O Segundo Antes do Sol Voltar escrita por Eponine


Capítulo 7
Capítulo 07




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— Sim, McKinnon, você tem algo a dizer? — perguntou James, colocando os óculos.

Remus sorriu ao ver os amigos na Sala Comunal, mas parecia estar tendo uma tensão entre os candidatos para o time da Grifinória naquela tarde de Sábado. Sirius ainda estava de uniforme, assim como os outros, e o Lupin segurou o sorriso ao ver a forma como ele conseguira deixar uma garota vermelha e ofegante, sem notar, só jogando-se no poltrona, exausto. Marlene, entretanto, além de vermelha estava ensopada de suor com suas madeixas louras bem presas em um rabo de cavalo. Ela segurou sua vassoura fortemente, virando-se para James, que apenas cruzou os braços, também suado.

— Sim, várias. A primeira: Como se atreve? — questionou de olhos semicerrados. Lily abaixou seu jornal lentamente, deixando apenas os olhos à mostra, parecendo pronta para assistir uma discussão das boas. Na verdade, todos do 3º ano gostavam quando James e Marlene discutiam, até mesmo Remus. Primeiro porque era indiscutivelmente engraçado, segundo porque James parecia ter medo de Marlene bater nele, e terceiro e último, era sempre um bom entretenimento uma disputa de “zoações”. — Eu sou mil vezes melhor que qualquer batedor que passou pelo time nos últimos três anos e você tem coragem de dizer que batedor talvez não seja uma boa posição para mulheres?

Nah, eu não quis dizer isso! — defendeu-se ele, também segurando a vassoura. — Eu disse que talvez, devêssemos ponderar Poodwook...

Poodwook não sabe escrever pomo de ouro! — retrucou Marlene, mais irritada ainda. — Se é assim, já foi cientificamente comprovado que mulheres são melhores apanhadoras por questão de flexibilidade!

Que mentira! — esganiçou James. — Se fosse assim Holyhead Harpies não ia ficar na segunda divisão todo ano...

Retire o que disse! — ela apontou o dedo na cara de James, aproximando-se. — Nós estamos passando por uma temporada ruim pela Marsha Clearwater e sua gravidez...

— Viu? Homens não ficam grávidos!

— James, pelo amor de Merlin, cala a boca... — murmurou Sirius, cobrindo o rosto.

— O que você quer dizer com isso? — intrometeu-se Lily, fechando o jornal bruscamente.

— Ele quer dizer que nosso corpo é incapaz de jogar Quadribol! — traduziu Marlene cruzando os braços após jogar sua vassoura no chão. — Potter, eu nunca quis tanto quebrar seu nariz.

— Você distorceu o que eu disse. — replicou James, tranquilo, mesmo com Marlene assustadoramente próxima. — Quer saber? Boa sorte, você joga muito bem, tenho certeza que vai ser selecionada.

Ela sorriu lentamente para James.

— Eu sei. Pena que não posso dizer o mesmo sobre você. — O Potter arregalou os olhos com a ofensa, mas McKinnon já havia lhe dado as costas, abrindo a mão para a vassoura que voou para sua mão e agilmente ela colocou no ombro. Sirius olhou-a subir as escadas rumo dormitório e pareceu curioso.

— Eu não acredito que ela disse isso. — exclamou o garoto, atônito. Remus sorriu, encostando o rosto no sofá, ainda recuperando-se da Lua Cheia. Ele não sabia muito de Quadribol e nem tinha interesse, apenas assistia horas e horas de James, Sirius e Peter conversarem incansavelmente de timer de primeira, segunda e terceira divisão, qual manobra divina Richard Plumpton fizera naquela semana pelos Tutshill Tornados ou o quão apaixonado Peter era pela artilheira de seu time, Catherine McCormack, dos Pride of Portree.

Remus teve que suportar Sirius e James gemendo por três anos – de ódio – pelos sucessivos fracassos da Grifinória durante os jogos. James ficava tão enlouquecido que ele não poupava saliva em xingar o Capitão do Time, mesmo o garoto sendo seis anos mais velho que ele. No terceiro ano o time tomou nova direção: Thomas Bailey, o artilheiro. Esse o Potter fora cuidadoso em não ofender, pelo contrário, ele estava pisando em ovos e seria esse a testá-lo quando abrissem as vagas no time.

