O Segundo Antes do Sol Voltar escrita por Eponine


Capítulo 8
Capítulo 08




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No fim do 3º ano, os garotos conheceram Jemima Thompson.

Na verdade, James conheceu Jemima. Segundo o que Sirius lhe contou nas cartas, ambos se atraíram por compartilharem ódio por Marlene McKinnon. Na última semana de aula, Remus estava ausente por conta da Lua Cheia e acabou perdendo sua amiga ser azarada por Jemima, que lançou um feitiço travalíngua na garota bem na hora que ela estava conversando com Elliott Stevens, quem, aparentemente sem motivo, Sirius tomou um ódio irracional, decidindo azará-lo toda vez que o via. James interessou-se por Jemima instantaneamente, e a mesma é amiga de Mary, que contou a Jemima algo sobre Peter, entretanto, Peter tem vergonha de falar com Mary, e usa James como artificio. Mas Mary também tem vergonha de Peter, então ela utiliza Jemima. E foi através dela que Sirius descobriu que Marlene estava saindo com Elliott.

Pelo que Remus conseguiu entender naquela cama de gato, James e Jemima estavam ficando, Peter e Mary se gostavam, Sirius odeia Elliott porque ele está saindo com Marlene.

Tudo em uma semana de aula.

— Sinceramente eu não sei porque Elliott está com McKinnon, digo, ele deve estar extremamente desesperado, mas quem sou eu para julgar. — James deu de ombros, com as mãos no bolso do casaco.

— Por que Jemima não gosta de Marlene? — perguntou Remus, tentando entender o sentido de tudo aquilo. Eles estavam no 10 Downing St, às seis horas de um sábado, aguardando Sirius para que eles pudessem ir na festa de Marlene, em Brixton. — Na verdade, eu ainda não acho uma boa ideia você ir à festa dela... Ela meio que especificou no meu convite para não te levar.

Remus lembrou-se da carta em letras garrafais “NÃO TRAGA JAMES POTTER, N-Ã-O TRAGA JAMES POTTER”. O garoto gargalhou, dando de ombros. Estavam no fim das férias de verão, faltavam poucas semanas para Setembro, e mesmo poucos meses separado de James, ele conseguira crescer absurdamente. Conforme ele crescia, sua voz engrossava e ele tomava características novas, mais maturas, ele passaria facilmente por alguém de dezesseis anos. Já Peter, ansioso ao lado dele, parecia crescer lentamente e as espinhas abusavam dele. Remus não notava o quanto crescia, mas ele sabia que estava alto por não precisar olhar para cima ao olhar para James.

Como ela se atreve? Somos do mesmo time e da mesma Casa, ela não pode simplesmente me barrar. — ele arrumou os óculos. — E sobre Jemima, bem... Pelo que eu entendi, McKinnon debochava de Jemima a chamando de burra, só porque ela não é boa em DCAT. O que é completamente esdruxulo...

Lupin semicerrou os olhos, ouvindo James hostilizar as atitudes de Marlene sendo que ele fazia exatamente o mesmo. Ele olhou Peter e o mesmo também tinha a mesma expressão. Sirius pareceu chateado enquanto caminhava em direção dos amigos e Remus demorou um pouco à associar a última imagem que tinha de Sirius ao adolescente que ia em sua direção com madeixas relativamente mais longas e firmes. Era incrível que Sirius parecia escapar de toda a dolorosa transformação da idade: nada de espinhas, nada de voz estranha ou transformações radicais do rosto durante o ritual de passagem da infância para a adolescência. Ele estava com uma jaqueta de couro e com a mesma expressão entediada e séria de sempre.

— Vamos logo. — disse ele, sequer cumprimentando os amigos.

— Ok, comprou seu ticket? — sorriu James, mostrando sua passagem.

