela fazia quando eu a pegava aprontando.

— Eu juro, juradinho que foi sem querer, mamãe, a tinta escorregou da minha mão e derramou no chão da vovó, mas eu coloquei um tapete por cima pra ela não ver e ficar brava comigo. Ela achou a mancha, né?!  Por isso ela ligou pra você! Eu de castigo? - perguntou temerosa, o lábio inferior dela tremia deixando-a ainda mais adorável, e diante toda a tensão do dia anterior que se alastrou para esse dia, surpreendentemente a confissão nada inocente de Liv me fez rir.

Rir era bom.

Era como sentir algo quente e gostoso se alastrando por você, me fazendo perceber como esses pequenos momentos eram importantes. Por que eu não fazia isso com mais frequência? Por que eu não ria tanto? Ou apenas notava o quanto era bom rir de algo bobo. Eu percebi que o Oliver do meu sonho tinha razão. Eu não aproveitava realmente as coisas boas que eu tinha na vida, olhei para Liv, seu rostinho confuso com minha reação estranha e sorri.

— Não, meu anjo, você não está de castigo. - a assegurei e a vi soltar o ar aliviada  por ter se safado dessa - Na verdade o que acha de ficar em casa com a mamãe hoje? - perguntei, uma ideia inusitada passando pela minha cabeça.

— Mas eu tenho escola. - ela me lembrou - E você diz que é muito importante estudar.

— É sim, mas você é uma menina inteligente e hoje nós vamos tirar o dia de folga. - Liv me fitou, seus olhos azuis tão parecidos com o do pai revivendo uma antiga emoção dentro de mim.

— Nós vamos passar o dia com o papai? - perguntou.

— Na verdade não. - neguei, seria melhor não pisar no hospital hoje - Que tal nos divertirmos só nós duas, podemos cozinhar juntas um café da manhã tardio e brincar...

— Por que a gente não vai ver o papai hoje? - Ela me interrompeu, notando que havia algo errado ali. Em cinco anos, o único dia que fiquei sem visitar Oliver foi quando eu dei a luz a nossa filha, tirando isso minha presença foi constante. Mas eu não poderia dizer a Liv que não poderíamos ir visitá-lo porque eu não estava preparada para dizer aquele adeus, para olhar para Oliver pela última vez e aceitar que a imagem dele deitado na cama de um hospital ligado a aparelhos seria minha última lembrança dele. Então optei por uma meia verdade:

— O médico dele vai estar lá hoje, então acho melhor deixar eles sozinhos.

— Eu acho que deveríamos ir, papai não gosta do Dr. Palmer. - ela me avisou, me fazendo franzir o cenho.

— Ele te disse o porquê não gosta do médico?

— Porque ele te convida para muitos almoços e as vezes até jantares. Eu também não gosto dele. - eu ri alto, porque eu tinha certeza que Oliver realmente não gostaria do Dr. Palmer, e da facilidade com a qual lançava seus convites para mim, contrastando com  todo ar livre e poético de Oliver Queen, havia uma certa dose de possessividade e ciúmes nele. Parei de rir quando percebi que depois de Liv derramar suco de uva no jaleco branco do Dr. Palmer enquanto ele me convidava para um almoço, ele nunca mais tornou a repetir os convites enquanto Liv estava próxima. Como ela poderia saber das outras vezes? Ela disse que Oliver mesmo contou à ela...

Novamente me vi pega por aquela possibilidade.

Liv via seu pai, até conversava com ele.

E ontem a noite, quando eu finalmente comecei a acreditar que aquilo talvez não fosse apenas a imaginação fértil de uma garotinha, pela primeira vez eu sonhei com Oliver. A voz era a dele, as palavras também, o sentimento que estava presente... Ele realmente esteve lá? Me dizendo que eu deveria viver plenamente a minha vida e não continuar esperando por um milagre que o trouxesse de volta para mim? Para que eu desse a nossa filha amor suficiente por nós dois?

— Vamos levantar, pequena, é hora de fazer uma grande bagunça naquela cozinha. - Eu disse pegando-a no meu colo e levando-a para fora do quarto.