Mesmo que não houvessem vagas para apanhador, James queria porque queria tomar o lugar de Ethan Campbell. Remus desacreditava quando via James torcendo para ele se machucar durante os jogos:

— Não muito, só uma perna já esta bom! — justificava o garoto.

Se ele fosse selecionado, por enquanto, seria apenas como reserva.

James notara Lílian sentada na mesa e sentou-se no sofá, de modo que tinha como olhá-la. Ele mexeu no cabelo e limpou a garganta, apoiando-se nas costas do sofá:

— E então, como está indo sua parte no trabalho?

Remus gemeu, lembrando-se d’O trabalho.

Há algumas semanas a professora Babbling, de Runas Antigas, propôs um trabalho de tradução de um artigo, em grupo. O problema não era o trabalho, e sim ela achar razoável montar os grupos. Ela justificou que era para evitar grupos separados por Casas, então Remus teve a infelicidade de cair em um grupo com James e Lílian. Juntos. Quando ele pensou que poderia ficar pior, ela leu o nome de Charlie Smith no papelzinho, e por último, de Dorcas.

O grupo era tão absurdo que Remus sentiu até mesmo uma palpitação no peito, assim como Lílian, que olhava a professora horrorizada.

James estava ocupado demais fuçando o artigo que teriam que traduzir.

A primeira reunião do grupo fora em uma sala desocupada no terceiro antes, ao redor da mesa do professor. James descarregou sua mochila com dicionários e livros caros que seu pai lhe enviara para a matéria enquanto Lily assistia, de olhos semicerrados, ela tinha aquele costuma de fazer aquilo sempre que James estava por perto, como se fosse uma criança arteira que ela estava tomando conta. Dorcas só olhava para baixo, quieta, e Charlie suspirava, já conhecendo o gênio difícil de James.

— Ok, vamos separar em tópicos. Pelo que eu analisei o artigo ele tem seis páginas, eu posso ficar com duas e vocês com o resto. Remus, você pode...

— Por que você está decidindo tudo sozinho? — interrompeu Lílian. James a olhou, surpreso. Sorriu lentamente, dando de ombros.

— Eu sempre faço isso, eu sou bom em organi-

Isso é um grupo, tudo tem que ser decidido em grupo. Já ouviu falar em divisão? — ela arrancou o artigo da mão de James. — É mais fácil separar por dificuldade, quem se sente mais confortável em tal parte...

— Vai virar uma bagunça! — cortou James. — Todo grupo precisa de um líder, pra organizar e juntar tudo. — detalhou, didático, como se Lílian tivesse algum déficit de atenção.

Remus olhou para a porta fechada quase chorando de agonia. Nunca desejou tanto ter escolhido Estudo dos Trouxas. Dorcas, ao seu lado, continuou apertando as mãos, parecendo ter vontade de falar algo, olhando para Lílian e James discutindo como se o grupo não existisse.

— Dorcas, você quer dizer algo? — Remus elevou a voz, cortando a dupla exaltada.

Ela mirou seus olhos claros em Remus rapidamente antes de abaixá-los para a mesa, fora tempo o suficiente para roubar o ar do Lupin, o deixando extremamente envergonhado. Remus engoliu seco, sentindo suas bochechas queimarem. Meadowes mexeu-se um pouco para trás e para frente, tentando manter-se de cabeça erguida.

— Devemos separar o artigo, estabelecer datas para juntar tudo, ler e achar os erros, acertá-los, melhorá-los, revisá-los e entregar. — disse ela, com a voz um pouco mais alta que necessário. Remus havia esquecido como era sua voz. Era doce, mas trêmula... Como se ela estivesse nervosa o tempo inteiro. Charlie ergueu as sobrancelhas, finalmente desinteressando-se por sua revista de vassouras, assentindo.

— Parece um bom plano.

