Kaidan 2068 - Contos em Cyberpunk escrita por Sabonete


Capítulo 7
O Véu e o Cavaleiro (parte 2)


Notas iniciais do capítulo

A sequência do conto e, seu final.

Essa história, ambas as partes, apresenta alguns pontos novos dentro do universo de Kaidan 2068, como a Estação de Tratamento, os Olhos Negros, a Sec-Unity, o gatinho fofinho do homem por de trás da Máquina Assassina.

Bom, acho que ao terminar de ler essa continuação, você deve ter umas novas perspectivas sobre a minha visão de cyberpunk, que junto um mundo "clean" e tecnológico com outro mais sujo, triste onde o futuro e o passado, ainda não se desvencilharam.

Bom, eu espero que aproveitem a leitura!



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[Sala de Controle da Estação de Tratamento, Pouca Luz, Calor, Fumaça, Odor Insuportável]

Senhor, Tenente, consegui recuperar os Logs das filmagens da vigilância!— Disse um jovem agente bem animado com seu êxito.

A sala estava escura porque a energia havia sido cortada pela equipe da Sec-Unity ao invadir o lugar na busca pelo terrorista. Apenas algumas lanternas elétricas carregadas nos trajes dos agentes iluminavam o local. O cheiro de fumaça era difícil de suportar, principalmente porque não parecia ser apenas cheiro de metal, plástico e coisas que se espera achar em uma área de controle, queimado, parecia que havia corpos ali.

Joga pra tela principal, ela não parece danifica. — Disse o Tenente enquanto sacava um lenço, coisa antiga, do bolso e colocava no rosto, tentando suportar o forte cheiro do local.

O jovem agente mexeu em algumas teclas no touchpad do seu POD e logo as imagens das câmeras foram transmitidas para a tela. Havia vinte e nove imagens, sendo reproduzidas em pequenas caixas, lado a lado, ocupando toda a extensão da tela. Todos exibiam a filmagem desde a zero hora daquele dia e, em teoria, mostraria tudo até o momento em que deixaram de funcionar - caso tenham deixado de funcionar.

Alguns homens entravam com sacos pretos, outros com equipamentos de comunicação ou de análise - os mesmo que usaram no veículo de transporte fora da portaria nove. Não havia digital, não havia assinatura genética, não havia nada, era como se o responsável pela pequena guerra fosse uma sombra - ou um androide.

Jorge, me chame quando achar algo relevante, ok? Preciso entrar em contato com a central.— Disse o Tenente tocando sua têmpora - que se iluminou em um tom laranja bem no local tocado.

Whinstton, preciso de você, o que o Diretor da sessão te falou? Isso aqui está muito estranho. — Disse, mas não moveu a boca ou sequer produziu algum som. Aquele comunicador era ligado diretamente com sua interface neural, era uma tecnologia de geração 00, com certeza algo que um agente, mesmo do alto escalão, da Sec-Unity, não teria acesso.

Doo-Ho Choi, você sabe que não deve usar essa linha de comunicação.— Disse a voz, errando propositalmente a pronúncia do nome do Tenente, com sotaque britânico, sem expressar nenhum tipo de sentimento.

O Tenente olhou para os lados, buscando um local mais silencioso.

Essa linha é segura, você sabe que estou usando o contato neural. Não enche meu saco, e responde a minha pergunta.— Firmou com seriedade. Sua face falava por si, por mais que ele não produzisse ruídos, e que observasse de longe com certeza estranharia.

A chamada ficou em silêncio por alguns segundos, até que a o sotaque britânico voltou.

Havia algo ai que o individuo foi envido para resgatar.— Respondeu, mas o Tenente podia ouvir sons de teclas, ele então soube que ele estava acessando arquivos, recebendo as informações.

Então você vai me dizer o que era, ou vai ficar com essa informação atochada no seu cu? Fala logo o que é, isso pode resolver as coisas aqui!— Bradou mentalmente, enquanto socava delicadamente um painel desligado.

Sua gentileza é surpreendente Tenente Doo-Ho. Infelizmente as informações acabam aqui, não tenho acesso a nada além disso e o Direto não me passou mais nada. - Terminou de falar, ainda coma voz impassível, sem nenhum único peso sentimental.

Como assim? Você sabe me dizer se o que era para ser resgatado foi resgatado ou o invasor... Ah, esquece. Você é um inútil. Tenente Choi Doo-Ho, desligando. — O som de bip, invadiu seus ouvidos, enquanto ele olhava possesso para o painel, as veias de seu rosto pulsavam. Como diabos a inteligência da Sec-Unity, a área secreta da agência secreta interna, não sabia daquilo? Era óbvio que sabia, mas não queriam lhe contar. Algo grande estava acontecendo.

Tenente?— Jorge chamou seu superior, que demorou um pouco até notar.

Mostre Jorge, e não erre ouviu? Eu não estou de bom humor para ouvir que não há nada sobre o terrorista.— Dessa vez ele bradou em alto e bom som, com um olhar furioso que foi do rosto do agente até a tê-la, que continha sete vídeos em pausa.