Eu não estava pronta para aceitar todas as revelações que aquele sonho me trouxe. Mas Oliver estava certo em um ponto, era hora de aproveitar o que eu tinha de bom na minha vida, sobre isso eu poderia fazer algo.

***

Minha cozinha imaculada estava um desastre, havia farinha espalhada pela bancada, chocolate nos azulejos brancos da parede, e mais ainda no chão. Mas eu não me importava. Eu olhava para a imagem de Liv sentada na bancada e balançando os seus pezinhos no ar enquanto lambia uma colher com o restante da massa de bolo que fizemos juntas, o rosto completamente sujo com massa de chocolate e o cabelo com um pouco de farinha, mas a minha menina estava feliz e isso era o mais importante para mim.

— Então o que faremos enquanto esperamos esse bolo assar? - perguntei, não resistindo ao impulso de limpar o rostinho de Liv com o dedo, eu era uma mãe ao final das contas.

— Podemos fazer o que eu quiser? - ela perguntou, seus olhos parecendo surpresos com o quanto eu estava liberal naquele dia. Afinal, já havia permitido que ela faltasse a aula e sujasse completamente a minha cozinha.

— Sim.

— Vamos brincar de esconde-esconde. - anunciou apontando o dedo em riste para mim - com você! - Disse pulando da bancada e correndo pela casa a fora a procura de um esconderijo.

Eu não levei muito para encontrá-la escondida atrás da cortina da sala, mas eu fingi que não a vi e a deixei ganhar aquela rodada. Depois que a brincadeira acabou nós nos sentamos e comemos bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro enquanto assistíamos Frozen pela enésima vez.

— E agora o quê? - perguntei assim que o filme acabou, e Liv terminou a performance dela de Let it go, a qual eu aplaudi com entusiasmo mesmo que ela tenha se enrolado em algumas palavras. Liv me olhou com uma carinha sapeca que me deixou alerta, mas nem assim me preparou para o que viria a seguir.

— Guerra de travesseiros! - gritou já batendo com a almofada em mim me fazendo cair de costas no sofá enquanto ela seguia rindo.

— Olívia Smoak Queen. - me ergui, mantendo minha expressão neutra e ela recuou achando que tinha ultrapassado o limite.

— Desculpa, mamãe. - pediu fazendo a melhor carinha de cachorro sem dono.

— Ah, desculpas? Você acha que pode atacar sua mãe com uma almofada... - ela negou rapidamente e várias com a cabeça fazendo seu cabelo batesse em seu rosto - ... E sair impune disso, sem uma revanche?

Seus olhos se arregalaram confusos, e eu não perdi tempo derrubando-a no sofá e a enchendo de cóssegas e beijinhos.

— Não, mamãe, pare! - Ela gritava e fingia tentar me afastar ao mesmo tempo ria usando todo o seu pulmão.

E foi assim o nosso dia, uma diversão sem fim repleta de risadas.

Eu descobri que Liv tinha uma energia sem fim. Talvez a quantidade de açúcar ingerida naquele dia tivesse colaborado um pouco também. Mas depois de brincarmos de guerra de travesseiros, desenharmos e revirarmos a casa de pernas por ar quando resolvemos fazer um acampamento na sala, eu a convenci a tomar banho na intenção desacelerá-la um pouco, mas não surtiu efeito por que agora eu tinha a minha menina pulando como um canguru pela minha cama enquanto eu tentava pentear os cabelos molhados dela.

— Finalmente está cansada? - perguntei esperançosa quando ela sentou a cama de repente parando de pular e parecendo pensativa. Liv balançou a cabeça em negativa para minha pergunta, mas seus olhinhos brilharam me dizendo que havia algo mais ali - Quer brincar mais? - inqueri, mesmo sabendo que eu não tinha mais energia para acompanhá-la e para minha surpresa ela negou mais uma vez.

— Podemos ver fotos do papai? De quando ele não dormia? Ele não apareceu pra mim hoje e eu com saudades de ver ele. - pediu, fazendo meu coração doer.