— Parece um péssimo plano. Se ninguém ficar batendo em cima das datas, ninguém faz nada! Eu repito que um-

— Dorcas, você pode ser nossa líder. — cortou Lílian, sorrindo. James virou o rosto lentamente para a Evans, visivelmente contendo um mar de fúria, entretanto ela o ignorou. — Você pode tomar conta das datas com os atrasões?

A Corvinal sorriu lentamente para Lily, a olhando nos olhos por um bom tempo antes de desviar rapidamente. James ficou de cara fechada o resto da reunião e mais ofendido ainda quando Lily tomou para si duas folhas do artigo, sendo que aquela era a vontade de James. Conversaram sobre o estabelecimento da data da primeira tradução, quando eles se reuniriam para a leitura das traduções e correções, preparando tudo para a entrega.

O pânico que fora estar em local fechado com Lílian e James fora traumatizante o suficiente para Remus sentir tontura toda vez que ambos se comunicavam.

— Minha parte está ótima, Potter, obrigada. — cortou Lílian, esticando seu jornal, incomodada com James.

— Não precisa me chamar de Potter. — sorriu ele. — Pode me chamar de James... Digo, nem tem para que, somos do mesmo grupo e tal... Da mesma Casa.

Sirius uniu as sobrancelhas enquanto assistia a cena, achando graça. Lílian o olhou rapidamente e forçou um sorriso.

— Não, obrigada.

O sorriso de James morreu e ele ajeitou-se no sofá, suspirando.

— Que dia intenso!

São onze horas da manhã. — disse Remus, sempre impressionado em como James não tinha a menor noção de tempo e espaço. Peter apareceu de repente pelo buraco do quadro, carregando um livro pesado, visivelmente exausto de tanto correr.

— James... James, eu achei! — ofegou ele, largando o livro no chão, quase tendo um infarto tamanha exaustão.

— Achou o que? — perguntou o Potter, não se comovendo com o amigo quase morto diante dele. Peter buscou ar, tocando o colarinho de sua camiseta do Rei Arthur.

— O que você pediu! — Peter arregalou os olhos. — Aquilo...

Oh, aquilo! — sussurrou James, animando-se. Levantou em um pulo. — Vou tomar um banho. Me esperem todos no segundo andar!

 

...

 

— Eu achei a solução dos nossos problemas. — Remus continuou olhando de forma incomoda para Murta-Que-Geme, aparentemente berrando, irritada, por não conseguir ultrapassar a bolha de proteção que James fazia sempre que eles utilizavam aquele banheiro abandonado onde ela habitava. Eles não tinham um local definido para se reunir e aquilo matava James de ódio toda vez que ele precisava de uma reunião e Elliott estava ocupando o dormitório dormindo ou lendo.

Remus pensava em talvez leva-los até a Casa dos Gritos, mas estava confortável com a mentira de que Madame Pomfrey o acompanhava até lá e continuaria fazendo aquilo até o sétimo ano, omitindo a parte de que na verdade desde o começo daquele ano letivo, ele tinha aprendido o feitiço que mobilizava a árvore e já estava começando a ir sozinho.

O garoto de óculos sorriu abrindo a página onde Peter deixara marcado, colocando de cabeça para baixo para ele, de forma que Peter, Remus e Sirius conseguiriam ler:

Animagia.

— O que é isso? — questionou Sirius, nem se dando o trabalho de ler, algo que Remus já estava adiantando.

— Lembram da última detenção que fizemos por ter entrado na Seção Reservada? Bem, na semana seguinte eu consegui convencer a professora McGonagall que eu estava muito interessado em animagia porque um dos melhores jogadores do Puddlemore United é e ela acabou caindo no meu papo e me dando uma autorização para pegar este livro! — ele sorriu, animado. — Na verdade, muitas semanas antes da detenção eu já tinha perguntado a ela sobre isso...

— Como você fez isso tudo sem nós sabermos? — indagou Remus, desacreditado.