Os quatro pegaram um ônibus rumo Brixton e ficaram tão impressionados com a rotina trouxa que mal falaram durante a meia hora de viagem. Principalmente James e Sirius, tudo os chocava, tudo era engraçado ou curioso, para Remus, aquilo era comum e rotineiro já que sua mãe era trouxa e ele sempre tinha que andar de ônibus, pegar metrô e essas coisas. Assim que desceram, se perderam três vezes antes de conseguir chegar até a Winterwell Rd, a rua de Marlene.

— Tudo é igual! — resmungou James, confuso com as casas. A casa número 118 parecia cheia tamanha gritaria misturada à música. Era semelhante igual à todas as outras casinhas da rua, algo comum nas áreas mais pobres de Londres, todas germinadas e aparentemente idênticas. A diferença da casa de Marlene para as duas ao lado era que seu portão parecia quebrado e a pouca vegetação na frente casa estava morta. Os quatro foram rumo a porta marrom, com Remus batendo algumas vezes, sabendo que não seria ouvido.

 

The Runaways – I Wanna Be Where The Boys Are

 

Sirius apenas o empurrou para fora do caminho e simplesmente abriu a porta, parando ao ver o quão cheia a casa estava. O corredor estava lotado, a escada, o segundo andar, a cozinha no fim do corredor e o local que dava na sala. Eles se enfiaram por aquele corredor de pessoas se falando desviando de cigarros e copos, barofadas de fumaça e alguns feitiços malucos sendo realizados à iluminação amarelada que estava na casa. Remus sentiu um arrependimento latente, passando a mão no cabelo novamente, querendo se teletransportar para casa naquele exato momento. Detestava multidões.

Quem te convidou? — Lílian apareceu do nada, segurando uma garrafa de cerveja amanteigada, parecendo assustada em ver James. Remus deixou seus olhos caírem no pequeno decote de seu vestido e o garoto rapidamente desviou o olhar, se reprimindo, fingindo interesse no teto.

— Também é bom te ver, Evans. — sorriu ele. — Onde posso pegar uma cerveja?

— Crianças, como vão? — Amos apareceu de repente, agarrando a cintura de Lily, o que faz a mesma rir e relaxar. James o olhou com tanto nojo que a única razão coerente dele não ter notado foi estar relativamente alterado.

— Será que dá pra você parar de nos chamar de criança? Você é no máximo 10 meses mais velho que nós, se poupe. — cortou Sirius, olhando o local com tédio, sumindo em seguida.

James rolou os olhos e foi em direção da cozinha, onde tinham as bebidas. Remus notou que Lily não ia parar de beijar Amos tão cedo e andou pela casa, procurando Peter, que simplesmente sumira. Reconheceu grande parte dos convidados, grande maioria era o pessoal do 4º ano de todas as Casas, apesar da Sonserina estar e menor quantidade. Ali também estavam alguns Capitães dos times, conversando animadamente entre si. A festa parecia estar rolando há um bom tempo já que havia algumas pessoas bêbadas. Sirius apareceu e o puxou pelo colarinho rumo a cozinha, onde James participava de uma competição de shots.

— Aquecimento! — James lhe deu um copo com um conteúdo estranho e com um forte cheiro de álcool que sua mãe usava na cozinha. Ele suspirou, vendo que teria que anestesiar seus pensamentos excessivos para aguentar aquela experiência.

Fechou os olhos e tomou.

 

...

 

— Eu não vou mentir. Eu não preciso mentir, você entende? — Remus assentiu loucamente para James, não ouvindo absolutamente nada já que estavam do lado da caixa de som. — Eu confesso que talvez... Talvez! — ele ergueu os dois dedos indicadores, segurando seu copo de Whiskey com a mão direita. — Goste de Lílian Evans.

— Aham! — afirmou Remus, mesmo que não fosse uma pergunta. Ele sequer conseguia ver o rosto de James de tão escuro que estava a casa, mesmo com globo de luz dando uma leve iluminação ao local.