— Claro que podemos. - assenti, já indo até a gaveta ao lado da minha cama onde eu guardava minhas lembranças mais preciosas de Oliver e retirei uma caixa larga e achatada de lá colocando-a a frente de Liv.

— Eu vou pentear seus cabelos enquanto você vê. - eu disse me colocando atrás dela enquanto me concentrava na tarefa de pentear e trançar seus cabelos. Eu tentava não prestar atenção nas coisas que Liv tirava da caixa e espalhava sobre a cama, mas era impossível não deixar aquilo me tocar. Fotografias nossas, entradas de cinemas, bilhetes, pétalas de rosas secas, cartas e desenhos... Só me restaria isso de Oliver quando ele se fosse? Uma caixa de memórias?

Não.

Eu tinha muito mais dele do que uma caixa. Eu tive seu amor, olhei para nossa filha e meu coração se acelerou compreendendo, eu ainda tinha o amor dele e sempre o teria, Oliver havia me dado a melhor parte de si e isso nem mesmo a morte poderia tirar de mim.

— Você está triste porque ficamos longe do papai hoje? - Liv olhou para mim enquanto eu secava uma lágrima solitária, que incrivelmente não era apenas uma lágrima triste. Não, era uma lágrima feliz também, porque apesar de não ter mais Oliver ao meu lado ele havia me dado tanto amor no passado, e mesmo longe eu podia sentir o amor dele, através das lembranças felizes, através da filha que fizemos juntos.

— Estou. - Eu estava triste porque nos divertimos sem ele e que isso mostrava que Oliver do meu sonho estava certo, eu poderia viver sem ele, eu poderia até mesmo ser feliz sem ele.

— Você nunca fica longe do papai. É porque você ama muito ele?

— Eu o amo. - respondi sem hesitar, nada nem mesmo a morte poderia mudar isso.

— Deve ser por isso que em todas as fotos vocês dois estão abraçados - sorri ao vê-la apontando para as nossas fotos. Naquela época éramos apenas um casal feliz por ter descoberto o amor, ansioso para vivê-lo e inconsciente de que não teríamos tempo o suficiente. Mas pelo menos vivemos o amor pelo tempo que deu.  Ressalvei, era melhor um pouco tempo vivendo de amor, do que viver sem nunca amar. - Eu queria abraçar o  papai também. - ouvir a vozinha de Liv dizendo aquilo quebrou meu coração em mais partes do que eu era capaz de contar. Apertei o corpinho dela junto ao meu, desejando poder abraçá-la por mim e por Oliver, desejando que o coração dela ficasse inteiro quando eu contasse a ela sobre o adeus.

— Eu tenho certeza que seu papai também queria abraçar você. - beijei o topo da cabeça dela, deixando meus lábios se demorarem naquele gesto - Ele tem um abraço muito gostoso, daqueles de urso que envolve todo o corpo da gente, é apertado e macio como uma almofada fofa e faz a gente desejar jamais querer soltar, porque o abraço dele também acalma quando estamos tristes. - expliquei desejando que Liv, mesmo sem nunca experimentar soubesse o quanto Oliver era bom em abraços. - Mas você sabe que seu papai não pode mais abraçar, não pode estar com a gente e fazer um monte de coisas que ele gostaria de fazer. E isso o deixa muito triste e nós não queremos que o papai fique triste, certo? - ela assentiu concordando, enquanto eu tentava controlar a minha voz para contar da forma mais suave e delicada possível que ela teria que dar adeus ao papai - Por isso talvez seja melhor se o papai for para longe, um lugar onde ele não fique triste.

— Por quê? Que lugar é esse pra onde ele vai? Por que não podemos visitar ele lá? - Ela não seria minha filha se não tivesse um milhão de perguntas. Mas infelizmente eu não tinha as respostas para aquela pergunta.

— Quando amamos alguém precisamos colocar a felicidade dele acima da nossa. Já não vai ser suficiente saber que seu papai, aonde quer que ele esteja, ele não vai estar mais triste? - Liv assentiu concordando, mesmo não gostando da ideia.