Pelo contrário chefe, quem entrou aqui não tava nem ai se iam filma-lo ou não. E você não vai acreditar no que ele é.— Falou animado, de uma forma que soava até mórbida.

Antes que o Tenente pudesse xinga-lo um dos vídeos se iniciou. A imagem era em 8K, então não havia erros, muito menos falhas no vídeo. O som foi tirado, já que apenas reproduzia o technometal pesado em uma altura estratosférica.

O Heavy Suit massacrava tudo o que aparecia em sua frente. A gravação em especial mostrava o avanço dele por um correr reforçado - um acesso à sala de controle onde estavam. A cada disparado da arma, que o Tenente rapidamente identificou como um fuzil eletromagnético, um ou mais seguranças eram mortos - que explicava o estado grotesco dos corpos e as crateras encontradas por todos os lados.

Como um Heavy Suit desse veio parar aqui e ninguém notou?— Disse o Tenente realmente assustado como que via. Jorge, o agente, parecia achar aquilo tudo incrível.

Calma, dos outros vídeos, cinco mostram basicamente a mesma coisa, como essa roupa de guerra ai saiu andando pra lá e pra cá estourando gente, robô, paredes e mais o que aparecesse na frente dele. Mas em um deles, tem uma identificação.— Disse ele super animado esperando a aprovação do chefe.

Você é idiota? Por que não colocou logo essa filmagem? — Berrou o Tenente bem contrariado.

O vídeo rapidamente mudou.

Ele começava como os outros, era praticamente igual, exceto pela visão do escudo, os dois machados cruzados pintados de vermelho. Ao ver aquilo o oficial apenas pode expressar  "Não.. não pode ser..". Enquanto o agente com um grande sorriso respondeu.

Pode ser sim! É o Red Axe! Olha!— Exclamou avançando a filmagem em alguns minutos.

A cena é perturbadora, o Heavy Suit largava a potente arma ultrassônica, e puxava de suas costas um machado, pintado de vermelho, enorme. A máquina precisava de apenas um golpe para destruir U.S.As que eram enviadas para impedi-lo de avançar, assim como em seguranças que se colocavam em seu caminho.

Acho que aquele buraco perto da sala de segurança foi feito com golpes dele..  - Comentou um segundo agente que estava parado atrás dos dois, observando a filmagem, com um POD em sua mão, que fazia alguma análise.

O Tenente olhou para trás, avaliando de cima a baixo o agente, e se voltou para Jorge.

Encripta esses vídeos, manda pro meu diretório pessoal, e os apague dos registros. — Ele se virou enquanto falava isso. A cara de desaprovação do jovem agente foi totalmente implodida com um olhar profundo do Tenente.

Antes de sair da sala de controle, levou a mão a têmpora novamente, ligando para o mesmo endereço.

Seu filho da puta, o que um "All Star", veio fazer nesse buraco?— Gritou, sem se preocupar no sigilo da mensagem, enquanto dobrava a saída da sala. O jovem agente e o outro se entreolharam, e cada um seguiu suas ordens - aquela conversa nunca mais seria reprisada a não ser que fosse solicitada.

[Sala de Reunião, Arquitetura Clássica Japonesa, Cheiro Agradável, Risos, Iluminação Quente]

A sala era impecável, ornamentada com objetos produzidos com semelhança perfeita dos originais, perdidos há décadas. Aquela cópia de uma sala de reunião dos grandes Daimios do Japão Feudal era um requisito básico, da capital do povo asiático em Kaidan, mais precisamente no CS - 013, também conhecida como AsianTown.

Mulheres e ciborgues vestidas de gueixas atendem a oito homens, que se dividem em quatro de cada lado, separados por uma mesa rebaixada repleta de pratos originários da região "copiada". Na beirada "norte" um figura curiosa atraia a visão. Todas as gueixas, e os homens de terno e gravata, sempre a chamam de "Madame" ou "Megume-Sama".

Estão todos bem acomodados? — Perguntou a bela dama, com uma voz tão masculina que um transeunte não acostumado pararia para reparar. Suas vestes não eram iguais as das Gueixas, apesar de haver alguma semelhança, uma estranha semelhança.

Os homens moveram a cabeça positivamente, com largos sorrisos no roto.

Pois bem, primeiro vou me apresentar. — Ela se levantou com cuidado, sutileza, permeada por todo um ritual.

Me chamo Megumi Midorikawa. — Ela olhou para cada um dos lados e então voltou a falar. - Aqui, meus servos me chamam de "Madame" ou "Megumi-Sama".— Repetiu o olhar para cada um dos lados da mesa, esperando a aprovação de ambas as partes. - Mas eu sou conhecida por todos como a Princesa Gueixa, a responsável pela manutenção dos negócios das tríades unificadas do Oriente, aqui, no Ocidente. — A bela mulher com voz masculina sorri, para em seguida fazer uma longa reverência e sentando-se em meio a outro ritual curto, porém elabora.