— Ela me deixa maluco porque... Eu nunca fiz nada a ela e ainda assim ela não gosta de mim. Não é como McKinnon, sabe? Não é o mesmo! — James coçou a cabeça. — Você me entende?

— Aham! — concordou Remus, não entendendo nada. Ele tocou o ombro do amigo, assentindo. — Eu te entendendo, eu entendendo.

— É tão bom saber que alguém me entende, sabe? — James estava assentindo, também com a mão no ombro de Remus. — Você é um dos meus melhores amigos, você sabe disso né?

— Com toda certeza! — ambos se abraçaram e decidiram beber mais Whiskey de Fogo, indo até a cozinha onde Peter conversava animadamente com um bando de caras que Remus nunca viu na vida. Ele pareceu extremamente aliviado ao ver os garotos, ainda rindo de alguma piada de um garoto alto.

— Onde vocês estavam? — exclamou ele, pulando da pia onde estava sentado, segurando sua garrafa. — Viram Sirius?

— Onde? — procurou James, confuso.

— Não, onde está Sirius? — perguntou Peter novamente, parecendo mais lúcido que James e Remus juntos.

— Eu não acredito nisso. — Remus virou-se, feliz da vida ao reconhecer a voz de Marlene McKinnon entre tanta gritaria. A garota cruzou os braços, sério, olhando James. Seu cabelo estava maior, assim como sua altura. Elliott estava atrás dela, abotoando sua camisa e Remus abriu a boca em choque ao supor o que eles teriam feito. — Quem deixou esse rato entrar na minha festa?

— McKinnon, sua festa está maravilhosa. — sorriu James, abrindo os braços para a loura. — Vamos deixar nossas diferenças de lado e unir nossas forças. Juntos, somos invencíveis.

A garota uniu as sobrancelhas, tentando segurar a gargalhada que saiu em seguida, arrastando todo mundo. James estava tão bêbado que até perdera a noção da realidade. Ela pareceu perdoar a presença do Potter e Remus fora atraído pela vibração no andar de cima, cambaleando em direção da escada, pedindo licença ali e aqui, quase tropeçando no último degrau, mas salvando seu copo, rindo de si mesmo. Entrou no que parecia um quarto masculino, vendo um grupo reunido ao redor de uma garrafa, com Charlie Smith comandando a roda, animado. Assim que batera os olhos em Remus, chamou repetidamente com a mão:

 

Nick Cave and The Bad Seeds – All Tomorrow’s Parties

 

LUPIN, ENTRE NESTA RODA IMEDIATAMENTE! — o garoto riu bobamente ao sentar-se no espaço que lhe fora dado, reconhecendo alguns rostos na roda, como o risonho de Emmeline e Mary MacDonald, cochichando algo para uma garota ao lado dela que lembrava alguém para Remus, mas ele não fazia ideia de quem. Ela tinha o nariz empinado e olhos grandes, intensos. O garoto notou Sirius na roda, encostado na parede tragando um cigarro, visivelmente entediado. — Ok, ok, vamos lá, já sabemos a regra, uma vez: beijo, duas vezes: sete minutos no paraísoooo!

O círculo vibrou animadamente e Charlie bateu a varinha na garrafa, a fazendo girar loucamente. Todos olhavam, ansiosos, rindo e batendo palma, com o Smith uivando como um lobo, fazendo Remus gargalhar. A garrafa parou para Charlie e uma menina de cabelo crespo, o mesmo fez uma breve comemoração, levantando-se e a encontrando no meio do círculo, a beijando sem o menor pudor.

Remus gargalhou, comentando com um completo desconhecido sentado ao seu lado, tomando todo o conteúdo em seu copo, agradecendo quando fora cheio por uma menina ruiva que ele nunca viu na vida, mas já a considerava sua melhor amiga. Assistiu mais dois beijos até a garrafa parar em Sirius e Mary. Remus riu, também vibrando, Charlie narrava os movimentos de Sirius como se fosse um jogo de Quadribol: ele apagara o cigarro no carpete de Marlene, arrumou a jaqueta e foi até o centro da roda onde encontrou Mary, visivelmente envergonhada. Remus gritou tão alto quanto os presentes quando o garoto pegou na nuca de Mary, a beijando. O Lupin ria em choque, não acreditando que até beijando pela primeiríssima vez Sirius parecia ter a experiência de décadas.