— Você já ficou longe do papai? - me perguntou.

— Bem antes de você nascer, seu papai teve que viajar para muito longe e ficar um tempo longe de mim. Eu não queria que ele fosse, mas eu sabia que era importante para ele ir. - Me lembrei do curso de artes para o qual ele havia conseguido bolsa e teve que ficar um ano inteiro fora estudando em outro país - Então o deixei ir. Na época eu achei que não aguentaria a distância que seria melhor terminar com ele. Mas seu pai não aceitou, ele... - não terminei, as lembranças daquela outra despedida voltando a memória com força, me lembrando do jeito decidido e firme que Oliver defendeu o nosso amor.

— É mesmo? Você nunca me contou isso, você nunca conta nada. - ela reclamou - Você não fala do papai, porque falar dele te deixa triste, né?! - Sorri, Liv era perceptiva como o pai.

Mas então meu sorriso murchou ao me dar conta do que ela falava.

Eu raramente contava histórias de Oliver para Liv, sobre quem ele era ou como eu me sentia sobre ele, sobre o que vivemos, tudo o que ela sabia era um coisa ou outra, como no dia anterior quando Thea deixou escapar que Oliver gostava de desenhar. Mas eu mesma jamais falava de Oliver diretamente.

Eu estava negando isso à Liv.

Eu estava negando as partes de Oliver que eu conhecia e amava, porque eu as estava mantendo apenas para mim. Não percebi o quanto era injusto o que eu fazia. Liv merecia conhecer o Oliver que eu conheci, saber o quão maravilhoso ele era e porquê eu o amava tanto.

— Eu sinto muito querida, eu não deveria ter feito isso. -  me desculpei - A partir de hoje me pergunte o que quiser sobre o seu papai que eu irei contar tudo. - ela assentiu não parecendo certa de que eu estava sendo sincera. - Vamos começar por aqui. -  puxei Liv  para o meu colo, enquanto pegava um caderno sem pauta em formato vertical e lhe entregava. - Esses são os desenhos do seu pai.

Ela arfou enquanto passava vagarosamente e com um cuidado exagerado as folhas finas onde havia esboços de Oliver feitos em carvão vegetal. As primeiras folhas eram algumas paisagens que misturavam a natureza e o urbano, para um olhar mais apurado dava para notar o toque artístico e também crítico ali. Mas depois dessas só havia desenhos de mim.

Eu dormindo enrolada nos lençóis.

Meu perfil distraído olhando para o nada.

Encolhida na poltrona absorta enquanto lia um livro qualquer.

Mordendo uma caneta.

Minhas mãos. Meus cabelos ao vento. Minha silhueta ao por do sol.

Cada pequeno momento e detalhe por mais ínfimo que parecesse estava retratado em seus desenhos. O que eu mais amava nos desenhos de Oliver era que ele tinha o dom de me captar nos momentos em que eu imaginava que ninguém prestava atenção. Mas ele sim. E em cada traço dele, ele mostrava toda a sua paixão por mim, o quanto ele via além do que qualquer pessoa jamais viu em mim. O último desenho dele ainda estava incompleto, era a visão que ele tinha tido de mim no dia do casamento, escondida atrás das cortinas e puxando-as sobre o vestido... Eu sabia que estava uma profusão louca de sentimentos naquele dia, mas Oliver capturou em seu desenho cada um deles.

Nervosismo.

Ansiedade.

Amor.

Muito amor.

E no fim, era apenas isso o que contava.

— Papai desenha muito bem. - Liv disse tocando com seus dedos pequenos os mesmos traços que os dedos de Oliver um dia tocaram - Queria que ele me ensinasse a ser tão boa assim.

Eu queria também.

Oliver alimentaria o lado artístico da nossa menina como ninguém mais no mundo.

