O Segundo Antes do Sol Voltar escrita por Eponine


Capítulo 2
Capítulo 02




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Remus encostou sua testa na porta, sentindo seu coração bater mais rápido do que em noites de Lua Cheia.

Era 31 de Agosto, e ele iria para Hogwarts no dia seguinte. Assim que o diretor de Hogwarts passou por sua porta, ele ficou tão feliz que começou a pular, praticamente escalou as costas de sua mãe enquanto ela gargalhava, o segurando, e seu pai, mesmo ainda preocupado, também riu, relaxando um pouco. Não estava mais condenado aos três cômodos de sua casa, não estava mais condenado a ser um monstro até mesmo nos dias normais. Ele ia para Hogwarts! Não pode ouvir a conversa porque provavelmente seu pai lançou um feitiço contra a porta de seu quarto, mas seus pais lhe explicaram detalhadamente como tudo funcionaria. Remus não era louco de contar aos outros que era uma aberra... Bem, que ele tinha um problema, mas seus pais preferiram precaver e não deixa-lo brincar com as outras crianças por toda a sua infância.

Pela primeira vez em toda a sua vida Remus estava liberado para conversar com alguém da sua idade e ele ia começar com as crianças de sua rua, fora persuasivo ao convencer seu pai que ele podia praticar um pouco antes de Hogwarts, até mesmo adquirir trejeitos e gírias, assim os outros estudantes não desconfiariam dele, que conviveu apenas com adultos a vida inteira.

Abrir aquela porta seria o início de uma nova vida, e Remus nunca sentiu tanta coragem na vida: Girou a tranca e abriu, semicerrando os olhos para o sol. Virou-se e fechou a porta, já nas escadas de sua casa. Sorriu para o número 118 na porta e virou-se, indo em direção do grupo de crianças. Eles não tinham notado a presença dele, então Remus teve tempo para analisa-los. Ficou um pouco impressionado ao vê-los de perto e não no conforto de sua janela.

— Olá! — sorriu ele, assustando Miranda. — Tudo bem?

A garota estava com seu cabelo armado como sempre, e olhou Remus como se fosse um animal silvestre. Ele estava tão empolgado, e tão feliz por poder falar com eles que não se importou com os olhares estranhos. Sorriu para Allison ao longe, confuso por nunca ter notado que ela tinha monocelha.

Quem é você? — indagou Miranda. Então ele sentiu-se estúpido. Havia esquecido que por mais que ele ‘os conhecesse’, eles nem sabiam da existência dele. Mesmo com as bochechas ardendo de constrangimento, deu a mão para que Miranda apertasse.

— Remus. — sorriu. Ela olhou a mão dele como se fosse doido. Talvez ele lidasse demais com adultos. Alisou sua camiseta com a mão negada, sorrindo torto. — E você?

— Miranda. — disse ela, lentamente. — De onde você saiu?

— Eu moro ali, no 118. — apontou ele para sua casa.

— Por que nunca te vimos antes? — questionou Alexander. Ele era careca porque pegou piolho de seu primo mais novo.

— Eu... Eu estava de férias na casa da minha avó. — uma boa mentira. Miranda o analisou lentamente e continuou séria, com sua vassoura no ombro esquerdo. Ela tinha um corpo atlético demais para uma criança de onze anos, então Remus presumiu que ela era mais velha. — Vocês estão ansiosos para amanhã?

— O que tem amanhã? — perguntou Rich, o pai dele criava porcos.

— Bem... Hogwarts. — eles se entreolharam a Allison riu, mas tapou a boca em seguida, virando o rosto.

— Nós não estudamos em Hogwarts. — disse Miranda. — Você sabe que está em Oxford... Né?

— Sim, mas...

— Só porque somos britânicos não significa que temos que estudar em Hogwarts. — Alex girou os olhos, apoiando-se em sua vassoura. — Nós somos do Instituto Morgan le Fay, na Bélgica.

Remus não poderia estar mais decepcionado. Não fazia ideia de que escola era essa, para ele só existia Hogwarts para os britânicos, mas viu que estava redondamente enganado. Miranda sorriu para ele montando em sua vassoura.

— Nós vamos dar uma volta, sobe aí. — convidou ela, enquanto os outros subiam em suas vassouras. O Lupin arregalou os olhos. Fora proibido de sair da rua... Olhou a janela, apreensivo enquanto a garota amarrava seu cabelo crespo, com um equilíbrio perfeito na vassoura. Bem, sua mãe não falou nada sobre não sobrevoar a rua.