— Ei, ei, calma aí! Sem empolgação! — cortou Charlie, parecendo um pouco ressentido. Mary estava vermelha quando sentou em seu lugar, rindo com a garota que Remus tentava lembrar de onde a conhecia. A garrafa girou e girou mais algumas vezes, caindo em Sirius e Mary mais uma vez, os levando para os sete minutos no paraíso. Remus já estava tendo seu copo enchido de hidromel pela quarta vez quando a garrafa finalmente caiu nele. Ele e Emmeline gritaram animados ao ver que eram os dois, mas logo se desesperaram:

— Não, não, ele é meu amigo! — Emmeline olhou Charlie, nervosa.

— NÃO EXISTE AMIZADE, SÓ PUTARIA! — gritou Charlie batendo enlouquecidamente na cômoda ao seu lado, fazendo o grupo rir. Remus levantou-se, zonzo, já com a solução em sua cabeça: pegou as bochechas de Emmeline num pulo, beijando sua testa, sentando em seu lugar em seguida ao som dos protestos do círculo. — Isso é sério??? Volta aqui e enfia sua língua dentro da boca dela!

— Você não especificou o beijo! — protestou Remus, risonho, levantando as mãos. Emmelne o olhou confidente e ele piscou, ainda rindo. Mais algumas rodadas e Sirius finalmente apareceu, com Mary, ela de olhos arregalados e Sirius ainda com a cara de tédio de sempre, pedindo outro cigarro para o garoto que estava sentado perto dele. Remus terminou seu copo quando novamente a garrafa parara nele e em Emmeline, portanto, sete minutos no paraíso.

Ele fora tranquilamente com a garota rumo o closet/armário de seja lá quem fosse aquele quarto, fechando a porta após dar espaço para ela entrar. Era apertado o suficiente para assim que a porta se fechou e os dois se olharem, gargalharem, sem espaço nenhum para movimentos bruscos. Remus tentou acender a luz do closet, mas estava aparentemente quebrado. Emmeline pegou a varinha, sussurrando um breve Lumus, mostrando o quão vermelha estava.

— Acho que vamos ter que ficar sete minutos aqui. — disse ele, notando o quão bêbado estava. Quis saber o que James estava fazendo e não achou que a casa estava em segurança, presumindo que James também estava bêbado.

— É... — concordou lentamente, tímida.

Emmeline focou seus olhos castanhos em Remus tempo o suficiente para ele ensurdecer completamente, perdendo a noção do espaço e tempo. Ele queria beijar Emmeline. Queria saber exatamente o que Sirius sentiu ao enfiar sua língua na boca de Mary, como era sentir a mão pequena de Emmeline em sua nuca, a respiração... Seu rosto coçou por um momento e ele passara os dedos sob os relevos das cicatrizes em seu rosto, piscando algumas vezes. Abaixou os olhos...

Fechou os olhos.

Conseguia sentir seu coração batendo, comunicando-se com todo o seu corpo. Algo o chutou e Remus emergiu nas águas do riacho de sua vila, tomando ar, exasperado, ainda sentindo frio, mesmo naqueles últimos segundos do verão. Limpou sua visão, cuspindo o pouco de água em sua boca, batendo os pés em um ritmo que mantinha sua cabeça para fora d’água, observando Miranda emergindo e afundando, emergindo e afundando. Nadou até uma pedra e sentou-se, olhando o local enquanto juntava os braços sob os joelhos, passando lentamente seus pés sob a pedra áspera e molhada, desacreditado em tamanha beleza do local pouco iluminado pela quantidade de árvores, mas cristalino e forte por conta da água. Fechou os olhos, ouvindo os grilos e os sapos. O som d’água batendo sob ela mesma, violenta e flexiva.