— Você vai ser tão boa quanto ele. - garanti. - Eu posso não ser boa desenhando como o seu papai, mas ele me ensinou algumas coisas. - ela me encarou curiosa - A sempre ver além de uma simples parede branca -  Liv me encarou ainda sem entender - Sabe qual é a regra mais importante sobre desenhar? - ela negou, concentrada no ensinamento de seu pai que eu passaria para ela - Você só deve desenhar aquilo que toca o seu coração, aquilo que te faz sentir. Não é sobre desenhar coisas e pessoas com precisão, é sobre captar sentimentos e emoções que elas nos passam. É sobre enxergar pontes onde as pessoas normalmente enxergam um limite. Se seu pai estivesse acordado ele te ensinaria a ver o mundo desse jeito, e eu prometo querida, todos os dias de agora em diante eu vou me esforçar para passar um pouquinho do que ele tentou me ensinar. - Ela assentiu. - Sabe por que não há nada naquela parede branca da sala? - perguntei, me sentindo ansiosa para dividir isso com ela.

— Não.

— Porque seu papai me disse que aquela parede era a nossa tela em branco, e que um dia nós pintaríamos nosso futuro nela. Eu, papai e você.

— Ele me deixaria desenhar naquela parede enorme da sala? - perguntou impressionada.

— Sim. - respondi sem dúvida alguma. Se dependesse de Oliver ele colocaria Liv em seus ombros e os dois desenhariam juntos em cada parte dessa casa.

— E você vai deixar? - seus olhos se arregalaram em desejo.

— Um dia nós duas vamos pintá-la. - falei - Mas não será hoje. - eu ainda não estava pronta para isso. Aquela parede era para ser o nosso futuro, meu, de Oliver e Olívia, pintá-la sem ele seria assumir que seguimos em frente. E nós ainda não estávamos lá.

— O que é isso? - Liv perguntou, desdobrando uma folha de papel dobrado que caia de dentro do caderno de desenhos de Oliver. Sorri ao desdobrá-la e reconhecer a caligrafia dele.

Era a carta que ele escrevera para mim, logo depois de eu ter terminado o namoro quando ele viajou para fazer o curso de artes dele. Meus olhos correram pelas palavras tão belas e cheias de sentimentos, Oliver desnudara a sua alma e declarara seu amor por mim com tanta precisão e certeza, que me convencera de que não era certo abrir mão de algo tão forte e único.

A carta inteira era sobre como ele recusava a minha ideia absurda de terminar o nosso namoro. Ele disse que sentimentos não podiam ser desligados ou interrompidos apenas porque você estava longe de quem se amava. Disse que se eu quisesse terminar o relacionamento, eu poderia, mas isso não terminaria o amor que ele sentia por mim. E ele duvidava que terminaria o amor que eu sentia por ele também.

Apertei a carta contra o meu peito sentindo um pouquinho daquele amor, e sorri porque apesar de todas as tristezas, amar alguém era a melhor coisa do mundo.

— Isto é uma carta que seu papai escreveu para mim há muito tempo atrás. - Expliquei para Liv, que encarava a minha reação ainda sem compreender.

— Leia para mim, para eu conhecer um pouco do papai. - Liv pediu e assim o fiz, escolhendo justamente o trecho final:

— ...Não importa o quão grande a distância pareça, nós podemos simplesmente fechar nossos olhos e nos concentrar no que sentimos. Feche seus olhos agora, Felicity. Pode sentir o quão perto estou de você? Do seu coração? Percebe que nenhuma distância é capaz de mudar isso? Eu sempre levarei seu amor comigo, aonde quer que eu vá. - Aonde quer ele vá. Repeti em pensamento, ele levaria meu amor com ele aonde quer que ele vá. — Sempre seu, Oliver Queen.

Algo me atingiu quando eu lia aquelas palavras em voz alta.

Ele disse que levaria meu amor com ele, aonde quer que ele fosse. E eu percebi que o amor de Oliver jamais iria embora do meu coração, ainda que eu tivesse que me despedir dele para sempre dessa vez. O amor não acabaria, ele viveria vivo e forte dentro de mim, eu veria esse amor sempre que olhasse nos olhos de Liv, sempre que pensasse nele, ou olhasse um de seus desenhos. Porque cada parte da minha vida, de mim, da mulher que eu sou tinha sido tocada e modificada pelo amor incondicional de Oliver Queen.