Eu não estava escondendo, eu contei tudo a Sirius, mas ele não presta atenção em nada que não seja do interesse dele. Peter sempre sai correndo para o almoço e calhou de você estar de licença nesses dias que eu me dediquei a pesquisa... Enfim! — James bateu as palmas das mãos rapidamente, animado. — Eu desisti ano passado de procurar algo sobre licantropia e comecei a procurar algo que nós pudéssemos fazer que te ajudasse, bem... Animagia é a salvadora da pátria. Segundo o que está escrito aqui, “bruxo ou bruxa capaz de assumir a forma de um animal. Assim como acontece com o Patrono, o bruxo não escolhe a forma: só vai descobrir em que animal se transforma quando conseguir dominar o feitiço, o que pode levar muitos anos. Cada bruxo pode assumir apenas uma forma animal, e pode se transformar sem varinha e sem necessidade de dizer algum encantamento”

Remus continuou em silêncio enquanto Sirius se empolgava, completamente enlouquecido com a possibilidade de se transformar em um animal. Abaixou seus olhos para o livro, lendo com toda sua atenção, ignorando a discussão dos três em que animais eles se transformariam. O que James ocultara, é que aquele feitiço podia dar errado, além de precisar de anos de prática e registro no Ministério. Fechou o livro e levantou-se, limpando sua calça, calando os três.

— Não posso deixar que façam isso. — disse, firme.

Quê? — riu James, unindo as sobrancelhas. — Você não entendeu? Eu posso explic-

— Eu entendi muito bem que isso além de ser fora da lei e extremamente complexo, já que ou a pessoa nasce com o dom ou adquire através de DÉCADAS de estudo, pode causar mil problemas físicos caso o feitiço seja mal executado... — Remus cruzou os braços e James levantou-se, parecendo segurar o riso.

— Moony, você esqueceu que somos os melhores alunos do terceiro ano? Caramba, já fizemos vários feitiços e poções avançadas, isso é o de menos...

— Você realmente acha que você, um garoto de treze anos, vai conseguir fa-

Tudo é possível. — replicou James, sério. — Confie em mim. Vai dar tudo certo.

— Sabe o que vai dar certo? — irritou-se Remus. Ele detestava quando o pretenciosismo de James atingia seu pico e ele perdia completamente a noção da realidade. Remus não se surpreenderia se ele achasse que conseguia performar qualquer coisa melhor que Dumbledore — Você fazer esse feitiço errado e criar chifres! Ou melhor, você entender que não tem solução para o meu problema. Todo mundo já entendeu, menos você. Por tudo que tem de sagrado, esquece isso!

— Eu não vou esquecer, não é assim que as coisas funci-

James, você é burro? — Remus não conseguiu segurar as pontas, quando viu, já estava gritando alto o suficiente para Peter e Sirius levantarem-se, como se ele também fosse bater em James além de gritar. — O que você acha que vai ser? Três animais pulando ao luar com um monstro? Com um bicho? Você sabe o que é um lobisomem? Você sabe que eu sou capaz de te ver durante a Lua Cheia e sequer pensar enquanto enfio minha mão no seu peito e arranco seu coração ainda batendo?

O garoto continuou estático, em silêncio.

— Para de pensar que você pode tudo, você não pode tudo, eu sei que é difícil pra você entender, eu sei que você nunca teve um não na sua vida, mas agora eu vou te dar um! — Remus ofegou, afastando-se.  Saiu do banheiro, ainda irritado, descendo as escadas para o Pátio Pavimentado, não conseguindo entender como James conseguia ser tão... Ele sentou-se em um dos bancos e ficou em silêncio, ainda tremendo de raiva.

Novamente lhe vinha a realidade de que seus amigos não tinham a menor noção de nada na vida. A experiência mais próxima de dor que James deve ter passado na vida foi de ter perdido algum jogo? Algum brinquedo? O que Sirius sabia sobre pobreza? Ele podia comprar todas as sete casas em que Remus morou caso quisesse. E Peter, vive reclamando de seu peso, de seus problemas com cáries, mas nunca saberia o que era ter que explicar o tempo inteiro porque seu rosto era todo arranhado. De onde saiam tantas cicatrizes, por que ele era tão fraco, por que ele tinha tantos problemas...

Passou as mãos no cabelo, sentindo alguns fios caírem: o estresse de Remus era tão grande e tão latente que ele tinha certeza que ia acabar careca antes dos dezessete.