Miranda o notou e nadou até ele, segurando a pedra onde ele estava sentado.

Ela apoiou o queixo sob as mãos, observando Remus, mais precisamente suas cicatrizes. A melhor parte é que ela nunca perguntou sobre elas, nem mesmo as no rosto. Por um tempo, Remus achou que ela era autocentrada demais para ter curiosidade, mas... Miranda tinha o poder da compreensão silenciosa.

Em um impulso ela ergueu-se na pedra, atlética, sentando-se ao lado de Remus, passando a mão sob as tranças molhadas, suspirando, fechando os olhos para o sol.

— Então, você a beijou? — perguntou Miranda, balançando as pernas.

Remus coçou a nuca rapidamente antes de deitar-se na pedra.

— Não. — respondeu.

Miranda não perguntou o porquê. Alguns longos e silenciosos minutos se passaram até Rich e Allison aparecessem com uma cópia do Profeta Diário, com mais noticias sobre a possível guerra que poderia acontecer. Em Hogwarts o mundo parecia funcionar de uma forma diferente, tudo estava muito distante, era como se o tempo por lá passasse em uma frequência diferente, eles não tinham muito tempo para especular quem era que estava matando diversas pessoas importantes do mundo bruxo com um grupo intitulado Comensais da Morte. Entretanto, aquilo de fato preocupava Remus, era a segunda dor de cabeça de sua vida, já que além das mortes de grandes figuras, diversos nascidos trouxas e “traidores do sangue” também estavam sumindo.

Ficar mais de uma semana sem mandar cartas à seus pais era completamente fora de cogitação.

Toda vez, durante as férias de verão, ele, Miranda, Allison e Rich passavam horas e horas teorizando quem era este ser misterioso, talvez um irmão de Grindelwald? Ou o próprio Grindelwald, que deixara uma cópia sua no local onde fora aprisionado em uma noite de tempestade, traçando uma fuga que enganou todo o mundo bruxo. Cada morte era uma nova teoria, se era alguém do governo: golpe de estado. Algum patriarca: ditadura sangue purista. Algum auror ou figura do ministério: eles já estavam dominando o local e o Ministro fora morto e substituído sem ninguém notar.

Ele até ria, mas aquilo sempre tomava um tom sério quando seu pai refletia em silêncio após longas leituras de jornais, preocupado. E com razão, ele era um “traidor” do sangue. Sua esposa, uma trouxa. Seu filho, além de mestiço, um monstro vulgar, o que há de mais desprezível na sociedade bruxa...

Se Remus parasse para pensar muito sobre isso, ele provavelmente teria sua cabeça voando pelos ares de tanta preocupação e ansiedade.

Na última semana de férias, ele recebeu uma ligação:

— Alô? — atendeu após sua mãe passar para ele.

Remus, é Sirius. — disse a voz rouca.

— O que ele fez? — indagou o garoto, cansado.

Não, sou eu, Sirius.

— O que você fez? — perguntou agora com um tom irritado. Houve um riso breve.

Aconteceu... Olha, aconteceu umas coisas e... James está viajando... Nem fodendo eu vou para Portishead... Será que pode me receber por alguns dias?

Remus queria dizer que não, mas segurou o impulso e deu as diretas para a sua casa, explicando como ele pode chegar até lá de ônibus ou metrô. Desligou o telefone em pânico, olhando para sua casa humilde, suando frio só de imaginar Sirius naquele lugar. A ansiedade o maltratou a ponto dele querer arrumar a casa inteira, mas sequer conseguia sair do sofá, roendo as unhas, fitando o nada enquanto sua mãe, feliz, preparava doces e salgados para o convidado. Foi para seu quarto e gemeu com a bagunça de livros, quadrinhos, jornais, o armário que insistia em se manter quebrado, o tom acinzentado nas paredes descascadas, o que predominava na casa. O chão de madeira, esburacado e nada brilhante, o teto, mofado e escuro.