Montou na vassoura, desajeitado, só subira em uma duas ou três vezes na vida. Tentou passar todo o respeito possível enquanto segurava-se na cintura de Miranda, mas ela pareceu não ligar, dando partida. O vento violento em seu rosto o fez gargalhar, ela era visivelmente talentosa em Quadribol pela quantidade de voltas e manobras que fazia.

— Então você vai para Hogwarts? — riu ela, acelerando.

— Sim! Amanhã! — gritou Remus, animado.

— Eles selecionam as pessoas como gado! — disse Miranda, ofendendo Remus. — No Morgana le Fay você escolhe sua vocação.

— Quê?

— Vocação! — gritou Miranda. — Por exemplo, eu estou na Vocação Esportiva! Eu fui selecionada no fim do meu primeiro ano, é um teste de personalidade que fazem em você, mas ainda assim você pode escolher.

— E são Casas iguais a Hogwarts?

— Oh, não. — Miranda deu uma volta rápida que os deixou de cabeça para baixo por alguns segundos. — Não existe essa divisão, sua Vocação é só a matéria que você mais vai estudar e provavelmente se formar nela.

Remus ficou em silêncio, observando a Vila em que morava. Era tão verde e bonita, ele sentiu-se feliz por poder vê-la de verdade, diferente dos outros lugares em que morou. Sobrevoaram o riacho e ele era milhões de vezes mais bonito durante o dia do que a noite.

— Allison é da Vocação de Artes, assim como Rich. E Alex é da Vocação de Ciências. — Remus estava interessado nesse Instituto, e sentiu vontade de ir para lá, mas há um dia ele sequer tinha uma escola para ir, não podia menosprezar Hogwarts daquela forma. — Por que você vai para Hogwarts se é mais longe?

Remus ficou em silêncio por alguns minutos.

— Foi a única escola que me aceitou. — disse por fim.

 

...

 

Após o almoço, Remus e Hope foram até o Beco Diagonal comprar os materiais.

Ele perdeu-se de sua mãe um milhão de vezes por ela parar para ver coisas mágicas ou parar pessoas para conversar, então acabou ficando com o saco de galeões para comprar seu material sozinho. Assim que sua varinha foi escolhida, ele sentiu um orgulho que quase saiu voando quando atravessou a porta da loja. Entrou na loja de Animais Mágicos e ficou animado ao ver as corujas.

Atrás dele um riso estridente o assustou, havia uma garota de cabelo curto e louro ria para uma gaiola de ratos. Acabou indo ver o que era tão engraçado.

— Um único casal de ratos consegue produzir 20 milhões de descendentes em apenas 3 anos. — ela parecia nervosa e animada, então sua voz saia assustadoramente estridente. Remus deu um passo para trás, assustado, ela tinha olhos claros arregalados, como se ela estivesse sempre impressionada. Não olhava Remus nos olhos, mas estava claramente falando com ele, e num tom de voz alto demais para uma loja que não estava tão cheia. — Se todos os ratos fossem exterminados, haveria sérios problemas com o entupimento de canos. Como vivem transitando por eles, os bichos ajudam a mantê-los desempedidos.

— Eu... Que legal. — disse Remus, constrangido. O fato dela não olhá-lo, e se tentasse olhar, olhava apenas qualquer parte dele abaixo de seu pescoço, o deixava incomodado.

— Esse é Newt. — ela quase colocou seu sapo na cara dele. — Os sapos têm duas glândulas de veneno na pele, uma atrás de cada olho, que só são ativadas quando apertadas.

— Você gosta mesmo de animais, né? — sorriu ele, tentando afastar-se do sapo. A garota sorriu para os pés de Remus, colocando o sapo perto de seu peito. Ele se perguntou se ela era cega e ele não tinha percebido.

— Quero ser magizoologista. — ela olhou as roupas de Remus com uma piscada para cada peça, como se estivesse tirando fotos com os olhos, a garota era muito estranha. — Você é mestiço?

Dorcas! — uma voz adulta apareceu atrás de Remus apenas para puxar o braço da garota, a mulher tinha os olhos da menina, mas o cabelo era cacheado, longo e preto. Sorriu para Remus, constrangida, como um pedido de desculpas. — Me perdoe. Dorcas, não é assim que se fala com as pessoas!

— Meu nome é Dorcas Grace Meadowes, muito prazer! — disse ela mecanicamente, dando a mão para que Remus apertasse, ainda olhando para os sapatos gastos dele. Ele ainda estava muito desorientado pela sequencia de acontecimentos, mas sorriu ao apertar a mão da garota.