Ele me amara com todo o seu coração e nada no mundo, nem mesmo a morte seria capaz de tirar de mim esse amor.

Eu me ergui da cama de repente, compreendendo tudo, peguei meu casaco e minha bolsa, e pedi Liv para vestir algo quente sobre o pijama e calçar seus sapatos.

Eu estava pronta agora.

— Mamãe? Aonde estamos indo? - Minha filha me perguntou, assim que a peguei no colo e andava apressada em direção ao carro.

— Visitar o papai, nós precisamos dizer adeus. - seu semblante ficou mais triste - Precisamos dizer a ele o quanto o amamos e vamos sentir falta dele nas nossas vidas, mas que está tudo bem ele partir, que nós vamos ficar bem sem ele.

***

Era noite, mas o quarto de Oliver estava estranhamente iluminado.

Eu puxei a poltrona que havia no canto do quarto e a levei para junto da cama de Oliver onde me sentei com Liv em meu colo. Nós duas contamos sobre o nosso dia juntas, deixei que Liv tagarelasse bastante e contasse cada momento do dia, desde como ela se divertiu fazendo bolo de chocolate e o que ela planejava desenhar na parede da sala até que de repente ela parou de falar, o sorriso deixou o rosto dela e ela me encarou parecendo insegura.

— Então, nós teremos que dizer adeus ao papai? - procurou confirmação em mim.

— Eu sinto muito, mas eu temo que sim, querida.

— Mas por quê? - seu lábio inferior tremeu e uma lágrima pequena cortou o seu rosto - Por que ele vai embora? Ele não vai mais aparecer para mim? E se eu não ver mais ele, e se eu me esquecer de como o papai é? - Sua pergunta aflita me atingiu me fazendo sentir todos os medos dela. Mas eu era a mãe de Liv, eu precisava ser o apoio dela nesse momento.

— Não chore, querida. - eu disse, inutilmente já que aquela altura eu mesma deixava as lágrimas caírem também - Eu não sei se ele não vai mais aparecer para você. - respondi, mas algo no fundo do meu coração dizia que uma vez que deixasse Oliver ir, ele iria para sempre.

— Mas porque eu tenho que deixar ele ir? Eu amo ele e quero ele perto da gente, eu sei que você também quer!

— Eu quero, meu amor, tudo o que eu mais quero é seu papai nas nossas vidas. Papai ama a nós duas tanto! É por isso que ele ainda está aqui, porque ele não quer nos deixar, porque sabe que quando ele se for nós vamos ficar tristes, é por isso que ele se esforça para estar perto da gente, mesmo que tenha que ficar nessa cama, mesmo que ficar aqui sem poder estar com a gente o machuque, assim como nos machuca. - alisei os cabelos dela - Mas pequena, aonde quer que ele vá, ele sempre estará conosco, bem aqui. - coloquei minha mão sobre o coração dela  - Porque o amor dele por nós é tão forte, tão indestrutível que nada poderá tirá-lo de nós. E mesmo que nós não possamos mais visitar seu papai, nós nunca o esqueceremos.

— Mas é triste.

— É sim, amor. - concordei - Mas também é feliz.

— Feliz? - Liv não entendia como esse final poderia ser feliz.

— Porque o amor do seu papai fez coisas incríveis. - expliquei com calma, sentindo-me mais confiante - Me fez sorrir mais vezes do que sou capaz de contar, e o amor dele me deu o melhor presente do mundo: você. - ela fungou e um sorriso tímido apareceu - E amor quando é forte assim dura para sempre, por isso seu papai sempre estará vivo aqui. - dessa vez peguei a mão dela com a minha e colocou ambas sobre o seu coração.

Eu não esperava que Liv entendesse agora, ela era muito pequena para isso. Mas enquanto ela crescia, eu me certificaria de fazê-la entender do quão forte era o amor de Oliver por nós.