Pegou um pergaminho e pensou em ligar para James, fofocar tudo e implorar para que ele recebesse Sirius, ele conseguiria manipular a situação, é a cara de James voltar da Rússia apenas para pegar Sirius.

Respirou fundo e colocou o pergaminho na escrivaninha lotada, guardando suas penas, tintas e folhas avulsas de desenhos feios. No fim da tarde, sentado nas escadas de sua porta, com Miranda falando sem parar ao seu lado, ele viu um garoto caminhando com uma mochila nas costas, cansado. Ele já tinha o sorriso no rosto enquanto observava a vila tranquila, com alguém brigando na última casa da rua, uma batedeira relativamente barulhenta no vizinho...

— Cara, você mora longe pra porra. — sorriu ele, largando a mochila no chão, limpando o suor da testa. Remus forçou um sorriso, mas Sirius já tinha focado seus olhos na garota negra ao lado do amigo, o avaliando, séria. — Tudo bem? — ele semicerrou os olhos para Miranda, que continuou séria.

— Tudo. — respondeu, levantando se, passando a mão na parte de trás de sua calça. — Tchau, Remus.

— Tchau... — despediu-se o Lupin, também se levantando, olhando Sirius admirar Miranda afastar-se rumo sua casa. — Vamos entrar?

O garoto negou-se olhar Sirius enquanto abria a porta da casa e o deixava entrar, apenas fechando a porta em seguida, pegando a bolsa que ele novamente soltara no chão. Quase voou para o quarto quando sua mãe cumprimentara Sirius, animada. Colocou a bolsa do garoto no chão e tomou coragem para voltar à sala, sentindo-se horrível e com vontade de sair correndo até chegar na África.

Sirius olhava tudo com curiosidade, admirado, perguntando sobre tudo que nunca vira, comentando que viu nos Estudos dos Trouxas uma aula ou outra. Hope Lupin, feliz por achar alguém interessada em seu mundo, explicava tudo, empolgada, empurrando comida para o Black. Remus parecia tão disperso que apenas assistia tudo, quase se sentindo fora de seu próprio corpo, forçando um sorriso ali ou aqui. Sirius explicou novamente quando Lyall chegou, que sua casa estava uma confusão por uns assuntos de família e ele não conseguia mais aguentar a situação.

Como sempre, Sirius não foi especifico, ele sempre deixava tudo vago, aberto a interpretações, sempre mudando de assunto rapidamente, evitando qualquer aproximação ou aprofundamento em assuntos sobre sua família ou sobre ele.

— Seus pais são demais. — sussurrou ele do colchão no chão, ao lado da cama de Remus. O garoto continuou observando o céu estrelado pela janela, dando um leve muxoxo para que Sirius soubesse que ele concordou. — Muito obrigada por ter me recebido, sério mesmo.

— Não foi nada.

— Eu amei a sua casa... — Remus piscou algumas vezes para o céu, em silêncio. Quando pensou que Sirius finalmente tinha desistido de falar, ele mexeu-se um pouco. — Parece uma casa de família.

O Lupin uniu as sobrancelhas e fitou o teto mofado, logo deixando os olhos caírem para mais um entre os diversos quadros de sua família na parede diante dele. Virou-se na cama e espiou o colchão, mas Sirius já estava de olhos fechados, coberto até o nariz.

 

...

 

— Que dia glorioso. — sorriu Marlene McKinnon amarrando suas madeixas em um rabo de cavalo, com seu uniforme. Sentou-se ao lado de James, puxando um prato para si no café. — Ótimo dia para os jogadores do time...