— Eu sou Remus Lupin. — ele quase foi esmagado pela força da mão de Dorcas, ela provavelmente precisava treinar a apertar mãos. Ela foi andando de forma estranha, um pouco tensa, meio mecânica, afastando-se com sua mãe, acariciando seu sapo. Remus foi até o balcão para pedir para ver a gaiola treze, mas o balconista estava rindo.

— Ela vem aqui todo santo dia. — comentou ele baixinho, ainda rindo. — Pobrezinha, espero que não sofra em Hogwarts.

— O senhor a conhece?

— Claro que sim, todo mundo aqui no Beco conhece Dorcas, principalmente eu, garoto. — eles foram até a gaiola treze e Remus perguntou-se como o homem sabia que ele queria ver aquela coruja. Ele virou-se para o garoto, agachando-se para que olhasse nos olhos cor de mel de Remus. — As pessoas são más com quem é diferente.

O garoto sentiu o peso do mundo cair sobre ele após aquela frase. Dumbledore lhe disse que sua verdadeira identidade seria protegida, mas e quando ele ficasse doente? E se perguntassem de onde saíra tantas cicatrizes? E se alguém descobrisse? Observou Dorcas com sua mãe, arrancando alguns olhares tortos por sua voz estridente e respirou fundo.

Ela não podia esconder sua identidade.

 

...

 

— Tudo bem?

— Na verdade eu... Olhe, papai, eu acho que isso foi um grande erro, não vai dar certo, vão descobrir e... — Lyall agachou-se para ficar do tamanho de Remus. O garoto estava suando frio e pálido ao ver as outras crianças, visivelmente de Classe Alta. Ele sentiu-se muito mal com suas roupas remendadas e principalmente por quem era, como se estivesse com a testa escrita ABERRAÇÃO em negrito.

— Filho, você precisa enfrentar isso. — o tom de voz de seu pai estava tão sério que ele sequer piscou. — Não vamos poder te proteger a vida toda, você sabe disso, não sabe?

Lyall! — Remus estava começando a ficar com os olhos marejados, mas seu pai manteve-se firme. Sua mãe apertou o ombro do marido, aflita.

— Apenas seja quem você foi todos esses anos, e tudo vai dar certo. — Lyall apertou o ombro do filho, esboçando um sorrisinho, para o menino cabisbaixo, pensando no monstro aprisionado dentro de si. Lyall ergueu-se e Hope agarrou seu filho, o abraçando, chorosa.

— É tudo um plano de Deus, meu anjo... É tudo um plano. — Remus sorriu, mas nas noites de Lua Cheia odiava Deus com todas as suas forças, e não eram poucas. Despediu-se de seus pais e seu pai tirou sua própria boina, colocando na cabeça do filho. Ficou um pouco desproporcional, mas Remus sentiu-se mais calmo em levar consigo uma lembrança concreta de seus pais.

Entrou no vagão, curioso. As pessoas iam de um lado para o outro, animadas, conversando aos gritos, abraços, risos, e todos que ele pensava ser um primeiranista, eram na verdade do segundo ano. Acabou entrando em um dos compartimentos vazios e sentou-se, dando tempo de acenar para seus pais, que estavam um pouco longe demais para vê-lo direito. Encostou sua cabeça no banco quase rindo sozinho:

Estava indo para a escola.

— Você é primeiranista? — indagou uma garota loura e alta, após abrir a porta bruscamente. Ela era bem bonita, Remus tinha que assumir a vermelhidão em suas bochechas. Ela tinha um ar entediado como se todos fossem muito desinteressantes.

— Sim. — respondeu.

— Graças a Merlin. — sem perguntar se podia ficar, ela entrou, sendo seguida por um garoto de cabelos louro escuro e olhos castanhos, e uma menina de cabelos castanhos, todos cansados. Sentaram-se e a última fechou a cabine. A garota abriu sua mochila e pegou um pote de sorvete, abrindo e dando uma colher para a garoto e o garota, em seguida jogando uma para Remus. Ele pegou no ar, ainda impressionado com a autenticidade.

— Espero que essa escola idiota valha a pena. — disse ela com a boca suja de sorvete de flocos, segundo o que Remus conseguiu identificar. — Eu preferia mil vezes ir pra Ilvermony. Todas as jogadoras do Holyhead Harpies saíram de lá.