— Me ajuda a dar um beijo no papai? - pediu, olhando para a cama alta demais para ela escalar sozinha.

Eu a peguei no meu colo e com cuidado, a coloquei sobre um espaço vazio na cama. Ela se inclinou deixando um beijo longo e estalado na bochecha dele.

— Eu vou sentir saudades, papai.

— Nós nunca vamos esquecer você. - eu completei, me aproximando e acariciando o rosto do único homem que amei em minha vida. Eu sabia que estava na hora de deixá-lo ir, eu já havia o segurado aqui por um tempo longo demais. - Eu vou levar seu amor comigo, aonde quer que eu vá. - repeti as palavras dele, entrelaçando a sua mão na minha, guardando mais uma vez aquela sensação.

— Papai disse eu te amo. - eu olhei exatamente para onde Liv olhava próximo a janela do quarto e meu coração parou uma batida. Eu o vi, meu Oliver sorria para mim, seus olhos tão azuis sequer piscaram quando ele olhou de volta para mim. Ele estava dizendo eu te amo, mesmo sem nada dizer, eu via o amor que ele sentia por mim e Liv transbordando nos olhos dele.

— Eu o escutei. - sorri de volta para a imagem dele - Eu te amo também, eu sempre o amarei. - ele sorriu de volta para mim e então desapareceu, eu me virei para o Oliver de carne e osso que estava ali na cama. Meus dedos trêmulos penteando os cabelos dele para trás, dedilhando o seu rosto, gravando a memória do toque no mais fundo dentro de mim.  - Pode ir, amor. - eu disse, sentindo as palavras machucarem quando saiam de meus lábios. - Nós nos encontraremos novamente um dia.

Eu me inclinei para ele, sentindo as lágrimas descendo por meu rosto. Mas elas já não me incomodavam mais, eu sabia que chorar era necessário, eu sabia que precisava aliviar um pouco da dor ou me afogaria nela.

Mas eu sabia também que eu ficaria bem. Ele me dera amor o suficiente para eu saber que ficaria bem.

— Até um dia, amor. - sussurrei contra seu ouvido. - Eu sei que você tem que ir, eu prometo a você que eu irei viver da maneira que você me ensinou a viver.

Escorreguei os lábios do ouvido até chegarem a sua boca buscando um último beijo. Por mais que doesse em mim, eu estava pronta para dar meu adeus, para sempre. Eu sabia que não seria fácil seguir sem Oliver, eu sabia que jamais recuperaria aquela parte do meu coração que iria partir com ele. Mas eu também sabia, que Oliver havia me dado a única coisa capaz de amenizar a dor, capaz de me fazer sorrir, ele me deu a nossa Liv. E durante todos os dias da minha vida, sempre que eu olhasse nos olhos dela eu veria o que o nosso amor foi capaz de criar.

A vida pode derrubar você as vezes, te levar ao chão com tantas coisas ruins. Mas a vida também é maravilhosa, basta você saber apreciar a beleza de cada momento, viver em toda a intensidade as estações felizes da vida, sentir todo o amor que emana desses momentos, que isso te dará força para se manter de pé quando a vida tentar te derrubar outra vez. Eu aprendi isso com Oliver no pouco tempo que tive com ele.

E eu ensinaria isso a nossa filha.

Afastei meus lábios dos dele que eram quentes e macios, ironicamente quase vivos. Mantive minhas mãos ao redor de seu rosto o acariciando enquanto eu me distanciava dele aos poucos.

— Felicity. - eu o encarei, me questionando se estava começando a alucinar, olhei para minha pequena ao meu lado, sorrindo e parecendo maravilhada. Algo incrível aconteceu a seguir, e não importa quantas vezes eu conte o que aconteceu nesse momento, eu nunca serei capaz de explicar aquele milagre.

Oliver abriu seus olhos.

E tudo o que havia neles era amor.

 


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Notas finais do capítulo

Chegamos ao finalzinho... como eu disse a fic só tem quatro capítulos e decidi colocar o final no terceiro, assim o quarto fica como um epílogo. E então o que acharam? Gostaram?