É um prazer estar na sua presença, Mademe Megumi. — Os oito homens responderam em coro, perfeitamente alinhados, curvando a cabeça levemente.

Um silêncio sobrenatural tomou toda a sala, até uma melodia quase inexistente surgir e ir se intensificando pouco a pouco. Todos na mesa, os oito homens e a própria Mademe Megumi, pareciam aguardar aquilo.

O som era.. doce. Uma melodia saborosa de se ouvir, que aguçava as sensações. Assim que atingiu a altura ideal, um painel é virado, revelando uma bela mulher - uma gueixa, tocando um instrumento curioso, que nenhum dos homens jamais havia visto. Era uma mistura de ábaco com um instrumento de sopro. Em consenso, todos aqueles homens pensavam em como aquele som era belo.

Madame.— Se pronunciou firmemente, um dos homens, com um forte sotaque chinês.

Me chamo Yi Long, chefio as operações no Setor Sul costeiro. Por favor, me ajude, tenho problemas com as corporações tomando meu comércio mesmo com os pagamentos em dia. — Lamuriou-se sem perder nada de sua firmeza. Era um homem digno, criado nos antigos costumes, que apesar de ter mudado seu rosto, ainda seguia as velhas tradições.

Senhor Long, as corporações veem crescendo em rendimento a cada ano.— A voz masculina destoando completamente da aparência delicada e bela torna a conversa mais instigante para os ouvintes.

Nos últimos três em especial, eles desenvolveram formas de suprir em 43% suas necessidades dos nossos produtos.— Ela olhou para ambos os lados, buscando que todos concordassem, pois ela falava apenas a verdade.

Eu imagino que esse seja um problema recorrente com todos vocês, os oito representantes dos oitos setores de Kaidan, a Tríade Ocidental.— Suas palavras gentis traziam verdades, todos ali sabiam que a situação estava difícil, e ouvindo- da própria Megumi, de forma tão simples, os fez perceber que estavam perdendo para as grandes corporações, um jogo que anos antes era impensada a chance de serem derrotados.

Todos os Presidentes, como eram chamados dentro e fora da hierarquia da Tríade, responderam em uníssono "sim".

Bem.. — Disse ela de forma quase jocosa, abrindo um sorriso no rosto que não demonstrava grandes alterações até o momento.

Já tomei algumas providências sobre isso. — Sua voz confiante, quase rouca, trouxe a todos os oito homens uma expressão de surpresa.

Não poderíamos esperar menos da Madame Megumi!— Exclamou o único que ainda exibia feições orientais. Seu sotaque falava um pouco por si, um japonês refinado, alguém que nasceu e cresceu dentro de uma família tradicional.

As palmas surgiram após aquela expressão de esperança, mostrando que ela era compartilhada por todos ali - o que queria dizer de milhares de outros indivíduos envolvidos também era aquecido pela chamada da possibilidade da balança voltar a favorecê-los.

Meus doces presidentes, fiquem tranquilos.— Ela novamente parou e observou cada lado da mesa, com o sorriso confiante.

Eu, a Princesa Gueixa, já deixei algum de vocês na mão?— A pergunta era retórica, nunca, nenhuma das Princesas Gueixas tinham falhado em um pedido feito por seus subalternos - por mais que algumas vezes esses homens não a vissem como sua superior.

Pelo bem, ou pelo mal, garanto a vocês, que nossos negócios voltarão a ser como eram. — A pausa veio junto de um momento especialmente expressivo da música, imponente, poderoso, um jubilo ao momento de virada.

Nós somos a corporação mais antiga do mundo. Ninguém ira nos desonrar.— Com firmeza, a bela mulher impeliu nos presidentes a certeza de que o futuro revelaria os melhores dos dias para os negócios da Tríade, não apenas Ocidental, mas as duas, uma mistura do moderno e do tradicional, uma nova era, os anos dourados que por décadas era prometido a todos do alto escalão.


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Notas finais do capítulo

Bom, é isso, o final do conto "O Véu e o Cavaleiro". Espero de coração, que caso você tenha terminado de ler, tenha se divertido e aproveitado.

Preciso dizer que nessa segunda parte pude colocar alguns pontos da minha visão do universo, assim como personagens que tinha em minha mente, fazendo-os ganhar vida. Foi muito legal!

Madame Megumi, infelizmente não é a imagem e semelhança ao que eu enxergo, mas demandaria tempo demais para descrever, mesmo assim a Princesa Gueixa é um personagem que adoro, assim como o Tenente rabugento, ou mesmo o Jorge, o assistente inocente, que criei na hora e precisei nomear dessa forma (por algum motivo esquisito, adoro esse nome).

Essa história pode não parecer, mas tem ligações diversas, só não quis deixa-las claras - você, leitor, tem que se virar, ou acompanhar conto a conto, até que as pontas soltas vão se ligando.

Bem, torço por você ter gostado e, para que se tenha alguma dúvida, comente, fale, mande um sinal de fumaça. Vou me amarrar em responder!

PS: o Nayh me sacaneou, coloquei esse texto com horário agendando para ser postado mas não foi :c



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