James olhou-a com um ódio tão evidente que a mesma apenas segurou o riso, mordendo um morango lentamente, o analisando. Remus compartilhou um olhar confidente com Sirius e voltou aos seus cereais, sentindo-se mais em casa do que nunca. Os primeiros meses do ano letivo foram já massacrantes, mas com tons de novidade: Agora James tinha uma namorada, Jemima, e os três tinham que dividi-lo com ela. E bem, ela não era um exemplo da garota mais divertida do mundo... Na verdade ela era chata, Remus tinha que admitir, não exageradamente como Sirius achava, que se fez de desentendido após jogar uma poção no chá da garota no começo de Outubro, a deixando sem voz por uma semana.

— Paz, meus amigos... Paz! — sussurrou ele, assistindo a Muda-Que-Chora, apelido que o próprio Sirius inventara para Jemima, que também não gostava dele de jeito nenhum.

— Você é tão infantil, argh.Argh era o ponto final de qualquer frase de Jemima Thompson, sempre sentada no colo de James, de biquinho e olhos caídos, de tédio. Ela também era bastante opinativa:

— Então, o que achou? — sorriu James ao mostrar-lhe um artefato mágico que tinha inventado sozinho.

Meh. — disse, chupando seu pirulito, de olhos caídos e cabeça pendendo, com o ar entediado a rodeado.

Sirius explicava aquele fenômeno (namoro) por algo vulgar, que Remus odiava...

Chá de buceta. — explicava ele, e Peter unia as sobrancelhas, sempre imaginando aquilo de forma literal. — É isso. James está cego porque ela dá tudo que ele, como um homem, precisa. Teremos que ter força, amigos, são tempos difíceis...

James sabia que Jemima não era muito querida e nem se justificava, ele usava algo como “Bem, Merlin não agradou a todos, não?”, e ninguém sabe de onde ele tirou isso, porque Merlin agradou a todos. O Mapa que eles deram inicio do ano passado estava concluído, inclusa todas as passagens secretas do Castelo, foi usada de forma brilhante na noite em que eles quase mataram Snape de susto, que também parecia ter o objetivo de afanar alguma poção do armário de Slughorn. Após James ter grudado Snape no teto, quase matado Madame Norra e Filch ter acordado metade do Castelo aos gritos enquanto Sirius simplesmente não conseguir parar de rir por minutos infinitos, durante a detenção, que se resumia a limpar a bagunça que os hipogrifos já adolescentes deixaram nas bordas da Floresta Negra, James concluiu que o Mapa não servia para absolutamente nada, já que as pessoas estariam sempre em algum lugar, que não tinha como eles preverem.

Sirius riu de algo e continuou catando as fezes de hipogrifo com sua pá.

— O quê? — indagou James, varrendo. Ele olhou Snape no outro extremo, limpando os estábulos, os vigiando. — POR QUE ESTÁ OLHANDO, FILHOTE DE AGOUREIRO?

Severus virou-se bruscamente de costas, fazendo mais barulho ao espalhar a palha.

— É que eu me lembrei de um quadro de minha mãe... — ele levantou-se, ainda rindo. — Ela tinha um quadro que ficava bem de frente para sua cama, era da planta de meu quarto e o de Regulus, e toda vez que eu saia do quarto durante a noite, ela sabia, porque mostrava meus movimentos. — ele abriu o saco coletivo e jogou as fezes. — Demorou para que eu notar... Eu pensava que era favoritismo quando ela não acreditava que na verdade fora Regulus quem se enfiara no meu quarto... Se auto esmurrara, etc...

Remus olhou o amigo, parecendo ter levado um choque.

— O que era isso? Um feitiço? — perguntou ele, exasperado. — Se é um feitiço, tem como colocarmos isso no Mapa! Daria para vermos o Castelo inteiro!

Potter abriu a boca em choque, arregalando os olhos, sequer se mexendo quando Peter gritara em desespero quando sua luva caíra em um momento delicado. Aquilo rendera algumas tardes da biblioteca e a ausência de Sirius no Clube de Duelos, James se amostrando no Clube de Feitiços, após ter ganhado seu título de líder, Peter frustrado por perder seus amados jogos no Clube das Bexigas e Remus, que temia diariamente perder sua cadeira no Clube de Xadrez.