Encostou sua cabeça no muro atrás dele e assistiu alguns veteranos conversarem, não se vendo sequer chegar ao sétimo ano. Constantemente Remus tem a certeza, a sensação terrível de que algo vai acontecer e aquela oportunidade vai se esvair em suas mãos como açúcar na água. Dumbledore não pensara nos detalhes, tudo aquilo conspira para dar errado e ele simplesmente não aguentava mais.

Fechou os olhos por alguns momentos, abrindo ao sentir alguém se aproximar.

Emmeline sentou-se ao seu lado, o olhando, e Remus ajeitou-se no banco, forçando um sorriso. Ela suspirou e sorriu, o olhando, colocando uma mecha castanha atrás da orelha. Remus sentia-se animado e curioso sempre que via Emmeline, queria saber que coisa boba ela fizera naquela semana, sempre com olhar inocente e explorador de uma nascida trouxa. Dumbledore fora generoso diversas vezes a poupando de detenções por conta de sua curiosidade. E às vezes pelo acaso, tipo a vez que ela quase explodiu a sala de Poções porque queria saber o que um frasco de conteúdo verde escuro.

— Eu vou ser reprovada em TCM! — riu ela, preocupada, visivelmente nervosa. — Eu morro de medo de chegar perto daqueles bichos e... Eu vou ser mandada de volta pra casa!

— Não, não vai... — disse Remus, cansado. — Você não vai ser reprovada e nem mandada pra casa. No máximo terá que refazer a prova final.

Ela maneou a cabeça negativamente apertando sua bolsa ao olhar para baixo.

— Você diz isso porque é inteligente.

— Você é da Corvinal! — riu ele, alarmado. — Emmeline!

— O que? — riu ela. — Eu estou desesperada!

— Você... — Remus olhou para Sirius, que acabara de aparecer no Pátio. Assim que sua fisionomia mudou para séria, Emmeline virou-se para ver quem era, notando que ambos estavam se estranhando. Levantou-se e passou a mão no ombro do amigo.

— Vou procurar Lene. — despediu-se, sumindo pelo corredor movimentado. O Black colocou as mãos nas calças, observando o local, sem se sentar a lado de Remus. O garoto sentiu mais raiva ainda ao notar o quão esperto James era em mandar Sirius para apaziguar as coisas, sabendo o quanto Remus gostava do mesmo e normalmente acabava cedendo à ele.

Sirius coçou a cabeça e sentou-se, olhando Remus:

Moony, não fique com raiva de nós. — pediu ele, já amolecendo o próprio Remus, que realmente se esforçou para manter-se sério, observando os veteranos. — Principalmente de James, vamos, coitadinho, digo... Ele só quer te ajudar. Nós queremos te ajudar. Ele não quis ser insensível, eu sei que nós não sabemos pelo que você passa, mas... Cara, é isso que amigos fazem.

Lupin se negou a olhar Sirius, mas absorveu suas palavras.

Ele ficou alguns dias afastado dos meninos e James soube respeitar seu espaço, não insistindo em contato. Durante o café ele morria de vontade de se sentar com eles, mas preferia ficar ali, na ponta, ouvindo Marlene falar sem parar de Quadribol ou xingar alguém que tenha comido toda a salada de frutas. Trocou pouquíssimas palavras com James na reunião do trabalho de Runas Antigas, mas tudo indicava que o ano se fecharia com os dois brigados. Estar afastado dos meninos trouxe um pouco de paz para Remus – que deixara milagrosamente de ser um alvo de desconfiança de Filch e outros monitores – e lhe dera tempo para ler alguns livros que ele deixara pendente, aproveitar o Sol, até mesmo a desconfiança que tinha uma doença cardíaca caiu por terra quando notou que era apenas o estresse e os sustos que ele era obrigado a levar na calada a noite quando eles exploravam o Castelo.

—Nós vamos pular um grande período histórico pra falar de Rei Arthur? — Marlene sequer levantou a mão para interromper a aula. — Nós vamos pular a perseguição às bruxas e o fator misógino correlacionado a essa época? E as diversas mulheres trouxas que foram confundidas?