— Você está preocupada com Quadribol? Ilvermony é nos Estados Unidos, eles tem comidas simplesmente horríveis, você tem quantos quilos? Triplique o valor, é assim que você voltaria nas férias. — retrucou o garoto. Ele olhou Remus e sorriu. — Ei baixinho, qual seu nome?

— Remus Lupin — ele sentiu suas bochechas queimarem mais intensamente quando a garota loura ofereceu o pote para Remus pegar um pouco.

— Marlene McKinnon. — apresentou-se a garota com a colher na boca. Então, ainda com a boca, apontou a colher para a menina de cabelos castanhos. — Emmeline Vance. Somos bolsistas recolhidas da miséria de Brixton.

— Lene! — exclamou Emmeline, visivelmente ofendida.

— Ok, eu sou de Brixton, Emms é de Streatham, é menos violento, mas aquele córrego... — McKinnon riu quando recebeu um tapa de Emmeline. — E esse é o guia de Emms, Amos Diggory. Eu sou bolsista, mas toda minha família frequentou Hogwarts... O que no mínimo nos devia render um desconto, sei lá.

O garoto ofereceu a mão para que Remus apertasse.

— Eu estou no segundo ano... Eles sempre contatam alunos que moram perto dos bo... — ele limpou a garganta. — Dos alunos que foram descobertos. Sabe, para poder engajá-los no mundo bruxo e tal. Você é...?

— Ah... Não, não. — Remus pegou um pouco mais de sorvete.

— Nascido trouxa? — perguntou Marlene, analisando as roupas de Remus. Ele negou novamente.

— Mestiço. — justificou, ainda envergonhado com os olhares.

— Legal. — sorriu Emms. — Acho que também sou, não é Amos?

— Não, Emmeline, você é nascida trouxa, eu já expliquei mil vezes! — o garoto girou os olhos, pegando mais sorvete. — Qual o seu problema com nomenclaturas?

Seu uniforme era amarelo e o símbolo tinha um texugo. Ele se recordava de seu pai ter falado sobre as Casas de Hogwarts, mas ele não se lembrava de nenhuma que não fosse a Corvinal.

— Para que Casa você quer ir? — perguntou Amos.

— Qualquer uma. — Remus deu de ombros. — Mas Corvinal foi a casa do meu pai, então eu gostaria de seguir seus passos.

— Como funciona isso de Casas? — perguntou Emmeline, fazendo Amos e Marlene girarem os olhos. Ele divertiu-se tanto com eles durante as horas que se passaram para Hogwarts que sentiu-se um pouco traído quando eles o deixaram para trás assim que o trem parou. Pegou sua mala e olhou a porta da cabine aberta, com todos se empurrando para sair, ansiosos.

 

Street, Horse, Smell, Candle – Abel Kozerniowski

 

Como ele já estava trocado, apenas tirou a boina e guardou no bolso, saindo da cabine e seguindo o tumulto para fora do trem. Ele estava tenso, mas ansioso. Queria que seus olhos pudessem tirar fotos de cada paisagem que estava vendo, desde a água escura que abrigava os barcos em direção do Castelo até a imagem deslumbrante da mesma com uma iluminação amarelada encantadora.

Ele não trocaria aquele lugar por Instituto Morgana le Fay nem que fosse mais bonito.

Remus ficou em silêncio na salinha dos primeiranistas enquanto observava sua grande maioria já enturmada. Achou Marlene e Emmeline cochichando no topo da escada e tomou coragem de ir até elas, mas parou ao ver uma garota encostada na parede, quase enfiando seu rosto na mesma, cruzando e descruzando os dedos quase freneticamente, visivelmente nervosa.

Era Dorcas Meadowes.

Antes que Remus pudesse falar com ela, a porta se abriu, com Minerva McGonagall os guiando para dentro do Salão. Ele não conseguia parar de pensar em sua mãe e o quão chocada ela ficaria se pudesse ver o local. Pegaria sua câmera na bolsa e tiraria um milhão de fotos para ela, que sempre quis conhecer Hogwarts. A lista de chamada para a seleção era longa e demorou para chegar no Lupin, mas quando chegou, ele estava estranhamente tranquilo.

Subiu as escadas quase surdo, pois não se lembra de gritos ou conversas.

GRIFINÓRIA! — ele não sabia se essa era uma boa Casa ou não, mas foi a que caiu, e depois, na biblioteca, quando leu a história de Godric Griffyndor, sentiu-se estranhamente orgulhoso.

Ele caiu em uma casa de corajosos.

 

 

 

 


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