Claro que ele podia voltar, mas ele temia perder uma cadeira em especifico.

— Boa tarde. — cumprimentava ele, pomposo, segurando o sorriso.

— Boa tarde, senhor. — respondia Dorcas, ainda sem coragem de olhá-lo nos olhos. Provavelmente após vinte minutos de disputa silenciosa, ela daria algumas olhadas tímidas ou avaliativos. Desde o começo do ano, quando as vagas para os clubes abriram, o único que realmente o interessou além do de Duelos, fora o de Xadrez. Aguentou por semanas Sirius resmungando em o quão “envergonhado” ele estava ao andar perto de um participante do Clube de Xadrez, mas tudo valia a pena quando ele ansiava por um domingo de sol e silêncio de frente para a Meadowes, sempre o vencendo.

Quando ele vencia, parecia que ela tinha deixado.

Não conversavam, na verdade, nem precisavam. O silêncio compartilhado por uma hora parecia um presente depois de um dia inteiro barulhento e cansativo, ele sentia-se próximo de Dorcas mesmo não tendo trocado mais que cumprimentos ou pontuais elogios durante o jogo. Um domingo antes do recesso, ele esperou Dorcas sair da sala, ainda guardando alguma coisa em sua bolsa. Molhou os lábios e tocou seu ombro, a assustando.

Os olhos grandes e intensos de Dorcas sempre eram uma aventura para os olhos de Remus.

— Você quer... — o garoto colocou as mãos nos bolsos da calça enquanto ela o olhava, aparentando avaliação e desconfiança. Ela se vestia de forma infantil, como se alguém escolhesse suas roupas, entretanto aquilo soava charmoso à Remus, que gostava dos pompons em suas madeixas castanhas. Ele queria saber se ela gostaria de acompanha-lo à Hogsmeade, já que só faltavam quatro horas para o toque de recolher.

Antes que ele pudesse perguntar de fato, Emmeline aparecera correndo no corredor, surpreendendo Remus.

Emmeline ficou todos aqueles meses afastada de Remus, parecendo evitá-lo. Ele queria perguntar se fizera algo, mas ele sabia o que fizera. Os sete minutos no paraíso foram silenciosos e constrangedores, parecendo terem magoado a Vance. Ela tomou ar, passando a mão nas madeixas escuras, parando diante de Remus, séria. Ele sentiu tanto desconforto que até deu alguns passos para trás.

Por que? — perguntou ela, ainda ofegante. — Por que você não me beijou?

Remus arregalou os olhos e olhou alguns estudantes saírem da sala de Xadrez, os olhando, curiosos com a conversa. Dorcas olhou para os lados, tímida, mas Emmeline estava séria e decidida. O garoto passou a mão no rosto, desesperado internamente.

— Eu...

— Não me acha bonita?

— Emms...

Eu queria que você tivesse me beijado. — ela já não parecia magoada, mas sincera. Ele sentiu-se estranhamente calmo, mesmo com o coração disparado. — Eu não devia... Lene disse que eu não deveria falar isso, mas... Eu não consigo guardar essas coisas. Então... Então, você quer ir à Hogsmeade comigo? Você pode me dispensar se quiser.

Remus olhou Dorcas, segurando sua bolsa, extremamente desconfortável, já rastejando os pés para sair andando e sentiu vontade de desaparecer. Meadowes virou-se bruscamente, do nada, e saiu andando rápido, sumindo em segundos pelo corredor, já vazio. Emmeline assistiu de testa franzida e voltou a olhar Remus, esperando sua resposta.

Esboçou um sorriso, assentindo.

A sensação de inadequação o apertava enquanto andava ao lado de Emmeline.

 

 

 

 

 

 

 


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