— Nós vamos passar por esse período histórico brevemente, senhorita McKinnon, e creio que a história de Arthur não seja dispensável como a senhorita pensa.

— Arthur era um misógino arrogante e prepotente, que precisava constantemente ser salvo quase ferrando a existência de Merlin e todos os bruxos do mundo. Ah, claro isso porque ele também enlouqueceu a própria irmã.

— Você deve se identificar bastante com Morgana, não? Amarga, convencida, sem amigos...

Os alunos riram do deboche de James e Remus suspirou, sabendo que iam perder mais alguns minutos de aula assistindo o show de sempre. Professor Binns apenas arrumou os óculos, flutuando lentamente à frente da sala, concentrada na discussão.

— Eu acho que damos atenção demais para personagens masculinos imbecis da história... — ela enfatizou seu olhar e “imbecis” ao olhar James, depois virando-se bruscamente para a frente. —... e esquecemos as mulheres fortes. Por que não falamos de Joan D’Arc, Marie Laveu ou a própria Morgana Le Fay?

— Porque ela é doida de pedra e praticamente criou as Artes das Trevas, professor Binns, será que tem como darem uma Poção Calmante para McKinnon antes dela vir à aula? — debochou James, cruzando os braços após soltar sua pena.

— Senhorita McKinnon e senhor Potter, por favor, retirem-se. — disse o professor, voltando à sua poltrona, por mais que fosse um fantasma.

— Professor! — exclamou Marlene, em protesto.

Retirem-se.

James rolou os olhos e começou a juntar suas coisas, dando uma breve cutucada em Sirius, colocando a mochila nas costas. Remus conseguiu ouvir os dois brigarem pelo corredor até virarem o corredor. Mais um bilhetinho amoroso pousou na mesa de Sirius, que babava na mesa em sono profunda, e Remus apenas suspirou, voltando à suas anotações. No fim da aula, ele não se apressou ao guardar seu material e sair da sala, pronto para deixar sua mochila na Sala Comunal e descer para o almoço. Cumprimentou alguns conhecidos pelo caminho, ignorou alguns colegas de Snape e o próprio caçoarem dele e subiu as escadarias, um pouco cansado da rotina.

Assim que passara pelo quadro, o vento pareceu quase leva-lo para trás tamanho caos estabelecido no local.

Marlene McKinnon estava pulando no sofá, berrando de alegria, outros do 3º ano também comemoravam e os jogadores do time da Grifinória conversavam com alguns alunos, parecendo orientá-los. Já o Capitão Bailey conversava com Sirius, parecendo se desculpar diversas vezes, até que ambos assentiram e se afastaram.

Remus concluiu que Sirius tinha sido negado no time, mas ainda assim quis perguntar:

— O que aconteceu? — indagou assim que o amigo se afastou um pouco do Capitão, de braços cruzados, ignorado os gritos de Marlene. — Você não entrou?

— Eu? Sim, eu entrei. Faço dupla com McKinnon, começamos ano que vem. — ele sorriu brevemente. — O problema é James, ele ficou de reserva. Bailey está convencido que o Campbell é melhor então vai mantê-lo...

Os dois olharam, nem precisava ser dito: James estava morrendo. Ele seguiu Sirius até o dormitório, onde Peter consolava um garoto fitando o nada, de braços cruzados, sentado na cama, impassível. Ele notara Remus se aproximando e pareceu vacilar, tentando manter a compostura, limpando a garganta.

— Fiquei sabendo do time... — Remus sentou-se na beirada da cama de Sirius e o mesmo o copiou. — Sinto muito.

— Não foi nada, só falta um ano para Campbell sair. — retrucou, mesmo com a voz trêmula.

O silêncio no dormitório só serviu para dar mais constrangimento à James. Sirius e Remus se entreolharam e o Lupin deu um olhada em Peter antes de sorrir rapidamente para James, pegando a varinha em seu bolso.

— Bem... Ele pode se confundir bastante durante os treinos. — sugeriu Remus, enquanto James subia os olhos lentamente para ele enquanto o sorriso surgia em seu rosto.


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